Resenhas

Cracker Blues e Tomada - 17.07.2011 - Centro Cultural São Paulo

Por Fabiano Cruz | Em 19/07/2011 - 22:09
Fonte: Alquimia Rock Club

Domingo a tarde é dia de futebol – até teve, com a Seleção Brasileira, mas vou me abster de maiores comentários sobre isso... – mas no CCSP foi dia de ter o mais puro Rock’ n’ Roll com o Cracker Blues e o Tomada, dando sequência aos shows em comemoração ao mês do Rock. Em relação aos dias anteriores, o público foi menor, mas ainda estavam lá algumas carinhas conhecidas – que inclusive foram nas outras apresentações -, várias famílias com os pais dando a “relíquia” do gosto pelo Rock aos seus filhos e o sempre seleto público que comparece aos shows das bandas. Contando isso, junto com a sonoridade mais calma das bandas do dia, foi mais sossegado ver as apresentações, mas isso não significa que o povo ficou quieto: mesmo sentados nas cadeiras ou timidamente nas laterais da sala Adoniran Barbosa, os presentes cantaram e vibraram bastante durante os shows.


Até porque não tinha como ficar como uma estátua, ainda mais com o Blues/Southern Rock que o Cracker Blues faz. Foi a primeira vez que os vi ao vivo, e vi o quanto o show do Cracker Blues é contagiante! Coruja, com seu colete de harmônicas (que de longe mais parece um colete de balas), comanda a banda bem natural e tem um domínio de voz e instrumento que poucos tem, ainda mais contanto as variedades de harmônicas nos mais variados timbres e afinações que usou durante o show. Lágrima Para Ernest Borgnine foi a introdução, até chamarem as maravilhosas backing vocals, Larissa e Fernanda ao palco, para mandarem Bolero Maldito; e para quem acha que as meninas ficam em palco so para embelezarem a banda, fique sabendo que estão totalmente errados, pois os backings fazem uma puta parte importante nas composições do grupo, hora dando um suporte melódico, hora harmônico. As músicas são diversão (algumas beiram ao puro sarcasmo e ironia), que não tem como dar boa risadas em letras como Tinhoso, Whisky Cabrón e Que o Diabo Que Lhe Carregue. A banda é afinadíssima em palco: Marceleza e suas guitarras foi aclamado a cada nota! Aliás, o arsenal que ele e o baixista Krüger têm é incrível (antes do show com os instrumentos em palco eu mesmo fiquei “babando” nas raridades e marcas, como uma guitarra semi-acústica em que foi mostrada pela primeira vez ao público). E não é somente os instrumentos (e a execução neles) que chamam a atenção, mas o visual da banda; roupas de couro lembrando uma mistura do sul e o antigo oeste norte-americano faz o tom das vestimentas e o telão atrás passando partes de animações completam o cenário – o capricho no visual foi tanto que a banda aproveitou e gravou imagens para um futuro clip. Jaula Enferrujada, com seu toque Southern acústico foi a inédita da noite, o que fará parte do próximo disco da banda e com o tempo curto, teminam o show com a divertidíssima Velha Tatuagem (procurem a letra, com certeza tu conhece pelo menos uma pessoa que já passou pela situação que eles descrevem) e a homenagem à sua terra natal Nascido em São Paulo. Muito boa a apresentação do Cracker Blues! (e que mulheres maravilhosas!)


Em curto tempo, sobe ao palco o Tomada, mandando (Quero Ter) Uma Música Forte, som realmente forte com um leve balanceado, que abre o novo trabalho O Inevitável. O show foi totalmente ousado, pois tocaram na íntegra O Inevitável que, mesmo que algumas músicas os fãs já conheciam pois vinham tocando nos shows, foram músicas que o público ainda não conhecia, mas, mesmo assim, levantou a galera, pois a competência da banda é das mais enormes que já vi; bastou ver a reação na Ela Não Tem Medo e na Catarina. Uma das baladas do disco, Entro Em Órbita, e a calma Hoje eu Não Tenho Muito a Dizer, abriram caminho para as verdadeiras rockers Blá Blá Blá, Blá Blá Blá, À Sombra do Trem e Luzes. O Tomada ao vivo continua imbatível. Ricardo Alpendre é um frontman de mão cheia: sempre comunicativo com o público, agita bastante em palco, tendo uma atitude e movimentos bem legais! Pepe Bueno, com seu baixo sempre muito bem timbrado – e que som desse baixo! – junto com o batera Alexandre Marciano dão um perfeito suporte às viagens e riffs memoráveis da dupla Lennon Fernandes e Marcião; que posso dizer sem medo nenhum que é uma das melhores duplas de guitarras que surgiu no rock nacional: Marcião tem um feeling inacreditável em seus solos, responsável por muito do “swing” de alguns sons do Tomada; e Lennon, além da guitarra, o cara ainda manda muito nos teclados, onde tocou em alguns sons. Na sequência, imitando a mesma do disco, mostraram O Calor de Abril e a agitada e divertida 99 Centavos – essa e outras já conhecidas do público com novos arranjos, enriquecendo elas bem mais. O ponto alto do show posso dizer que foi com a belíssima balada DC-3, onde Lennon, sentado ao piano, tocou notas encantadoras abrindo para um som carregado de emoções pela interpretação de Alpendre. Rock de Aventura – som que, a meu ver, já é clássico da banda – abriu caminho para o final com três canções que marcaram em trabalhos anteriores: Billy, o Esquisito, Minha Diva e fechando com a inesperada Doses Depois, do primeiro trabalho dos caras, fechando mais uma apresentação perfeita
 

Apesar da maravilhosa produção do CCSP, onde iluminação que casou perfeitamente sem erros com o som limpo e cristalino, os shows de Domingo (e os de Sábado) poderiam ter sido com mais tempo para as bandas, pois qualidade eles tem. Aliás, o Rock nacional está muito bem sendo representado por essas bandas de São Paulo que, mesmo com todas as dificuldades sempre estão mostrando trabalho de primeira qualidade e fazendo shows. E não teria como terminar a noite de Domingo se não fosse no bar tomando aquela cerveja com as pessoas que acompanharam as bandas desse fim de semana, em um verdadeiro clima de “Família Rock’ n’ Roll Paulista”! (pena que uma certa “melhor seleção do mundo” quase estragou a festa dos mais chegados ao futebol mundial – incluindo eu ai no meio...)


 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.




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