Tuatha de Danann: “a crítica e o público têm gostado demais do disco
Foto: Rodrigo Barbieri (@rpbarbieri)
Homenagens a música e cultura irlandesa, as semelhanças de contextos políticos históricos com nosso momento atual, e é claro, todos os detalhes e as dificuldades de se gravar e lançar o álbum “In Nomine Éireann” em meio a uma pandemia, foram alguns dos assuntos abordados na entrevista exclusiva com o vocalista e multi-instrumentista Bruno Maia do Tuatha de Danann que você confere a seguir:
Alquimia Rock Club: Primeiramente, gostaríamos de agradecer por concederem essa entrevista para o Alquimia Rock Club. Vamos começar falando um pouco sobre o mais recente álbum “In Nomine Éireann”. Gostaria que comentassem um pouco sobre esse trabalho, como surgiu a ideia de gravar um álbum em homenagem a cultura e a música da Irlanda?
Bruno Maia: Olha, a ideia de fazer algo voltado à música irlandesa não é tão nova, mas só no fim de 2019 que acordamos em fazê-lo. Tem tudo a ver com o que a gente faz, né? A música e cultura irlandesa, pelo menos a influência dessa coisa toda é muito forte e, talvez, o ingrediente principal e identificador de nosso som, então foi super pertinente e legal fazer esse disco. Esse lance celta e o fascínio pela Irlanda eu tenho desde muito novo, desde os 8 anos de idade, e você percebe isso desde o nome da banda (que eu montei quando tinha 13 anos), saca? Uma hora isso ia acontecer. Além disso, eu e mais três membros do Tuatha temos um grupo que toca só música tradicional irlandesa em eventos, o Terror Celta, então foi tudo muito fácil.
Alquimia Rock Club: Como foi o processo de gravação e produção do álbum, acredito que muita coisa precisou ser adaptada a sonoridade do Tuatha de Danann, certo?
Bruno Maia: Foi estranho, pois assim que começamos a gravar começou, também, a pandemia. Então foi tudo muito diferente, com isolamento, sem muito ensaio, sem a banda junta no estúdio, era só um e eu de produtor. Não foi fácil! Nem tivemos de adaptar tanta coisa não, pois todos os instrumentos usados nesse tipo de música e neste disco, nós já usamos no Tuatha. A única diferença é que neste disco há um montante maior de músicas sem bateria e guitarra.
Alquimia Rock Club: E como foi e como está sendo a recepção por parte do público até aqui? Vocês conseguem ter uma noção da repercussão mesmo sem poder fazer shows por conta da pandemia?
Bruno Maia: Esse lance de não ter shows é osso, viu!? Em contrapartida, pelo que recebemos de feedback, a crítica e o público têm gostado demais do disco, as resenhas em veículos especializados e mesmo o boca a boca que temos acesso tem sido tudo muito positivo.
Alquimia Rock Club: Em entrevista exclusiva concedida aqui para o Alquimia Rock Club em dezembro de 2019 (http://www.alquimiarockclub.com.br/entrevistas/6641/), vocês já adiantaram o conceito de “In Nomine Éireann”; “Será nossa primeira vez gravando algo 'cover' (embora se trate de temas anônimos perdidos na tradição) e parece que vai ficar massa demais! Será nosso tributo definitivo à música e cultura deste país que tanto nos influencia)”. No entanto, o álbum conta com duas faixas autorais, uma delas é ”The Calling”, que conta com os vocais de Manu Saggioro. Gostaria de saber qual a razão para a inclusão dessa faixa autoral e como surgiu a ideia de ter a Manu como convidada para os vocais?
Bruno Maia: Realmente, a ideia primeira era do álbum ser só de música tradicional. Mas a mão coçou e essas duas músicas surgiram. A Manu já conhecemos há um bom tempo, ela é nossa amiga e uma cantora fabulosa. Como ela tem uma tessitura aguda foi uma escolha super feliz em convida-la, cantou divinamente.
Alquimia Rock Club: A outra faixa autoral é “King”, contabilizada como bônus, o que de certa forma faz todo sentido levando em consideração que diferente das demais ela é uma música autoral. Mas acredito que assim como no caso de ”The Calling”, deva haver uma razão especial para ela estar no álbum, inclusive ganhando recentemente um lyric vídeo. O que vocês podem dizer sobre essa canção?
