Foto: Nanda Arantes: (@nanda__arantes) / Red Rat Produções (@redratproducoes) 

 

Fruto de um projeto artístico audacioso e totalmente fora do comum, o Gosotsa unifica em sua música referencias em artes plásticas, artes cênicas, literatura, artes visuais e quadrinhos, resultando em algo totalmente atípico. Formado em 2009 e atualmente contando com Drannath (voz e baixo), Malu Gubolin (guitarra) e Élitra (bateria), o power vem divulgando uma serie de novas músicas com temáticas que abordam diversos assuntos atuais e polêmicos e que irão compor seu próximo  EP, previsto para se lançado no começo do ano que vem. E para falar sobre esse assunto entre outros temas, o vocalista e baixista Drannath concedeu uma entrevista exclusiva para o Alquimia Rock Club que você confere a seguir:  

 

 

Alquimia Rock Club: Primeiramente, gostaríamos de agradecer por concederem essa entrevista para o Alquimia Rock Club. Vamos começar falando um pouco sobre o Gosotsa, para quem ainda não conhece a banda. Como e quando vocês começaram, quais são suas influências e é claro, como surgiu o nome da banda?

 

Drannath: Primeiramente, muito obrigado pelo belíssimo trabalho de vocês e, segundamente, muito obrigado pelo convite! O Gosotsa começou em 2009 como uma banda que iria além da música, incluindo artes plásticas, literatura, quadrinhos e teatro. Mas começou como uma banda de um homem só. Foi um período meio frustrante porque eu sempre tive uma visão romântica de banda, mas, como não encontrava os integrantes, resolvi botar a mão na massa e gravar tudo sozinho, o que também acabou sendo enriquecedor para mim. Depois de alguns testes (em alguns anos), finalmente encontrei Élitra e Malu, que são músicos incríveis e fechamos o line-up. As influências vão do período barroco até o atonalismo da música erudita, do punk ao heavy metal, passando por baladas românticas, do rock dos anos 50 até a atualidade... É tudo muito abrangente. É difícil citar apenas um ou dois estilos. 

 

Alquimia Rock Club: Pelo que entendi, a banda possui uma proposta de ser um projeto artístico, não apenas musical, mas que a meu ver resulta em uma sonoridade no mínimo peculiar, sendo bem difícil de rotular, como vocês veem isso?

 

Drannath: Nós somos uma banda de vanguarda, e temos a proposta de nos reinventar a cada lançamento. Temos horror aos rótulos. Sabemos que eles virão um dia (ninguém escapa deles), mas é um orgulho para nós termos 10 anos de banda, 4 EPs e até o momento, ninguém conseguir nos rotular! As capas são peças de arte à parte. A capa do Bazófia, por exemplo, é uma pintura a óleo de 1 x 1 m feita por mim.

 

Alquimia Rock Club: Dando uma conferida na discografia do grupo nas plataformas digitais, chama atenção a cronologia um tanto quanto incomum no lançamento dos EP’s. A estreia veio com “O Sol tá Maior II” em 2016, seguido de “O Sol tá Maior III” em 2018 (confira a resenha aqui) e por último “O Sol tá Maior I” em 2019. Imagino que deva haver algum motivo ou conceito por trás dessa cronologia, certo?

 

Drannath: O primeiro EP, O Sol Tá Maior I, foi gravado entre 2009 e 2011 aproximadamente, mas só saiu oficialmente em 2019 porque é um disco MUITO doido e carecia, a meu entender, de um respaldo artístico maior para ser mais bem compreendido. Foi aí que eu escrevi e ilustrei o livro, pintei uns quadros, fiz os quadrinhos etc. Tudo isso levou tempo e nisso foi chegando o Élitra (bateria) e a Malu (guitarra), e fomos compondo novas músicas e já lançando. O Sol Tá Maior I tem uma estética absolutamente inédita e deu um trabalhão para ser gravado, e eu gravei tudo sozinho, usando instrumentos que eu nunca tinha nem chegado perto rsrsrs. É um disco, a meu ver, impossível de ser reproduzido ao vivo com todos os seus detalhes, tamanha complexidade dos ritmos e harmonias, mas acho que ele acabou saindo no tempo certo. Se ainda é um disco completamente maluco hoje em dia, imagine há quase 10 anos atrás, em que não havia o streaming e as pessoas ficavam mais fechadas em seu mundinho dos mp3 de sempre haha. O vídeo de Tocar de Luas segue chocando o público!

