Já não é novidade nenhuma que o Brasil é rico em se tratando de bandas extremas, principalmente pelo legado que praticamente começou em terras mineiras nos anos 80 onde hoje muitas bandas já são conhecidas lá fora (basta verem que as bandas nacionais que participam no tradicional Metal Battle no anual Wacken Opein Air na Alemanha sempre saem ovacionadas e aplaudidas). E no interior paulista nasceu Pervencer, uma banda extremamente técnica que ousa em suas composições, a diferenciando de outras bandas de Death Metal. O Alquimia Rock Club conversou com o vocalista Tiago Sammael e com o baterista Fábio Amaro (completa a banda o guitarrista Ricardo Gallonetti e o baixista Nando Ferreira) sobre o EP Extermination is Right lançado recentemente, sobre as dificuldades que uma banda passa no começo de carreira e os rumos e caminhos que estão sendo aberto na carreira deles, num papo que esbanja profissionalismo e entusiasmo!


Alquimia Rock Club - Como um amante do som extremo, fiquei extremamente surpreso quando escutei o EP Extermination Is Right. Que qualidade! Som limpo, composições complexas e uma garra impressionante da banda. Como foi a produção do CD, desde a concepção de idéias à finalização dele?


Tiago - Saudações extremas a todos os brothers aí do Alquimia Rock Club! Aqui é o Tiago, vocalista da banda Pervencer e é com grande satisfação que a gente aceita esse teu convite pra entrevista! É uma extrema honra, brother! Valeu mesmo!
Fábio - Saudações extremas aí galera do Alquimia do Rock! Aqui é o Fábio, batera da banda Pervenver! A gente agradece muito pela oportunidade!
Tiago - Sobre a produção do CD... bom, a gente está sempre compondo e acabamos chegando em um ponto em que a gente precisava registrar mais um pouco desse material. Então a gente escolheu os sons que sentimos que deverpiamos gravar e com base na pegada das letras e da música, saiu esse monstro pós-apocalíptico chamado "Extermination Is Right".


Alquimia Rock Club – Falando em idéias, a banda mostra uma proposta muito interessante, de fazer um Death Metal com influências do Progressivo, tornando o som complexo. Isso foi natural em ensaios e criação das músicas ou quando se juntaram já tinham isso em mente em conversas entre vocês? Aliás, como é a forma de trabalho da banda em termos de composição?


Tiago – Opa, valeu mais uma vez pelo elogio ae, brother! Bom, a idéia de fazer um Death Metal trampado veio naturalmente quando o Ricardo (guitarra) e o Fábio (batera) começaram a tocar juntos qualquer coisa que viesse à cabeça. Os sons que iam desde o Dream Theater até o mais pútrido e brutal Death Metal. Então, quando eles começaram a compor, a coisa acabou fluindo com bastante naturalidade. Sobre o processo de composição, na maioria das vezes é o Ricardo quem chega com as idéias de riffs e mostra elas para o Fábio, que encaixa as levadas de batera e juntos eles acabam montando a estrutura básica do som. Feito isso, são encaixadas as linhas de baixo, e por último o vocal e as letras.
Fábio - Bom, é bem isso que o Tiagão falou. Os sons são criados em cima das bases que a gente tem, em treinos pessoais ou então em idéias que vêm no momento em que a gente compõe. A idéia principal é fazer o som fluir sempre com vontade e pegada, demonstrando sempre todo o poder de fogo da banda.


Alquimia Rock Club – O baixista (e fundador) Adriano Machado saiu da banda bem no meio da gravação e em seu lugar entrou o Nando Ferreira. Como vocês lidaram com uma situação complicada dessa e como chegaram ao Nando? Foi difícil para ele pegar e gravar as linhas de baixo em pouco tempo?


Tiago - Bom, quando o Adriano resolveu sair, o Ricardo já conhecia o Nando há um certo tempo e sabia que ele mandava bem no baixo. Uma vez convidado pra tocar com a gente, ele conseguiu assimilar os sons bastante rápido, chegando ao ponto de até dar uma incrementada neles, algo que nos surpreendeu bastante. Devido à urgência das gravações, no estúdio as linhas principais do baixo acabaram sendo executadas pelo Ricardo mesmo, mas as viradas e todas as partes mais interessantes na verdade foram criadas e gravadas pelo Nando.
Fábio - O Nando entrou na banda pra se juntar à nossa família! A entrada dele foi realmente do caralho, só veio somar à banda! Realmente nos deu um novo gás! Sobre o baixista anterior, prefiro nem falar, já faz parte do passado. O cara nos deixou literalmente na mão e bem em cima da hora...


Alquimia Rock Club – Mesmo as letras mostrando o lado mais obscuro do Homem, o Pervencer aborda temas que não são tão comuns a uma banda de Death Metal, como conceitos históricos, políticos e até mesmo a ufologia. Podem falar um pouco sobre as letras desse primeiro EP e suas abordagens?