Bruno Maia: A “King”, na verdade, surgiu antes da “The Calling”. Foi no meio das gravações que ambas músicas nasceram. Enquanto eu ia produzindo de madrugada, editando, gravando as guias e tudo as ideias vinham e daí eu ligava pro Rafinha vir passar umas bateras comigo...assim as músicas nasceram. E no caso da "King", ela surgiu assim que o presidente começou a incentivar aglomerações quando já estávamos enfrentando a pandemia, o cara até ia cumprimentar os manifestantes em frente ao Palácio do Planalto, era inacreditável, parecia mentira! Ver aquelas pessoas ignorando a realidade, a ciência e ir reverenciar um político negacionista, na contramão de todo o mundo civilizado foi pesado...pensávamos “em que nível chegamos?”. Não teve como não abordar algo tão histórico!
Confira o lyric vídeo de “King”: https://www.youtube.com/watch?v=HAEjt0w_cgE
Alquimia Rock Club: Sem sombra de dúvidas as participações especiais dão todo um tempero para o álbum, e “The Wind That Shakes The Barley” é um bom exemplo disso, a faixa que conta com os belos vocais de Daísa Munhoz das bandas Vandroya, Soulspell, Dama Project e Iron Ladies é certamente mais um dos destaques do trabalho, o mesmo podendo ser dito sobre “The Devil Drink Cider”, além das ótimas melodias e solos de guitarra, a canção ainda conta com os vocais de Marc Gunn. Gostaria que vocês falassem um pouco sobre essas duas participações.
Bruno Maia: A Daísa é um patrimônio do Metal mundial! Ela canta como uma deusa, é uma pessoa fantástica e ainda é linda de matar, um trem de louco! Temos sorte de a tê-la como amiga e parceira, pois já é a segunda faixa nossa que ela grava (a outra é Warrior Queen). Já o Marc Gunn é um guerreiro da música celta há anos, conheço seu trabalho há bastante tempo e pensava que sua voz casaria perfeitamente com a música, até porque “The Devil Drink Cider” é um alívio cômico no disco, uma das únicas, se não a única que não aborda questões sociais, políticas ou revolucionárias.
Alquimia Rock Club: E impossível não falar de “Molly Maguires”, que conta com a colaboração de Keith Fay da banda irlandesa Cruachan nos vocais. Como surgiu o convite e a oportunidade de contar com a participação de Keith?
Bruno Maia: Eu conheço o Keith também há eras e somos amigos há já bastante tempo. Já saímos juntos algumas vezes quando eu estive na Irlanda, bebemos, zuamos etc... Não tinha como fazermos um disco pretensamente irlandês e não ter um dos pioneiros do folk metal, um irlandês, no disco, era meio que obrigatório. Ficou demais sua participação e essa música terá de estar nos shows.
Confira o lyric video de “The Molly Maguires”: https://www.youtube.com/watch?v=wYK0FkK15qQ
Alquimia Rock Club: Ainda sobre as participações em “In Nomine Éireann”, a faixa "Guns and Pikes" é uma parceria com o irlandês Folkmooney, nativo de Dublin e que viveu em Minas Gerais por um período. Gostaria que vocês falassem sobre como surgiu essa parceria com Folkmooney e também sobre o conceito da letra, que tem um importante cunho político, certo?
Bruno Maia: O Folkmooney é outro velho amigo, o irlandês mais mineiro que existe! O convidei pra me ajudar na letra e foi uma colaboração muito legal. Eu só o chamei pra cantar depois de pronta a música e letra e, sinceramente, até eu me surpreendi com o resultado, ele detonou! A letra aborda estes personagens que ousaram a se rebelar ante a injustiça, seja ela do sistema, seja ela do estado ou o que for. São pessoas que dedicaram seu tempo e vida em nome do bem comum e que muitas vezes são pintados como vilões, são descaracterizados e tripudiados pelo status quo e às vezes até pela Historiografia tradicional. Cantamos a memória dos que ousaram desafiar a opressão e que muitas vezes foram vencidos e esquecidos pelo rolo compressor da história com H minúsculo.
