Resenhas

Cathedral - 24.06.2011 - Manifesto Bar, SP

Por Fabiano Cruz | Em 27/06/2011 - 21:41
Fonte: Alquimia Rock Club

É triste no meio musical sabermos que o trabalho de uma banda é a estrutura de um estilo musical, mas é pouco reconhecida. O Cathedral é uma delas, pois seus discos formaram nos anos 90 a base do que seria muito o Doom e o Stoner Metal; porém sempre foi aquela banda que todos respeitavam, porém poucos admiravam. Talvez por isso – e por outras coisas – o Cathedral resolveu encerrar suas atividades e caiu na estrada para promover o último trabalho The Guessin Game e, por sorte, Brasil caiu na rota dos ingleses, fazendo duas apresentações. No começo, fiquei meio apreensivo, pois o baixista Leo Smee não está mais na banda, e a sonoridade de seu baixo foi a base de muito que a banda fez nos últimos anos; para seu lugar veio Scott Carlson, já conhecido dos fãs dos trabalhos nos anos noventa. Em um lugar pequeno – afinal, o Manifesto Bar não é uma casa de shows, e sim um bar que tem shows – a banda tocou bem próximo aos poucos mais de 300 fãs, tornando a apresentação especial e íntima e, com o som da casa no melhor que pode, o Cathedral fez um dos mais espetaculares shows que esse que vos escreve já viu.


Sem exageros, a banda ao vivo é pesada ao extremo. Com uma intro feita nos teclados seguida com a clássica Vampire Sun e Enter the Worms, o Cathedral já conquistou todos os presentes, mesmo que esses, no começo, ficaram meio sem reação por estar vendo uma das lendas da história do Heavy Metal ao vivo. A guitarra de Gerry Jennings é surreal, poderia contar nos dedos os guitarristas que vi ao vivo que tiraram em palco um timbre e peso absurdo. Com um set bem voltado aos discos clássicos, poucos sons dos últimos discos a banda tocou, mas North Berwick Witch Trails com seus fantásticos riffs começou a levantar o ânimo na casa. E aqui começou a figura de Lee Dorian tomar à frente na banda... Um puta de um vocalista, bem solto no palco, fez uma performance de dar inveja; quase teatral, incorporou as músicas como ninguém, hora se enrolando no fio do microfone simulando um esquartejamento, hora simulando estar em outro mundo, entre outras coisas. O público não sabia se agitava ou se prestava atenção nas “maluquices” de Dorian em palco, principalmente nas clássicas Midnight Mountain e Unnatural World – primeiro momento que o Manifesto quase veio abaixo.


Nesse meio de show, a banda tocou na sequência músicas que tornaram a apresentação mais Doom, arrastada, com toques progressivos. Funeral of Dreams, a única do último trabalho, foi a primeira dessa “parte” do show. E como foram sons mais arrastados, o que se sobressaíram foi a “cozinha” da banda: Brian Dixon, com suas caras e bocas, espancou a bateria de um modo violento e ao mesmo tempo bem ritmado e Carlson foi além das espectativas, mandou muito bem no baixo em linhas bem construídas, deixando bem registrado seu estilo, principalmente nos sons do Carnival Bizarre, onde na época desse disco trabalhou pela primeira vez com a banda. A “viagem” de Cosmic Funeral abriu espaço para Carnival Bizarre, dois sons que os fãs comemoraram muito, principalmente por serem clássicos do Heavy Metal dois anos noventa. Com microfonias e som arrastados, Dorian enfia o microfone na boca e urra igual a um zumbi, começando a arrastada Night os Seagulls, e foi seguida de Ebony Tears, do primeiro trabalho; as duas tocadas na sequência deixou todos que estavam lá catatônicos, parados, sem reação... Aquele som cadenciado, mórbido, ficou marcado – pelo menos pra mim – como uma das melhores sequências musicais que eu já vi...


Depois de músicas que são a essência do Doom Metal, a banda manda a quase Hard Rock (Hard Rock aqui compreendendo como as bandas dos anos 70) Corpsecycle e fecha essa primeira parte com a inesperada Utopian Blaster. Mas faltava mais, e pro bis o Manifesto foi abaixo com a trinca de clássicos Soul Sacrifice (o que estranhamente falaram que a tempos não tocavam, pois quem acompanha a banda sabe que ela fez parte do set list até pouco tempo atrás), Ride e com a música que praticamente define a carreira da banda: Hopkins The Witchfinder General.


A humildade e atenção aos fãs foi enorme... Se não bastasse uma apresentação memorável e inesquecível e com uma viagem à Minas Gerais para o show no Roça’ n’ Roll, o Cathedral ficou na casa até quase 4 horas da manhã (lembrando que o show começou à meia noite e meia e foram duas horas de som), atendendo aos pedidos de autógrafos, fotos e conversando com os fãs; principalmente Lee Dorian, que em seu rosto ficou estampado a surpresa de, mesmo que poucos os presentes, ter visto a admiração da banda no Brasil. Infelizmente, mais uma banda fantástica vai encerrar sua carreira, já avisando que os shows somente vão até o fim desse ano e vão lançar somente mais um disco de estúdio e um ao vivo, e que somente agora aportaram no Brasil. Bem... quem viu, viu; quem não viu, so resta eu dizer que foi, pessoalmente, um dos melhores shows que eu vi... E resta dizer: obrigado Cathedral pelos sons e pelo legado que deixou na história do Heavy Metal!


(As fotos foram cedidas cordialmente pelo fotógrafo Leandro Pena: http://www.leandropena.com/blog)


 

 

 

 

 

 



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.




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