Coletiva de imprensa com Billy Sherwood e Banda do Sol
O mês de Agosto de 2010 fez parte da história de nosso Rock nacional. A Banda do Sol, uma tradicional banda de Rock Progressivo de São Paulo juntou no mesmo palco a Orquestra Sinfônica de Sorocaba e o músico e produtor Billy Sherwood, que tem uma sólida carreira dentro do Rock Progressivo, onde tocou em bandas como Yes e Toto e hoje toca em vários projetos, como o Conspiracy ao lado de Chris Squire, Circa ao lado de Tony Kaye e de Alan White e Yoso, ao lado do ex-vocalista do Toto Bobby Kimball. Para promover esse evento grandioso, o Alquimia Rock Club, junto a outras mídias especializadas como o site Progshine e a revista Poeira ZIne, foi chamado para uma entrevista coletiva com o Sherwood e vocalista Moa Jr. E o baterista Fábio Fernandez da Banda do Sol. Com a alegria e a simpatia transparente dos artistas, Fábio começa falando sobre o trabalho ao lado da Orquestra e do Sherwood “Primeiro faz parte de um sonho. Tocar Rock Progressivo vai muito de você gostar do que faz e na época em que começamos e gravamos o primeiro disco, era no começo dos anos 80, a música pop era forte e o Rock Progressivo não tinha espaço na época, e valeu a pena continuar lutando por um ideal e dá muita felicidade a nós.”, e é completado pelo Moa Jr.: “O fato de a gente estar partilhando esse momento maravilhoso da banda com o Billy, que só tem a nos engrandecer musicalmente, isso ainda realmente tem que nos dar umas beliscadas pra ver que é verdade, é justamente a magia da música que reúne esse pensamento, essa emoção, que de uma certa forma atraiu nossa união. O empenho todos esses anos de preservar esse sonho, de estar tocando o que a gente gosta e expressando justamente o que nossa alma quer expressar, não se envolvendo muito em moda ou nem tão pouco fazendo uma música comercial, fazendo o que a gente tinha no coração mesmo.”
Como a Orquestra Sinfônica de Sorocaba também faz parte do projeto, Moa nos explica da dificuldade em unir o Rock com a Música Erudita: “É uma experiência meio única, a gente poder desfrutar da Sinfônica de Sorocaba pra expor nosso trabalho, logicamente fica com outra leitura, e so completa o trabalho. O Rock Progressivo tem essa gama de sonoridades, e é mais humano, com a respiração dos músicos, mais músicos completando a obra. A minha experiência é a primeira com orquestra então tive uma certa dificuldade pra me adaptar, principalmente na pegada, onde parte pro Rock tem que ter uma pegada mais energética. Na orquestra também a gente consegue, dependendo o quanto ensaiamos isso. Mas é maravilhoso, sempre que escutei Beatles com orquestra, ela só vem a enriquecer a obra e a participação da Sinfônica de Sorocaba e as músicas do Billy ficaram lindas. Depende muito de ensaio, devemos ter mais ensaios, mas infelizmente temos poucos dias. O Rock Progressivo com a Orquestra sinfônica casam muito bem.” E continua falando sobre o assunto, abordando como foram feitos os arranjos e como foi feita a seleção das canções a serem apresentadas ao vivo. “Nos tivemos dois músicos que fizeram os arranjos. A escolha das músicas... todas as músicas do CD encaixavam a orquestra, foi na intuição de tirar algumas músicas, e não daria tempo de lapidar mais as músicas. Foi por telefone e por mail com o maestro, e fomos trabalhando e escolhendo as músicas. Na Quem Eu Sou, ela começa pedindo orquestra e se encaixou perfeitamente. A decisão foi mais do arranjador, foi uma ligação muito precisa.”
Recém lançado o CD Tempo, da Banda do Sol, um dos destaques do trabalho são as letras espirituais, calcadas na filosofia indiana. “Na verdade a música, como ela é universal, ela com certeza consegue ser bastante abrangente pra que a gente possa por nossos sentimentos e emoções dentro dela. A espiritualidade, logicamente, é uma introspecção e quando você vai escrever uma composição, isso é uma coisa natural que vem. Gosto da filosofia indiana, pude visitar aquela terra. Inclusive no show vai ter uma parte que vamos apresentar uma música Sinal da Liberdade que vai ter tabla, citar, cÍmbalos, a gente vai dar essa noção de alguns timbres da musicalidade indiana, que é muito espiritual. Pra mim é natural; as músicas faço em dedicação a alguns mestres que vieram melhorar nosso planeta, de trazer mais consciência, e não posso deixar passar em branco eu compondo, já está inerente em minhas letras e músicas”
Um dos fatores de Billy ser tão chamado para fazer trabalhos é sua experiência com inúmeros músicos de diversos estilos do Rock, indo dos trabalhos solos de Paul Rodgers ao Motörhead, passando do Ratt ao Yes “É uma história pra cada banda. A música, pra mim, não tem limites, trabalho independendo de gêneros, desde Air Supply ao Motorhead, e tive oportunidade de conhecer pessoas diferentes. Produzi o tributo ao Pink Floyd, depois comecei o trabalho com o Yes. Não me insiro a um único gênero, estou aberto a várias oportunidades. Nunca me envolvi nessas discussões entre produtores e bandas, mas sempre fui sincero nas produções, sempre falo a verdade quando precisa mudar algo na música, sempre falei. Inclusive aconteceu isso no Yes, houve coisas que tiveram que ser mudadas. Mas isso não mudou em nada minha carreira, continuo amigo das pessoas que trabalhei até hoje.”. E o assunto se estendeu ao Moa Jr., cujo nos tempos difíceis da Banda do Sol, ele trabalhou com grandes nomes da música brasileira “ Tive a experiência de tocar com vários músicos, e sempre me enriqueceu muito, sempre existe essa grande possibilidade de troca, e quando você mostra a composição que fez, você acaba sentindo o que ela quer passar naquele momento. Com Sá e Guarabira aconteceu isso, de a gente viajar fazendo turnê, eles curtiam minhas músicas. Guilherme Arantes também, um super compositor de uma sensibilidade absurda. E isso me ajudou muito na minha formação musica, E o Rock Progressivo tem essa possibilidade de você ter várias influências, so vai acrescentar. Agora minha fonte de inspiração são os Beatles, desde criança sempre escutando o Beatles.”
