Entrevistas

Apocalypse

Por Fabiano Cruz | Em 14/06/2011 - 11:48
Fonte: Alquimia Rock Club

 

 

 

 

 

 

25 anos de estrada. Marca impressionante para uma banda de Rock Progressivo. Mais impressionante ainda saber que é uma banda brasileira. Para comemorar essa data, o Apocalypse nos brinda com um ousado lançamento: um box comemorativo que foi cuidadosamente pensado em repassar os 25 anos de banda para os fãs, em um primoroso trabalho que poucas bandas lançaram no Brasil. Para comemorar esse lançamento, Gustavo Demarchi (vocalista) e Eloy Fritsch (tecladista) conversou exclusivamente com o Alquimia Rock Lcub sobre esse lançamento, contando os detalhes de produção do Box, o novo trabalho 2012 Lights Years From Home (que integra a caixa comemorativa) e algumas curiosidades da história da banda em um papo bem legal! No fim da entrevista, temos a resenha desse lançamento.


Alquimia Rock Club - O Apocalypse acabou de lançar um primoroso trabalho em comemoração aos 25 anos de banda; desafiador e incomum para bandas nacionais em se tratando das dificuldades que temos em nosso país. Como foi a produção e o trabalho nesses três anos de desenvolvimento do box The 25th Anniversary Box Set?


Gustavo Demarchi – Diferente, por várias razões. Primeiro por que trabalhamos com cronogramas. Tínhamos data certa para terminar composições, entrar em estúdio, mixar, etc. No meu caso, ainda topei a empreitada de traduzir e coordenar o conceito gráfico-visual do Box, através da minha empresa, a G2D Soluções Visuais. Então, foi um trabalho que precisou de coordenação extra para ser completado, já que estávamos prestando contas. Além disso, no que se refere ao álbum de inéditas, ele foi escrito em estúdio, diferente dos anteriores que praticamente foram escritos em ensaios e testados em palco, o que adicionou uma “dose extra” e um certo frio na barriga sobre como essas novas composições se comportarão ao vivo.


Alquimia Rock Club - 2012 Light Years From Home, novo trabalho de estúdio que vem no Box, consolida de vez os novos rumos que a banda tomou alguns anos atrás, numa complexa sonoridade que, mesmo mantendo a identidade que sempre tiveram, elementos como o Hard Rock (Find Me Now) e o Fusion (Till Another Side) foram mostrados. O quanto o longo tempo de produção e a entrada do baterista Fábio Schneider influenciaram nesses termos a sonoridade do trabalho?


Gustavo Demarchi – O Fábio é um baterista experiente, com um currículo extenso, e como todo o grande músico, eclético o suficiente para colocar o que cada música de fato pedia. É interessante você mencionar essas canções onde existem de fato extremos musicais. Till Another Side, é uma canção que tem a particularidade de ter em sua parte final um clima fusion com uma certa “latinidade” o que eu, como compositor, imaginava ser bem complexo para a seção ritmica. Mas o Fábio usou isso a seu favor transformando essa aparente dificuldade em uma parte essencialmente percussiva. É um de seus tantos grandes momentos no álbum.


Alquimia Rock Club - Também percebi que o disco, mesmo com suas complexidades, está mais “direto”, com músicas mais curtas que o normal para a banda, tornando bem mais dinâmicos esses novos sons. Foi natural esse caminho ou a banda chegou a pensar em algo parecido com “ok, mudamos a sonoridade, então temos que ir pra um caminho mais direto, sem músicas longas”?


Eloy Fritsch - Todos os discos do Apocalypse menos o Aurora dos Sonhos tem músicas mais diretas e também músicas mais longas em que desenvolvemos mais a composição. Nesse novo CD temos desde canções como Blue Angel e Morning Light, até o épico 2012 Light Years from Home com quase 14 minutos. Acho que é um disco bem variado e para todos os gostos.


