Tomada: nova formação e DVD a caminho
O Tomada vive em um momento especial. Depois de quase um ano do lançamento do O Inevitável, trabalho aclamado pela mídia e mostrando que o Rock’ n’ Roll nacional tem sim excelentes bandas poraí, somente precisando de espaço para mostrar seu trabalho. A banda soltou bastante material ao vivo em estúdio, deu inúmeras entrevistas e no meio de tanto trabalho, mudou de uma forma inesperada sua formação, ficando somente Pepe Bueno e Ricardo Alpendre, recrutando Vagner Nascimento (guitarras), Paulo Navarro (bateria), Mateus Schanosli (teclados) e retornando um dos fundadores da banda, Pedro Ayoub e, mesmo assim, continuaram com o alto nível do trabalho sem deixar a “peteca cair”. Motivados, a banda está preparando um DVD especial contando a sua história (que são nada mais nada menos do que 12 anos à serviço de nosso Rock’ n’ Roll). O Alquimia Rock Club foi até o Centro Cultural de São Paulo prestigiar o show semi-acústico especial, gravado para o DVD, e falando sobre as novidades, o DVD, a repercussão do O Inevitável, O Tomada conversou conosco, em uma entrevista que claramente os músicos mostram a alegria em que o Tomada se encontra. Depois da entrevista, a resenha do show e o novo vídeo mostrando a nova formação em ação!
(Fotos: Leandro Pena - www.leandropena.com, contato@leandropena.com)
Alquimia Rock Club: A última vez que o Alquimia Rock Club conversou com a banda, na época do lançamento do O Inevitável, o Tomada estava em um “alto astral”, com a banda em perfeita sintonia, o que acarretou num ótimo disco e shows. O que aconteceu para essa mudança grande na formação, ficando somente Pepe Bueno e Ricardo Alpendre da formação que gravou o último trabalho?
Ricardo Alpendre: Os objetivos não eram tão iguais entre todos, o que levou o Lennon a sair da banda no final do ano passado e se dedicar ao Andeor. Uns três meses depois, saíram o Marcião e o Marciano juntos, também por diferenças de direcionamento. Ficou tudo bem porque somos até mais amigos do que parceiros de música. O chato é que estávamos com datas marcadas, e esses heróis que nós chamamos deram conta de fazer os shows praticamente de repente, com uma semana de ensaio antes do que acabou sendo a estréia deles no Tomada. Pouco depois, ainda deram conta da Virada Cultural e de gravações importantes como o Veja Música, que vai ao ar em breve, e no Brasil 2000 Ao Vivo.
Paulo Navarro: Como membro novo, posso garantir que o clima está ótimo. Com esses poucos meses de formação, já estamos confortáveis com os respectivos estilos; e agora com a responsabilidade de cumprir com os compromissos que tinham sido assumidos antes da saída dos antigos membros, mal podemos esperar pra começar a compor.
Alquimia Rock Club: Dos novos membros, Pedro Ayoub, um dos fundadores do Tomada, retorna à banda. Como está sendo esse retorno? No tempo em que ficou fora da banda, sempre teve essa possibilidade de seu retorno?
Pepe Bueno: Cheguei e disse “Cara você inventou essa porra, precisa voltar, e a hora é agora, topa?”. Ele topou e trouxe sorte (risos). Crescemos tocando juntos, ta sendo um barato, como sempre foi quando tocamos juntos.
Pedro Ayoub: O mundo dá muitas voltas. Pode parecer apenas um ditado popular, mas acredito que essa frase contém uma grande verdade. Cara, sinceramente, esse retorno não foi premeditado. Durante minha ausência, o pessoal da banda e eu tivemos pouco contato. Até que um dia eles precisaram de mim para poder fazer dois shows que estavam marcados e a banda estava desfalcada. Desde então não paramos mais.
Alquimia Rock Club: E como o Tomada chegou aos outros novos integrantes?
Pepe Bueno: Com o Vagner foi assim: pensei rápido e falei pro Alpendre, ele adorou a idéia; já havíamos tocado com ele em projetos anteriores. O Paulo havia gravado a música “Billy, o Esquisito” com o Tomada em 2010, e quando chamamos ele deve ter pensado ”Caraca faz tempo que não falo com esses caras”. Mateus é um tecladista que toca com muitos músicos de blues e amigos da banda e estávamos querendo saber como é tocar em uma big band. A gente gosta de caras que pensam e tocam pra música, tocamos assim também, por isso temos uma química bacana.