Alquimia Rock Club: Falando em política, sabemos que o Tuatha de Danann não é uma banda militante nesse sentido, mas levando em consideração a temática de "Guns and Pikes", bem como da cultura e arte irlandesa em geral que possui historicamente uma dose de contestação e conscientização embutidas, como vocês avaliam o momento político atual do nosso país nesse sentido?
Bruno Maia: Esse é um vespeiro, né? E o mais triste é ver que no cenário rock e metal há focos de ultraconservadorismo, onde é tabu falar mal do governo (quem diria!). Mas a real é que viramos uma vergonha mundial! Batemos hoje (29/04/2021) 400 mil mortes por COVID, algo que poderia ter sido atenuado desde que se soube dessa peste perambulando no hemisfério norte. Temos um pessoal no comando que debocha dos mortos, que minimiza a pandemia, que incentiva o uso de medicamentos não autorizados e é contra o isolamento social. Vide também a questão ecológica, o desmatamento, a força do Agro e a projeto de venda de tudo que é brasileiro e patrimônio: é o Brasil colônia acima de tudo, capital privado acima de todos.
Alquimia Rock Club: "Guns and Pikes" também ganhou um vídeo, algum motivo especial para a escolha?
Bruno Maia: Só o fato dela ser uma música bem pra cima e contagiante.
Confira o vídeo de "Guns and Pikes": https://www.youtube.com/watch?v=rP3wWgyOEEU
Alquimia Rock Club: Na minha opinião, apontar uma “melhor” canção de um disco é algo totalmente relativo e pessoal, mas uma música que me impressionou é a instrumental “The Dream One Dreamt”, o tipo de som que faz o ouvinte se imaginar em uma festa típica irlandesa e nem mesmo a ausência de uma letra ou refrão irá deixar de fazer o público agitar nos tão aguardados shows da banda. Há algum tema que vocês considerem mais especial por algum motivo ou então que seja uma unanimidade na banda?
Bruno Maia: Essa ficou demais mesmo! Não sei se há uma unanimidade, acho que não. Eu não sei dizer nem a que mais gosto. Mas “Guns and Pikes”, “Nick Gwerk’s Jigs” e “The Calling” estão entre as que mais gosto.
Alquimia Rock Club: Falando um pouco sobre o momento atual do Brasil e do Mundo com essa pandemia do novo Corona Vírus, de uma forma geral, não só profissional dentro da música, como vocês lidaram e estão lidando com essa situação atual?
Bruno Maia: Não está fácil pra ninguém, né? É muito triste o que vivemos e não há final ou saída feliz pra isso: seja na economia, seja na saúde. Temos de seguir fortes e juntos, conscientes e ajudando, que seja com uma palavra amiga ou como pudermos, àqueles mais vulneráveis, pois além de todo o problema de desemprego, de mortes e o tédio em si, há a questão emocional, muitas pessoas deprimidas, precisando de alguém pra conversar, compartilhar as angústias e tudo mais. A gente vai seguindo do jeito que dá....
Alquimia Rock Club: Quais os planos para o futuro próximo do Tuatha de Danann para esse ano de 2021? Acredito que a ideia seria mostrar "In Nomine Éireann" ao vivo para o público, caso isso fosse possível é claro, mas levando em conta a inquietude de um músico, é cedo demais para se falar em novas composições ou vocês já pensam em algo?
Bruno Maia: Puizé, a vontade é gigante em poder fazer um show do In Nomine, mas não deverá ser possível. Acabaremos por incluir algumas peças do disco no set list dos vindouros shows. Pra este ano devemos lançar uma coletânea, já são 7 álbuns, coisa demais! E torcemos para que ano que vem tudo esteja melhor, com a vida voltando ao normal, as atividades todas rolando ok e vamo que vamo...
Alquimia Rock Club: Mais uma vez, agradecemos por concederem mais essa entrevista para o Alquimia Rock Club, o espaço é todo de vocês para darem um recado final ao público.
Bruno Maia: Nós é que agradecemos ao espaço que vocês sempre nos cedem, valeu mesmo! Sigamos todos fortes e abraços a todos.
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Confira também a resenha do álbum “In Nomine Éireann” pelo Alquimia Rock Club: http://www.alquimiarockclub.com.br/resenhas/7115/
Arte: Paulo Coruja (@paulocoruja)
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