Entrevistas

Um bate-papo com Thiago Biasoli, titular das baquetas do PAD

Por Vagner Mastropaulo | Em 09/06/2021 - 00:50
Fonte: Alquimia Rock Club

 

 Foto: Angelo Pastorello (@angelopastorello

 

Agradecimentos a: Isabele Miranda @isabelemirandatv (assessora de imprensa)

 

Era para ter sido somente uma entrevista concedida tanto por Fabio Noogh, vocalista do PAD, quanto por seu baterista, Thiago Biasoli, mas revelando um pouco dos bastidores (por que não?), pelo menos na cabeça deste escriba, esperava-se que os dois dividissem as respostas, exceto pelas perguntas específicas. Pois bem, essa era a teoria, mas faltou combinar melhor com ambos...

 

Na prática, o que se deu foi a descoberta de Fabio como uma figura eloquente, e não só em posse do microfone, como visto na Live Kiss Club [https://www.youtube.com/watch?v=WK-4TzFUHao] (iniciada em 11’03”) em 11/09/20 no Orra Meu! Estúdios, mas também atrás do computador, desenvolto ao responder quarenta questões! Mais sucinto, e nem por isso menos interessado, Thiago também deu seu ponto de vista e sentimos a necessidade de leves mudanças na pauta. Mesmo assim, o leitor mais atento notará que a maioria das questões são as mesmas propostas ao frontman iniciada aqui e encerrada aqui, mantendo quase todo o conteúdo original.

 

Sendo assim, por que não editar tudo junto? Pelo simples fato de apenas o material com Fabio chegar a vinte e uma páginas de Word! Imagine então se adicionássemos as respostas abaixo... o lado bom foi que, em vez de uma única postagem, você passa a contar com duas conversas e visões analíticas distintas! Enfim, divirta-se com o que o bem-humorado Thiago Biasoli tem a dizer:

 

Vagner Mastropaulo: Thiago, muito obrigado pela entrevista! Como estão as coisas?

 

Thiago Biasoli: Muito obrigado a você, Vagner. Estamos todos muito bem e ansiosos pelos próximos passos da banda.

 

VM: Como você bem sabe, esta acabou se tornando a segunda entrevista com membros do PAD. A rigor, era para ter sido uma só, porém, como o Fabio é bem comunicativo, passou a fazer mais sentido fragmentar tudo em dois blocos e, num dado momento, ele te chamou de “TB” na conversa que tivemos. Eles e os demais membros te chamam assim nas internas?

 

TB: O Noogh é bem comunicativo mesmo e imaginei que isso iria acontecer em algum ponto. O bacana disso é que ele realmente vai fundo em todas as respostas, o que diz muito sobre a personalidade dele, muito dedicada e detalhista. Na verdade, a única pessoa que me chama de “TB” é ele, e agora você. Posso começar a adotar o nome artístico a partir de hoje! [risos]

 

VM: Certa vez, ainda em meus tempos de pós na Cásper Líbero, meu orientador, Celso Unzelte (professor, jornalista e comentarista de TV), ressaltou que seu ex-parceiro dos canais ESPN, Marcelo Duarte, era super tímido, mas que se transformava quando começava a gravação dos programas, desatando a falar e causando a impressão em quem o via de que ele era sempre assim. O Fabio se revelou bem carismático na live e gostaria de saber se é o mesmo efeito descrito ou se, entre vocês, ele é falante também.

 

TB: Ele é exatamente assim! Além de sempre falar e expor suas idéias de forma bem clara, ele é bem carismático e bondoso pessoalmente, um cara sempre disposto a ouvir, ajudar e fazer uma piada.

 

VM: Aproveitando o contexto, como são Marcos Kleine (guitarra), Leandro Pit (guitarra), Will Oliveira (baixo) e Rodrigo Simão (teclados). O que você poderia nos revelar de legal sobre os jeitos e as personalidades dos quatro?

 

TB: Essa é a hora da verdade! [risos] Por incrível que pareça, o que você vê no palco ou em entrevistas é exatamente um reflexo sincero das nossas personalidades. O Kleine é sempre pilhado, sempre com vontade de fazer tudo, sempre movendo as coisas para frente; o Pit é piadista nato; o Will é o cara que dá risada fácil; e o Simão está sempre atento a tudo, mas nunca perde a chance de sacanear alguém. O bacana mesmo é que, no nosso convívio, todos têm a habilidade de levar tudo muito a sério, com um nível de profissionalismo muito raro de se encontrar, e, ao mesmo tempo, a gente está se divertindo. É o melhor dos dois mundos e todos são pessoas que me sinto privilegiado de estar ao lado.

