Crucifixion BR
O Brasil é rico em bandas extremas. Os primeiros acordes insanos foram dados em Minas Gerais, mas é fato que o Heavy Metal mais extremo talvez seja o estilo dentro do Metal que mais se expandiu Brasil afora, concebendo bandas clássicas que são até mesmo influentes no som extremo de outros países. Com isso, no Rio Grande do Sul se formou um dos ”pólos” de onde sai bandas mostrando seus trabalhos insanos. Terra do Krisiun, foi onde surgiu também o Crucifixion BR. Com seu Black Metal carregado de inúmeras influências fora dele, a banda vem lutando no underground sulista a anos, até chegar com vários lançamentos, inclusive o primeiro trabalho “full-lenght” que já está pronto para ser lançado. Antes, a banda solta o EP War Against Christian Souls, mostrando o que virá no primeiro trabalho. Com o EP sendo bem falado pela mídia especializada, a baterista Juliana Novo – que no disco aparece com o pseudônimo DarkMoon – conversou com o Alquimia Rock Club sobre o trabalho do Crucifixion BR, os anos de batalha na banda e seus trabalhos musicais
Alquimia Rock Club - Prestes a lançar o debut Destroying The Fucking Disciples Of Christ, o Crucifixion BR lançou o EP War Against Christian Souls, com três músicas que estarão no trabalho. Porque a banda pre-feriu lançar esse EP antes do disco? E, contando que as gravações já foram finalizadas, como foi o traba-lho de gravação desse primeiro trabalho?
Juliana Novo - Nós quisemos lançar primeiramente este EP pela Satanica Productions, um selo da Nova Zelândia, para dar uma amostra do álbum para os fãs e para a mídia especializada, e para deixar o nosso trabalho mais conhecido antes de lançar o álbum. Mas em breve estaremos entrando em contato com gravadoras para o lançamento deste álbum, que demorou 3 anos para ser gravado e mixado, e que será um passo muito importante na nossa carreira.
Alquimia Rock Club - No EP vocês mostram três músicas: a faixa Destroying The Fucking Disciples Of Christ, inédita, e duas regravações, Eternal Judgement e Crucifixion, onde já apareceram em demos anti-gas. Qual(is) foi(ram) o(s) fator(es) que decidiram regravar essas músicas?
Juliana - Nós regravamos estas e outras músicas, simplesmente porque elas eram versão Demo, gravadas anteriormente em Rio Grande, sem recursos apropriados na época. Então, nada mais plausível que gravar a versão oficial delas, no nosso primeiro álbum oficial.
Alquimia Rock Club - Vocês não vem somente com o primeiro disco como lançamento esse ano, pois participaram da coletânea “Most Unholy Convergence II" produzida pela gravadora Satanica Productions da Nova Zelândia (que inclusive lançou o EP) e temos o split DVD com o Dark Torment, em um show gravado no fim de 2010. Pode falar um pouco mais desses trabalhos?
Juliana - Na verdade a coletânea ainda não foi lançada, acredito que sairá mais para o fim do ano. Esta coletânea apresentará músicas de 100 bandas de Metal de várias partes do mundo. E o split DVD foi uma idéia que veio do Gregory da Dark Torment, após filmar o festival que participamos em 2010, chamado Garganta do Diabo em Santa Maria/RS. Acho que ficou um registro bem interessante para colecionado-res.
Alquimia Rock Club - Falando um pouco mais na história da banda, o Crucifixion BR não lançou nada desde as demos de 2002 até esse período com vários trabalhos novos. Como foram esses anos de histó-ria da banda e por que esse tempo grande sem gravar nada?
Juliana - Pois é, nós desde o início tivemos sempre poucos recursos para investir na banda; inclusive as demos gravadas em 2002 só foram possíveis graças à ajuda do Jan Felipe Queiroz, que foi nosso baixista nessa época em que estava no Brasil, e queria levar um material nosso para a Suécia, seu país de origem. Nós fizemos uma certa divulgação destas demos por aqui e pelo mundo, inclusive recebendo elogios de uma gravadora de Belo Horizonte, e outras pessoas da mídia de fora, dizendo que merecíamos gravar nosso material com uma qualidade profissional; só que como precisávamos investir algo de início, acabamos deixando propostas de lado. Fomos seguindo adiante, fazendo eventuais shows no sul do RS, até que eu decidi 'migrar' a banda de qualquer jeito para Porto Alegre, pois sabia que seria melhor para nós; e com certeza foi ótimo, apesar das dificuldades iniciais, pois conseguimos nos estabelecer aqui e participar de vários shows/festivais, inclusive abrindo para o Krisiun em 2007, e conseguimos gravar aos poucos o nosso tão esperado álbum no Hurricane Studio, com a qualidade profissional merecida. As gravações começaram em 2008 e acabaram em março de 2011. A produção ficou por conta do Márcio Guterres (Lord Grave War) e do Sebastian, dono do estúdio.
