Entrevistas

Tomada

Por Fabiano Cruz | Em 25/08/2011 - 21:46
Fonte: Alquimia Rock Club

Depois de seis anos do Volts, um dos discos mais legais que já teve na história do Rock’ n’ Roll nacional, o Tomada retorna com O Inevitável, um trabalho que mostra a evolução da banda, colocando vários elementos que nunca tinham vistos em sua sonoridade, criando um disco pra lá de legal, onde já estão sendo muito bem falados em sites, blogs e revistas. Verdadeiros lutadores no “underground” paulista, a banda já está na estrada a dez anos, mostrando que um trabalho feito com profissionalismo e amor, mesmo com as inúmeras dificuldades que uma banda de Rock tem nesse país, pode se tornar duradouro. Para comemorar o lançamento, Pepe Bueno (baixo), Lennon Fernandes (guitarra e teclados) e Ricardo Alpendre (voz) conversaram com o Alquimia Rock Club sobre o novo disco com suas histórias por trás da produção e das novidades! A matéria termina com uma resenha do O Inevitável e o clip oficial de Ela Não Tem Medo. Boa leitura!


Alquimia Rock Club - Foram seis anos de intervalo entre Volts e O Inevitável. Porque a demora de lançar um terceiro trabalho e como foi a produção e gravação dele?


Pepe Bueno - Foi um longo período, começamos com a produção de Martin (N.E. – produtor da banda Pitty) e tem muito dele neste disco, sem sombra de dúvidas; na época Rodrigo Gomes estava na banda e desde então a idéia de ser mais ousados em termos de composição estava na nossa cabeça, e acho que conseguimos com o resultado final. O Rodrigo deixou a banda e foi trabalhar no Pará. Na seqüência ficamos um ano tocando com Denny Caldeira, um baita compositor e talentoso guitarrista, mas tivemos alguns atritos com ele; nesta época o Lennon já havia entrado na banda e foi muito bom ver um cara que ia aos nossos shows, curtia o nosso som, agora estar trampando e tocando com o Tomada. Lennon é um cara de extremo bom gosto pra timbres e que toca muito. Depois da saída de Denny, fizemos alguns shows em quarteto e entrou Marcião; esse aí nem preciso dizer muito, figura única na música brasileira, personalidade e sensibilidade forte, só precisamos às vezes pedir pra ele abaixar um pouco a guitarra (risos); mas amamos esse cabra. Quando conseguimos ficar estáveis com a formação, era hora de gravar e caprichamos na equipe que ia fazer o disco, Xando Zuppo, Funai, Bernardo e pra mixar o grande André T, idéia de Martin, que com certeza deu um toque especial pro disco.
Ricardo Alpendre - A instabilidade que tivemos depois do terceiro disco causou esse hiato longo. Nem todo mundo estava tão bem consigo mesmo e com os outros. Agora, com formação renovada e várias coisas internas zeradas, era o momento de gravarmos. O clima era, enfim, o ideal. Por isso a gravação foi bem mais tranqüila, com mais naturalidade. O amadurecimento da gente nas composições também contou muito pra essa naturalidade.


Alquimia Rock Club - Algumas músicas do disco – Blá Blá Blá, Blá Blá Blá, Luzes, 99 Centavos e Catarina – já vinham sendo apresentadas ao vivo pela banda já a algum tempo, sendo já bem conhecidas dos fãs. Como foi o trabalho especificamente com elas? Acredito que nesse tempo foram mudadas bastante, principalmente nos arranjos... E as outras composições já estavam compostas quando entraram no estúdio, como essas?

Lennon Fernandes - Sim, algumas delas mudaram bastante até a gente definir o arranjo. Acho que a que mais mudou foi Catarina. Como ela já havia sido gravada e lançada como single virtual (N.E – em 2009) e queríamos ela no disco, decidimos dar uma cara nova pra ela. Agora as outras faixas realmente foram trabalhadas próximas da gravação, o que impossibilitou testes ao vivo, principalmente a DC-3, que eu defini a harmonia do solo no dia de gravar (risos).
Ricardo - "DC-3" foi um caso muito especial de música que representou um desafio. Havia essa idéia especial do Lennon, e era uma responsabilidade grande concluir a composição no mesmo nível. A gente esgotou nossas possibilidades como letristas nessa e na Hoje Eu Não Tenho Muito ao Dizer, e eu vejo essas duas como músicas eternamente inacabadas. As duas surgiram da simples necessidade de compô-las, como se fossem missões, e são duas músicas que falam algo sobre ansiedade. E curiosamente Hoje Eu Não Tenho Muito ao Dizer mudou depois de termos lançado o disco, o que fica mais curioso pelo fato de que trabalhamos pra caramba pra desenvolvê-la quando a fizemos. O que se ouve ao vivo hoje é um funk, no lugar da balada como tocávamos antes, e que foi pro disco.


Alquimia Rock Club - A banda traz algumas novidades no som, como a psicodelia em Entro em Órbita e os toques de soul em Hoje Eu Não Tenho Muito a Dizer. Esses elementos foram trazidos com a mudança de formação, com a entrada de Marcião e Lennon na banda?

