Entrevistas

Perttu Kivilaakso, do Apocalyptica, conversa com a mídia brasileira sobre os shows no Brasil e a banda

Por Fabiano Cruz | Em 28/05/2012 - 19:59

Fonte: The Ultimate Music Press


Quando surgiram com a inusitada formação de um quarteto de cordas somente com violoncelos tocando covers de Metallica e posteriormente clássicos do Heavy Metal, muitos devem ter se pensando “Mas que p**** é isso?” Arriscando  Heavy Metal em novas formas de tocar e experimentando com ousadia novas sonoridades, os finlandeses logo caíram nas graças do público, sempre sendo aclamados por seus trabalhos, Eicca Toppinen (violoncelo), Paavo Lötjönen (violoncelo), Perttu Kivilaakso (violoncelo), Mikko Sirén (bateria) e Tipe Johnson (vocalista) aportam no Brasil para dois shows – sendo um extra – em São Paulo. Perttu Kivilaakso conversou com os jornalistas Esther de Camargo e Dalma Dias, num papo especial realidado pela The Ultimate Music Press em um papo sobre sua carreira, a Arte que desenvolvem e as fundamentais influências eruditas e do Metallica que o grupo tem


O Apocalyptica recentemente fez uma turnê na América do Sul. Infelizmente, o show no Brasil foi cancelado em janeiro, mas muitos fãs ainda não sabem o que aconteceu. Você poderia relatar o que levou ao cancelamento do show?
Perttu:
Primeiramente, muito obrigado por esta entrevista e pelo espaço! Na verdade, eu não tenho exatamente uma idéia clara sobre as razões por trás do cancelamento, mas até onde eu entendi, teve a ver com problemas de comunicação com a organização local. Quero dizer, problema com o fato de nenhum de nós da banda nunca ter recebido uma resposta (referindo-se ao produtor chileno encarregado de trazer a banda ao Brasil e ao Chile), então não havia a possibilidade de arranjar nada sem o produtor e etc. Isso aconteceu também com o show no Chile em janeiro e já foi a segunda vez no país que perdemos todo o contato com a produção local. Em 2005, nós fomos até Santiago e nos perguntamos por que não havia ninguém para nos buscar no aeroporto e na verdade ninguém sabia que o show deveria estar confirmado. Felizmente, agora estamos trabalhando com pessoas sérias. A produtora Dark Dimensions está trabalhando bem e finalmente vamos voltar ao Brasil para mais um grande show!
 

O que o público pode esperar dessa nova performance do Apocalyptica no Brasil?
Perttu:
Bem, estou muito certo que nós estamos completamente entusiasmados e cheios de energia para o nosso primeiro show inteiramente nosso em seu país (em 2005, na primeira vinda ao Brasil, a banda abriu para o Megadeth). Então, nós muito provavelmente vamos montar um belo setlist contendo todas as melhores músicas de todos os álbuns e vamos fazê-los suar, rir, e chorar e criar uma noite juntos com brasileiros calorosos que nós jamais nos esquecemos! Mal posso esperar por isso...


O que você pode contar sobre o setlist que pretendem tocar aqui? Alguma surpresa?
Perttu:
Nós ainda não discutimos sobre o setlist, mas como faremos nossos ensaios na próxima semana, tenho certeza de que encontraremos coisas boas. Mas claro que não se pode esquecer de que é nosso primeiro show solo, então queremos trazer um repertório que contenha algo de todos os anos de nossa carreira. Portanto, podem esperar por um grande show!
 

Recentemente, Apocalyptica lançou seu primeiro livro de fotos feitas pelo  fotógrafo Ville Akseli sobre a vida em turnê.  Como foi o processo de criação desse livro?  Como foi trabalhar com Ville?
Perttu:
Ville é um grande amigo nosso e foi uma escolha natural, já que fizemos muitas sessões com ele durante todos esses anos. Ele nos acompanhou em algumas turnês, em alguns dias específicos nós planejamos sessões de fotos em lugares legais, mas no geral, foi ele captando a atmosfera do que é o Apocalyptica em turnê. O livro é demais, as fotos têm histórias incrivelmente fortes, que eu adoro!
 