 

VM: A Live Kiss Club foi transmitida ao vivo pelo YouTube ao mesmo tempo em que as pessoas ouviam tudo pelo rádio. Assisti posteriormente, o host da apresentação foi o Paul Martins e, além dele, com certeza havia a equipe técnica da Kiss FM e vocês seis, que praticamente sozinhos já formam uma aglomeração [risos]. Nos tempos atuais, não deu um medinho em fazer o show juntando todas essas pessoas, ainda que respeitadas todas as medidas do protocolo de segurança?

 

TB: Com certeza, em algum momento, passa pela cabeça um certo tipo de preocupação, já que todos da banda estão em contato com familiares e pessoas do grupo de risco. Mas como soubemos com certa antecedência, deu para nos precavermos antes e monitorarmos, depois da live, se todos estavam bem. Não chegou a ser um medo em si, pois todos são muito conscientes e responsáveis, inclusive a equipe da Kiss FM.

 

Foto: Caike Scheffer (@caikescheffer

 

VM: As duas próximas perguntas devem ser as que vocês provavelmente não suportam mais responder... eu poderia pesquisar sobre os primórdios do PAD e repetir erros de informação da internet, mas prefiro ir direto à fonte, até porque é a primeira vez que nos falamos. Enfim, como surgiu a banda? Quem conhecia quem? Quem falou com os outros e apresentou um determinado músico aos demais? Ou seja, como tudo se alinhou para que os seis estivessem juntos hoje?

 

TB: A banda foi formada a partir de um encontro do Marcos Kleine com o Fabio. O Kleine foi substituir o guitarrista do The Soundtrackers num show e ficou impressionado com a versatilidade e com a voz do Fabio. A partir daí surgiu o interesse em formar uma banda juntos. Eu conhecia o Noogh de outro trabalho, ele me chamou para entrar na banda e eu chamei o Will. Fizemos poucos ensaios somente nós quatro e logo o Will nos apresentou ao Rodrigo Simão. O Leandro Pit era sócio do Noogh e, pouco antes da gravação de “Not So Vain”, que foi nosso primeiro single, ele acabou se juntando a nós, fechando assim a formação que está aí até hoje.

 

VM: E sobre a origem do nome PAD, que passa por “PAD Galinha”, a bem-humorada resposta do Fabio na Live Kiss Club foi: “Uma sacanagem que a gente fez com aquela banda chamada Chickenfoot, do Sammy Hagar, Joe Satriani, Chad Smith e Michael Anthony. Já se achando meio roqueiro velho, meio ‘pé de galinha’, a gente falou assim: ‘Vamos fazer um super grupo também?’. Então ficou aí essa sacanagem”. O que não foi dito e desperta curiosidade foi: quem exatamente teve essa sacada? Onde vocês estavam quando isso foi proposto? Ou foi através da modernidade de um grupo de WhatsApp? E a aceitação dos demais membros foi imediata ou houve rejeição?

 

TB: Quando entrei na banda, o grupo do WhatsApp já se chamava “Pad Galinha”. Quando fomos fazer nosso primeiro show, me lembro que propus reduzirmos somente para “PAD” simplesmente por uma questão estética e de fácil leitura. Que eu me lembre, ninguém demonstrou rejeição alguma, até porque todo nome de banda parece ser horrível num primeiro momento, mas depois ele parece tomar vida própria e fazer sentido. Hoje não imagino como essa banda poderia ter outro nome.

 

VM: E nunca confundiram ou associaram o PAD ao P.O.D., banda cristã de metal alternativo de San Diego?

 

TB: Não, nunca existiu essa associação!

 

VM: Partindo para a cronologia dos lançamentos, o primeiro single de vocês, “Not So Vain”, é uma empolgante paulada e o único registro com título em inglês, mesmo que cantada em português – como toda a discografia do PAD. Por que a opção por ela como o “cartão de visitas”?

 

TB: “Not So Vain” foi a música que fizemos no nosso primeiro ensaio. Gostamos muito da vibe dela e até hoje é uma das minhas preferidas. Ela foi lançada simplesmente porque era a única música que a gente tinha. Eu me lembro que estávamos fazendo “Sem Destino” e “Estranho Mundo Novo” ao mesmo tempo, mas elas não estavam finalizadas.