Pepe - Muitas músicas já estavam no nosso repertorio antes da entrada dos dois, Hoje Eu Não Tenho Muito ao Dizer. Eu gosto muito de Soul e tenho curtido compor nesta direção, um lance simples, mas que precisa ser carregado de emoção pra dar certo, e foi isso que falei pros caras quando mostrei a música pra eles; Alpendre e Fábio Cascadura deram um retoque chique para letra e chamamos um naipe de metais para dar um charme a mais.
Lennon
- É, quando eu entrei em 2008, notei que sonoramente não era mais aquele Tomada dos dois primeiros discos; não que a idéia seja diferente, mas apenas uma mudança natural. A partir daí comecei a jogar minhas sugestões, e quando Marcião entrou acho que fechamos um time bem temperado para a nova cara do Tomada.
Ricardo
- São as duas coisas: nós já estávamos buscando outras linguagens, e eles dois trouxeram contribuições de peso.


Alquimia Rock Club - Ela Não Tem Medo foi a escolhida para o clipe de divulgação do trabalho. O porquê da escolha dela e como foram as gravações do vídeo?


Pepe - Bom, o clipe é estrelado pela minha irmã, Sara Antunes, que é uma baita atriz de teatro e surgiu quando eu pensei “poxa vou chamar a Sara pra fazer um trampo comigo, a hora é agora”; ela nunca havia feito um clipe e pra ela era novidade. Começamos a nos falar por e-mail e eu mostrei essa música pra ela e de imediato ela curtiu. Então fomos criando idéias e um roteiro psicodélico divertido pra história; quando estávamos mais adiantado nesse processo de criação, chamamos Martha Kiss (grande amiga de Sara) para direção. Foi demais, porque ela abraçou a idéia e agregou a também talentosa Cris Lyra para direção de fotografia. Fomos até o antigo galpão da Antartica e achamos o lugar perfeito para darmos vida ao clipe e o resto vocês podem assistir aqui na net, o clipe também está na MTV, MIX TV e Play TV.


Alquimia Rock Club - O trabalho artístico chama a atenção, com detalhes como uma capa bem legal que não leva o nome da banda e a divisão das músicas em Lado A e Lado B, como se fosse um vinil. A banda que tomou parte disso também? Poderiam falar mais sobre a integração da arte do Cd com as músicas?


Pepe – Poxa... aí é com o Tiago Almeida, que fez todas as capas do Tomada. O cara é meu chapa, somos amigos desde sempre, crescemos ouvindo Rock e fazendo Rock; ele é talentoso para caramba e temos um tratado de cavalheiros, nos fazemos a música e damos liberdade total para ele criar a arte da banda, estamos inteiramente entrosados. Ele me disse que um dia ele acordou de noite e disse “cara a capa do Tomada”, tipo o Keith Richards compondo Satisfaction (risos). Ficou demais, adorei!
 

Alquimia Rock Club - Recentemente a banda foi bem ousada em tocar na íntegra O Inevitável em uma apresentação no CCSP (vocês podem ler a resenha pelo Alquimia Rock Club clicando aqui); não tiveram receio que o público não entendesse a proposta de divulgação que a banda adotou? Estão fazendo mais shows assim para divulgar o novo trabalho?


Pepe - Já havíamos feito isso quando o Marciano (N.E. - baterista atual da banda) entrou na banda em 2006, na época tocamos o disco Volts na integra também. É legal eu gosto. Todas as músicas do “O Inevitável” estão ensaiadas, mas para os shows de divulgação desde disco com certeza músicas dos dois primeiros irão estar e também os nossos singles virtuais, e quem sabe uma ou outra faixa inédita e releituras que fazemos. Não temos regras, sentimos o ambiente e Ricardo escreve num papel o set list do show.
Ricardo - É interessante termos recebido todo tipo de comentário a respeito do repertório desse show. Teve gente, inclusive da mídia, que nos disse pessoalmente ter achado estranho esse repertório, com baladas no meio, fazendo quebras no ritmo de uma banda de Rock' n' Roll como o Tomada. Mas eu disse que pelo menos nessa ocasião nós quisemos tocar todas as músicas do álbum sem exceção. Não seria justo que alguma dessas músicas, desse álbum tão importante pra nós, ficasse sem nunca ter sido apresentada ao vivo. O Centro Cultural de São Paulo, que é um teatro, possibilita isso, e a gente sentiu o clima propício pra tocar o álbum como uma unidade.


Alquimia Rock Club - O Tomada sempre foi – e ainda é! – uma banda que luta muito no “underground” para mostrar seu som. As dificuldades são claras e todos sabemos delas, mas como a banda dribla os diversos obstáculos que encontram no caminho?


Lennon - Bom, é verdade, todos sabemos das dificuldades. O Tomada, como qualquer banda que luta, só existe porque gostamos e acreditamos. Acho que é aí que driblamos tais obstáculos.
Ricardo - O underground é um lugar de batalha. É aquele negócio do jogador de futebol, de "matar um leão por dia", só que sem a fortuna que eles ganham. O mais importante é zelar muito pela qualidade da música, porque assim a gente tem pelo que lutar.