Sobre o projeto com a Pledge Music, como surgiu a idéia de doar parte do dinheiro arrecadado para caridade? Qual a importância da caridade na sua opinião?
Perttu:
O mundo está em tal estado que tudo está desmoronando, portanto, eu acho que mesmo a menor ajuda é definitivamente necessária e a caridade, como um fenômeno, é mais importante do que nunca. Pessoalmente, me sinto muito mal e triste com o fato de não poder fazer mais. As ameaças ao nosso redor são grandes demais e eu tenho que aceitar que eu simplesmente não posso salvar todo mundo. Ninguém pode. Mas eu acho que com o esforço de todos, tomando partido e mantendo o interesse, nós podemos, ao menos, tornar a destruição menor, mais lenta...


Apocalyptica tem celebrado bastante ultimamente: os 15 anos do primeiro disco, os 25 anos de música de Waltari (um artista finlandês) e o aniversário de 30 anos do Metallica. Como é, profissionalmente, estar envolvido em tais eventos?
Perttu:
É ótimo pensar em tudo que fizemos. Ninguém pensou - nem mesmo nós - que isso nos carregaria por todas essas águas. Nós não decidimos, exatamente, formar uma banda ou algo assim, isso tudo aconteceu acidentalmente. Então, é inacreditável termos continuado firmes até 2012, tocando pelo mundo inteiro em lugares maravilhosos... O mais legal na comemoração do Metallica foi perceber que aqueles caras aguentaram por, pelo menos, o dobro do tempo! E eles ainda têm o entusiasmo, a paixão pela música. E é exatamente isso que nós queremos também. Eu ainda quero bater cabeça com meu violoncelo daqui 15 anos, ou melhor, daqui 30 anos, mesmo que eu não tenha mais cabelo ou o que seja, não importa. A música, de certa forma, nos mantém jovens pra sempre, e é ótimo ver em colegas mais velhos que isso nunca se perde.
 

Você, Eicca e Paavo se conheceram na Sibelius Academy. O quanto essa formação clássica influenciou a banda nos primeiros anos?
Perttu:
A música clássica sempre esteve muito presente em nós e, na verdade, eu sinto que essa influência na nossa música só está crescendo, o tempo todo. A formação clássica afetou, no começo, no estilo de tocar - levou anos e anos para a banda desenvolver esse estilo de tocar rock com o cello.


A banda já sofreu algum tipo de pré-julgamento do público em geral e/ou da imprensa, por ser uma banda de metal formada exclusivamente por violoncelos?
Perttu:
Bem... acho que somente na Finlândia chegou num ponto em que ninguém realmente nos considerava uma banda de verdade - o que é totalmente compreensível. Mas no geral, nunca sofremos nada. Por alguma razão perversamente estranha as pessoas têm adorado nosso "freak show".


Devido ao fato do Apocalyptica não ter um vocalista oficial - somente vocalistas convidados para gravar certas canções e se apresentar em determinadas ocasiões - , como foi o processo de escolha de um único vocalista para se apresentar durante uma turnê inteira? Que levou vocês a escolherem Tipe Johnson? Como é trabalhar com ele?
Perttu:
Muitos anos atrás, principalmente depois do sucesso do single "I don't care", nos demos conta de que realmente precisávamos tentar tocar a música com um vocalista nos shows, porque ficava muito estranho a música ser um grande hit nas rádios e as pessoas não poderem ouvi-la ao vivo nos shows. Nós tivemos alguns vocalistas gravando as faixas e nos demos conta de que era muito agradável e estava trazendo novos elementos e sentimentos  para os shows, aumentamos a quantidade de músicas com vocais para 3-4 ou algo assim... A audiência pareceu gostar e lá fomos nós...
Nós conhecemos Tipe há cerca de...15 anos? É um bom amigo nosso, um cara adorável e ele se encaixa muito bem no nosso grupo de turnê.
 

