Insanidade - 2020 - Hello Suckers
Ainda em atividade, mas já para o crepúsculo da carreira, o baiano Paulo Almeida, ex-Santos, teve o dissabor da ironia futebolística de enfrentar o alvinegro praiano, na primeira fase da Copa do Brasil de 2014, defendendo as cores do Mixto. Após os 3x0 na Vila Belmiro e a eliminação, em entrevista à ESPN Brasil, o volante demonstrou amadurecimento ao afirmar: “Eu demorei para aprender que o futebol foi feito para fazer amizades”, muito em função de seu espírito guerreiro, às vezes taxado até de violento em campo. E o que a resenha do primeiro álbum da banda goiana Insanidade tem a ver com isso? Teria este escriba ficado insano, trocando as bolas ao misturar esporte com música? Não e é simples: rock e metal também foram feitos para fazer amigos!
E foi graças à globalização e à abertura dos argentino-brasileiros do Corazones Muertos para os noruegueses do Turbonegro, num dos camarotes do Carioca Club, que este que vos escreve teve a honra de conhecer Lucas, vocalista do Insanidade, de Catalão (GO), tão do Centro-Oeste quanto o Mixto, de Cuiabá (MT). Papo vai, papo vem, o simpático goiano insistiu para que este abstêmio escriba tomasse uma cerveja e, feita a troca de contatos e passados sete meses desde o show de setembro/19, não é que seu conjunto lançou um álbum bem divertido? Em conversa por WhatsApp, Lucas começou discorrendo sobre quem assina a capa de Hello Suckers: “Victor Jam! Ele é guitarrista do Black Drawing Chalks e tatuador e desenhista no Estúdio Dolorosa em Goiânia”. Aprofundamos o tema destacando a arte da contracapa, pois seria ela um desenho ou uma foto? E baseada em algum lugar real ou inventada? “É um desenho! Também foi o Victor Jam e o pessoal do Estúdio Dolorosa. Eu tinha pedido para fazerem um desenho tipo Nova York e São Paulo, como exemplo de grandes cidades assim. Era para ser uma coisa meio Gotham City, acinzentada, meio Sin City também, sabe? Mais ou menos isso aí e ele pegou os exemplos, mas é um desenho”.
Além do frontman, inteiram o quarteto Éder (guitarra), Ricardo (baixo) e Wilsner (bateria) e o play de estreia dos caras foi produzido pelo próprio guitarrista no Estúdio Multisom, na cidade natal do grupo. Composto por doze faixas, ao término do CD, a sensação é de atropelo e se torna até missão ingrata destacar apenas uma das pedradas. Quanto às durações, a variação vai de 1’37” a 2’49” – respectivamente décima primeira e sétima, Buracos e Go Pedro. Sobre o assunto, Lucas elucidou: “Geralmente gostamos de músicas mais curtas assim mesmo, sabe? Com dois minutos e meio para menos, três no máximo – acho que não temos nenhuma que chegue a três minutos. Então sai naturalmente, nada proposital e acho que mais por gostar mesmo de músicas mais rápidas e curtas”. Encarnando o espírito ‘do it yourself’, o vocalista é responsável pelas letras, manda as composições prontas para os colegas e vale registrar que todo o material é autoral e em português, embora duas canções tenham nomes em inglês: a faixa título e a citada Go Pedro.
Aliás, sobre o personagem, não é que Pedro existe mesmo? Com letra verídica, Lucas riu ao ser indagado a respeito: “É um amigo meu, tio de um amigo meu, na verdade. Ficamos muito amigos quando éramos moleques, na juventude em Itumbiara, interior de Goiás. Ele era um cara muito louco, sabe? O mais louco que tinha lá e como a gente era muito novo, com onze, doze anos, e ele era bem mais velho, ele aprontava muito, fazia muita bagunça e loucuras demais. É o cara que nos apresentou à noite e às coisas boas da noite também, umas bagunças boas. Ele é vivo até hoje, inclusive ele escuta a música direto e a acha o máximo. Estória real, tudo real! Foi morar no Amazonas, tudo que está escrito na letra é real e sobre ele”.
Para mais detalhes sobre os temas líricos e o estilo adotado pelo conjunto, não custa nada citar um trecho do próprio release oficial: “As letras das canções vão desde o questionamento político-social até mesmo à diversão e à loucura. Punk Rock ‘N’ Roll para curtir acelerado em um som que vai do Action Rock, Action Punk e High Energy Rock ‘N’ Roll ao Hardcore, trazendo a essência do Rock ‘N’ Roll com guitarras distorcidas, baixo marcante, bateria pesada e vocal rasgado. O verdadeiro rock pauleira, com muita energia e agitação. Para quem gosta de bater cabeça, nós temos a fórmula”. Com produção objetiva, não há efeitos de estúdio a maquiar o resultado final. Ao contrário, a sonoridade é suja, no melhor sentido do termo, e bem punk rock.
Para os mais curiosos, há no YouTube um show completo no Festival Catalão Rock City em 26/10/19. Completaram a festa: Hellbenders, Overfuzz, Desert Crows, Stolen Byrds, Molho Negro e Rotação Perfeita. E é claro que isso virou assunto: “Um amigo meu e eu organizamos esse festival, nós que fizemos esse festival de rock aqui em Catalão e, inclusive, a foto da contracapa do encarte do CD é real e foi tirada em nosso show no Catalão Rock City. Convidamos todas as bandas que tocaram lá e acabou que ficamos amigos deles, inclusive o pessoal da banda e todo mundo, de conversar por Instagram e WhatsApp. E a gente estava pensando em fazer outro esse ano também, só que aí veio o Corona vírus e atrapalhou tudo. Mas o festival foi a gente que fez mesmo”. E para quem quiser capturar mais da energia do quarteto ao vivo, além deste full show, há outra apresentação no YouTube, realizada no Oficina do Rock.
