Entrevistas

Shadowside fala sobre o MOA e o cancelamento dos shows

Por Fabiano Cruz | Em 22/04/2012 - 17:24
Fonte: Alquimia Rock Club

Era para ter sido uma celebração do Heavy Metal no Brasil. O Metal Open Air - M.O.A. - traria a tradição dos festivais de música europeus de ter três dias voltados exclusivamente ao Heavy Metal ao nosso país, afirmando assim o Brasil na rota de grandes bandas e produções que nos últimos anos cresceu de uma forma nunca vista aqui. Mas contratempos vieram à tona e os problemas - o que até no começo do festival não parecia ter nenhum - apareceram: estrutura precária para o público, péssima organização, bandas cancelando shows por motivos de falta de pagamento de cachês, estrutura nos palcos de baixo nível, desorganização em horários e viagens. A banda Shadowside foi uma das primeiras a enxergar a situação do fetsival e cancelar seu show, o que fez com que muitas outras bandas nacionais tomassem a mesma medida e decisão; a vocalista Dani Nolden falou com exclusividade com nós explicando o ocorrido em São Luiz e do cancelamento da banda, bem como ficará a cena Heavy Metal no país depois do cancelamneto do M.O.A.
 


O Shadowside foi a primeira banda a cancelar o show no Metal Open Air. O que te fato aconteceu com a produção do MOA e seu trabalho com o Shadowside?

Dani: O problema que causou a decisão do cancelamento foi o atraso na comunicação, como noticiamos anteriormente. Porém, estávamos na mesma situação que as outras bandas: não tínhamos contrato, pagamento, passagens aéreas, nem hotel confirmados. Vínhamos cobrando esses detalhes, além do horário final, desde a confirmação de que a Shadowside tocaria no evento, especialmente o contrato. A resposta sempre foi "na semana que vem tudo vai estar resolvido". Inicialmente, fomos informados através de press release dos organizadores que os shows começariam a partir das 13h e que seriam apenas dois palcos. Quando apareceu um provável terceiro palco e alguns horários no site oficial, perguntamos a eles se aquele seria o horário final, pois precisávamos nos programar, afinal temos outras atividades na música e não poderíamos simplesmente ficar sentados esperando uma posição deles para programar nossas atividades, especialmente porque eles nos diziam que os horários seriam modificados. Então, ficamos em uma situação que sabíamos com certeza apenas que tocaríamos no dia 21 e pela incerteza de toda a situação, até mesmo pela falta de um contrato, não tínhamos garantia alguma de que tocaríamos e fomos obrigados a marcar compromissos para a sexta-feira, dia 20, e domingo, dia 22, nos deixando disponíveis para viajar apenas no sábado pela manhã. Porém, o voo mais cedo chegando em São Luís no dia 21 tinha pouso programado para 12h38, tornando impossível tocarmos antes das 15h. A pedido da produção, omitimos o fato de que estávamos sem contrato, cachê e passagens, porque não foram esses os motivos principais do cancelamento e para dar tempo a eles de corrigir os erros com o restante das bandas. Porém, vendo o desrespeito destinado ao público e bandas, com produtor xingando quem duvidou do festival e tentando omitir o fato de que praticamente todo o cast nacional e três headliners estavam cancelados, achei que é apenas justo que o público saiba exatamente tudo que aconteceu.


Quando a banda cancelou o show no MOA, várias pessoas falaram mal da banda, depois desses cancelamentos todos, a banda ja recebeu um pedido de desculpas?
Dani: Não, mas também não faz diferença. Eu sinceramente não vi o que falaram mal, porque não me importa, sabe? Se você não me contasse agora, eu nem teria tomado conhecimento (risos). Eu me preocupo com quem gosta da banda, com quem queria nos ver. É a opinião desses que faz diferença pra mim. Quem fala mal do som, tem todo o direito de não gostar de nós e não me deve desculpas. Quem fala mal por implicância, porque acha que somos feios, chatos, bobos ou metidos, é irrelevante pra nós e não muda a forma como trabalhamos, nem tem importância suficiente pra qualquer um de nós querermos um pedido de desculpas


- Muito se falou no amadorismo dos produtores e algumas pessoas, em defesa a eles, até declararam que isso acontece em qualquer evento grande. O Shadowside já correu o mundo e não me lembro de vocês terem tido problemas com produtores fora do Brasil. Pela experiência de vocês, o que podem a falar dessas diferenças profissionais entre os produtores do Brasil e os de outros países em que já tocaram?
Dani: Problemas acontecem em qualquer parte do mundo, felizmente não é exclusividade do Brasil. Já tivemos eventos cancelados no exterior, é claro, promotores desonestos, mas nunca passei por uma situação como essa que estamos vendo agora no Metal Open Air. Em 10 anos de carreira e 21 países, contando o Brasil, nunca estive a um mês de um evento sem saber o horário e dia que tocaria. A diferença que costuma acontecer entre os promotores brasileiros e estrangeiros não costuma ser pagamento, mas a estrutura. Aqui no Brasil, já nos fizeram tocar em palco feito de engradado de cerveja. Quando pedimos o equipamento necessário para fazer um show com um som que valha o ingresso do público, somos chamados de frescos. Eu nunca vi esse tipo de coisa acontecer lá fora. Lá, o mínimo que você tem é o equipamento básico para fazer um show de qualidade e um palco que não vai te fazer enfiar o pé em um buraco e quebrar uma perna. Infelizmente, a grande maioria dos produtores brasileiros considera profissionalismo e respeito ao público como estrelismo das bandas.


Esse ocorrido vai prejudicar a imagem do Brasil no meio Heavy Metal, logo agora onde, mesmo devagar, estava crescendo o número de shows e produções internacionais. Como isso pode afetar as bandas nacionais?
Dani: Eu não sei se vai afetar as bandas nacionais diretamente, mas vai afetar a cena em geral. Depois de tantos anos o Brasil começou a ser levado a sério tanto pelas bandas quanto pelos agentes de shows estrangeiros e o país passou a fazer parte do roteiro de turnês de bandas importantes... e agora isso acontece. O próximo que tentar fazer um festival desse porte vai ter que enfrentar uma desconfiança sem tamanho por parte do público, porque acredito que todo mundo vai pensar duas vezes antes de comprar um ingresso ou vai deixar pra cima da hora, pra ver se vai acontecer mesmo. Patrocinadores, que já dificilmente se envolvem com Metal, vão provavelmente querer ainda menos entrar em eventos do estilo, porque ninguém quer associar sua marca a algo desonesto, que promete 40 bandas e entrega só a metade. Foi um atraso de anos para toda a cena nacional que não precisaria acontecer. Foi desnecessário, irresponsável e amador.


O Shadowside nunca tocou no nordeste, seria a primeira vez da banda por lá. Depois desse ocorrido, vocês vão planejar algum show em tempos vindouros no nordeste brasileiro?
Dani: Vamos sim, sem dúvida. Nós estávamos muito ansiosos por essa apresentação, sempre quisemos tocar no Nordeste e sabemos que os fãs estavam aguardando esse show muito animados também. Nós vamos compensá-los fazendo de tudo para organizar uma turnê brasileira que inclua cidades nordestinas.


(A entrevista foi feita em parceria com Pedro Leandro, do site Metal com Bolacha - http://www.metalcombolacha.com.br/)

 



Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.




blog comments powered by Disqus