Resenhas

Angra - 2010 - Acqua

Por Fabiano Cruz | Em 03/09/2010 - 20:24
Fonte: Alquimia Rock Club

O Angra já faz parte do grande escalão do Heavy Metal, não tem como negar mais. Mas sua história de uns tempos pra cá é cheio de brigas e desavenças e, apesar de ter lançados aclamados discos como Rebirth e Temple of Shadows, a banda nunca mais chegou a um patamar igual teve em Holy Land. Com mais uma troca de integrante – com a volta do baterista original Ricardo Confessori – a banda lança Acqua, uma obra baseada na belíssima obra de Shakespeare A Tempestade. Com a banda soltando aos poucos vídeos na internet mostrando a produção do disco, muitos ficaram esperando um grandioso álbum, mas podem se decepcionar com a banda. O disco é de difícil análise – talvez seja o mais complexo da banda – mas em muitas partes parece que falta “algo” nele.


O disco começa com uma pequena introdução instrumental e orquestrada Viderunt Te Aquae que dá a abertura para a típica Power Metal Arising Thunder. Esse som, junto com The Rage of Waters, não trás nada de novo, mas a entidade brasileira que a banda coloca nos ritmos e melodias que andava um tanto quando esquecidas, nesse disco volta com mais destaques, como na Awake From Darkness. As diferenças gritantes ficam por conta da pesadíssima e progressiva Hollow – a melhor do disco e talvez a que melhor se saia ao vivo -, na sombria e bela Spirit of the Air – com um ar bastante melancólico – e da diferenciada Weakness of a Man – que tem uma levada meio pop.


A banda tenta inovar mas somente resgata sons que já tinham explorados. A inclusão de diferentes instrumentos, como o violino e o baixo fretless – mas sem exagero, da um sabor exótico a algumas músicas, porém sem ser ousado (o começo da A Monsters in Her Eyes exemplifica bem  isso) e algumas passagens e toques que a banda trouxe de novidade ta esse “recheio” diferenciado. Mas se explorassem bem mais esses elementos ou não parecesse que tiveram medo de mudar radicalmente o som o disco em certos momentos não soaria cansativo e repetitivo (o que a banda já fez, vide o já citado Holy Land). Outra coisa que ficou a dever foi a produção. As guitarras de Bittencourt e Loureiro estão um pouco sem cor, sem ganho; parece que em algum momento esqueceram de dar uma distorcida ou abaixar a tonalidade para soarem mais pesadas. O mesmo da bateria: alguns pratos soam muito secos e sem brilho.


Bem, dos músicos em questão irei falar somente de dois, já que a dupla de guitarristas e o excelente baixista Andreolli estão tocando como nunca, com técnicas de cair o queixo. O primeiro a falar vai ser o Falaschi. Depois de 3 álbuns a banda parece que finalmente se tocou que ele não alcança notas muito agudas – isso ficava claro em shows nas músicas gravadas pelo André Matos – e nesse disco maneiraram nas notas no vocal, dando um ar bem mais natural a voz dele; inclusive, em certos momentos ele coloca técnicas diferentes que já tinha feito em sua banda solo, o Almah, mas nunca tinha feito no Angra. Em segundo, a volta do Confessori. Sim, ele não é extremamente técnico como o Aquiles, porém as composições ficaram mais coesas, sem parecer aquela bateria que parece ser tocada por um robozinho. Não desmerecendo o Aquiles, um dos maiores bateristas que já vi/ouvi tocar, mas em algumas composições do Angra, principalmente aquelas em que o tom brasileiro fala alto, se colocar o “feeling” em primeiro plano as composições soam mais leves e naturais; e foi justamente isso que o Confessori resgatou na banda


No fim, é um disco bom. Não chega a ser ruim, porém se dessem mais atenções aos timbres e produção dos instrumentos – talvez esse fatortenha acontecido por ter sido o primeiro disco totalmente produzido pela banda – e não tivessem medo de inovar nas músicas, o disco tinha se saído melhor, mas mesmo assim algumas coisas foram corrigidas, como a já citada voz do Falaschi. Tenho que destacar também a magnífica obra de arte do disco, principalmente a capa (trabalho feito pelo artista Gustavo Sazes).


(Em tempo: particularmente como um amante da obra do que talvez seja o maior mestre que o teatro já teve, no começo achei estranho um disco cujas letras se baseiam numa importante peça da literatura britânica sendo tratada musicalmente em tons brasileiros. Fico imaginando como nos sentiríamos se uma banda inglesa resolvesse fazer um  disco conceitual sobre uma obra do Machado de Assis, mas no som colocassem e abusassem dos ritmos e melodias típicas inglesas... Sim, talvez seja coisa de minha cabeça, mas que soa estranho....)

 



Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.




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