Alquimia Rock Club - O primeiro registro de vocês foi um disco ao vivo, chamado Live Possession. Como foi a produção e a gravação desse show? Particularmente, acho bem ousado e complicado uma banda começar sua história logo com um registro ao vivo...
Juliana - Este show foi realizado em Rio Grande, no Centro Municipal de Eventos, e teve a participação de bandas riograndinas de vários estilos dentro do Metal; nós éramos a mais extrema... Na verdade, a idéia de lançar este registro ao vivo surgiu do José Fernando, um grande amigo nosso e também apoiador da banda, e como consideramos na época o som decente para um registro ao vivo, decidimos lançar como uma demo, para vender para o pessoal da volta que curtia a banda, já que não tínhamos condições de gravar as músicas num estúdio.
Alquimia Rock Club - O Metal extremo nacional é um dos mais importantes, inclusive muitas bandas de fora do país se inspiram em bandas clássicas nacionais. Como vocês são do Rio Grande do Sul, podem, especificamente, falar do cenário atual do Sul do país?
Juliana - Aqui no Sul nos temos várias bandas de Heavy, Thrash, e, acredito que principalmente Metal extremo, e temos uma certa frequência de shows por aqui e pela região metropolitana, dependendo da época. Há alguns festivais no interior do estado em que rola excursões e tal, e a cena certamente é for-talecida por ter Porto Alegre na rota dos grandes shows internacionais. Nossa cena tem seus altos e bai-xos, poucos produtores que realmente valorizam as bandas, e algumas panelinhas da capital, como sempre querendo monopolizar e boicotar; muita concorrência de shows, às vezes dois, três shows mar-cados num mesmo dia, que fazem o pessoal se espalhar bastante, além de eventos open bar que acabam com a concorrência de outros shows underground. Há bandas que se consideram famosinhas ou supe-riores e se acham no direito de boicotar outras, mas estamos aí, firmes e fortes, nos unindo com outros guerreiros que tenham os mesmos ideais; inclusive produzindo shows, pois hoje em dia não basta só tocar, tu tens de virar produtor pra combater a falta de espaço na cena.
Alquimia Rock Club - Acredito que no meio de “blasts beast” e bumbo duplo, quem vê o Crucifixion BR ao vivo pela primeira vez se espanta que é uma mulher na bateria. Rola mesmo um certo “preconceito” quando vêem você tomando as rédeas da bateria na banda? Como fica a reação das pessoas quando é uma mulher tocando bateria numa banda de som extremo?
Juliana - Com certeza as pessoas, principalmente os homens, ficam chocados quando eu começo a tocar, pois quem não conhece a banda não imagina uma mulher tocando algo tão brutal e rápido e com uma pegada forte, digamos assim. Tanto que algumas vezes já acharam que eu era um homem tocando. E todas minhas influências vêm de grandes bateras homens do Metal, talvez isto ajude a soltar a minha agressividade na batera. Outra curiosidade é que eu sou canhota, mas uso uma configuração de destro, apenas inverto a posição do prato de condução, para ficar ao alcance da mão esquerda. Nosso som tem muitas variações, e o fato de ter uma mulher tocando de forma tão peculiar também acaba contribuindo para atrair a atenção, não só do Metal extremo, mas também de fãs de outras vertentes do Metal em nossas apresentações.
Alquimia Rock Club - Voltando ao trabalho atual da banda, vocês já estão tocando os sons ao vivo? Como está sendo a recepção ao trabalho, tanto nos shows como pelo EP recém lançado?
Juliana - Sim, estamos tocando tanto os sons do EP, e os que estarão no álbum oficial, quanto algumas músicas novas, pois já estamos nos preparando para o futuro. Nosso EP está sendo muito bem recebido pela crítica nacional e internacional, chegamos a ser apontados como a próxima revelação nacional e mundial. Estamos aguardando algumas outras resenhas por aí afora para batalhar o lançamento do álbum com algumas gravadoras. Também estamos buscando shows fora do estado, temos recebido um ótimo feedback de headbangers de vários lugares do país e de fora nos apoiando pela internet, e alguns pedidos de shows na região de SP; então espero que consigamos em breve algum show na região, seria uma honra para nós. Por agora estaremos fazendo mais alguns shows em Porto Alegre, e dia 9 de dezembro estaremos nos apresentando ao vivo no programa de TV Radar pelo canal da TVE do RS. Também estaremos dia 12 de dezembro fazendo nosso último show do ano, tendo a honra de dividir o palco com o grande Dark Funeral, Gama Bomb e The Accüsed. Será um ótimo fim de ano para nós.
