Resenhas

Deep Purple - 10.10.2011 - Via Funchal, São Paulo

Por Fabiano Cruz | Em 12/10/2011 - 18:45
Fonte: Alquimia Rock Club

Show em uma segunda feira sempre é estressante, ainda mais em uma cidade como São Paulo. Trânsito, lentidão, transportes públicos lotados. Mas nada disso impediu que se esgotasse os ingressos da casa de shows Via Funchal para a apresentação do Deep Purple. Quinta vez em um intervalo de seis anos a banda volta a se apresentar em São Paulo na turnê atual do conjunto, o Deep Purple levou gerações para o show; se via muitas famílias aos arredores da casa, pais, mães e filhos juntos para uma noite carregada de Hard Rock em um clima harmonioso e familiar. A abertura – que infelizmente o Alquimia Rock Club não presenciou – ficou a cargo da banda República, que esquentou os presentes com sons autorais e covers.


Marcado para começar as 22:00, com pouco atraso, o Deep Purple sobe ao palco enquanto rolava uma Intro nos PAs e ataca logo de cara com Highway Star; jogo ganho, não tem como o público ficar parado nesse som, ecoando o refrão cantado por todos na casa. Na atual turnê, sabiamente a banda vem intercalando com seus maiores clássicos, lados “B” que não tocam faz tempo, e já mandaram duas surpresas sem deixar os presentes respirarem: a “hardaça” Hard Lovin’ Woman – do sempre esquecido álbum The House of Blue Light – e a maravilhosa Maybe I’m Leo. Mesmo que sejam músicas que muitas pessoas não conheçam bem, principalmente os fãs mais novos, a banda mandou muito bem e seguiu com Strange King of Woman e Rapture of the Deep do último trabalho de estúdio, que foi muito bem recebido no Brasil.


Mary Long - talvez a maior surpresa da noite - e a curta Contact Lost acalmou um pouco banda e público depois de um começo arrasador, abrindo espaço para a balada When a Blind Man Cries, seguida do solo The Well Dressed Guitar, arrancou lágrimas de muito marmanjo na casa. Falar da qualidade dos músicos é idiotice, todos sabem do nível dos integrantes da banda. Steve Morse já pode ser considerado “o” guitarrista do Deep Purple, Don Airey comanda perfeitamente as teclas (mesmo que o mestre Jon Lord ainda faça alguma falta, principalmente nos solos) e a “cozinha” Ian Paice e Roger Glover, que tocam juntos a mais de 30 anos, continua precisa e firme. Mas o que todos temiam era a atuação do Ian Gillan... Ele já não tem a voz de outrora por conta da idade e na última passagem falhou em vários momentos do show; mas nesse não, cantou perfeitamente! Claro, alguns truques dele e da banda foram usados sabiamente, como a queda de afinação nas músicas e deixando o público cantar o refrão, assim Gillan teve mais fôlego em músicas difíceis, como as mega-clássicas Lazy e Knocking’ at Your Back Door, que levantou o Via Funchal


Outra inimaginável de ver a banda tocando nos dias de hoje, No One Came, foi tocada antes do solo de Airey, num solo carregado de citações jazzísticas e eruditas. Dai pra frente... Bem, por mais que já vimos ao vivo Perfect Strangers, Space Truckin’ (em outro momento de arregaçar de Gillan) e Smoke on the Water – que teve no meio o segundo solo de Morse, citando riffs clássicos do Rock no meio de licks poderosos – são canções que fazem parte da história do Rock’ n’ Roll; clássicos inesquecíveis que mostram toda a força e magia do Deep Purple. Em um curto tempo, a banda volta para o bis com uma versão matadora de Hush, e após um solo de Glover acompanhado de Paice, é terminada a apresentação com Black Night.


Pontos negativos foram dois. Primeiro o horário da casa, pois em plena segunda um show começar as dez da noite é complicado demais, principalmente para quem mora longe e precisa de transporte público, e não é a primeira vez que a Via Funchal coloca show a esse horário; poderiam rever isso para as próximas atrações. E o segundo foi a falta de mais clássicos, como Fireball, Somebody Stole My Guitar, Pictures of Home, entre outras (o que é compreensível, pois como fã fiquei maravilhado de ver as surpresas da noite e a história do Deep Purple é gigantesca, com muitos clássicos, que as quase duas horas de show não seria suficiente mesmo). Mas essas coisas não atrapalharam em nada a apresentação do Deep Purple e as mais de 5.000 pessoas saíram com largos sorrisos nos rostos! E que venham mais vezes, pois sempre é bom ver uma das poucas lendas vivas do Rock’ n’ Roll fazer uma apresentação desse nível!


(As fotos dessa matéria foram tiradas do site da Rolling Stone Brasil: http://rollingstone.com.br/galeria/noite-do-classic-rock/#imagem0)
 



Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.




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