 

VM: Para encerrar essa menção ao inglês, há planos para sair algo na língua de Shakespeare, mesmo que um cover, por exemplo? Ou até mesmo em outro idioma, como uma colaboração com algum artista latino-americano, quem sabe?

 

TB: Já tivemos algumas conversas sobre isso, mas não existem planos concretos em relação a esse tema. Sem dúvida, seria muito interessante quebrar a barreira da língua portuguesa e não vejo porque não possa ser um caminho para experimentarmos no futuro.

 

VM: O segundo single também foi o primeiro clipe, “Estranho Mundo Novo”, faixa inspirada em “Admirável Mundo Novo”, trazendo na letra questionamentos como: “Por que a gente se sabota? Por que a gente se agride?” e crítica social em: “A atitude é violenta e a gente só regride. Por quê?”. A faixa saiu em dezembro/17 e, após mais de três anos, a situação parece ter piorado. Não dava para prever, certo?

 

TB: Por um lado, acho que dava para prever sim. Para quem gosta de estudar ou até mesmo ser um observador do comportamento humano, você consegue tirar conclusões ou até mesmo fazer previsões de como os eventos na sociedade podem se desenrolar. Como você mesmo disse, a situação parece ter piorado, mas ela continua a mesma.

 

 

 

VM: Além dessa parte social e até política, há dois versos isolados que, sob o olhar de uma re-significação contemporânea, são de arrepiar, de tão premonitórios: “Queria tanto acreditar que uma cura já existe” e “Quero tanto acreditar que não somos esse vírus”. Será que, de algum modo inexplicável, vocês antecipavam o cenário pandêmico atual?

 

TB: Tem uma coisa engraçada sobre essa música: sou o “flanelinha” das letras do Noogh. Ele chegou com essa letra feita e, antes de gravarmos as vozes, a gente se sentou para revisar e pensar na métrica dos versos e na estória da letra. Quando começamos a compô-la, o Simão veio com o riff de teclado que, na versão do disco, entra depois da intro do piano e, na hora, me pareceu uma música de algum filme de zumbi, tanto que, quando escrevemos o mapa, o nome da música era “Zumbi” e tenho esse mapa numa folha de sulfite até hoje. Na hora de finalizarmos a letra, palavras como “cura” e “vírus” já estavam no contexto da música.

 

VM: E só para falar um pouco sobre a parte instrumental de “Estranho Mundo Novo”, de onde veio o sensacional teclado inicial que lembra, ao mesmo tempo, Van Halen e “Missão Impossível”?

 

TB: Essa introdução aconteceu nos ensaios de pré-produção da música. A gente ficava tocando, o Simão começou a testar sonoridades diferentes e, quando ele tocou essa introdução, todo mundo pirou ao mesmo tempo. Esse é o tipo de sinal que você espera quando está compondo com uma banda. Respeitamos nosso feeling e agradecemos até hoje pela genialidade do Simão por ter feito algo tão marcante que colocou essa música em outro nível.

 

VM: O esperado full length, O Som E A Cura, saiu em junho/18, com os singles já lembrados e aberto por “Esse Quam Videri”, que também inaugurou a Live Kiss Club. Ouvi as duas versões em sequência e é impressão minha ou vocês soam mais pesados ao vivo do que em estúdio?

 

TB: Tenho a mesma impressão! Ao vivo a banda tem mais peso mesmo, mas não no sentido de guitarras mais distorcidas ou coisas do tipo. Depois do lançamento do disco, fizemos muitos shows tocando essas músicas e o peso mesmo vem do fato de a banda estar tocando junto, pulsando junto, sem contar a adrenalina e a paixão que a PAD tem de tocar ao vivo. A gente toca com vontade e, acima de tudo com prazer, acho que tudo isso ajuda a banda a soar mais pesada.

 

VM: Só uma checagem: você disse “a PAD”, mas o Fabio se referiu à banda sempre no masculino. Rolam duas versões quanto ao gênero do grupo? Como isso ficou definido entre todos?

 

TB: Ué? Nunca houve debate por causa disso. Falo “a PAD” porque é “uma banda” e acho que é o artigo correto, né? Nem reparei que o Fabio fala “o PAD”. Para mim, não faz diferença e se precisar fazer uma correção minha ou dele, isso pode ser alterado. Não tem problema algum, mas realmente nunca prestei atenção que existia essa diferença [risos].