 

Alquimia Rock Club: O formato “EP” parece combinar bem com a banda, mas vocês também pensam em lançar um álbum completo?

 

Drannath: Creio que um disco completo, hoje em dia, só faz sentido quando a banda tem uma grande estrutura, já é bem conhecida e há grande expectativa pelos lançamentos da mesma. Para as bandas underground, com necessidade de ter sempre novidades e gerar conteúdo para as redes, creio que o formato EP ou mesmo single a single seja mais adequado, pois você dilui essas novidades num tempo mais espaçado. Fora que as pessoas morrem de preguiça de ouvir um disco completo hoje em dia, principalmente de bandas em ascensão, né!

 

Foto: Vinisius Zen (@vinisiuszen) 

 

Alquimia Rock Club: Falando um pouco sobre o momento atual do Brasil e do Mundo com essa pandemia do novo Corona Vírus, como vocês estão lidando com essa situação atual?

 

Drannath: Com o trabalho de estúdio (gravações e lançamentos das músicas e videoclips), seguimos trabalhando normalmente. O que não dá é pra ficar ensaiando presencialmente com a frequência de antigamente, até porque os shows estão começando a voltar agora, devagarinho. Então estamos ensaiando remotamente através de um aplicativo, que é lindo demais. Até lacrimejei a primeira vez q tocamos uns acordes juntos à distância haha! Que privilégio viver esse período histórico!

 

Alquimia Rock Club: Durante esse período vocês lançaram três singles, o primeiro, “Pulmão Encardido”, tem um título um tanto quanto sugestivo com relação o cenário atual de pandemia. Gostaria que falassem um pouco sobre essa composição, mais especificamente sobre seu videoclipe.

 

Drannath: Essa música foi composta na partitura em 2016, com melodia e harmonia definidas, mas, como tínhamos outras músicas na fila para lançamento (temos muitas músicas compostas que ainda não viram a luz do mundo), ela acabou aguardando quietinha sua vez. A letra foi feita depois disso, mas ainda em 2018, bem antes da pandemia. Quando a mesma virou fato consumado e foi decretado lock down, a música já estava gravada, mixada e masterizada, pronta para lançamento. Daí que veio a ideia para o videoclipe, mostrando a cidade vazia e eu ficando maluco por não ter mais contato com a banda, dando um giro por aí em prol da minha sanidade mental. Não sei se dá pra falar em sorte com toda essa desgraça acontecendo, mas a composição dessa música foi, no mínimo, profética. A letra traça um paralelo entre as relações tóxicas que temos com nós mesmos e, com a queda da energia vital resultando em doenças e até na morte do Eu enquanto indivíduo, explica o quanto estes desvios de personalidade podem “contaminar” as pessoas ao redor, fazendo mal a todo mundo. Ela traz uma ideia de que a saúde (física e mental) é uma questão coletiva, e esta pandemia veio para provar tudo isso.

 

 

 

Alquimia Rock Club: Outro single lançado esse ano foi "Olhar Vil", que em termos sonoros é considerada mais direcionada para o Heavy Metal, esse direcionamento foi proposital ou surgiu de forma natural? 

 

Drannath: Todos somos muito fãs de metal, eu tinha até um baixo Fender Steve Harris (que infelizmente foi roubado uns anos atrás), então compor uma música com esta pegada foi absolutamente natural. Queremos fazer coisas mais pesadas e também outras mais leves e delicadas. Enfim, temos muito por fazer ainda.

 

Alquimia Rock Club: Ainda sobre "Olhar Vil", sua letra foi inspirada na guitarrista Malu que é Trans. Gostaria que comentassem um pouco sobre o conceito dessa letra.

 

Drannath: Comparamos o desprezo de quem amassa um papel e o joga no chão a quem nasce no corpo errado e quer se livrar deste órgão sobressalente desprezível, expondo a sensação de inadequação em qualquer situação (não apenas as sexuais) por conta desse erro de percurso e o sonho com a solução radical de cair numa mesa de cirurgia e finalmente viver plenamente apesar do descaso e da frieza da sociedade para com as pessoas trans.