Voltando no tempo, descobrimos como foi o início do Insanidade: “A banda surgiu em 2019, eu dei o nome e já compunha música. A idéia veio no ano passado, quando me juntei ao guitarrista, o Éder, também produtor do Hello Suckers, e a gente foi formando a banda. Aí pegamos o Ricardo para o baixo e o Wilsner para a batera e essa é nossa primeira e única formação, por enquanto. Então não temos nem um ano, praticamente, e os shows que fazemos, nós mesmos organizamos aqui em Catalão. Tem uma casa de shows aqui chamada Oficina do Rock e o pessoal de lá é muito amigo nosso, então quase todo final de semana a gente fazia shows lá... quando estava aberto, né? A gente mesmo organiza e divulga, o festival também é a gente mesmo que faz e estamos bem no começo ainda. Foi praticamente em setembro que demos o pontapé inicial, sabe? E em outubro já estávamos fazendo shows só tocando músicas próprias – não tocamos covers, não”. E de onde teria vindo a inspiração para o batismo do Insanidade? “Veio quando eu era moleque. Tinha por volta de doze anos, fui a Goiânia e lá tem uma banda chamada Desastre. No jornal de maior circulação aqui do Estado, O Popular, estava a letra de uma música deles chamada Funeral Na Nova Ordem e uma parte da letra falava de insanidade, tinha essa palavra. Achei que era legal demais, fiquei com isso na cabeça, puxei da memória e peguei. Isso sempre me chamou atenção, sabe? E até pelo significado também da palavra, né? De loucura, insano, doideira”.
Partindo para o final do bate-papo, retomamos a mescla entre português e inglês nos títulos de duas canções. Por que a mistura se tudo é cantado em nossa língua? “Cara, acabou que ocorreu de ficarem esses dois títulos em inglês aí, sabe? Sempre gostei muito do nome Hello Suckers e então ficou esse nome em inglês. E Go Pedro – ‘Vai Pedro’ – ficou bem legal, casou bem a junção dessas duas palavras. E as próximas músicas nossas, a gente já está com três em inglês também. Vamos nos aventurar para o lado do inglês agora no próximo álbum. Já temos cinco músicas, inclusive três em inglês”. Ao ouvirmos “próximo álbum”, tínhamos de averiguar o que já está pronto para futuros lançamentos: “Primeiramente a gente quer divulgar esse primeiro CD ainda. Infelizmente veio essa pandemia e parou show, bloqueou tudo, né, cara? Então ficou complicado”.
Arrematamos tudo focando no que está por vir: “Eu componho muito, estou compondo direto, sabe? Tenho até uma facilidade para compor e tenho muitas músicas, aí faço os arranjos e, sobre essas cinco músicas, não fomos para o estúdio ainda. Por conta da pandemia, está difícil até de encontrar a galera. Não fomos para o estúdio, mas cada um está tirando sua parte para a gente ver se grava ainda este ano. A idéia era lançar como singles até termos umas dez ou doze músicas para um full ano que vem, mas ir lançando em single porque queremos trabalhar as músicas do primeiro CD. E sem prazo porque não deu nem tempo de trabalhá-las ainda, né? Vamos deixar gravado, mas mais para lançar devagarinho e mais para a frente, fisicamente e nas plataformas digitais também, né? Mas a idéia, primeiramente mesmo, é trabalhar as músicas do Hello Suckers, até porque, para voltar tudo, vai ser meio complicado”.
Lucas tem razão. Não há como prever as mudanças no ramo da música, mas é certeza que tudo será meio nebuloso no recomeço. No momento, só nos resta aguardar, cientes de que os artistas estão produzindo e assim muito material inédito estará disponível aos fãs de todos os segmentos do rock e metal muito em breve. O esquema é seguir fazendo amigos para podermos curtir os showzinhos nossos de cada final de semana, assim que possível! Enquanto isso, vamos mantendo a sanidade ouvindo trabalhos de músicos nacionais promissores como o Insanidade.
Tracklist – Hello Suckers (26’32”):
01) Gasolina – 2’09”
02) Deserto – 2’10”
03) Gota Ácida – 1’46”
04) Criaturas Da Noite – 2’31”
05) Fugir De Mim – 2’07”
06) Cidade Dos Pecados – 2’21”
07) Go Pedro – 2’49”
08) Hello Suckers – 2’32”
09) Homem Solitário – 2’20”
10) Obrigado Por Nada – 2’01”
11) Buracos – 1’37”
12) Acredito Em Nada – 2’09”
Agradecimentos: Lucas Tamandaré (Insanidade)
Links:
https://www.facebook.com/insanidademetal
https://www.instagram.com/insanidade_official/
https://open.spotify.com/artist/4UzURV2SiT72D2UFiH8Kpl
http://www.soundcloud.com/insanidadeband
Foto: Pablo San
Bacharel em inglês/português formado pela USP em 2003; pós-graduado em Jornalismo pela Cásper Líbero em 2013; professor de inglês desde 1997; eventualmente atua como tradutor, embora não seja seu forte. Fã de música desde 1989 e contando... começou a colaborar com o site comoas melhores coisas que acontecem na vida: sem planejamento algum! :)