Fábio - Bom, os sons desse EP falam bastante da auto-destrutividade e da decadência da raça humana como um todo... mas essa parte eu vou deixar pro Tiagão explicar, porque quem escreveu a bagaça toda foi ele...
Tiago - Bom, vamos lá, essa é minha parte favorita! (risos) O primeiro som, "Destruction of Your Body" fala sobre como a insignificância da existência de muitas pessoas leva elas a buscarem prazer na automutilação e sobre como é inútil imaginar que no final algum deus ou ser imaginário vai aparecer pra te salvar das cagadas que você mesmo escolheu fazer. O segundo som, "Hypocrisy" fala sobre a podridão e a decadência em que se encontram as grandes instituições da sociedade e sobre como nós não devemos nos submeter cegamente a nenhuma delas. "The Real Nightmare" descreve um futuro iminente, onde a raça humana é devorada pelas catástrofes, epidemias, contaminações e guerras que ela mesma causou. Já "Disease" fala de uma maneira mais crua e abstrata sobre o caos e a destruição final, sobre o fim da própria vida na face da Terra.


Alquimia Rock Club – O profissionalismo de vocês é mostrado em varias mídias, como MySpace e outras redes sociais - inclusive a primeira demo foi postada gratuitamente para download - e o lançamento do vídeo-clip junto ao EP. Em tempos de downloads ilegais e tecnologias que facilitam a vida de todos, como o Pervencer vê tudo isso? Facilita bastante uma banda começando agora saber utilizar a internet no máximo que ela pode dar?


Tiago - Valeu, velhão! É lógico que como toda banda, a gente investiu bastante tempo e dinheiro na produção desse EP e que com certeza a gente gostaria muito de viver da música em tempo integral... Tá ouvindo aí, galera da Nuclear Blast? (risos) Mas a realidade é cruel, impiedosa e brutal e a gente precisa lutar para sobreviver com as armas que tem. A internet ferrou a indústria fonográfica, mas também facilitou em muito a divulgação de bandas novas. A nova tendência é que cada vez mais essa antiga cena em que uma dúzia e meia de artistas dominava a mídia comece a ser substituída pelo surgimento de várias bandas independentes menores, cada uma com seu público mais específico. E, vendo por esse lado a gente não tem muito do que reclamar, não. Temos recebido um ótimo retorno por parte da galera.
Fábio - Aí galera, aproveitando o espaço, quero lembrar vocês de dar uma olhada no nosso MySpace. Lá tem todos os sons do EP "Extermination Is Right" na íntegra pra quem quiser ouvir!


Alquimia Rock Club – E como foi a produção do clip e porque a escolha da Destruction Of Your Body?


Tiago - No começo houve uma certa polêmica com relação à escolha do som que seria usado no clip, porque cada um tinha gostado mais de determinado som. Mas no final a "Destruction of Your Body" acabou sendo unanimidade. Talvez por ser o som mais dinâmico, que apresenta melhor a diversidade do nosso som... Enfim, alguma coisa dizia que esse deveria ser o som do clip.
Fábio - E a produção foi bem simples, a gente gravou no próprio estúdio usando só uma luz e duas câmeras. Uma câmera era fixa e outra era móvel, pra closes. Cada um gravou sua parte separado e depois as cenas foram editadas e tratadas com alguns efeitos simples. Apesar da produção simples, o resultado ficou do caralho e a resposta da galera foi muito foda!


Alquimia Rock Club – A banda já tinha lançado em 2009 a demo Labyrinth of Death – o que também tem uma produção acima do nível para uma demo. Como foi a evolução musical da banda dessa demo para o EP Extermination Is Right?


Tiago - Bom, é muito foda quando o pessoal comenta que dá pra perceber a evolução logo nos primeiros segundos de audição. O acabamento da parte gráfica do material também chama a atenção, mas com certeza a gente estaria deprimido, se automutilando neste exato momento, se a galera só elogiasse a capa do CD e não dissesse nada sobre os sons. (risos)
Fábio - A verdade é que, tudo é conseqüência do amadurecimento musical de cada um dos integrantes, mas também das novas idéias que o Tiagão e o Nando estão trazendo. Tudo isso vai se somando e a evolução é inevitável. A gente com certeza tem nossas opiniões próprias aqui sobre o que exatamente evoluiu no som, mas do caralho mesmo é poder ouvir os comentários da galera.


Alquimia Rock Club – Como está sendo a repercussão do EP Brasil afora? A banda já saiu do interior paulista e fez shows fora do Estado de São Paulo, como no Paraná...


Fábio - É velho, muito foda esse reconhecimento. Aliás, gostaria de mandar um extremo abraço pra nosso brother Cassiano da banda Alaster, que foi quem teve a manha de levar a gente pra lá duas vezes já. Além do Paraná!
Tiago - Então velho, a gente tem recebido contatos de uma galera de vários estados vizinhos ae, tipo Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso, e até Brasília! Tem muita coisa engatilhada, falta só acertar mais alguns detalhes... A gente espera em breve poder aterrissar com nosso aparato de guerra nesses novos territórios e mostrar todo nosso poder de fogo! O extermínio vai ser inevitável!


Alquimia Rock Club – E inevitável também perguntar quando sairá o primeiro full-lenght... Já tem composições a caminho?


