Resenhas

Krallice - 2011 - Diotima

Por Fabiano Cruz | Em 15/05/2011 - 19:53
Fonte: Alquimia Rock Club

A sensação que tive ao escutar esse novo trabalho do Krallice foi como se meu cérebro derretido escoasse pelos ouvidos e nariz. O Black Metal com tons de vanguarda e progressivo que esses norte-americanos fazem é algo surreal. Colin Marston (guitarras), Mick Barr (guitarras, voz), Nicholas McMaster (baixo, voz) e Lev Weinstein (bateria) conseguiram superar os trabalhos anteriores em 7 canções (contando com a intro) que distorcem tempo e espaço de quem ouve; um disco que não tem outra palavra para descrever que não seja “fenomenal”.


E, realmente, é difícil falar em palavras o som do Krallice. A ousadia já começa no nome dado ao trabalho; Diotima foi uma obscura filósofa grega, a qual muitos a atribuem os ensinamentos de amor do Platão – aquele amor legado a uma idéia de relação entre Homem e uma consciência superior – à Sócrates, seu aluno. Sonoramente, a ousadia vai álem... Memso que a banda seje calcada numa mistura com o tradicional Black Metal norueguês com a vanguarda que muitas bandas francesas e do Leste Europeu, eles vão além dos limites; uma desconstrução de um estilo musical que já nasceu com a idéia de desconstruir conceitos estéticos. Então, escutamos polifonias, ruídos, técnicas vocais, complexidades composicionais que pouco se vê dentro do Heavy Metal


Após a abertura, a faixa Inhume já mostra todos os elementos, além de um trabalho de guitarras fora do comum e uma cozinha inumana e poderosa; os seis minutos desse som já distorce nossas mentes e os conceitos musicais do Black Metal. The Clearing explora ainda mais os riffs polifônicos e mostra um trabalho de voz que se sobressai... Enquanto McMaster faz um gutural mais profundo, Mick Barr tem uma tonalidade mais aguda e fantasmagórica, criando interessantes contrastes e arranjos vocais. A faixa título, uma ode à filosofa com a letra baseada no poema “Ode to Diotima” do poeta Friedrich Holderlin, faz também praticamente uma homenagem ao Celtic Frost, pois é um som arrastado, cruel, um “monolito musical”. Litany of Regrets é a mais experimental – por conseqüência, a mais difícil de se escutar – do disco; seu som quase minimalista carregado de dissonâncias soa muito instável, mas nos prende num labirinto sonoro que faz com que engane nossa percepção, os quase 14 minutos parecem uma eternidade agonizante. Telluric Ring soa mais épica e melódica em magníficas harmonias que, pelo que me lembre, nunca tinha escutado antes no Heavy Metal, com seus últimos minutos, depois de um “interlúdio” com dissonâncias e ruídos, uma das melhores coisas que escutei na vida – ao meu ver, a melhor do disco. E o trabalho fecha com Dust and Light; fecha melancolicamente e etéreo, um som que os caras literalmente brincam com uma melodia sombria e cintilante; e muito do clima se dá à voz de Barr, uma voz gritante e ao mesmo tempo baixa e apagada, como ensinamentos perdidos em algum lugar do tempo (Petrifying the cast-offs of time/ Seeking the balance/ Acknowledge the dust and light/ Acknowledge divinity's mortality)


Tecnicamente, não tem o que falar. Guitarras soam imponentes, a bateria é extremamente poderosa, o baixo é perfeito, principalmente se contar a complexidade sonora. As letras são profundas; não vemos aqui uma “ode ao demônio”, e sim reflexões sobre a mortalidade que temos. Muitas partes soam poemas arcanos, outras resgatam filosofias antigas; que junta com o instrumental único cria um leque de emoções com uma força inigualável: o disco soa cruel, melancólico, furioso; um golpe na Alma de qualquer ser.


Com tudo isso, so posso dizer que é um dos trabalhos mais excepcionais que já escutei dentro do Heavy Metal
 



Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.




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