Resenhas

Doubt - 2010 - Never Pet a Burning Dog

Por Fabiano Cruz | Em 15/03/2011 - 21:54
Fonte: Alquimia Rock Club

O que esperar de um disco onde a primeira faixa Corale di San Luca tem a voz da lenda da cena Canterbury Richard Sinclair (Caravan, Hatfield and the North, Camel) fazendo um vocal em tons barrocos com a base numa bateria jazzística e cai numa sonoridade que fica num limbo entre o mai radical Free Jazz e o mais obscuro canto do Rock Progressivo na faixa Laughter. Sim, é essa a impressão que o “Power Trio” britânico Doubt faz em seu debut Never Pet a Burning Dog, formado por Alex Maguire (Fender Rhodes, Hammond, melotron, sintetizadores), Michael Delville (guitarras) e Tony Bianco (bateria), e que conta com a participação da lenda já citada.


O som cru e rústico e cheio de dissonâncias pode soar agressivo para alguns ouvidos, mas é inegável que é um belíssimo trabalho. O trio leva o som a um patamar que muitas bandas hoje em dia tentam alcançar, mas talvez por medo ou falta de criatividade não conseguem. As composições quase não tem um tema definido ou uma rítmica que soe coesa, mas isso não quer dizer que o disco é um amontoado amorfo de ruídos e notas dissonantes. Pelo contrário, as composições diferem bem entre si: Over Birkerot poderia ter sido facilmente gravada nos tempos áureos de Sun Ra, enquanto Sea é uma perfeita representação musical do mar em improvisos jazzísticos, mas sem aquele tom poético e belo, e sim uma tonalidade livre das partes mais agitadas dos mares. Sinclair faz mais uma participação vocal, na Prog Passing Cloud, que tem uma belíssima melodia vocal e um trabalho de guitarra impressionante. Cosmic Surgery mistura numa imporvavel junção de riffs “sabbáticvos” com teclados aos moldes de Gentle Giant. E a parte alta do trabalho fica no fim com Beppe’s Shelter, uma justa homenagem ao tecladista Beppe Crovella da banda Arti e Mestieri, que os riffs agressivos e pesados contracenam com uma composição que lembra muito alguns sons do Soft Machine.


Um trabalho de estréia maravilhoso, que mostrou todo o poder de fogo desses italianos. Soa como um moderno Free Jazz caminhando pelas ruas das mais variadas escolas do Rock Progressivo, num belo trabalho. Um disco que tem que ter na prateleira que qualquer amante de excelente música e de pessoas que adoram ir aos caminhos mais diversos e desconhecidos da Arte musical.
 



Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.




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