Alquimia Rock Club - Você também tem experiência como vocalista e participa de outra banda, a Noctis Notus. Como é o seu trabalho fora do Crucifixion BR e como um trabalho influencia no outro – se influ-encia - com elementos e idéias novas?
Juliana - Pois é, eu também tenho meu trabalho como vocalista, e já participei de algumas bandas de fora como a Dremora, banda de Symphonic Metal de Los Angeles, EUA, e a Lamented Despondency, banda de Doom/Death Metal da Eslováquia. Logo após montei a Noctis Notus, com a ajuda do próprio pessoal da Crucifixion BR, juntamente com o Lutti Hagen, um ótimo compositor e guitarrista de Hard Rock e Thrash Metal, tendo uma ampla bagagem e extenso trabalho anterior com a banda Savannah. Na verdade eu tenho essa paixão por cantar além de tocar bateria, o que me levou a ter duas bandas. É um pouco complicado de administrar tudo junto, mas acho interessante para explorar novas idéias como você falou, já que exploro tanto o meu vocal lírico quanto o meu registro mais agressivo. Mas não acho que uma banda influencia na outra, pois a Noctis Notus possui influências mais focadas no Heavy Metal Tradicional e Thrash oitentista, e misturando com pitadas progressivas. A Noctis apenas me dá a chance de explorar outros aspectos da minha musicalidade.
Alquimia Rock Club - Juliana, muito obrigado pela entrevista e pelo material enviado ao Alquimia Rock Club e deixamos o espaço aberto para suas palavras finais!
Juliana - Eu que agradeço a ti Fabiano, pelo apoio à cena Metal, e por nos dar este espaço! E como disse, queremos muito ir a SP apresentar o nosso som para os bangers paulistas, então se alguém quiser nos ajudar é só entrar em contato pelo email crucifixionbr@gmail.com Convido todos a visitar nossos links no www.myspace.com/crucifixionbr para conhecer melhor o nosso trabalho! E como sempre, muito obrigada a todos que continuam nos acompanhando nesta dura batalha! Força e honra!
Crucifixion BR - 2011 - War Against Christians Souls (EP)
Prestes a lançar o primeiro trabalho “full-lenght”, conforme viram na entrevista acima, o Crucifixion lançou o EP War Against Christians Souls (que será o nome do primeiro trabalho também) como forma de mostrar o que vem poraí. E esperem muita destruição por parte da banda gaúcha! As três faixas mostradas mostram um entrosamento perfeito por parte de Lord Grave War (guitarra, voz), Bestial Blasphemy (baixo) e Juliana DarkMoon (bateria) e junto com uma produção acima da média – em se tratando de EPs e afins -, as músicas soam bem consistentes e poderosas.
Contanto com duas regravações de composições já conhecidas por quem acompanha a banda, o EP começa com Eternal Judgement, uma composição forte e rápida que ousadamente tem partes atmosféricas no meio, mostrando que o Black Metal da banda tem muita influência de outros estilos. Crucifixion é daquelas “tapa na cara”, rápida e certeira, beirando pelos caminhos mais tradicional do Black Metal e a faixa Destroying The Fucking Disciples Of Christ, inédita, nos apresenta belos riffs em uma composição muito bem trabalhada, bem variada em suas partes.
Musicalmente, a banda “quebra tudo”. O destaque fica, claro, com Juliana; quem escuta a primeira vez pode desacreditar que é uma mulher tocando tão nervoso e brutal como mostrado no disco, com técnicas precisas e perfeitas. Bestial Blasphemy a acompanha muito bem no baixo, dando a perfeita consistência na base para Lord Grave War soltar riffs e mais riffs, fora que a variação de timbre em sua voz é muito bem trabalhada; a voz rasgada é o tom do disco, mas muito bem encaixado percebemos uma voz mais meló-dica aqui, outra mais grave ali. O Crucifixion BR já mostrou algumas de suas armas com o EP, agora es-peramos o lançamento do disco com todo o arsenal da banda!
Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.