Alquimia Rock Club - A temática é um “show” a parte, pois apesar de um assunto já bem usado dentro do Rock, a banda abusou demais de conceitos de apocalipse e tempo, em inúmeras alusões ao “Fim do Mundo” e conceitos filosóficos e históricos, tornando as letras a um ponto de vista mais humanitário e introspectivo, diferente da violência e do terror gratuitos quando bandas abordam esse assunto. Poderiam dizer mais sobre os conceitos abordados no trabalho?


Eloy Fritsch - Obrigado!  Todo o conceito do disco gira em torno do Apocalypse, que significa revelação, e não o fim do mundo. As letras das músicas falam em anjos, luz, salvar o mundo em um tom místico e trazem sempre a esperança de dias melhores


Alquimia Rock Club - O CD Magic Spells contém músicas gravadas ao vivo em Porto Alegre e Caxias do Sul no ano de 2005 em apresentações feitas logo após o lançamento do EP Magic, onde estreavam o Gustavo e o Magoo na banda, além da radical mudança em que vocês passaram a apresentar as músicas na língua inglesa, mostrando um momento importante na história do Apocalypse. Como foi a reação dos fãs, na época, nessa mudança radical que tiveram?


Gustavo Demarchi – Esse álbum registra um dos primeiros shows que fizemos naquela que foi nossa primeira tour como quinteto. Sempre imaginei ser um álbum diferente principalmente comparando com Live in Rio que foi registrado na mesma tour, pois em Spells existe uma “visceralidade”, uma empolgação até um pouco exagerada, própria do início, ainda mais contando que estávamos rompendo um paradigma no que se refere a história da banda. E a reação do público foi excelente, a proposta foi aceita quase que incondicionalmente, e isso está registrado nesse CD. Aos poucos inclusive conseguimos atingir novos públicos, pois ficamos mais perto de uma nova geração de fãs que passaram a associar a banda com ícones como Rainbow e Deep Purple. Claro que para alguns fãs mais radicais, creio que ficou aquela sensação de “eu preferia antes” e entendo que não dê para agradar a todos, ainda mais mudando consideravelmente a proposta, como foi o caso, mas falando abertamente, foram muito poucos. E hoje equilibramos melhor esses dois mundos, pois nos demos conta que não temos essa obrigação de sermos de um modo ou outro. Creio que fãs de boa música podem se encontrar no nosso som independente de qualquer barreira.


Alquimia Rock Club - A “primeira fase” da banda, onde cantavam em português, foi realmente “enterrada”? Surpreendeu-me que não tem nada no box dessa fase; achei, num primeiro momento, que até viria novas mixagens e/ou masterizações – ou até mesmo gravações – das músicas cantadas em português, pois tem muitas músicas que a banda nunca mais mexeu, mesmo fazendo novos arranjos...
 

Eloy Fritsch - Optamos em lançar material inédito do que rever a primeira fase da banda. Acho que um dos pontos altos do Box Set é que ele traz muitas novidades sobre o Apocalypse. Novas músicas, novas filmagens e músicas que nunca haviam sido lançadas em vídeo oficialmente pela banda. O Magic Spells também traz dois bônus tracks de estúdio e por ai vai. Mas não esquecemos as fases anteriores do Apocalypse. Muito pelo contrário, nós resgatamos três composições antigas da banda que só haviam sido tocadas em shows, mas nunca lançadas em CD oficialmente: A Cry in Infinity, Set me Free e Find me Now. A primeira é a versão em inglês para a música Um Grito no Infinito de 1986 e as outras duas já haviam sido compostas em inglês no ano de 1992 e agora foram finalmente gravadas em CD com novos arranjos.


Alquimia Rock Club - No encarte do Magic Spells está escrito que “vocês podem sentir nossa felicidade e dedicação em cada música, em cada nota surpreendendo em um som mais rocker e energético”, dando um passo em novas influências e caminhos que a banda passou a ter, e isso refletiu mais ainda no 2012 Light Years From Home, onde, já comentado, muitos sons flertam com o Hard Rock. Isso a banda já tinha isso em mente na época ou foi algo trazido especificamente pela nova formação?