Mas como o trabalho principal de ambos é o Rock Progressivo, foi perguntado ao Moa sobre a “colocação” desse estilo no mercado musical de hoje em dia “Mudou completamente o cenário musical. Hoje temos a internet e outros meios de comunicação que chega rápido qualquer informação. Atuar com a internet assim somente ajuda, por que a gente consegue ter uma penetração com as pessoas que estão no mesmo movimento. A nossa música já tem uma longevidade e já tem um caminho muito maior que a gente consegue atingir. Acredito que ta mais fácil a gente conseguir mostrar nosso trabalho e pessoas ver, entrar no MySpace, escutar.. a Internet é um instrumento maravilhoso pra isso. Naquela época, a gente não tinha isso. Era tudo muito lendo e dependíamos de mídia, tudo muito caro, tinha o jabá... Dificultava mesmo, o que você queria mostrar era pra meia dúzia de pessoas, hoje você lança na internet tem a oportunidade de mostrar pra inúmeras pessoas. Nosso caso com o Billy foi por causa da internet”. Moa Jr. Falou sobre o mercado nacional, e coube ao Billy Sherwood falar sobre o mercado Europeu e Norte-americano, com base nas vendas de seu novo trabalho com a banda Yoso “Europa é muito mais aberta, principalmente na Escandinávia e Alemanha. O disco na Europa está vendendo bem, com uma boa recepção, mas nos EUA ainda não saiu. O rótulo de super grupo não é relevante, rótulos e idéias acontecem, so que não tem nenhum significado se a música não tem qualidade. Não tem importância se não tem qualidade”, e ele completa logo a seguir sobre o futuro do mercado musical, tão em pauta em inúmeras entrevistas com diversos artistas “Sempre foi difícil e sempre houve mudança no mercado, de cassete pra CD, de CD pra mp3, e dowloads, sempre houve esse tipo de problemas com altos e baixos. Se você ama a música e encontra pessoas que também amam a sua música, você vai receber esse apoio. Antes o músico gravava uma fita cassete, hoje já grava no Pro-tools, sem suporte no meio, e facilita que tenha mais bandas no mercado. E é tudo questão de encontrar seu público e sua música. No Circa eu tenho contato direto com o fã, vendemos o CD diretamente a eles, com esse contato o envolvimento é maior, e numa gravadora esse lado muda, perde o contato com o público. O cenário atual está bem diferente, e a música não vai acabar, depende do objetivo do artista, se quer ganhar milhões ou se quer fazer música.”
Como Billy citou os processos atuais de gravações, foi perguntado a ele seu relacionamento com a tecnologia atual e se ela faz com que os músicos percam a “natureza musical” que todos tem “No passado era bem mais caro produzir música, hoje a tecnologia tornou mais simples e mais acessível. Não precisa ser muito mais técnico pra gravar, os plug-ins mascaram as coisas. Hoje gravamos em várias pistas, montando as músicas como um “lego”. Trabalho com o sistema digital, mas uso a tecnologia pensando no passado. Não gravo algo que não pode ser tocado ao vivo. O mp3 não é muito mais orgânico, é mais comprimido; no Circa não trabalho com isso, não vendo digitalmente. Mas tudo depende da forma de trabalho, de registro e de distribuição. Não podemos parar o progresso, sempre houve mudanças, mas o progresso tem que ser bom; o áudio em vem de progredir, ta regredindo, perdendo a qualidade, coisa que sempre converso com os masterizadores com quem trabalho. Espero que o áudio tenha uma evolução boa, não perdendo freqüências como acontece hoje”, e falando em técnicas de gravação, o assunto se estendeu a outra técnica dele, mas agora no campo da composição “Compor é estranho, as vezes estou andando em casa e vem uma idéia do nada e acabo registrando. È como pintar um quadro, uso uma, duas cores, meio abstrato, mas acaba saindo uma paisagem. No Yes, o Open Your Eyes foi diferente de Keys to Ascension. Quando entrei no Yes em 1996, tava focando em compor com um hit de rádio pra maior banda de Rock Progressivo, para que o Yes voltasse a ter uma abertura nas rádios. No The Ladder, as coisas mudaram; a banda toda participou do processo de criação, girando em Jon Anderson. Algumas coisas foram aproveitadas, outras acabaram sendo guardadas, inclusive usei no Conspiracy com o Chris Squire. Na hora de compor, você tem que saber muito bem pra quem esta compondo, cada banda é diferente, e nunca sei o que vai acontecer. No Circa tenho composições longas e bem progressivas, no Yoso as músicas são mais curtas e mais simples. Sempre coloco a criatividade e a paixão acima de tudo na hora de compor.”