Alquimia Rock Club: Mesmo com uma mudança dessa na formação, o Tomada não parou em nenhum momento nos shows de divulgação do O Inevitável. Como foi a adaptação da banda nesse meio tempo? E o que muda de arranjos nas músicas com essa nova formação, agora com seis integrantes?
Paulo Navarro: Nos primeiros shows o foco era ser o mais fiel possível à ótima gravação. Mas até pelo fato do Tomada ter vários compromissos já quando eu, Matheus, Vagner e Pedrinho entramos, ensaiamos MUITO, e isso trouxe intimidade musical bem rápido. O line up de seis membros ajuda o Tomada a levar os arranjos mais complicados do O Inevitável para os palcos com justiça ao disco e, na minha opinião, as músicas de outros discos ganharam mais corpo, mais substância.
Vagner Nascimento: A banda não tem como parar, os compromissos continuam. Nós, os novos, tentamos nos virar para nos adaptarmos aos compromissos e tirar as músicas da melhor forma, sem comprometer o original, que já estava muito bem arranjado. O Pepe e o Alpendre também tiveram que se adaptar a gente. É claro que muda, porque por mais que tentemos, cada músico vai ter a sua pegada. Duas guitarras e mais teclado acaba sendo muita informação; aí com o tempo e o entrosamento, cada um vai achando o seu espaço dentro dos arranjos e trazendo novas idéias.
Pedro Ayoub: A vida na estrada é muito corrida. Uma hora estamos tocando em Santos, e no dia seguinte colocamos nossas coisas no carro e vamos para Juiz de Fora. Não é fácil. Muitos quilômetros, muitas histórias... Além de estarmos divulgando o último disco da banda, O Inevitável, colocamos uma grande parte da nossa energia nos novos timbres e arranjos. Tudo tem se harmonizado com muita naturalidade. O que é ótimo porque, dessa forma, podemos criar coisas novas mesmo que o material já tenha sido gravado. Estamos também compondo algumas músicas, já temos várias idéias. Afinal, seis cabeças pensam melhor que uma.
Alquimia Rock Club: O Tomada fez shows importantes, como o aclamado show na Virada Cultural e uma volta pelo Brasil com shows em Minas Gerais e Santa Catarina. Como está sendo esse momento para vocês e o reconhecimento pelo trabalho O Inevitável?
Pepe Bueno: É legal cair na estrada, rever amigos, fazer novos. É esse o lance que a música nos proporciona, tocamos nosso som, as pessoas conhecem o que somos, por isso que somos uma banda de rock nacional. Nossa agenda ta aí, é só chegar nos shows, serão super bem vindos.
Ricardo Alpendre: O legal desse reconhecimento que a gente tem recebido, principalmente depois de O Inevitável e inclusive com os shows da formação nova, é que ele vem de todos os tipos de gente interessada em música. Desde os que conhecem o assunto de forma mais técnica – músicos e críticos respeitados – até o curtidor de música teoricamente mais leigo, que ouve mais com a emoção e nos traz o retorno mais emocionante também.
Alquimia Rock Club: Em falando em apresentações, recentemente no Centro Cultural de São Paulo a banda gravou um show especial em formato semi-acústico exclusivo para o futuro DVD que irão lançar. Como surgiu a idéia desse show especial?
Pepe Bueno: Surgiu do Nilson, do CCSP.”Porque não fazem um Tomada acústica?” Claro, por que não? Eu adoro boas idéias. Tocar no CCSP para o Tomada é super importante e relevante, não tinha lugar melhor pra gravarmos nosso DVD. Aproveitamos e gravamos.
Mateus Schanoski: Todos da banda apoiaram essa idéia, da “Tomada Desplugada”. Preparamos novos arranjos pra este formato, fizemos vários ensaios somente acústicos, sem plugar nada. Experimentamos novos instrumentos e sonoridades: Ukulelê, Lap Stell, Escaleta, Violões, Cajon, etc... E as músicas tomaram formas diferentes. Eu também não queria perder a oportunidade de usar um Piano de Cauda. O mais legal, foi que alguns espectadores não conheciam a Banda, e ficaram curiosos de saber como as Músicas realmente são. Para este Show, conseguimos o apoio dos Órgãos da Tokai. Foi uma bela experiência ver o Tomada tocando baixinho.
Ricardo Alpendre: Foi importante fazermos o show nesse formato porque ele privilegia a composição. Já sabemos como é no formato elétrico, em que a maior parte do show é pegada e energia pura – não a elétrica, mas a do Rock mesmo. E no acústico você sabe que o público pode ouvir melhor as letras, e por isso também a interpretação da composição, o que pra mim é o grande barato, e é onde está o desafio. A cumplicidade com o público foi especial, peculiar.
