Que o Steve Morse é um dos melhores guitarristas da atualidade ninguém discute. Que ele é um musico totalmente versátil que toca muito bem qualquer estilo, também não tem discussões. E seu novo trabalho com a Steve Morse Band, ao lado de Van Romaine (bateria) e do excepcional pouco conhecido baixista Dave LaRue (apesar de poucos trabalhos, o cara “só” é professor do famoso Berklee College of Music e colunista da Bass player) confirma todo o potencial de Steve Morse como músico – tanto instrumentista como compositor.


Out Standing In Their Field abre com uma aula de riifs sincopados e uma cozinha extremamente segura com Name Dropping; um som que, mesmo Morse colocando sua identidade própria, remete aos seus trabalhos com o Deep Purple. E esse estilo continua com Brink of the Edge, que tem uma das linahs de baixos mais poderosas que já escutei. Alguns sons usam linguagens musicais extremamentes complexas, como a Rentless Encroachment, onde riifs baseados em notas “outsides” dentro de um dueto entre guitarra e baixo faz soas interessantes dissonâncias aqui e acolá; ou na Rising Power (Live), uma poderosa peça de quase 10 minutos que se destaca o baixo em slap de LaRue e a performance de Romaine, em vez da guitarra do Morse.


Mas o disco não é so pancadaria nos ouvidos. As baladas Here and Now and Then – que lembra muito outra banda de Morse, o Dixies Dregs – e Unnamed Sources, que tem belíssimos e suaves solos de guitarra. E a parte “versátil” do guitarrista fica na bluegrass John Deere Leter (uma verdadeira aula de como usar a técnica chamada “chicken picking”), na quase Heavy Metal Flight of the Osprey, uma peça bem aos moldes do clássico do séc. XIX e na Baroque 'n Dreams, que, como o nome já diz, flerta com um estilo clássico (bem) mais antigo.


Steve Morse cria aqui não um disco solo, mas uma banda de verdade. No meio de seus espetaculares solos e riffs muito bem construídos, o espaço que Van Romaine e Dave LaRue tem são enormes. Romaine é um puta de um baterista; notas exatas e muito bem pensadas, sem soar como um “robozinho” atrás de duas baquetas. Em muitos momentos enquanto as cordas se gladiam entre ritmos complexos e dissonâncias, Romaine que segura as pontas. E LaRue é fenomenal. Usando e abusando inúmeras técnicas de execução no contra-baixo (pizzicato, slap, palheta), é incrível suas linhas e solos. Um verdadeiro deleite aos fãs do instrumento!

Esse trabalho mostra um “trabalho solo” de um guitarrista que não joga somente para si, mas sim para a banda, o que fica um disco instrumental de guitarra que em nenhum momento soa chato ou cansativo. Mais um belo trabalho de Steve Morse!
 

Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.