 

VM: Sem problemas, só achei curioso. Mas, voltando: xeretando pelo YouTube, encontrei outra música chamada “Esse Quam Videri” (https://www.youtube.com/watch?v=k9nVnEA4ls4), porém gravada por um grupo norte-americano chamado Mordred – um som interessante e funkeado que lembra Red Hot Chili Peppers e é parte do álbum In This Life. Na casa de cinco mil visualizações, o vídeo possui só um comentário: “Criminally underated band!”, ou “Banda criminalmente subvalorizada!”, em tradução livre nossa. Traçando um paralelo, a cada lançamento, mais e mais pessoas descobrem o PAD, mas o que falta para o trabalho alcançar as massas e ser ainda mais valorizado? Como vocês enxergam isso tudo?

 

TB: É difícil dizer o que falta para nosso trabalho se tornar mais popular em relação a atingir as massas. Como banda, trabalhamos dentro dos nossos recursos e tentamos tirar o máximo de proveito de toda oportunidade que aparece à nossa frente. Musicalmente falando, eu não diria que nosso trabalho é muito distante das bandas de rock que estão no mainstream e acho que é mais uma questão de continuarmos trabalhando até chegarmos ao ponto em que nossa presença não passe mais despercebida. Particularmente, acho que a busca pelo reconhecimento é um caminho muito duro de ser percorrido e é muito fácil se sentir injustiçado quando se trata da sua arte. O importante é fazer tudo com amor e dedicação e, se um dia formos mais valorizados pelo nosso trabalho, será um bônus muito bem-vindo.

 

VM: Também do play, “Eu Sou O Cara” foi o segundo e mais recente clipe feito até hoje e está no canal oficial do PAD no YouTube como “Uma Homenagem aos Heróis da Polícia Militar do Estado de São Paulo que protegem e salvam suas vidas”, com depoimentos dos membros do Corpo de Bombeiros e oficiais da Polícia. De onde veio essa bela iniciativa? Quem teve a idéia? E vocês receberam algum retorno ou agradecimento da Corporação, em retribuição?

 

TB: Se me lembro bem, a idéia inicial era ter vários depoimentos de pessoas aleatórias e acabou que, por um contato próximo com a Policia Militar do Estado de São Paulo, resolvemos dar esse foco. Em reconhecimento pela nossa homenagem à Corporação, fomos convidados para o café da manhã do comandante da Policia Militar do Estado de São Paulo e recebemos um agradecimento formal acompanhado de uma placa do Quartel-General da Policia Militar do Estado de São Paulo. Mas o maior prêmio mesmo foram todos os profissionais que vieram nos agradecer pessoalmente pela homenagem que, na minha opinião, é mais do que justa.

 

  

 

VM: Provavelmente não foi algo intencional, mas daria para afirmar que a temática tem inspiração, mesmo inconsciente, em “My Hero” (Foo Fighters) ou “Heroes” (David Bowie)?

 

TB: Acredito que não. O Noogh tinha essa música havia muitos anos e, quando estávamos terminando de escolher o repertório de O Som E A Cura, ele nos mostrou essa bela canção de maneira bem despretensiosa na casa do Kleine. Na hora, sentimos que ela deveria entrar no disco. Se ele teve inspiração em alguma dessas músicas, ele nunca me falou diretamente.

 

VM: Ainda sobre “Eu Sou O Cara”, vocês soltaram dois teasers do vídeo cerca de trinta (https://www.youtube.com/watch?v=4YcMuUTPht8) e vinte dias (https://www.youtube.com/watch?v=kpUdt4iwpeY) antes de ele sair e, obviamente, à época, o plano era gerar expectativa. Qual foi o feedback recebido dos fãs neste intervalo, até que o clipe efetivamente ganhasse vida? De onde surgiu essa sacada e quem a teve?

 

TB: Para ser bem honesto, sou o membro da banda que fica meio de fora das produções de vídeo. Alguma coisa em mim enxerga toda produção de clipe de uma maneira bem crítica e tendo a achar que nada vai ficar bom, desde o começo da minha carreira. Há vinte anos evito participar dessa parte do business. Então acredito que os teasers foram sugeridos justamente como maneira de despertar o interesse do público e o resultado disso foi justamente o que a gente esperava: muitas pessoas ansiosas pelo lançamento que, se não me engano, foi o que teve maior resultado orgânico até hoje.

