Resenhas

Faust - 16 e 17.09.2011 - Centro Cultural de São Paulo, SP

Por Fabiano Cruz | Em 22/09/2011 - 20:53
Fonte: Alquimia Rock Club

Sempre me fascinou a sonoridade que bandas do chamado Krautrock, um “subestilo” dentro do Rock Progressivo surgindo no fim dos anos 60 como um movimento cultural contra toda a pomposidade do Progressivo Inglês, juntando conceitos psicodélicos eletrônicos e minimalistas ao seu som; e como as bandas são totalmente underground até mesmo na Alemanha, nunca pensei que presenciaria um show dessa escola musical, quando para minha felicidade, o Centro Cultural de São Paulo anunciou, dentro de apresentações do MCI – Mês da Cultura Independente – duas apresentações do Faust, uma das pioneiras e mais importantes bandas desse cenário musical.


Em turnê divulgando o recente trabalho Something Dirty e pela primeira vez no Brasil, o Alquimia Rock Club esteve presente nas duas datas. As apresentações da banda são experiências únicas, indo muito além da música e seus experimentos: a banda tem um forte apelo dramático em certas partes do show, chegando a ser mais teatral do que musical em si, e conceitos que chegam perto de performances.. O Set list teve algumas diferenças entre si, mas a base do show foram composições de Something Dirty, como Herbstimmung e Pythagoras. Lost the Signal é uma complexidade de improvisos e efeitos que deixa a composição riquíssima, enquanto em Invisible Mending a banda tira sons experimentais com ferramentas de uma placa de metal junto à bateria.


A banda é muito bem entrosada ao vivo. Zappi W. Diermaier é uma verdadeira figura na bateria, seu jeito caricato de tocar é engraçado, mas tira sons da bateria que não é tão comum de se ouvir em qualquer banda – fora a complexidade rítmica com que toca, chegando a algumas vezes ser bem livre aos moldes de baterias do Free Jazz. James Johnston tira efeitos e timbres de sua guitarra que em muitos momentos são a base para os experimentalismos do grupo, como também toma conta me muitos efeitos sonoros. Jean-Hervé Peron, único remanescente desde a primeira formação da banda, é um líder em palco; o som da banda, no geral, é bem calcado em muito do que ele faz no baixo e em alguns momentos no trompete. Bem carismático e comunicativo com o público, transpareceu alegria por estar tocando no Brasil e se sentiu bem a vontade em palco; performático, em alguns sons declarou poemas e textos interagindo letras e música.


E o destaque em palco fica por conta da tecladista/vocalista/performance Geraldine Swayne. Além de ter uma bela e sensual voz, tomou conta dos momentos mais altos das apresentações. Em English Woman’s Dream, sentada em uma cadeira interpreta perfeitamente a letra da canção em uma atuação primorosa. Em Tom Tom Paint, enquanto a banda manda experimentalismos e improvisos sonoros que chegaram a ser surreais, Geraldine vai pintando em uma tela de pano pinturas que vai seguindo o som da banda; o efeito é muito interessante, que geriu duas pinturas bem diferentes nos dois dias.


As apresentações tiveram canções memoráveis, clássicos do estilo. Miss Fortune, um dos clássicos da banda, foi tocada nos dois dias, bem como Fresh Air. A pesada faixa de abertura do último trabalho, Tell The Bitch To Go Home, levantou os presentes no sábado, enquanto os mais fanáticos pela banda ficaram maravilhados em ver ao vivo Buddah (J’aimal) e o som que sintetiza o estilo da banda, Krautrock, do conceituado Faust IV. Além do descrito, a banda ministrou um workshop sábado à tarde, e com os participantes, na apresnetaçaõ de sábado, o Faust chamou todos ao palco para tocarem com eles dois clássicos do também conceituado So Far: It's A Rainy Day, Sunshine Girl e a faixa título do disco. Muito interessante ter visto como Jean-Hervé tem o total controle em mãos mesmo com mais de 15 músicos em palco tocando os conceitos musicais do Faust.


Como já disse, experiência única ver o Faust ao vivo. Duas belas apresentações que o público lotou a sala Adoniran Barbosa, mostrando que aqui tem público para qualquer estilo do Rock,mesmo aqueles bem undergroud. Uma bela iniciativa do Centro Cultural de São Paulo ter trazido a banda – o que tenho que dar os parabéns, pois não deve ter sido barato a produção, sendo que a entrada foi franca, e, mesmo com alguns problemas com instrumentos e PAs aqui e ali, o som estava ótimo e bem definido, em um excelente trabalho pela rapaziada da mesa de som. Torço para que venham mais bandas do estilo no Brasil!


 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.




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