Resenhas

Mopho - 2011 - Volume 03

Por Fabiano Cruz | Em 22/06/2011 - 12:47
Fonte: Alquimia Rock Club

O Mopho tem uma história interessante. Formado a pouco mais de 10 anos, no lançamento de seu primeiro disco foi taxado como a nova promessa do Rock nacional, por causa de seu som melancólico calcado nos anos 60/70, criando uma identidade única. Mas mesmo assim, com mídia em cima da banda, o Mopho passou por problemas que quase se dissolveu, principalmente pela saída de Júnior Bocão (voz e baixo) e Hélio Pisca (bateria) de Alagoas e vindo a São Paulo tentar vôos maiores, deixando a banda quase ao esquecimento – basta lembrar da fraca divulgação de seu segundo disco. Mas depois de um longo tempo, os dois se juntam novamente ao vocalista e guitarrista João Paulo e ao tecladista Dinho Zampier e por um período de dois anos compões e gravam o terceiro disco do Mopho: Volume 03.


O som continua o mesmo, porém os anos de experiência e, talvez até mesmo a separação, fez com que a banda trabalhasse de uma forma mais madura, criando faixas realmente fortes tanto liricamente como musicalmente. As reminiscências do Rock 60's se junta a uma grande variedade de sons e influências sem soar nada forçado: Pessoas São de Vidro tem uma rítmica latina gostosa de se ouvir e Prelúdio tem um “quê” de Country, principalmente no riff de guitarra. Mas o forte da banda é aquele Rock simples e despretensioso (quase os Beatles em começo de carreira), mas ao mesmo tempo muito bem trabalhado; composições como Quanto Vale Um Pensamento Seu, Você Sabe Muito Bem e Caleidoscópio mostram bem a Alma da banda. Os teclados e sintetizadores de Zampier chamam muito a atenção: um trabalho magnífico de timbres e melodias que ás vezes aproxima bastante a banda de sons progressivos e psicodélicos. E o jogo de vozes de João Paulo e Bocão é bem estudada; os timbres de cada um foi muito bem estudado para ver onde se encaixava nas músicas.


Não só musicalmente a banda é soberba. As letras são uma ode aos problemas existencialistas atuais, aproximando muito o pensamento da banda ao pensamento de quem os ouve (prestem atenção nas letras de Produto Ordinário Popular e O Infinito...); poucos se arriscaram nesse caminho e se deram dão bem. A arte do CD é uma das mais maravilhosas que vi, pinturas belíssimas quase frágeis são um complemento ao som delicado e rico que a banda faz. A produção é cristalina e muito bem mixada e masterizada. E tudo isso impressiona em saber que os dois anos de trabalho a banda tomou conta de tudo em intervalos vagos de seus outros trabalhos – principalmente usando emprestado estúdios em Maceió quando batiam horas vagas de ambos, estúdio e banda. No fim, um surpreendente trabalho de uma banda nacional em tempos que no Brasil, Rock se resume a um bando de moleques coloridos que mal sabem o que estão fazendo; o Mopho e muitas outras bandas merecem a devida atenção, pois eles fazem realmente um Rock’ n’ Roll de respeito.
 



Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.




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