E como o assunto era show em questão em Sorocaba, Fábio falou sobre tocar junto com Billy “Foi muito bom, aprendi muito. Comecei com o Rock, depois fui pra clássica e depois pra música instrumental brasileira, voltando depois pro RP em um panorama bem brasileiro. E aqui temos um felling como brasileiro, e nisso toca com tanta criatividade sem nós saber que acabamos ficando reprimido. Eu senti isso, por que quando vamos tocar vem “não toque alto”, ainda mais baterista, tem que tocar baixinho e o espírito do rock é tocar com adrenalina, forte, com pegada, e isso é uma coisa que todo esse panorama de chegar “vai com pegada” foi como eu experimentasse uma comida que nunca comi. Aprendi muito tocando com o Billy; tava tocando a bateria alto e o Billy falava ”toca mais alto, vai vai, mais bumbo mais caixa, toque a vontade”. E Billy completa com sua visão do trabalho em conjunto coma Banda do Sol “Foi maravilhoso tocar com a Banda do Sol, já toquei com outros músicos com mais cobrança e pressão, e pra mim é muito importante a energia no palco, transmitir essa energia e criar uma sintonia entre banda e público. Sou muito perfeccionista, e tenho um apelido de “general”, por comandar tudo para que saia perfeito em ordem, e tocando com eles senti muita dinâmica, a música transitou bastante, e foi fácil trabalhar com eles pois eles já sabiam as notas e acordes.”
Ao término da entrevista, as emoções tomaram conta dos artistas e com uma grande carga emocional, Fábio começa os dizeres finais “Uma coisa que gostaria de registrar aqui. O começo foi com o Eliton que começou a divulgar a banda no MySpace e vimos um recado do Billy, que gostou da banda e esperava um dia nos encontrar um dia fora da internet. E uns tempos atrás ouvíamos o som do Billy no Conspiracy e o padrão dele em seus trabalhos nos agradava muito e em conversas o Billy concordou em trabalhar conosco, e foi uma alegria muito grande. A produção no estúdio foi de alto nível, o que produzimos no estúdio foi muito enriquecido pelo Billy e pela masterização do Joe Gastwirt, e depois veio essa idéia de trazer o Billy e tocar com ele e uma orquestra”, e Billy completa dizendo sobre a sua experiência em conhecer novos músicos, amigos e parceiros pela internet “Minha relação com a internet no começo não era muito grande, depois que eu criei minhas páginas na net e ai que comecei o contato com as pessoas, passei a criar amizades e amigos, e algumas delas começaram a se tornar negócios. Hoje recebo muito mais proposta, gravando solos e faixas para varias bandas. Gosto desse contato. Inclusive num show do Yoso em Nova York tinha fãs da Alemanha, França, até do Brasil. Acho positiva a internet, sempre faço o possível pra responder minhas mensagens e com isso sempre estou abrindo portas”. Moa Jr. Termina os agradecimentos da Banda do Sol “O agradecimento é infinitamente eterno, pela atenção e carinho de vocês e o espírito de cooperação de todos, e me sinto privilegiado em fazer parte dessa história, e sinto que isso vai me trazer muita inspiração para outras músicas”, e Billy, novamente tomando a palavra, termina a entrevista: “Espero que a oportunidade desse show possa se repetir, e espero também tocar com a Banda do Sol novamente, com ou sem orquestra, e trazer ao Brasil o Yoso ou algum outro projeto meu, sempre é bom estar aqui.”
O show em Sorocaba aconteceu dia 28 de Agosto no Parque Carlos Alberto de Souza com entrada livre e aconteceu em três partes. Na primeira, a Orquestra Sinfônica de Sorocaba tocou “A Noviça Rebelde” (Richard Rodgers), “Batuque” (Alberto Nepomuceno) e “Semper Fidelis” (John Phillip Sousa). Na segunda parte do concerto, a Banda do Sol se juntou à orquestra e apresentou músicas de seu último álbum, “Tempo”, e na parte final, Billy Sherwood subiu ao palco e tocou ao lado da Banda do Sol e da Orquestra Sinfônica de Sorocaba clássicos do Yes, como “Roundabout” e “Owner of a Lonely Heart”, como também músicas de alguns de seus projetos atuais, como Circa, Yoso, e Conspiracy e o clássico “Africa”, da banda Toto.
Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.