Tiago - Velho, se eu te contar... (risos) como eu já te disse, a gente já tem bastante bala na agulha. O Ricardo (guitarra) e o Fábio (batera) são duas máquinas incansáveis quando o assunto é criação de sons brutalmente precisos. A gente já tem vários sons semi-acabados e com certeza, assim que tivermos condições (principalmente financeiras), esse full-lenght vai rolar, sim. A gente ainda não tem nenhuma data prevista, mas é provável que role no ano que vem e que seja um trampo com uma temática bem mais alienígena! Aliás, a gente também está buscando parcerias com patrocinadores e endorsers aí!
Fábio - (Risos) Com relação a material, a gente já tem no mínimo uns 6 sons novos aí e inclusive 2 desses a gente já executa ao vivo, a "Signals of Human Despair" e a "Paranormal Activity". Os outros sons gente está contando com a ajuda e as opiniões do Nando e do grande Tiagão com seus vocais extremos diversificados pra dar uma incrementada final.


Alquimia Rock Club – E quais as bandas que influenciaram vocês?


Tiago - Bom, a banda possui várias influências. Cada um curte mais um determinado estilo de som, mas acho que de imediato dá pra citar Demilich, Man Must Die, Deeds of Flesh, Vader, Meshuggah, Dying Fetus, Hate Eternal, Necrophagist, Decapitated, Nile, Behemoth, Kataklysm, Cannibal Corpse, Carcass, Krisiun, Death, Morbid Angel, Slayer, Deicide e, bom sei lá, tem mais um monte de outras coisas! (risos)
Fábio - (Risos) E por aí vai! Bastante som extremo e progressivo!


Alquimia Rock Club – Todos sabemos que é extremamente difícil lançar algo de qualidade no Brasil, ainda mais se tratando do som extremo. Como o Pervencer vê a cena atual do Heavy Metal no Brasil e principalmente no interior paulista, já que vocês são de Sorocaba?


Tiago - Então, o que a gente vê é que a cena está num momento bastante interessante! A gente vê que o mainstream já está começando a se dar muito bem no Brasil com todos esses shows internacionais de altíssimo porte. O que a gente espera é que nossos promotores de eventos façam bom uso dessa experiência extremamente foda que eles estão adquirindo e que em breve a gente possa ter aqui no Brasil a mesma organização e a mesma estrutura que rola nos shows underground em outros países. É a única forma de levantar a moral do banger brasileiro e fazer com que as bandas daqui sejam tão admiradas como as bandas de lá! E acreditem, essa "importação" toda que está rolando é totalmente desnecessária. O Brasil é 100% auto-suficiente em matéria de som pesado!


Alquimia Rock Club – O Alquimia Rock Club agradece a entrevista e deixa o espaço final reservado a banda!


Tiago - Mais uma vez, valeu mesmo pelo espaço concedido pelo Alquimia Rock Club! Já que o espaço é nosso, a gente gostaria de primeiramente agradecer a todo mundo que está rolando nosso som nas rádios por aí e a todos os sites que concedem esse espaço tão essencial pra cena do metal brasileiro e mundial!
Fábio - Muito obrigado também aos brothers que sempre colam nos nossos shows, às bandas com quem a gente toca por aí, aos organizadores e às casas. Sem essa galera, não existira cena metal! Extremo abraço a todos!
Tiago - É isso aí! Mantenham o sangue da brutalidade jorrando sempre! \m/


É realmente incrível a qualidade do primeiro EP do Pervencer. A banda passou por alguns problemas durante a gravação superando eles e lançando logo em seu primeiro registro oficial quatro composições da mais alta qualidade. O Death Metal altamente técnico não fica nada atrás de bandas gringas, como mostrado já na primeira faixa Destruction of Your Body, um som pesado com intrigantes partes na guitarra de Ricardo. Hipocrisy nos mostra riffs interessantíssimos numa pancadaria sem dó. Conforme vamos escutando o EP, percebemos a fina técnica vocal do Tiago: usando e abusando dos timbres que consegue tirar, ele varia bastante a voz, e com um inglês perfeito, pois, mesmo sendo a típica voz gutural do Death Metal, percebemos palavra por palavra cantada, e sem mostrar muito o sotaque que a língua portuguesa impõe.


The Real Nightmare é bem cadenciada, o que dá chances da banda mostrar suas influências progressivas e Disease fecha o trabalho mantendo a qualidade e deixando aquele gosto de “quero mais”, ambas – como também as outras – cheio de garra na “cozinha” da banda altamente precisa. O profissionalismo da banda foi tão alto que junto ao EP souberam usar tudo o que a internet propõe de ferramentas e gravaram um clipe (que vocês podem ver abaixo). O Pervencer mostra a tradição do Brasil no som extremo e a qualidade de bandas novas que vem surgindo; resta esperar que produtores, mídias e principalmente fãs do Heavy Metal enxerguem isso e dêem o apoio que bandas como o Pervencer precisam e merecem, pois qualidade e profissionalismo eles já tem. Resta aguardar o Pervencer lançar seu primeiro full-lenght...





Contatos para shows e parcerias: pervencer@gmail.com
MySpace: http://www.myspace.com/pervencerdeathbr
 

Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.