Resenhas

Jakszyk, Fripp and Collins - 2011 - A Scarcity Of Miracles (A King Crimson ProjeKct)

Por Fabiano Cruz | Em 19/06/2011 - 21:44
Fonte: Alquimia Rock Club

Quando algum tempo atrás, o gênio Robert Fripp se juntou a um outro guitarrista, Jakko Jakszyk, para gravar algumas coisas de improvisos baseados em guitarras, não estavam pensando em banda, mas as composições foram tomando formas e texturas que foi inevitável Fripp chamar e acrescentar outros instrumentos, chamando outros músicos de formações passadas do King Crimson: o baixista Tony Levin, o baterista Gavin Harrison e o saxofonista Mel Collins, o que levou à dupla de guitarristas colocar o trabalho na série A King Crimson ProjeKct. A Scarcity Of Miracles é um disco perfeito em sua totalidade; o resultado é um trabalho com todas as características de 40 anos King Crimson, mas ao mesmo tempo não soa parecido com nada que Fripp e seus companheiros tenham gravado antes, soando bem íntimo, épico, jazzístico, experimental.


A faixa título que abre o disco é uma balada em “mid-time” de uma beleza e melancolia difícil descrever, e já percebemos a importância do sax de Collins para o trabalho, pois muitas texturas foram compostas com base na sonoridade dele. The Price We Pay tem um toque oriental, inclusive com Jakszyk tocando um Gu Zheng (instrumento chinês) em estruturas de harmonias da música oriental. Secrets nos traz uma guitarra de Fripp bem atmosférica – aliás, o disco todo tem detalhes quase imperceptíveis no trabalho de guitarras, que so percebemos em várias audições – e um solo de sax inspirador, enquanto This House tem sua textura composta em “soundscapes”, detalhes riquíssimos na construção da música que soa bem jazzística. Até aqui, os sons são leves, quase baladas, e as duas últimas faixas se opõe totalmente à elas. The Other Man, outra utilizando o Gu Zheng, é a mais “agressiva” do disco, com elementos dos últimos trabalhos do King Crimson que se aproximou muito do Heavy Metal; a guitarra de Fripp e o baixo de Levin fazem um trabalho magnífico aqui, principalmente no timbre escolhido. E a última faixa, The Light Of Day, fecha o trabalho de uma maneira densa e melancólica, em tons escuros que pode até mesmo assustar os desavisados


A primeira audição pode não parecer, mas as canções são extremamente complexas, muito detalhadas musicalmente (e não poderia ser diferente com os músicos envolvidos). As construções harmônicas/melódicas que Fripp e Jakszyk conseguiram é algo extraordinário, não me lembro de ter escutado nada igual antes; a voz de Jakszyk caiu como uma luva nas músicas e leves toques experimentais em sua voz podem ser percebidos aqui e ali; Collins, como já disse, tem seu sax muitas vezes à frente de todos e seus solos são belíssimos e a cozinha com Levin e Harisson é precisa, sabendo como soar vigorosa e complexa sem se destacar. Tudo isso numa produção cristalina, uma das melhores mixagens que já escutei, torna o trabalho um deleite para qualquer fã de boa música.


O disco foi lançado em várias versões para os colecionadores: uma edição especial com DVD que tem as músicas em áudio 5.1 surround 24/96 stereo (infelizmente, não escutei nesse formato, mas se já fiquei louco e abismado com os detalhes em áudio “Normal”, imagino escutar isso em 5.1...), faixas extras das sessões de ensaio e improvisos e um vídeo para a A Scarcity Of Miracles e uma versão em vinil. No fim, em tempos que o Rock Progressivo vem tendo um pouco mais de destaque, uma de suas mentes mais criativas retorna com um trabalho excepcional, perfeito, onde juntou 40 anos de história e impulsionou para novos caminhos e novos sons.



 



Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.




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