Gustavo Demarchi – Eu diria que ambos. Quando começamos a ensaiar juntos, em 2004, ficou evidente que as músicas tomavam uma direção mais rocker, e que isso por si só já diferiria da antiga formação. Sou um cantor com um background que inclui tanto Peter Gabriel e John Anderson quanto Ronnie James Dio e David Coverdale, só para citar alguns. O Magoo, também tinha esse “aproach”, mas costumo dizer que sozinhos não faríamos nada. A banda tinha essa vontade e se você for ouvir atentamente canções como “Liberdade”, “Paz na Solidão” ou mesmo “Vindo das Estrelas”, vai notar o que estou falando. Então, só tivemos que acender a fagulha, que foram os primeiros ensaios, e a química e vontade natural do conjunto falou por sí.


Alquimia Rock Club - O DVD no Box tem uma apresentação completa feita em 2009, gravado em Setembro no Salão de Atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, comemorando o 25° aniversário e alguns vídeos de outras apresentações, mostrando a força que a banda tem ao vivo. Como vocês estão se preparando para a divulgação ao vivo do Box e do 2012 Light Years From Home? Podemos esperar algumas surpresas, como a super-produção em algumas apresentações, como a que teve no lançamento de Bright of Life, ou até mesmo novas interpretações teatrais do Gustavo?


Eloy Fritsch – Nós vamos fazer um evento muito bonito de lançamento do Box Set. Será um concerto com a Orquestra de Sopros em Caxias do Sul. Os ensaios iniciam em julho e a apresentação será no Teatro da UCS dia 11 de setembro. Vai ser um evento muito bonito porque teremos a participação do coro e, portanto, mais de 80 músicos no palco tocando composições que estão no Box Set.


Alquimia Rock Club - Outra coisa que chama muita a atenção é o projeto gráfico do Box; ilustrações belíssimas e um deleite para os fãs da banda em mínimos e suaves detalhes, que farão a festa em descobrir as referências históricas. Como foi a criação desse projeto, dos encartes e capa do Box, feito pelo Demarchi?


Gustavo Demarchi – Confesso que apesar de ter assumido sempre a coordenação visual das artes da minha “era” na banda, fiquei um pouco apreensivo no que se refere a assumir a criação e execução desse trabalho. Não que achasse que não daria conta, mas é sempre difícil trabalhar quando o cliente é você mesmo, pois os níveis de exigência sempre são maiores. No meu caso, me orgulho duplamente desse lançamento, pois contei com o apoio de todos na banda, principalmente do Eloy, que foi um grande “contraponto”, sempre fazendo ótimas sugestões no que se refere às idéias, mas principalmente do Gabriel Demarchi, meu irmão e sócio na G2D, que em muitos momentos foi decisivo no que se refere aos conceitos e idéias, além de ter criado as lindas ilustrações do Magic Spells. Além disso, é um momento singular para mim, poder falar em um mesmo contexto sobre esses dois lados, o de músico e o de Designer.
Falando agora especificamente da parte gráfica, a idéia que norteou o trabalho foi criar uma identidade visual que de alguma forma englobasse esse universo próprio que é a Apocalypse e sua trajetória nesses 25 anos. Então criamos essa identidade comum a todos os matérias que faziam alusão a essa historia (box, DVD, livro e pôster) através de imagens alusivas a própria discografia da banda. Já em “Magic Spells”, quisemos trabalhar as temáticas das canções de forma independente formando uma grande ilustração onde é contada separadamente a história das canções que estiveram naquela apresentação. E em “2012 Light Years from Home” tínhamos a idéia de trabalhar iconograficamente alguns conceitos mais complexos, como tempo, tecnologia e a própria sensação de insegurança tanto no que se refere ao futuro quanto com o que de fato estamos fazendo com o planeta. Como faço nas canções, tento deixar pistas em aberto para que o ouvinte/leitor possa ter sua própria interpretação.


Alquimia Rock Club - Hoje o Apocalypse está entre os maiores nomes do Rock Progressivo que o Brasil já teve, porém mal é reconhecido em seu próprio país. Como a banda enxerga a própria carreira dentro e fora do país? Com esse lançamento ousado – que com certeza chamará a atenção - acreditam que se falará mais no Apocalypse aqui dentro do Brasil?