 

VM: Na sequência, em novembro/18, veio o segundo lyric vídeo do PAD, “Esse É O Amor” – o primeiro havia sido “Not So Vain”. O conceito de lyric vídeo é algo que não existia dez anos atrás, por exemplo, já virou tema de publicação online de revista universitária (http://www.rua.ufscar.br/lyric-video-uma-nova-estetica-de-divulgacao-da-musica-pop) e há quem defenda ser uma mera “solução barata para divulgar artistas” (https://www.tca.com.br/blog/descubra-a-origem-dos-lyric-videos-alternativa-barata-aos-clipes-musicais). Sob o ponto de vista do músico, qual a importância de lançar um de tempos em tempos? E dá muito trabalho fazê-los?

  

TB: Lyric vídeo no Brasil tem um efeito muito positivo porque, em sua grande maioria, o público brasileiro gosta de cantar junto e saber sobre o que a música fala. De fato, o custo de um lyric vídeo é mais barato e dá menos trabalho para fazer do que um vídeo-clipe, mas ambos são feitos com a mesma intenção: proporcionar um material de qualidade a quem gosta do artista ou a quem o está conhecendo pela primeira vez. Para artistas com baixo orçamento, é uma ferramenta de divulgação super válida.

  

 

 

  

 

 

VM: Não sei se você concorda com esta análise, mas a grande maioria das letras do PAD tem mensagens motivacionais, algo que se nota até no batismo de O Som E A Cura. Além disso, todas as interações na live, até mesmo na hora das brincadeiras, eram para passar algum conteúdo positivo, de força, foco e/ou perseverança. Esse conceito foi definido propositadamente desde o surgimento do PAD ou acabou rolando naturalmente?

 

TB: Não montamos a banda definindo temáticas. As músicas foram acontecendo. Sugeri o nome O Som E A Cura depois de decidir a tracklist do disco e perceber que, inconscientemente, começamos o disco de maneira bem densa e fomos mudando, em seu decorrer, para um ar mais leve. Na minha cabeça, a gente tinha muita energia depositada ali naquele disco, muitas emoções. E durante todo o tempo entre o começo da banda até o dia do seu lançamento, tudo que a gente fazia parecia melhorar o microuniverso de cada um.

 

VM: Quebrando o padrão, a citada “Estranho Mundo Novo” é inspirada no livro de Aldous Huxley e o single seguinte, “A Regra É Clara”, de junho/19, também teve lyric vídeo, era material inédito fora do play e cutucava a corrupção. Há planos para outros, digamos, “desvios de focos líricos”? E tocando no assunto, como vocês definem os temas para as letras?

 

TB: Acho que os “desvios” a que você se refere são menos calculados do que parecem. Acho maravilhoso o Noogh escrever as canções que ele canta. Para mim, faz todo sentido e, sempre que ele aparece com alguma idéia de letra, nosso foco é entender o que ele pensou e tentar agregar à idéia original. Nunca sentamos um de frente para o outro e falamos: “Ok, vamos fazer uma música falando de corrupção moral”. Simplesmente existe uma idéia e um respeito ao autor dela. Sendo assim, a qualquer momento pode aparecer algum “desvio de foco lírico”, mas, de fato, não é algo que perseguimos.

 

   

  

VM: Aproveitando a digressão, como é o processo de composição de vocês? Instrumental primeiro ou letra? Ou tudo junto e misturado? Quem costuma propor as idéias? E as músicas já são mostradas prontas ou a elaboração é colaborativa? Por favor, monte esse quebra-cabeças!

 

TB: Acho que a única coisa que ainda não fizemos foi alguém trazer uma letra e colocarmos a música em cima. Já teve música que veio pronta e idéia que foi desenvolvida de maneira colaborativa. Não temos uma regra em relação a isso e a única regra mesmo é testarmos todas as idéias e elas se tornarem boas músicas, independentemente de quem as traga.

 

VM: Dois meses depois de “A Regra É Clara” e voltando a focar em faixas de O Som E A Cura, o lyric vídeo de “Guerreiros Pacíficos” saiu em 03/08/19. Por que a opção por esta faixa especificamente? 

 

TB: A gente tinha as imagens ao vivo do show de lançamento de O Som E A Cura e queríamos usá-las para fazer algum lyric vídeo. Votei em “Guerreiros Pacíficos” porque adoro o solo de guitarra do Kleine e é a música que mais gosto de tocar ao vivo. Fico feliz que tenha sido escolhida por todos, mesmo que o motivo tenha sido diferente.

