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Virada Cultural 2011 - Primeira Parte

Por Fabiano Cruz | Em 19/06/2011 - 21:34
Fonte: Alquimia Rock Club

O Alquimia Rock Club mais uma vez entrou na maratona e loucura que é ficar 24 horas imersos em cultura – aqui, no caso e na proposta do site, dando um foque somente na música – na Sétima Edição da Virada Cultural Paulista, evento anual promovido pela Secretaria da Cultura do Governo do Estado de São Paulo. Antes de começar as resenhas dos shows que conseguimos ver – alguns não deram por “n” motivos que já lerão abaixo – algumas coisas serão ditas sobre o Festival no geral.


O primeiro ponto é sobre uma questão que vem preocupando muitas pessoas e alguns festivais já fizeram algo sobre o problema do lixo acumulado devido à quantidade absurda de pessoas, e aqui estamos falando da maior cidade do Brasil – uma das maiores do planeta – em um evento que não somente paulistas e paulistanos prestigiam, e sim o Brasil todo. Ao final da Virada, estimou-se por volta de 140.000 toneladas de lixo, os quais somente 10.000 são reciclados...


Isso é um problema extremamente sério, pois a cidade já está saturada. Muitos festivais – como o Festival Psicodália todos os anos e o SWU em sua primeira edição em 2010 - pensam muito a respeito, de uma forma mais preocupante e organizada ou não, e fazem o máximo para que o lixo não seje um problema maior. O Governo junto à Prefeitura tem que ver isso com mais cuidado, pois a cada ano mais pessoas vem para São Paulo e a cada ano mais lixo é criado no Festival.


Claro que muitas vezes é culpa da ignorância e falta de respeito do próprio público. Cestos grandes de lixo estavam espalhados pelo centro da cidade e nos centros de venda de alimentos e muitas vezes eu via pessoas comendo um pastel ou tomando uma água e jogando no chão o lixo após o consumo, não se importando nem com o cesto ao seu lado... Não adianta nem cobrar muito os órgãos públicos se o povo ainda não tem educação.


E falando em educação... Claro que num evento desse porte, os ânimos de fãs e o nervosismo de pessoas que trabalham – muitas vezes horas e mais horas acordadas – ás vezes fica um estopim para qualquer coisa. O público Rock’n’Roll não deu muitos problemas, mas ocorreram alguns. O mais sério foi a sempre imbecilidade de Skinheads em arranjar briga, o que acarretou em luta com os Punks e esfaqueamento na Júlio Prestes na apresentação do Misfits; algo que não poderia ocorrer de jeito nenhum. Como também, não menos carregado de imbecilidade, o ato de jogar uma cadeira no palco na apresentação do Sepultura com a Orquestra Experimental de Repertório (o que quase me acertou, passou raspando minha cabeça), numa clara falta de respeito com os anfitriões do espetáculo – afinal, era Orquestra Experimental de Repertório CONVIDA. Os fãs de Rock’n’Roll, num todo, já é marginalizado pela critica e jornalismo não especializado na área com uma imagem de drogados, vagabundos e marginais sem nenhuma distinção, e essas coisas quando o correm são um prato cheio ao sensacionalismo (como vi a noticia estampada em letras grandes em dois jornais grandes de São Paulo e uma das principais notícias em alguns sites...), gerando desconforto por causa de meia dúzia...


E a falta de educação não ficou somente por parte de fãs. Muitas pessoas reclamaram – e olha que não foi so onde o Rock estava – do despreparo de alguns profissionais de segurança, barrando jornalistas e dificultando nosso trabalho, jogando viaturas e carros na multidão onde não conseguia passar nem pessoas ou sem saber dar informações para o público. Claro que foram casos muito isolados, mas talvez foram pessoas que não estão preparadas para uma jornada de trabalho desse tipo... Nesse caso, a segurança esse ano teve um pouco mais de controle no público – na apresentação do Sepultura na Estação da Luz se não fosse o trabalho conjunto de seguranças particulares e da Polícia Militar, fatalmente teria ocorrido problemas graves, devido a quantidade de pessoas onde quase a grade de segurança foi abaixo e a falta de respeito de alguns fãs mais exaltados.


Alguns palcos tiveram problemas grandes em ajustes e equipamentos, atrasando alguns shows. Nos shows de Rock que cobrimos e percebemos, a maior falha foi o microfone desligado na primeira música do Edgar Winter e no atraso de quase uma hora na passagem de som do Tohpati Ethnomission, que atrasou muito a apresentação deles e do Soft Machine Legacy. Um ponto que os organizadores falharam um pouco esse ano, pois em outros palcos e apresentações também tiveram problemas semelhantes


Mas um ponto positivo para nos que curtimos o bom e velho Rock’n’Roll foi a quantidade de shows esse ano para nós, inclusive elevando o estilo a uma posição que merece. A alguns anos atrás ficamos espremidos na Praça da República, onde não teve a menor estrutura para agüentar as pessoas; esse ano, o que foi o principal palco ano passado, passou a ser das bandas de Rock, em frente a estação Júlio Prestes. E não ficou somente nisso, pois no Boulevar São João teve 24 horas da maior banda de Rock de todos os tempos; Sepultura com Orquestra no palco da Luz; O jazz-rock e o progressivo dando os ares no palco da Líbero Badaró reservado ao som instrumental e apresentações nos mais variados SESCs, como a Casa das Máquinas no SESC Belenzinho. Fora o áudio que algumas apresentações usavam, como o pessoal da Arena Anhangabaú nas apresentações da Luta Libre que rolavam sem dó nenhuma Metallica, Kiss e outras bandas no P.A. Não teria como ser melhor! Isso só mostra que, entre altos e baixos, uma frase que Dio falou em uma entrevista é a pura verdade: “São Paulo é uma das cidades mais Rock’n’Roll que já conheci”


Com os problemas de multidão, alguns shows no mesmo horário e equipe pequena para a cobertura, sem poder ficar se movimentando pra cima e pra baixo e em grandes distâncias, o Alquimia Rock Club cobriu as apresentações que julgamos ser as mais importantes e as bandas que acompanhamos o trabalho já a algum tempo, dando uma grande abertura para o que teve, do Rock nacional da Rita Lee, passando pelo progressivo do Soft Machine Legacy à pancadaria Thrash do Sepultura – o que de nossa pauta e cronograma só não conseguimos cobrir o Misfits porque realmente a multidão tava enorme que impediu nós de chegarmos a área de imprensa


Vamos aos shows!