  

 

 

Alquimia Rock Club: Já o terceiro e mais recente single é “Glória...a...Deux”. Bem, nessa o título já diz tudo, aborda o fanatismo religioso exacerbado. Qual o recado vocês tentam passar com esse tema?

 

Drannath: Além de tratar do fanatismo exacerbado, também abordamos a relação superficial de algumas ritualísticas espirituais e do vazio das palavras em louvor a um deus da matéria, de pessoas que vivem para a matéria e só querem saber de matéria, apesar de acreditarem estar vivendo ali alguma experiência do espírito. No vídeo, buscamos exagerar na profundidade do mergulho no mundo matéria para ficar claro o grau de alienação que é viver desta forma.

 

 

 

Alquimia Rock Club: Esses lançamentos são parte de um EP que já tem nome (Bazófia), que será lançado single a single até completá-lo, em abril de 2021. Como surgiu a ideia de lançar o EP nesse formato?

 

Drannath: Como dissemos há pouco, é a necessidade de sempre ter uma novidade nesses tempos de internet. Um disco completo tem um impacto interessante, mas “envelhece” rápido, é complicado trabalhar um disco durante um ano inteiro quando o número de pessoas que tem acesso ao seu material é limitado. Single a single, você impacta a mesma pessoa diversas vezes ao longo do ano, e isso acaba gerando mais conteúdo e posterior engajamento.

 

Alquimia Rock Club: Ainda sobre esse próximo EP, o que o público pode esperar de seu complemento e quais seriam na opinião de vocês as principais diferenças com relação aos lançamentos anteriores?

 

Drannath: Spoilers em primeira mão: a próxima música é uma balada! E o vídeo de divulgação dela será ao vivo. Depois disso, temos ainda uma peça erudita para 2 pianos e mais uma música instrumental absolutamente insensata. Acho que a principal diferença para os demais lançamentos é que a banda está muito mais madura musicalmente, criando com mais controle e absoluta consciência do que está fazendo. Gostamos muito dos discos anteriores, mas acho que eram mais brutos e crus. Houve um refinamento profundo neste novo trabalho. Sem querer ser chato e se prolongar falando sobre as técnicas de composição, desta vez fizemos bastante coisa tonal, com harmonias características do período clássico e romântico da música erudita além de claro, termos coisas atonais também. Cremos ser este o nosso trabalho mais acessível ao grande público, embora isso não tenha sido uma busca intencional. 

 

Alquimia Rock Club: Além da divulgação dos novos singles e consequentemente do EP (mesmo que de forma alternativa), quais são os planos e expectativas para o futuro próximo do Gosotsa?

 

Drannath: A conclusão do lançamento do EP Bazófia será marcada pelo lançamento simultâneo do livro homônimo, que estará disponível nas plataformas digitais, como o Kindle. Depois, vamos nos concentrar nos próximos lançamentos, que incluirá um quarteto de cordas à lá Eleanor Rigby e muitas outras músicas, que serão completamente diferentes das que lançamos até o momento, além lançarmos também novas pinturas. 2021 promete!

 

Alquimia Rock Club: Mais uma vez, agradecemos por concederem essa entrevista para o Alquimia Rock Club, o espaço é todo de vocês para darem um recado final ao público.

 

Drannath: Nós que agradecemos! É muito importante o trabalho de vocês, tanto quanto o nosso, pois vocês conectam os fãs aos artistas. Sem vocês, tudo se torna muito mais difícil. Também agradecemos ao público que está cada vez mais aberto a coisas realmente novas! Confiram nosso trabalho nos aplicativos de música e no YouTube. Sigam nosso Instagram e Facebook também. Valeu galera!!!!

 

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Foto: Daniel Casanova (@daniel.fkn.casanova) 

Confira também a resenha do EP "O Sol Tá Maior III" no Alquimia Ruck Club: http://www.alquimiarockclub.com.br/resenhas/6277/

 

A arte da capa do EP "O Sol Tá Maior III" - Foto: Vinisius Zen (@vinisiuszen)  

 

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