 

 

 

VM: Chegando ao ano passado, primeiro saiu o single/lyric vídeo da inédita “Quase Nada” em agosto e, em seu release, você afirma inicialmente que “Ela é sobre transformação, aceitação e esperança”, para depois complementar com uma peculiar perspectiva reflexiva: “É complicado falar sobre uma música porque a gente pode facilmente tirar a liberdade do espectador de se identificar com ela por sua individualidade e história de vida (...) Depois de lançada, toda música vira papel picado ao vento e acho isso lindo”. Pois bem, já deu tempo de este “papel picado” ganhar uma nova interpretação para vocês?

 

TB: Individualmente falando, quando fiz essa música, tive muita dificuldade de escrever sobre algum tema específico. Foi uma fase da minha vida em que tinha muita coisa acontecendo e parecia injusto focar numa só e resumi-la em três minutos. No fim, eu só queria acordar no dia seguinte com a sensação de que o que eu havia passado não era tão grave assim. Hoje sinto que procurava por alívio sem me perder.

  

 

  

VM: “Um Sopro” ganhou vida quatro meses depois e, se entendi bem, foi mostrada em primeira mão na live da Kiss. Qual a sensação de apresentar uma canção assim forte num programa de rádio, fazendo com que sua mensagem possivelmente alcance até mais gente de uma só vez do que num show, embora vocês não estejam vendo as reações dessas pessoas ali na hora?

 

TB: Nem pensamos muito nisso. Na verdade, ficamos tão empolgados com a música que resolvemos tocá-la.

  

 

 

 

VM: Com certeza há planos para o sucessor de O Som E A Cura, embora talvez este nem seja o melhor momento para se pensar nisso, quando a prioridade é a sobrevivência... mesmo assim, o que vocês podem adiantar a respeito de um segundo play? E mais: um DVD estaria em pauta?

 

TB: Por enquanto, estamos produzindo três faixas inéditas que serão anunciadas em breve. Fazer um disco demanda um trabalho intenso e talvez a gente faça algo nesse sentido mais à frente, mas não está nos planos, por enquanto. Hoje já temos material para produzir um show ao vivo, mas, devido às condições sanitárias atuais, seria quase impossível de realizá-lo. Quem sabe mais à frente?

 

VM: Há chances de incluírem participações especiais num futuro álbum? De repente algum dueto em vocal feminino?

 

TB: Sem dúvida! Toda idéia que aparecer do jeito certo e despertar nosso interesse tem chance de virar realidade.

 

VM: Encerrada essa sequência de perguntas musicalmente cronológicas, vou fazer outras meio “jogadas”, sem relação entre elas. Para começar, de modo geral, quais as maiores influências de vocês mais especificamente, como banda, sejam elas musicais ou em outras esferas?

 

TB: Todos da banda têm um background de rock muito parecido, mas o curioso é que, durante nossas carreiras individuais, tivemos contato e trabalhamos com os mais diversos estilos. Bandas como Van Halen, Deep Purple, Journey, Toto e Kiss, por exemplo, acabam sendo senso comum, mas, na hora de compor as músicas mesmo, não pensamos muito nas bandas que gostamos e sim em como gostaríamos que a nossa banda fosse.

 

VM: Outra clássica para o momento é: como a pandemia afetou vocês pessoal e musicalmente? Digo, o que estava engatilhado e precisou ser colocado em compasso de espera? 

 

TB: Musicalmente falando, esse é o pior cenário possível para quem trabalha com entretenimento. Poucas pessoas imaginam que trabalhar com música envolve muito mais do que dinheiro e ficar sem tocar, para todos nós, é como arrancar um dos pilares que sustentam nossa sanidade. O único projeto que estava em andamento antes da pandemia era a gravação de “Quase Nada”. Depois de um tempo do baque inicial, conseguimos finalizá-la com os devidos cuidados e dessa mesma forma está sendo agora com essas novas três faixas que estão em fase de gravação.

 

VM: Como é a interação de vocês com os fãs nas redes sociais? Há alguma delas que funcione melhor? Qual dos seis membros tem mais interesse nelas?

 

TB: Todos da banda interagem super bem com todos os fãs. Muitos deles entram em contato pelo Facebook e pelo Instagram e geralmente acabam seguindo todos da banda ao mesmo tempo. Acredito que nós seis adoramos ter esse contato direto com quem gosta do nosso trabalho.

 

VM: Na live, rolou um bis literal, pois vocês a encerraram com um replay de “Not So Vain”. Como isso é definido e por que ela exatamente? É uma decisão planejada ou rola ali na hora? E ainda bem que foi ela, pancada perfeita para encerrar a noite em alto astral!

