Resenhas

Billy Cobham - 1973 - Spectrum

Por Ronaldo Rodrigues | Em 15/05/2009 - 13:00
Fonte: Alquimia Rock Club

O panamenho Billy Cobham é autoridade em baquetas. Esteve envolvido em alguns dos mais ilustres projetos da explosiva mistura do jazz com o rock e na criação da nova (nos então fim dos anos 60) linguagem do fusion, entre eles a citar, as sessões de "Bitches Brew" de Miles Davis e os primeiros trabalhos da Mahavishnu Orchestra. Quando deixou o grupo que lhe rendeu boa parte de sua notoriedade, no começo de 1973, chacolhou as orelhas de muitos músicos, críticos e da moçada antenada ao parir o fantástico "Spectrum". Claro que a força do disco não provém apenas dos ataques rítmicos de Billy, mas de todo o time que participou do projeto - seu companheiro de Mahavishnu, Jan Hammer, nos teclados, Lee Sklar no baixo e o jovem prodígio Tommy Bollin na guitarra. Participaram também Joe Farrel (flauta e sax), Jimmy Owens (trompa e trumpet), John Tropea (guitarra), Ron Carter (baixo acústico) e Ray Barreto (percussão). Billy tinha grandes apostas no projeto: queria consolidar as idéias da Mahavishnu Orchestra e levá-las a uma amplitude maior. Mesmo direcionando o som para um nível mais degustável do que o som da Mahavishnu, não abriu mão da sofisticação e da experimentação, dosando bem todos os talentos disponíveis. Nesse sentido, ter convidado Tommy Bollin para a sessão foi um tremendo acerto. Billy tinha em vista temperar os temas fusion com uma pegada razoável da linguagem do rock americano, ainda flavorizados com um quê de funk e alguma relação com o jazz, algo que soasse natural e menos matemático-cerebral. O talento de Bollin consistia justamente nisso.

 

Cobham conheceu Bollin em um festival nos EUA em 1970, tocando com a banda Zephyr. O baterista na época tocava com o grupo Dreams (que lançou dois discos entre 70 e 71) e ficou impressionado com o garoto na guitarra. No começo de 71, os dois se encontraram quando Bollin trabalhava nas sessões do flautista Jeremy Stelg. O Zephyr estava gravando seu segundo disco no Eletric Lady Studios em New York e Tommy Bollin acabou trombando com um pessoal do jazz lá... Amizade daqui, jam session de lá até o encontro com Stelg e em seguida com Cobham, que participou das sessões da música "Sister Andrea" de autoria do tecladista Jan Hammer, que Jeremy Stelg estava regravando. Nessa sessão, Cobham apareceu por ter sido recomendado por Jan Hammer. Enquanto Bollin trabalhava com um projeto paralelo ao Zephyr, o Energy, Billy Cobham o convidou para participar de sua estréia solo.

 

Todas as faixas foram gravadas no mesmo Eletric Lady Studio, em apenas dois dias daquele maio de 1973. A faixa "Le Lis" foi gravada posteriormente, com John Tropea na guitarra. O material foi gravado quase totalmente ao vivo no estúdio, com poucos overdubs. O lançamento aconteceu em outubro daquele ano e teve vendas expressivas no mercado norte-americano e europeu. Depois das sessões, Tommy Bollin cresceu muito em prestígio, sendo elogiado por grandes guitarristas ingleses pelo seu trabalho no disco. Logo em seguida, foi convidado para ingressar no já afamado James Gang.

 

"Spectrum" é um disco muito consistente que mescla certeiramente temas muito expressivos com musicalidade avançada, espaço para a improvisação e demonstrações virtuosísticas dos músicos, que longe de soarem sacais, alimentam a égide do projeto. A técnica precisa e geniosa de Cobham instiga o coerente trabalho do grupo, que responde com fluência tanto nas interpelações mais inflamáveis quanto nas passagens mais polidas. Tudo repleto de um brilho ardente, uma explosão de musicalidade que não representa necessariamente um trabalho meramente analítico e calculado. Apesar de ser um disco solo de um baterista, a exceção de alguns pequenos solos percussivos no ínicio de algumas músicas, o disco não soa bem somente para apreciadores do instrumento, sendo de um todo bem construído no aspecto coletivo. Das lisergias sintetizadas e espaciais de Jan Hammer, aos graves letais de Lee Sklar, passando pela guitarra charmosa de Tommy Bollin e a voz percussiva de Billy Cobham, "Spectrum" é acachapante, sedutor aos ouvidos, um petardo. 

 
 

Faixas:

 

A1 - Quadrant 4

A2 - Searching for the Right Door / Spectrum

A3 - Anxiety / Taurian Matador

B4 - Stratus

B5 - To the Women in my Life / Le Lis

B6 - Snoopy's Search / Red Baron

 


Ronaldo Rodrigues

 Ronaldo Rodrigues é Colaborador Esporádico




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