Alquimia Rock Club: Como está sendo a produção desse DVD? São mais de 10 anos de banda, sendo que estão em um momento bem especial, então acredito que material e gravações raras não irão faltar!
Pepe Bueno: Estávamos com muito material gravado, em tudo quanto é tipo de formatos, em HD, celular, digital, analógico... Pensei “vamos celebrar a estrada com um vídeo documentário sobre esse tempo todo”. Chamei o Lezo para me ajudar na pesquisa e montagem, e estamos fazendo isso. Ta bem divertida, tem cenas do Alpendre com mullets e tudo mais (risos).
Alquimia Rock Club: Nesse show, a banda tocou Um Amor de Verdade, canção nova, mostrando que ainda por cima estão compondo material novo. Quais os planos de vocês para um próximo CD de inéditas?
Pepe Bueno: Um amor de Verdade, foi gravada nas sessões do O Inevitavel , mas com um arranjo bem diferente; o que fizemos agora com um jeito mais caipira é mais próximo do que eu pensava para música, e por sorte veio numa hora super boa, quando estamos gravamos o DVD num formato mais acústico. Com certeza depois do DVD a idéia é fazer um disco de inéditas, to louco pra ouvir a idéia dos caras; sei que o Alpendre tem uns sons na manga, também tenho vários, o disco vai chegar...
Alquimia Rock Club: O Alquimia Rock Club agradece mais uma vez o Tomada e ficaremos no aguardo do lançamento do DVD!
Ricardo Alpendre: Nós agradecemos ao Alquimia Rock Club pelo espaço que as bandas nacionais recebem no site, e principalmente aos leitores que chegaram até aqui. Trabalhamos para eles, e com eles, afinal!
O Show
No meio da produção do DVD que contará toda a história da banda, o Tomada marcou uma apresentação especial no CCSP para a gravação de um show no formato semi-acústico que será incluído como material no DVD que pretendem lançar ainda esse ano. Com formação nova e agora um sexteto, a banda teve o suporte de Denny Caldeira, músico que tem grande ligação com o Tomada, em um show de abertura com voz e violão, tocando canções de sua autoria como as conhecidas Fora da Cruz e Ovos Com Bacon, Puro Prazer, levantando o astral do público presente com sua energia em palco.
Devido da sala de shows em reforma, o palco foi improvisado no hall que tem na biblioteca do CCSP, e com um pano de fundo com os desenhos dos primeiros anos da banda e com o tradicional telão que passa vários clipes e animações, o Tomada ousa em fazer um show diferente, com novos arranjos para as músicas e inserções de texturas musicais em instrumentos que antes não usavam, como um ukelele. Começando com Ela Não Tem Medo, a já cultuada canção do O Inevitável ganhou contornos ainda mais psicodélicos nesse formato da apresentação e logo na sequência, uma canção nova: a quase country Um Amor de Verdade.
Catarina e Blá Blá Blá mostraram que mesmo com a troca de integrantes, o Tomada não perdeu nem um pouco sua sonoridade. Pelo contrário, ao lado de Pepe Bueno e Ricardo Alpendre, Vagner Nascimento (guitarras), Paulo Navarro (bateria), Mateus Schanosli (teclados) e o retorno do membro fundador Pedro Ayoub deram um gás total nas músicas e a energia da banda ao vivo aumentou bastante. Outra surpresa ficou com a versão de Ama Teu Vizinho Como a Ti Mesmo, de Sá, Rodrix e Guarabira, que nas mãos do Tomada ficou mais Rock’ n’ Rol ainda!
Agora como um sexteto, as já excelentes canções do O Inevitável, Sombra do Trem, Entro em Órbita e Uma música Forte, ficaram ainda melhores com os arranjos voltados à nova formação e ao formato semi-acústico. Denny Caldeira volta ao palco na participação de Billy, o Esquisito, cuja composição é de sua autoria, e o Rock’ n’ Roll contagiante dessa canção abriu espaço para uma sequência de realmente tirar o fôlego: Só Era Pra Ter Você, Doses Depois, Minha Diva e Boogie do Café, resgatando canções dos primeiros trabalhos e que estão entre as melhores músicas da história do Tomada. Essa “primeira parte” terminou com uma vigorosa execução de Luzes, e por motivos técnicos de gravação para o DVD, a banda tocou novamente mais quatro temas. A banda está num momento excelente. Os frutos do O Inevitável somente rendem, e junto com as mudanças e trabalhos, o Tomada está cada vez mais se firmando como uma das principais bandas do Rock’ n’ Roll nacional nos dias de hoje.
Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.