Eloy Fritsch - O Brasil é um país de grande diversidade cultural e artística. O Apocalypse está no segmento Rock e costuma ser conhecido por aqueles que curtem esse estilo. A preferência nacional é pelo pagode e sertanejo, mas uma parcela da população também prefere a música mais elaborada, mais ousada e, portanto, se identifica com o som que fazemos.  Esse Box Set é um presente para os fãs, mas achamos que outras pessoas podem se interessar e conhecer mais sobre o Apocalypse, já que o conteúdo do Box ficou muito bacana e está agradando a todos. O retorno que tivemos até agora foi realmente muito positivo.
 

Alquimia Rock Club - E falando em Rock Progressivo nacional, a banda começou as atividades no começo dos anos 80, onde no Brasil já tinha nomes consagrados, como os Mutantes, o Terreno Baldio e o Som Nosso de Cada Dia, e tiveram forças para adentrar em uma década difícil para o Rock, inclusive o Progressivo; e hoje temos inúmeras bandas novas de qualidade indiscutível, como o Cartoon e o Trem do Fururo. O Apocalypse, estando bem no meio da história do Progressivo no Brasil, como vê o antes e o depois do estilo e a importância do Apocalypse nessa história?


Eloy Fritsch - Você citou ótimas bandas que tem uma contribuição para a evolução e manutenção do rock progressivo no Brasil. O Apocalypse, assim como os outros grupos contribui para a cena musical brasileira com lançamentos de novas composições e o registro de apresentações. Estamos no sul do Brasil, então as oportunidades são diferentes daquelas no eixo Rio-São Paulo. Fomos fazer nossos CDs pela Musea da França ao invés de ir para São Paulo e concentramos os esforços em lançamentos diferenciados como o CD duplo Live in USA, o DVD Live in Rio e agora esse Box Set de 25 anos. Esperamos contribuir ainda mais fazendo o que mais gostamos que é compor e tocar nossas músicas.


Alquimia Rock Club - O livro mostra bem detalhado toda a carreira do Apocalypse, escrito pelo jornalista e “management” Eliton Tomasi, acredito não deixando nenhuma dúvida sobre o caminho da banda até os dias atuais, inclusive as saídas de pessoas que foram extremamente importantes a história de vocês, como do Chico Fasoli e do Chico Casara. Como uma última pergunta, tem algo que a banda gostaria de comentar, uma curiosidade ou um fato, que não foi mostrado no livro?


Gustavo Demarchi - Sempre existem histórias. As tours são sempre são um caso a parte. O que me vem agora é um de meus shows mais memoráveis, que foi o que gerou o CD The Bridge of Light. Tivemos uma longa jornada de produção e concepção do espetáculo que unia de forma inédita música e teatro. Conseguimos tês dias no Teatro da UCS, onde montamos toda uma estrutura complexa com seis câmeras de vídeo, técnicos de som e luz, um grupo teatral, além da participação e narração do espetáculo feita pelo Hique Gomez. Eram tantos detalhes além da música que literalmente estávamos preparados para qualquer coisa. Até a noite do show só conseguimos ter a idéia de como ficariam alguns elementos no próprio palco, junto ao público. E algumas canções foram tocadas ao vivo naquele exato momento. A própria idéia de tocar um novo álbum na íntegra, pareceu estranha momentos antes de entrarmos no palco. Mas o público, que sabia apenas que veria a gravação do DVD, e foi em sua maioria esperando as canções então “regulares” do nosso repertório, lotou o teatro apoiando e incentivando cada nota, cada performance, cada momento como se fosse familiar a todo o repertório. Naquela noite, tudo ocorreu tão maravilhosamente bem e de uma forma tão especial, que o que seria captado como o áudio do DVD, acabou se tornando obrigatoriamente o novo CD da Apocalypse.