 

TB: A gente decidiu fazer um bis porque faltava música para tocar e completar o horário do programa [risos]. Escolhemos “Not So Vain” justamente pela sua vibe e é uma ótima música para tocar. Se não me engano, foi o Kleine que sugeriu.

 

VM: Pessoalmente falando, você tem faixas favoritas dentre as gravadas pelo PAD?

 

TB: A minha preferida até hoje é “Not So Vain”, não somente por ser nossa primeira música, mas por ter peso sem perder o swing. Com certeza, na entrevista do Noogh, ele citou Bee Gees ao falar dessa música e pouca gente sabe que fui baterista de uma banda de disco music por dez anos. Adoro tocar levadas disco e tive a oportunidade de aplicar algumas delas nessa faixa. 

 

VM: Analisando o setlist, o “show” foi centrado em O Som E A Cura, como nem poderia deixar de ser. Na prática, mesmo mudando a ordem das dez faixas, vocês o tocaram na íntegra, além de incluírem os outros singles. Em português claro, vocês mostraram tudo que tinham para tocar. Como é rearranjar a ordem do álbum? Suponho que suas músicas sejam planejadas segundo um critério artístico e deve ser o maior barato a “brincadeira” de rearranjar tudo para fazê-lo ao vivo.

 

TB: Temos algumas músicas com afinação diferente e procuramos mantê-las próximas umas das outras para não precisar ficar mexendo em afinação toda hora, mas basicamente o critério é começar no alto e acabar no alto. Improvisações e músicas mais cadenciadas geralmente ficam mais para o meio do show. Mas, de fato, tudo está sujeito a mudanças em todo o show, caso alguém queira fazer algo diferente. Não seguimos muito protocolo, não.

 

VM: Falando em shows, por nunca tê-los visto, fiquei curioso: vocês costumam tocar algum cover ao vivo? Ou o foco é total no próprio repertório?

 

TB: Às vezes tocamos, sim. Já fizemos versões do Barão Vermelho, Foo Fighters e Van Halen. A gente sempre acaba tocando alguma coisa por diversão e do nosso jeito.

 

Foto: Caike Scheffer (@caikescheffer

 

VM: Fazendo a lição de casa, descobri que você integrou três outras bandas antes do PAD: Owl Company, Carranca Trio e Two Of Us. O que você poderia dizer sobre cada uma delas no sentido do quanto elas contribuíram para seu desenvolvimento como músico (ou o que mais você quiser falar a respeito)?

 

TB: [Owl Company] – foi a única banda em que trabalhei que acabou enquanto estava crescendo e produzindo material bom. Eu estava na banda desde o primeiro dia e dei meu melhor sempre, fosse tocando, gravando, marcando shows ou tentando achar maneiras de fazer a banda chegar a algum lugar. Nas “internas”, como você disse na segunda pergunta, era um festival de beijos e declarações de amor para todos os lados, viajamos para Los Angeles em 2017 para tocar no Viper Room e acabamos gravando um single com o Matt Wallace (https://www.youtube.com/watch?v=t6SVWfpfhvg). Nunca tivemos uma desavença e, falando a verdade, a gente se respeitava e se tratava como irmãos mesmo, o que se provou ser uma grande falsidade quando o vocalista do grupo simplesmente surtou numa conversa de WhatsApp (acredite ou não) e acabou com três anos de trabalho e relacionamento por algum motivo que, até hoje, não sei explicar direito. Musicalmente falando, gosto de tudo que fizemos juntos, todos eram muito talentosos e dedicados ao seu craft.

 

[Carranca Trio] – Sem dúvida, foi a banda que mais me definiu como artista. Eu tinha na minha cabeça, desde que comecei a tocar, o som da banda que eu queria ter e, desde a primeira vez que tocamos juntos, aquela sonoridade estava lá. Fazíamos tudo que a gente queria e do jeito que queria, nunca teve um stress ou uma discussão, nada disso – foi puramente pela música e pela paixão de tocar. A gente fazia questão de não tocar nenhuma música conhecida, fazer improvisações no palco e a gente desenvolveu uma ligação musical que eu nunca tinha sentido antes. Eu saía do palco com a sensação que eu tinha pintado um quadro e que nunca mais ia visitar aquela tela de novo. Cada show era único e especial e, sempre com feedbacks positivos, realmente a sensação era de estar fazendo a coisa certa. Por motivos pessoais fora da banda, paramos de tocar por um tempo, mas sempre estamos em contato e agora, nessa pandemia, começamos a ensaiar um trabalho novo. Então teremos novidades para mostrar em breve.

