Resenhas

Triptykon - 2010 - Eparistera Daimones

Por Fabiano Cruz | Em 10/08/2010 - 12:53
Fonte: Alquimia Rock Club

Em qualquer estilo musical que seja tem o que chamamos de “gênios”, compositores e músicos que pensam a frente de seu tempo, que não se prendam a rótulos, que pega aquela “forma musical” e distorce de um jeito magnificamente brilhante, sem perder as raízes. Beethoven no Erudito, Miles Davis no Jazz, Yes no Rock Progressivo são claros exemplos. E no Heavy Metal podemos citar Tom Warrior como exemplo. Sempre a frente, seja no começo de carreira com o visceral Hellhammer, seja no multi-facetado Celtic Frost, seu pensamento musical caótico sempre esteve presente em seus trabalhos. E nessa sua nova banda não seria diferente. Acompanhado de V. Santura na guitarra, Norman Lonhard na bateria e percussão e Vanja Slajh no baixo, Eparistera Daimones (traduzido do grego: Demônios à Esquerda) do Triptykon é uma magnífica obra do Heavy Metal


É impossível destacar alguma faixa. O álbum soa homônimo do começo ao fim. A ousada abertura de 11 minutos com Goetia mostra o que escutaremos pelo disco todo: um som pesado, arrastado, distorcido, cheio de complexidades sonoras que deixa qualquer um intrigado. Abyss Within My Soul parece deslocar tempo e espaço de quem a está escutando – pouquíssimas vezes me senti assim escutando um trabalho de Heavy Metal – devido ao perfeito trabalho de baixo e bateria, integrado aos riffs e voz mórbidos. Esse trabalho pode ser considerado uma evolução natural após o Monotheist, último disco do Celtic Frost. Isso fica claro na In Shrouds Decayed, canção que caberia perfeitamente no Monotheist. A estranha e demoníaca vinheta Shrine abre espaço para a pancadaria de A Thousand Lies, lembrando os tempos de Warrior no Hellhammer – mas muito mais trabalhada em questão de harmonia e timbres.


Descendant é um Black arrastado e sombrio: os timbres e distorções nas guitarras são além de tudo que o Heavy Metal já viu. Myopic Empire é a mais progressiva de todas; o começo meio gótico abre espaço para sons calcados num piano no meio do som – com uma linguagem musical parecida com o período romântico na música erudita -, como se preparasse nossos ouvidos para a calma e belíssima My Pain, um tema totalmente gótico numa bela voz feminina que destoa do restante do álbum. E o disco fecha nos quase 20 minutos de The Prolonging, uma mórbida viajem musical dentro da caoticidade de sons que é o Triptykon. Tudo suporte para as letras de um teor macabro e enigmático altíssimo.


Impossível aqui rotular o que seria a banda. Black, Doom, Gothic, Death, Progressivo. Tudo num mesmo caldeirão. Isso mostra a importância – nem sempre falada – de Tom Warrior pro Heavy Metal. Isso tudo integrado a magnífica arte do disco. A capa é do excelente pintor H.R. Giger - que ja trabalhou com Warrior no To Mega Therion do Celtic Frost e ganhador de um Oscar pelo visual que ele fez para o filme Alien, O Oitavo Passageiro, um impressionante quadro atemporal e ao mesmo tempo futurista chamado Vlad Tepes. O encarte ficou a cargo do artista plástico Vincent Castiglia, que pintou retratos dos integrantes como se tivesse feito com sangue. Lindo e ao mesmo tempo aterrorizante.


Juntando o conjunto, posso afirmar com a maior certeza que esse trabalho figurará entre os melhores do ano, e quiçá um dos mais importantes da história do Heavy Metal. E se isso não acontecer, será uma das maiores injustiças que a história do Metal já impôs



Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.




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