Em 2004, alguns de vocês se apresentaram por aqui com a Orquestra Filarmônica de Helsinki. Você gosta desse tipo de performance? Você acha que acaba chamando a atenção do público do metal para a música clássica?
Perttu:
É, fui eu mesmo. Eu toquei com a Filarmônica de Helsinki de 1998 a 2005 e adorei! Fizemos várias turnês pelo mundo, é uma ótima comunidade, música maravilhosa - posso dizer que sinto muito falta daqueles tempos! Eu espero que não importe a razão da atenção, é bom que todos tenham uma idéia sobre todo tipo de música. Portanto, eu recomendo aos fãs de metal que ouçam  música clássica e que fãs de música clássica ouçam um pouco de metal - é ótimo se você puder ser mente aberta e tiver olhos e ouvidos abertos a diferentes tipos de impulsos. Assim a vida não se torna cinza e tediosa. E quanto à música, todos os estilos de música contêm coisas maravilhosas e, tão verdadeiro quanto isso, é que todos esses estilos também tem muita coisa ruim.


Há algo especial para se esperar do Savonlinna Opera Festival?
Perttu:
Com certeza, tem sim! Vai ser um show muito especial e, principalmente pra mim, eu acho. Porque esse festival é a razão pela qual me tornei músico e todo o amor pela música nasceu exatamente no mesmo castelo onde vamos tocar nesse verão. Meu pai tocou no festival com a Orquestra por 17 anos e eu estive lá em todos, assistindo aos ensaios e aos concertos. Em Savonlinna nesse verão, traremos um pouco de opera do mundo do Apocalyptica. Então, sim, será um evento especial com muitos trechos de opera tocados à nossa maneira.


Desde o álbum "Worlds Collide", seus métodos de composição evoluíram bastante. Você acha que isso está relacionado com a entrada de Mikko (baterista) na banda e com o fato de ele ter uma formação musical diferente de vocês?
Perttu:
Eu acho que o motivo é nossa banda começou a sentir cada vez mais como uma banda de verdade e esse foi um processo lento. Por isso no começo nós trabalhamos mais como compositores clássicos teriam trabalhado basicamente sozinhos levando as partituras aos ensaios. Mas os anos nos uniram  e, de repente, nos demos conta de que estávamos improvisando na sala de ensaio... brincando e compondo músicas juntos - exatamente como uma banda faria! Yey!


Como vocês desenvolveram as distorções para violoncelo, que é uma das principais marcas da música de vocês?
Perttu:
Nós geralmente usamos efeitos de guitarra e baixo já existentes, mas definitivamente nós desenvolvemos uma nova cadeia de efeitos apropriada para violoncelos e isso foi resultado de uma pesquisa infinda - que ainda continua, o tempo todo. Na verdade, cada um de nós usa configurações totalmente diferentes, conforme nossos naipes variam. Mas hoje em dia, acho que o principal é que separamos o sinal de som, trazendo uma distorção legal dos amplificadores Peavey, combinada com o som natural do instrumento, que torna o efeito mais claro. Logo, o resultado deve ser um som forte e poderoso ao vivo, que é definitivamente diferente das guitarras, já que o próprio som natural do violoncelo é de certa forma... hum... como posso dizer? Puro e inspirador!
 

Como foi o processo de aperfeiçoamento dessas técnicas de distorção?
Perttu:
Bem, nós separamos o som nos amplificadores e depois, quando temos os efeitos e as stomp boxes ligados em linha, temos as distorções como octabass, space echoes, wahwah, delays, equalizadores extras e mais algumas coisas que nem eu sei o que fazem.
 