 

[Two Of Us] – é um trabalho em que decidi tocar baixo ao invés da bateria. O baixo é um instrumento que amo tocar e, no caso, esse trabalho é com a minha esposa, que toca teclado e canta, e então o baixo se encaixou perfeitamente. Amo tocar com ela e infelizmente tivemos que parar de fazer shows devido à pandemia, mas não vejo a hora de voltarmos.

 

VM: Todo mundo acaba conhecendo mais o Marcos Kleine, por motivos óbvios. No geral, ajuda mais ou atrapalha um dos membros do PAD ser de uma banda do porte do Ultraje A Rigor e estar na TV cinco vezes por semana no The Noite Com Danilo Gentilli?

 

TB: Sem dúvida, ajuda, mas não por algum tipo de benefício que a visibilidade dele pode trazer e sim por ser uma alma incansável que nos empurra para frente com sua energia. Ele chegou onde chegou por puro merecimento e ter alguém que não se acomoda trabalhando do seu lado é, no mínimo, inspirador.

 

VM: Antes disso, Kleine era do Vega e do Exhort, Fabio está no The Soundtrackers e há várias outras bandas no DNA do PAD: Sikz, Trinta E3 e Äive (Will); Colony e Dr. Sin (Simão); Owl Company, Carranca Trio e Two Of Us (você); e Pit é produtor musical e maestro de bandas de eventos. Tal combinação traz uma bagagem musical riquíssima em função da quantidade de experiências e profissionais com quem vocês já tocaram. Como misturar tudo para formar uma química única?

 

TB: Comunicação, confiança e respeito. Tanto pessoal quanto musicalmente, quando alguém fala, os outros escutam e, quando alguém toca, os outros escutam e um confia no instinto do outro.

 

VM: Partindo para o final do papo, Pit foi membro de dois conjuntos de “fora do rock”, por assim dizer, e sempre há quem não entenda que um músico profissional tem todo o direito de fazer o que quiser e, até para pagar as contas, por vezes tocar outros estilos. Alguma vez vocês sofreram preconceito no “universo rock” por ele ter integrado Os Travessos e Sensação E Intuição?

 

TB: É a primeira vez que fico sabendo disso [risos]. Mas não, nunca sofremos preconceito em relação a nada do tipo. Até agora, pelo menos!!! [risos]

 

VM: Putz! Entreguei o cara? Agora imagino três coisas: bullying nos ensaios; zoeira no WhatsApp; e preocupação com minha segurança pessoal! [risos]

 

TB: [risos] Que nada! A gente já tira sarro do Pit sempre que temos chance. Vamos considerar essa informação como uma munição especial que será usada na hora certa.

 

VM: Para “empacotarmos tudo”, um apanhado geral: desde o lançamento do primeiro single de vocês, “Not So Vain”, em junho/17 (ou daquele primeiro ensaio sete meses antes), o que mais mudou na carreira e na vida de vocês de lá para cá?

 

TB: A vida segue como ela é. A maior diferença é que começamos como amigos e hoje temos certeza que todos ganharam uma nova família. O amor e o carinho entre todos os envolvidos na PAD é o que mais me dá orgulho.

 

VM: Muito obrigado pelo tempo e paciência para responder tudo [risos]. Espaço aberto para sua mensagem final:

 

TB: Muito obrigado a você, Vagner, pelas ótimas perguntas e pela pesquisa cirúrgica sobre nossa banda. Como último recado, gostaria de dizer a todos que sou muito grato pelo carinho que recebemos pelo nosso trabalho. Realmente a PAD nos proporciona muitas felicidades e muitas delas vêm do carinho dos fãs! Fiquem todos ligados nas redes sociais da banda que em breve estaremos lançando músicas novas que tenho certeza que vocês vão gostar. Um beijo a todos!

 

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Assessoria: Isabele Miranda @isabelemirandatv

   



Vagner Mastropaulo

Bacharel em inglês/português formado pela USP em 2003; pós-graduado em Jornalismo pela Cásper Líbero em 2013; professor de inglês desde 1997; eventualmente atua como tradutor, embora não seja seu forte. Fã de música desde 1989 e contando... começou a colaborar com o site comoas melhores coisas que acontecem na vida: sem planejamento algum! :)




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