Alquimia Rock Club - Vocês tem mais de 10 anos de estrada. Como vocês enxergam a história do Tomada, desde a formação até o lançamento do Inevitável? As alegrias, as tristezas, a evolução que a banda adquiriu...


Pepe - Uma banda de rock, só isso e é disso que gostamos.
Ricardo
- A partir dos últimos anos, com as composições que surgiram após o segundo álbum (e desde a época do Rodrigo já), somo uma banda que contribui pra que o Rock represente uma fatia importante na cultura musical brasileira. Tristezas são ver o quanto grande parte do público se acomoda, vai a bares assistir bandas cover, e não artistas, e estes existem em quantidade e qualidade. Alegrias são ver os frutos do nosso trabalho, o quanto ele mexe com determinadas pessoas. E a evolução é o processo em que estamos.


Alquimia Rock Club - Com o lançamento, a banda agora vai trabalhar muito em cima dele; quais são os próximos passos do Tomada?


Lennon - Shows... shows... shows.... (risos)
Ricardo - E cuidar pra que o próximo disco seja ainda melhor que este.


Alquimia Rock Club - O Alquimia Rock Club agradece a atenção da banda e deixa o espaço final para vocês!


Lennon - Valeu Alquimia Rock Club. Até a próxima viagem. E vamos todos escutando o Novo Rock Nacional... existem muitas bandas boas por aqui.
Ricardo - Obrigado ao Alquimia pelo espaço! Esperamos que o leitor goste muito do nosso trabalho. Ele foi feito pra pessoas que realmente curtem música, como a gente. E esperamos que a gente se veja em breve!


Tomada – O Inevitável


O Tomada é uma das poucas bandas de Rock hoje em dia no Brasil que realmente fazem o que gostam; a banda já vem chamando a atenção da mídia com seus primeiros trabalhos, um rock puro e visceral carregado de blues, mas com O Inevitável e, principalmente com a entrada de Lennon Fernandes (guitarra, violão, teclados) e Marcião (guitarras), a banda deu arriscados vôos mais altos em sua músicas tornado sua sonoridade ainda mais cativante. Como já viram na entrevista, novas sonoridades são escutadas sem deixar as características da banda de lado. A abertura com (Quero Ter) Uma Música Forte mostra aquele Rock visceral dito ai em cima que permeiam pelos seus primeiros trabalhos, como À Sombra do Trem (puta riff legal!) e Rock de Aventura. O disco vem com algumas já conhecidas do público, canções que vinham sendo tocadas ao vivo, e mesmo com algumas mudanças de arranjos, Catarina, Blá Blá Blá, Blá Blá Blá, Luzes e 99 Centavos continuaram fortes.


A “cereja do bolo” vem justamente no material que a banda incorpora novas sonoridades. Ela Não Tem Medo tem uma sutil psicodelia quase hipnótica nos timbres que Marcião escolheu (inclusive ela foi escoilhida como música de trabalho que lançaram um clip que carrega muito da psicodelia dela, vocês podem ver abaixo o clip oficial); O Calor de Abril tem uma atmosfera que lembra bastante os trabalhos da Jovem Guarda e traz talvez os mais complexos arranjos do disco; as baladas Entro em Órbita e DC-3 trazem belíssimos momentos, principalmente pela interpretação e emoção que Ricardo Alpendre canta com maestria nas canções; Hoje Eu Não Tenho Muito a Dizer nos traz um pouco da influência da Soul Music que o Tomada tem (incusive tem a participação do Patavinas Jazz Club nos arranjos de sopro).


A banda ta tocando como nunca. A Dupla Lennon e Marcião se integraram de corpo e alma à sonoridade da banda, e enriqueceram demais a banda. Lennon é um dos mais criativos guitarristas com arranjos nos acordes (tanto na guitarra como nos teclados) muito bem pensados, sempre saindo do “feijão com arroz” e Marcião tem uma pegada incrível! Sua guitarra soa brilhante, colorida, e seus solos são perfeitos! A integridade dos dois é tanta que hoje fica difícil imaginar um sem o outro no Tomada. Ricardo Alpendre canta com muita mais vontade e liberdade, numa clara evolução aos trabalhos anteriores enquanto a cozinha com Pepe Bueno e Alexandre Marciano quebra tudo lá atrás, com levadas e conduções bem detalhadas que fazem toda a diferença (aliás, o “ronco” do Rickenbacker do Pepe é surreal nesse disco! Dá pra contar nos dedos os discos de Rock no Brasil que tem um timbre tão brilhante e forte no contra-baixo como esse)


Junto com a cristalina produção do disco com a banda chamando toda a responsabilidade por si, mas com a masterização e mixagem pelo renomado produtor André T., O Inevitável é sem sombra de dúvida nenhuma o melhor trabalho de Rock’ n’ Roll no Brasil de 2011, quiçá em anos! Resta a banda colher os frutos de um perfeito trabalho e começar a ter sue nome mais divulgado, pois já está na hora do Brasil conhecer as verdadeiras bandas de Rock’ n’ Roll da atualidade...
 


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Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.




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