Resenhas

My Dying Bride - 2011 - Evinta

Por Fabiano Cruz | Em 08/06/2011 - 21:34
Fonte: Alquimia Rock Club

Para comemorar 20 anos de existência o My Dying Bride anunciou que gravaria um disco comemorativo com  gravações de melodias e harmonias clássicas que a banda fez durante esses anos. Até ai normal, muitas bandas ultimamente fazem isso, e nem precisa ser em datas comemorativas; mas surpreendente o My Dying Bride mudou todos seus conceitos num disco com canções re-trabalhadas numa linguagem clássica/operística do que seu Doom/Gothico normal. Sim, esqueçam as guitarras distorcidas, a “cozinha” Doom e as vozes guturais e dêem espaços para violinos, sopros, piano, vozes eruditas num ambiente que mistura o som característico da banda à sons ambientes e experimentais da vanguarda erudita.


Ajudado pelo maestro Johnny Maudling e pela soprano Lucie Roche, o My Dying recriou sua trajetória num trabalho majestoso. As composições soam frágeis, delicadas, depressivas; as recriações são de uma beleza indiscutível. O disco, apesar de longo (afinal, em minhas mãos chegou a edição deluxe com três CDs), somente vai ser compreendido numa audição única; pode ser cansativo para quem não esta acostumado com a sonoridade clássica – principalmente as do Lieders alemães - , mas escutado em pedaços perde um pouco de sua força. O tom principal é o piano bem trabalhado harmonicamente com as melodias no violino, e as vozes da soprano Roche e Aaron Stainthorpe cantando de uma forma quase falada, próximo à técnica Sprechengesang do vocal do erudito, tornando ainda mais melancólico seu estilo; mas muitas vezes o uso de outros instrumentos vem à tona, como metais, sopros e texturas em camadas musicais misturando timbres de vários tipos de instrumentos de tecla (principalmente entre o piano e o cravo)


Destacar algum som é difícil, mas à primeira audição saltou como destaque You Are Not the One Who Loves Me, que tem uma harmonia dissonante ao extremo, a frágil e belíssima Of Lilies Bent with Tears; That Dress and Summer Skin, que vez com um tom burlesco em algumas partes; A Hand of Awful Rewards com experimentalismos em “soudscapes” e ambiente e She Heard My Body Dying, cujo arranjo chega bem próximo dos compositores do período Clássico do erudito. O disco prende a atenção, talvez mexa fortemente no campo emocional em algumas pessoas, mas ao se habitual com a sonoridade, vai ser até uma diversão para os fãs descobrir em cada detalhes de onde o My Dying Bride tirou nas composições originais; The Burning Coast of Regnum Italicum, por exemplo, foi trabalhada em cima da The Dreadful Hours; não citarei mais, deixarei a “missão” para os fãs descobrir música por música)


O disco foi lançado em três versões: uma luxuosa edição Deluxe com três discos e um livreto com 64 páginas; uma edição em digipack com 2 CDs e um livreto de 24 páginas e uma edição “comum” (também sendo disco duplo). Talvez o disco dividirá opiniões dos fãs: os mais fervorosos fãs da fase mais Doom/Black da banda talvez acharão um tanto quanto cansativo, por outro lado quem gosta do lado mais gótico,  escutará sem problemas; o fato de não ser nada Heavy Metal o trabalho, e sim, como já dito, mais próximo da linguagem Erudita, quem não está acostumado com esse tipo de música também talvez ache estranho. Mas não tem como negar que esse ousado trabalho é belíssimo...
 



Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.




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