Resenhas

Dennis Rea - 2010 - Views from Chicheng Precipice

Por Fabiano Cruz | Em 20/10/2010 - 21:11
Fonte: Alquimia Rock Club

Pode parecer estranho um disco que mais se assemelha a uma mistura de música oriental e Free Jazz ter seu espaço aqui no Alquimia Rock Club, mas os experimentalismos que tem nesse disco e alguns toques de progressivo, fora o currículo do guitarrista Dennis Rea – que toca na cultuada banda Iron Kim Style – fez com que eu desse um parecer e postasse aqui no site. Bem, o trabalho Views From Chicheng Precipice foi composto a partir de bases da música folk oriental e na experiência do guitarrista com o jazz e fusion. E, pelas muitas similaridades, principalmente por causa das escalas pentatônicas, e pelas composições que muitas vezes são polifônicas, devido aos improvisos feitos em contrapontos; as 5 canções desse trabalho são peças primorosas.


A abertura com Three Views From Chicheng Precipice (After Bai Juyi) é baseada no poema “Uma Flor”, do poeta Bai Juyi que viveu na dinastia Tang (618-907 D.C); o trabalho de improvisos em cima de três motivos pentatônicos pode soar estranho no começo, mas é extremamente agradável de se ouvir. Tangabata vai nos limites de uma melodia ritualística que acontece em um festival tradicional na China e no Japão; são pouco mais de 15 minutos de pura introspecção, melodias quase meditativas que são quebradas num finzinho free-jazz.  A melodia taiwanesa de Kah Hai De Re Zi (Days By The Sea) é adaptada numa versão bem fusion, com ritmos quebrados e harmonia jazzística. Aviariations on “A Hundred Birds Serenade the Phoeniz” é a melhor e mais experimental canção do trabalho, baseado na peça tradicional chinesa de mesmo nome, aqui temos o som do suona (um tipo de oboé chinês) e experimentações na voz de Caterina De Re – baseados na ópera chinesa, chamada Opera Sichuan - calcados por um instrumental que lembra os momentos mais progressivos do Yes com os momentos mais atonais do compositor Olivier Messianen. O disco fecha com Bagua (“Eight Trigams”), pura improvisação com base em melodias do repertorio ritualístico daoista.


O uso de instrumentos típicos orientais, como a flauta de bambo, o koto, o shakubachi e o baliset, misturados a improvisos da guitarra de Dennis, de um baixo fretless e de percussões, faz o trabalho ainda mais exótico. Um disco brilhante, mas difícil de acostumar com a sonoridade única que ele tem; eu, que particularmente pesquiso e escuto muitas coisas experimentais, tive que escutar esse trabalho pelo menos umas 4 vezes seguidas para começar a compreendê-lo.  Recomendo a mentes abertas e que procuram desafios em discos desse nível!
 



Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.




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