Eloy Fritsch - Eu acho que o livro ficou muito bem escrito pelo Eliton que já conhecia o Apocalypse desde meados dos anos 1990. Ele acompanhou a carreira da banda e depois foi nosso produtor por alguns anos. Então ele tem conhecimento da história da banda e trabalhou pessoalmente conosco quando realizamos shows em São Paulo. Obviamente que o livro foi planejado para contar a história resumidamente. Assim foi possível utilizar duas línguas, caso contrário iria extrapolar o orçamento do projeto. Sendo assim, os detalhes ficaram de fora. Muitas histórias divertidas dos shows e intermináveis sessões de ensaio e gravação ficaram apenas nas lembranças dos integrantes do Apocalypse e as equipes de produção que nos acompanharam ao longo desses anos. Acho que o Eliton deu a cara dele ao livro e isso é muito bom. Como são muitas as histórias vou escolher uma bem antiga do tempo que o Apocalypse era um trio. Nós participamos de um festival em 1989 no RS e chegamos desacreditados. Eram muitos grupos tocando naquele festival. Chegamos tarde na cidade e o restaurante que fomos almoçar estava fechando. Um grupo de músicos concorrentes nos recebeu com gozação e ironias dizendo que não iríamos ganhar nada e não tinha mais comida para a gente na cidade. Ficamos calmos porque já sabíamos que tínhamos potencial de subir ao palco e dar o máximo para vencer o festival. Nós estávamos inspirados e os jurados gostaram muito da performance que fizemos tocando a música Luzes da Vida. No final vencemos o festival. O grupo que debochou e ironizou precisou assistir a entrega do prêmio. Foi uma festa e uma lição para o resto da vida: sempre respeitar os colegas músicos e ser humilde porque é no palco que se mostra a qualidade de um grupo musical.


Alquimia Rock Club - O Alquimia Rock Club agradece a entrevista e deixa o espaço final para a banda!


Eloy Fritsch
- Agradecemos muito pela oportunidade de poder comentar um pouco sobre nosso projeto musical e esse novo lançamento diferenciado que é o Box Set de 25 anos de carreira. Também convidamos a todos para visitar nossos sites para ouvir algumas músicas do novo CD 2012 Light Years from Home. No endereço www.myspace.com/apocalypsebr  é possível ouvir as músicas New Sunrise e Set me Free que abrem o novo CD.  Também convidamos a todos que estiverem pelo sul no dia 11 de setembro a assistir Apocalypse, Orquestra de Sopros e Coral em nossa cidade natal, Caxias do Sul.

 


The 25th Anniversary Box Set - Resenha


Antes de começar a resenha, tenho que destacar o belíssimo trabalho gráfico que foi desenvolvido pelo Gustavo e seu irmão para esse lançamento. A arte se integra com o som e a história da banda, tudo bem projetado e pesquisado; na capa do box já vemos essa preocupação, pois vários elementos da história da banda se faz presente (o que causará a diversão de muitos fãs percebendo e procurando os mínimos detalhes); os encartes dos CDs também são muito bonitos: o encarte de 2010 Light Year From Home foi trabalhado por conta de imagens opostas, um lado com tons claros tornado o trabalho quase angelical, de outro em tons escuros mostrando mais o lado “negro” do apocalipse (inclusive a capa do CD faz parte desse lado). Já a arte do CD Magic Spells foi trabalhada nos moldes de antigas capas de bandas do Rock Progressivo, lembrando bastante os trabalhos de Roger Dean.


O Disco de Inéditas: 2010 Light Year From Home


Foram três anos de cuidado com esse material, e o resultado não poderia ter sido menos triunfante. As composições novas trás todos os elementos da carreira do Apocalypse e outros elementos nunca antes vistos, num disco que soa grandioso, como todo bom disco de Progressivo tem que ser. As músicas estão um quanto mais diretas, como percebemos na abertura com New Sunrise, mas a banda não deixa de lado as características construídas nesses 25 anos de história. Momentos realmente progressivos, como na deliciosa The Angels And Seven Trumpets, na fusion Till Another Day e na um tanto quanto melancólica To Kiss the Tears You Cry, onde os mágicos teclados de Eloy e interessantes inclusões de um baixo fretless dão o tom a elas, contracenam com as verdadeiras pérolas Hard Rock/AOR bem voltados à guitarra Set Me Free e Find Me Now. O ponto alto do CD fica com a última faixa 2012 Light Years From Home, um épico, um deleite aos fãs do mais puro som que uma banda de Rock Progressivo poderia fazer e arrisco até a dizer que é uma das maiores canções que a banda já fez.


