Iron Maiden - 2010 - The Final Frontier
Bateria tribal, baixo com efeitos, guitarras soturnas, voz espectral com sons e efeitos simulando algo relacionado ao espaço sideral: um som atípico para uma banda de Heavy Metal, que cai num Hard’n’Heavy extremamente contagiante e empolgante, um som que é melhor que 90% de tudo que fizeram no Heavy Metal pelo menos nos últimos cinco anos. Assim começa The Final Frontier, o mais novo trabalho do Iron Maiden. Satellite 15... The Final Frontier (um pequeno detalhe: muita gente ta falando que é uma música, mas são duas. Um erro que muitos cometem; as próprias reticências no nome fazem a separação) me deixou extremamente empolgado. Desde o The X Factor a banda não começava um disco com um som empolgante, direto e, ao mesmo tempo, bem trabalhado. E isso continua pela El Dorado, outra canção que beira o Hard Rock. Essas faixas de abertura já conhecíamos, devido ao lançamento de El Dorado como single e o vídeo de The Final Frontier, e isso deixou os fãs esperando o disco, pois, apesar de duas músicas diretas e típicas do Maiden, percebemos algo a mais. Inspiração a mais. Riffs, melodias e solos de guitarras bem trabalhados (o riff da The Final Frontier ta entre os melhores que a banda já criou!), Steve Harris e Mc Brain mais soltos e tocando notas não muito convencionais no Iron e o Bruce em seu melhor momento.
Muita gente já estava com um pé atrás do Iron por causa de seus últimos lançamentos – o que mostrava, apesar de bons momentos, canções não tão carismáticas -, e após escutar essas faixas de abertura pensei “será que dessa vez vai?”. Escutando Mother of Mercy, uma canção fora dos padrões do Iron – bem progressiva, que remete aos ídolos e influências de Harris – já tive a certeza que o disco seria excelente (essa música remete bastante à carreira solo de Dickson, principalmente pela melodia que ele faz no canto). E vai crescendo gradativamente elementos musicais que o Iron nunca usou antes (acordes, riff, linhas de baixo, levadas de bateria), mas num certo ponto ainda contido e sem deixar as características da banda de lado. A música a seguir foi o primeiro momento que eu soltei um “que foda!” escutando o trabalho. Coming Home chegou pra desbancar qualquer outra balada que o Iron já gravou. A cadência harmônica pelas guitarras junto com uma das mais belas melodias que Bruce já cantou faz desse som um dos pontos altos do disco; o refrão, cantado cheio de sentimentos, foi feito para os fãs cantarem em plenos pulmões nos estádios. E depois da calma, vem o som mais direto e rápido do disco, aquele típico Heavy do Iron: rápido e direto. E assim é The Alchemist, a música que fecha essa primeira parte do disco
Primeira parte? Sim. Pois o que escutamos a seguir é algo simplesmente diferente de tudo que a banda já fez e, acima de tudo, dentre as melhores coisas que a banda já produziu. Se os elementos diferentes calcados bastante em bandas dos anos ’60 e ‘70, principalmente as de Rock Progressivo, já soava contido nos primeiros sons, os a seguir a banda descamba de vez pra esse lado, e sem soar forçado como muitas bandas de Heavy Metal que tentam colocar esses elementos nos trabalhos. Isle of Avalon mostra melodias nas guitarras fora dos padrões do Iron e uma rítmica quebrada; Starblid é um épico onde as três guitarras são trabalhadas numa textura musical belíssima junto ao teclado de fundo, chegando no solo perto de algo psicodélico; The Talisman tem o Bruce em mais um momento primoroso, num som cheio de mudanças complexas de riffs; The Mas Who Would Be King temos Harris e McBrain mostrando que são além de ritmos “troteados” em seus instrumentos e a última faixa, When The Wild Wind Blows, fecha o disco de uma forma magnífica, com as melodias das guitarras contraponteando a voz de Bruce em momentos de arrancar lágrimas de qualquer um, tamanha a beleza da composição.
Desde a volta de Bruce Dickinson na voz, a banda vem tateando um meio termo entre o Heavy Metal que construiu durante anos com as influências de seus membros, já mostrada pelos covers de Mountain, Jethro Tull e outras bandas clássicas e progressivas – em inúmeros lados B’s de singles a banda já coverizou muitas dessas bandas. Apesar do álbum soar em certos momentos soturno e bem escuro, o trabalho soa pra cima, com a banda numa inspiração única. Os músicos se sobressaem nesse disco. Bruce Dickinson está cantando como nunca, um de seus melhores momentos em carreira, enquanto Harris e McBrains, como já foi dito acima, mostram que são sim excelentes músicos, experimentando aqui e ali, em passagens quebradas que soam bem naturais. Mas o principal disso são os três guitarristas. Adrian Smith, Dave Murray e Janick Gers despejam melodias incríveis, riffs extremamente trabalhados e solos maravilhosos... Fora que finalmente escutamos com perfeita definição as três guitarras distintas uma das outras, chegando a momentos de texturas musicais nunca escutada antes numa banda de Heavy Tradicional. As letras também estão cada vez mais maduras. É inegável a beleza lírica que a banda apresenta em verdadeiros contos, como a volta pra casa depois de ficar perdido no espaço, como as angustias dos tempos atuais sentido por uma pessoa ou os momentos de um ritual pagão.
Saldo final: o melhor trabalho da banda desde o Seventh Son of a Seventh Son. A banda se reinventou de uma forma que ninguém esperava – calando a boca de muitos que dizem que a banda já era um “cover de si mesma” - depois de 30 anos de estrada. Um álbum que já nasceu clássico e figurará entre os melhores da banda, ao lado de sua estréia, de The Number of the Beast e de Powerslave.
(Vou terminar com um pequeno desabafo: o disco gerou muitas discussões em fóruns e listas sobre o rumo que a banda tomou em seu som. Bem, não estamos mais no fim dos anos 70, ou seja, já não estamos mais em tempos de um Heavy Metal cru como as bandas faziam. Existe uma coisa chamada EVOLUÇÃO que existe em todo lugar, até na Arte Musical. Então, não podemos mais nem exigir que o Iron lance algo parecido com seus discos clássicos de começo de carreira. Tempos passados e o Iron mostrou uma banda que evoluiu e nesse The Final Frontier pensou pra frente. Vi muitos reclamando que esse disco não é Iron, que ta fora do normal e muitas outras idiotices. A essência da banda está lá, e falar que é um trabalho ruim por causa da mudança até certo ponto radical da banda em seu som, ao meu ver, é puro fanatismo. É deixar o que a banda já fez lá quieto, já se tornaram clássicos, e escutar com a cabeça que são seis senhores britânicos que tem um talento musical único e ainda tem muita lenha pra queimar. Senão, o Iron Maiden nem seria o que é hoje em dia.)
Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.