Palco Júlio Prestes
(Rita Lee, Edgar Winter e Irmandade do Blues e Larry McCray)


Com um pequeno atraso no Palco em frente a um dos marcos da cidade, a Estação Júlio Prestes, Rita Lee e sua família – afinal, numa guitarra seu atual marido, na outra seu filho e no baixo seu sobrinho – foi ovacionada por um dos maiores públicos que um show teve esse ano, tocando Agora Só Falta Você na abertura do show. Falar de Rita Lee, musicalmente, é besteira; canções imortais contracenando com umas mais novas, como Erva Venenosa e Ti Ti Ti, junto com o profissionalismo de sua banda, é algo que não tem falhas e que não deixa ninguém parado no lugar. Musicalmente, so achei desnecessário a participação de um cover de Michael Jackson quando a Rita Lee descansou um pouco e a banda mandou uma versão pesada de Bad; apesar de totalmente aplaudidos, achei deslocado fora do show dela...


Desnecessário – ou não – também são as cutucadas da cantora... Primeiro criticando o Rock’n’Rio afirmando que o evento é um “cemitério musical”, fazendo uma comparação com o evento que vai ter praticamente as mesmas atrações de edições anteriores com a Virada Cultural que a cada ano se renova e abre espaço pra inúmeros artistas. Outra crítica, dessa vez mais dura e sem poupar os xingamentos, foi aos governantes e políticos. “Moro em São Paulo á 65 anos, entra e sai prefeito e governador, e eles não fazem porra nenhuma” foi emendada com “eu quero que todos se fodam, porque nenhum escapa”. Não preciso dizer que foi ovacionda... E tem que ter colhões para uma crítica dessa. Ainda mais num evento que a Secretaria da Cultura faz. Menos, Rita Lee... Menos...


Em pouco tempo e dentro do horário da programação, ás 20:00 sobe ao palco uma das maiores lendas da história do Blues-Rock, Edgar Winter. Abrindo com a excelente Free Ride, um de seus maiores clássicos, foi quase que completamente jogada fora por problemas no microfone de Winter e nos P.A.s, onde não saia nada de sua voz... Um erro inaceitável num dos shows mais esperados, mas Winter e sua trupe foram totalmente profissionais e não pararam a canção – o que com certeza muitos artistas brasileiros iriam preferir fazer...


Em extrema boa forma, ver essa lenda foi algo mágico. No sax, no teclado ou cantando, a performance de Winter é muito forte. No meio de clássicos do porte de Frankestein e White Trash, os improvisos tomaram conta com Winter fazendo a vez de maestro, vocalizando notas e escalas e duelando com os integrantes da banda em verdadeiros duelos entre voz e instrumentos; muitos acharam um pouco maçante – sim, foi longo os solos que tomaram parte que poderia ser de duas ou três canções a mais -, mas ter visto a qualidade e a inteligência musical de Winter foi uma das minhas maiores experiências no ramo. A banda ainda acerta com uma versão arrasadora de Shunshine of Your Love e o show termina de forma emocionante com Tobacco Road, dedicada ao seu irmão Johnny Winter. Edgar deu uma aula de canto, ainda mais pela sua idade, mostrando vigor e técnicas surpreendentes. Um dos melhores shows desse ano!


Apesar de ter o nome Irmandade do Blues, a banda foi uma das mais Rock’n’Roll do palco. Sabiamente na primeira parte do show, mandaram clássicos do Rock e do Blues de uam forma energética, conquistando os presentes para ver o show. Com a abertura com Rock’n’Roll do Led Zepellin, passando por Mercedes Benz de Janis Joplin ao blues clássico de Boom Boom Boom de John Lee Hooker, a Irmandade tocou com peso e com uma alegria contagiante, inclusive nessa última o vocalista e gaitista Vasco Faé passeou reste às grades de proteção para tocar junto ao público, bem aos moldes dos bluseiros e jazzistas norte-americanos.


Com vários convidados no palco, como o tecladista Adriano Gineberg e um naipe de metais, foi a cama perfeita para o guitarrista Larry McCray, um dos maiores nomes do Blues atual, fazer sua apresentação. Conhecido pelos seus solos cheios de feelings e improvisos, McCray preferiu abusar de riffs e dar mais atenção a sua voz; talvez pelo tempo curto em palco – aproximadamente 40 minutos -, o que desapontou muitas pessoas que estavam lá justamente para ver seus belos solos. Mas não faltou músicas que é impossível ficar parado devido ao “balanço” que elas contém, como Soulshine e Run For Your Life; e ficaram ainda mais fortes com o peso que a Irmandade do Blues colocou nelas. Uma boa apresentação, mas se tivessem mais tempo para McCray desfilar seus longos solos improvisados, o show seria bem melhor, inclusive o guitarrista norte-americano talvez se sentiria mais a vontade.


(Segunda Parte)



Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.




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