Tecnicamente, tudo está lá: as tecladeiras e viagens nos mais variados tipos de instrumentos de teclas que Eloy Fritsch possa tocar, numa variedade de timbres imensa sem nada soar forçado, mostrando mais uma vez ele como um dos maiores nomes em se tratando de teclados e sintetizadores do país; seu irmão guitarrista Ruy Fritsch deixou a guitarra mais encorpada e pesada nesse trabalho, mas sem perder os arranjos totalmente pensados, em muitos momentos a guitarra toma À frente nas composições; Gustavo Demarchi aprimorou mais ainda suas características, principalmente quando se trata de interpretação das letras e Fábio Schneider entrou muito bem na banda, com um trabalho na bateria que continua o que Chico fazia, mas sem deixar de lado sua própria linguagem e estilo musical. Juntando com as belas letras, abordando o apocalipse sem aquela violência e destruição gratuita, mas sim abordando mais nas letras o lado de transformações que sugestiona o lado mais íntimo e filosófico que a palavra apresenta, esse trabalho mostra um Apocalypse que a cada lançamento evolui musicalmente mais.


O disco ao vivo: Magic Spells


As gravações aqui mostradas fazem parte do que talvez seja o momento mais importante e delicado que a banda passou. Fazendo mudanças radicais, com a entrada de Gustavo na voz e de Magoo Wise no baixo, mudando a formação da banda, e mudando as canções, passando a cantar na língua inglesa em vês de nossa língua natal, a banda saiu em excursão em 2005 na turnê do EP Magic, de onde foram tiradas as canções. Apesar das mudanças, aqui mostra uma banda bem segura de si mesma, onde percebemos que foi muito bem pensada as transformações em que passou. Material que estava inédito até agora, o disco continua soando atual, principalmente pela bela produção em que foi feito (inclusive no encarte tem fotos mostrando como foi palco e iluminação das apresentações) Todas as canções são belas e os novos arranjos ganhos ficaram perfeitos, destaco a abertura com Refuge, Crying For Help, o hino South America, Blue Earth e Peace in the Loneliness, todas já clássicas da banda. O disco fecha com mais duas gravações em estúdio de releituras: Escape e Not Like You.


O DVD: The 25th Anniversary Concert


No DVD, temos a apresentação realizada em 2010 comemorando os 25 anos de banda. Aqui é mostrado a força que a banda tem ao vivo, principalmente a performance de Gustavo, que em muitos momentos chega a ser até mesmo teatral e o equipamento de Eloy, sempre deixando embasbacados quem é tecladista. No show temos a participação de Hique Gomez tocando violino elétrico. Como destaques do DVD, podemos ficar com as canções do aclamado disco The Bright of Light: Follow the Light, Last Paradise e Ocean Soul, mais a magnífica versão de Waterfall of Golden Waters, completando assim um set ao vivo perfeito mostrado em Magic Spells. O DVD ainda tem também trechos de outros shows, como o do DVD Live in Rio e várias fotos.


O livro: The 25th Anniversary Book: The Apocalypse History


Fechando o box, um excelente material escrito por Eliton Tomasi, que sempre acompanhou de perto a história da banda. Assim, mesmo sucinta, a história é contada de uma maneira abrangente sem deixar nenhum momento importante de lado nesses 25 anos; o espaço para detalhes que talvez soasse como “tapa buraco” foi dado à versão em inglês – tornando assim uma biografia bilíngüe da banda -, declarações de músicos, produtores e pessoas importantes nesses 25 anos de história e as capas, detalhes e faixas de todos os discos, tudo cuidadosamente escrito e pesquisado num belo trabalho.



Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.




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