A banda está satisfeita com a repercussão do álbum "7th Symphony", assim como a turnê mundial? Você acha que alcançou novos objetivos e novos horizontes com ele?
Perttu:
Ah sim, estamos muito felizes em ver o quanto as músicas dos últimos álbuns são queridas. Eu acho que nós atingimos nosso objetivo toda noite, ao tocarmos algo como a música "Beautiful" do "7th Symphony" e vermos que algumas pessoas estão chorando, então é porque fizemos algo certo. E essa turnê nos levou a muitos lugares que não tínhamos visitado antes! E ainda irá.


Vocês esperavam a repercussão que tiveram na turnê sul-americana? Tem alguma coisa que você apontaria como sendo memorável?
Perttu:
Ahh, a América Latina é simplesmente a melhor! A turnê em janeiro foi maravilhosa, eu nunca vi um retorno do público como lá e foi pura alegria. Portanto, não espero nada menos dos brasileiros em junho.


O Apocalyptica tem planos de gravar algum DVD ao vivo da turnê do 7th Symphony?
Perttu:
Existem algumas idéias para isso, ao mesmo eu sinto que seria necessário, já que tivemos uma turnê tão intensa. Ótimos setlists com muito humor, efeitos visuais fortes e os melhores públicos por toda parte.
 

Sobre os conceitos dos clipes, quão participatórios vocês são no processo de criação? Vocês tentam expressar a mensagem literal da música, ou tendem a explorar conceitos mais abstratos?
Perttu:
Nós até podemos ter uma idéia para a arte visual, de fato nós levamos bastante isso em consideração. Quais tipos de imagem descrevem melhor a música e etc. Portanto, acho que posso dizer que nós participamos do planejamento dos clipes e das fotos promocionais, mas claro que ouvimos os designers e damos a eles a possibilidade de ouvir seus sentimentos na nossa música e então visualizá-los. É, nos interessamos por essas coisas sim.
 

Vocês têm algum projeto paralelo? Poderia falar um pouco sobre isso?
Perttu:
Talvez tenhamos. Mas não podemos revelar as coisas antes que estejam prontas para serem reveladas. Saudações!


Perttu, muito obrigado pela entrevista. Pode ter certeza que os fãs brasileiros estão extremamente ansiosos pelo retorno do Apocalyptica ao nosso país. Por favor, deixe uma mensagem para eles.
Perttu:
Galera, se vocês estão ansiosos, vocês não imaginam o quanto nós estamos também. Será um imenso prazer reencontrá-los e receber todo carinho e energia de vocês. Compareçam ao nosso show! Tenham certeza que será mais uma experiência inesquecível!


Serviço SP - 1° data
Dark Dimensions apresenta Apocalyptica no Brasil
Data:
2 de junho
Local: Carioca Club
Endereço: Rua Cardeal Arcoverde, 2.899
Hora: 19h
Abertura da casa: 17h
Ingressos:
Pista promocional antecipada: R$ 90,00
Pista no dia: R$ 140,00 (se sobrar)
Pista Estudante: R$ 70,00
Camarote: ESGOTADO!
Pontos de venda: Profecias loja 214 (11) 3333-2364 | Rockland loja 262 (11) 33622606 | Lady Snake Loja 213 (11) 3361.7705 (Galeria do Rock)
Bilheterias do Carioca Club de segunda à sexta das 09h40 às 20h
Ingresso online: http://darkdimensions.webstorelw.com.br/


Serviço SP - 2° data
Data:
3 de junho
Local: Espaço Santa Clara
Endereço: Rua João Ramalho, 1085 - Perdizes - próximo ao estádio do SE Palmeiras.
Hora: 19h
Abertura da casa: 17h
Ingressos: R$ 85,00 (pista) | R$ 120,00 (camarote)
Ingresso online: http://darkdimensions.webstorelw.com.br/

 



Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.




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