Entrevistas

Rootbrain: “Mal podemos esperar até o mundo dar uma guinada positiva na pandemia”

Por Vagner Mastropaulo | Em 24/06/2021 - 01:23
Fonte: Alquimia Rock Club

 

A banda Rootbrain - Foto: Markus Laakso (@laakso.markus)  

 

A imprensa especializada em rock e metal é frequentemente responsabilizada por criar rótulos a fim de enquadrar a sonoridade das bandas de modo a (tentar) tornar palatável a assimilação e o consumo e nem sempre, para não dizer “quase nunca”, os músicos concordam com o que é feito neste aspecto. Mais raro ainda é o próprio artista surgir com seu subgênero em mente e apresentá-lo nominalmente a fãs e mídia como fez o Rootbrain, sem a menor hesitação! Analisando um pouco, é uma estratégia tão inteligente quanto aceitar um apelido: tente negá-lo e veja o que acontece... Por outro lado, se é inevitável que, de todo jeito, vão te limitar: faça-o você mesmo!

 

Originário da Finlândia, o quinteto é formado pelo vocalista Jules Näveri (ex-Profane Omen), os guitarristas V. Santura (Triptykon e Dark Fortress) e S. Helle (ex-Dauntless e ex-Bonemechanics), o baixista Thomas Wright (Kuolemanlaakso) e o baterista Fat Tony (Kuolemanlaakso). E como dizia Jack Pallance em programa da TV Manchete (hoje RedeTV!) no início dos anos oitenta, “Acredite Se Quiser”, mas eles mesmos propuseram que fazem “Black Grunge de Seattle, Finlândia”, uma espécie de “marca registrada” assumida pelo grupo em seu site, além dos perfis do Instagram e Facebook.

 

De Breakwater, primeiro full length dos caras, ainda sem data definida para ganhar vida, eles já disponibilizaram “Bullethead”, “Lion Tamer” e “Gone By The Waves” e dois de seus membros encontraram um tempinho para conversar exclusivamente conosco via e-mail. A maioria das respostas ficou a cargo de Jules Näveri, exatamente três foram dadas por V. Santura e, a respeito de uma delas, sobre o local de gravação do début, é interessante registrar um adendo para mostrar como jornalista também é “gente” e vacila às vezes: mesmo apurando, passou batido que o estúdio é de posse do guitarrista, o que acabou gerando uma muitíssimo bem-humorada tirada de sarro dele com este escriba! Tomara que você também se divirta com o conteúdo:

 

Vagner Mastropaulo: Antes de tudo, muito obrigado por esta entrevista. A primeira pergunta é provavelmente a que vocês estão cansados de responder, mas não consegui encontrar a informação online: por que o nome “Rootbrain” e qual é a estória por trás dele?

 

Jules Näveri: Na verdade, o Thomas seria a melhor pessoa a responder isso, mas há uma teoria comprovada sobre as árvores serem capazes de se comunicar entre si através de suas raízes. E você sabe como as árvores são: teimosas e bem sólidas! De muitas formas, também somos quanto a fazer música.

 

A banda Rootbrain - Foto: Markus Laakso (@laakso.markus)

 

VM: Li o press release já traduzido para o português, então não sei as palavras originais exatas, mas aposto que diziam algo como: “A filosofia da banda é simples: a vida é curta, então passe-a com as melhores pessoas fazendo o que você ama. Rootbrain não é um projeto. É uma banda construída na fraternidade”. Se não é um projeto, como será possível vocês estarem em locais diferentes ao mesmo tempo e fazerem shows com as outras bandas que têm quando o mundo voltar ao normal?

 

JN: Nós já nos acostumamos a essa coisa da relação de uma banda à distância. Na verdade, todas as nossas bandas têm a mesma coisa: sempre temos que viajar para conseguirmos tocar juntos. Quando você passa sua juventude inteira numa sala de ensaios apenas praticando, você acaba curtindo o nível que alcançou num ponto adiante em que você pode confiar em suas habilidades em todas as situações. Podemos criar uma arte combinada em nossos próprios territórios e poli-la quando estivermos juntos de novo. Para nós, um projeto significa que você o fará uma vez ou apenas uma ou duas músicas. Nossa banda é baseada em esforços contínuos para fazer e lançar música. Portanto, não é um projeto.

 

VM: Se fiz minha lição de casa corretamente, minha pesquisa me levou a “Bullethead” como o primeiro lançamento no canal da banda no YouTube, mais precisamente em 07/02/20 – quando o mundo ainda estava “normal”, na falta de uma palavra melhor. Vocês não aparecem no vídeo e a maioria dos takes, especialmente todos os diurnos, parece ter sido captada numa floresta. Onde ele foi filmado?

 

JN: O vídeo foi filmado nas matas de Sammatti, um lugar misterioso ao sul da Finlândia onde coisas estranhas tendem a acontecer quando você entra lá. As imagens captadas para o clipe foram o resultado da entrada na floresta e você pode ver o que acontece.

 

VM: Ouvindo a faixa um pouco mais atentamente, identifiquei uns gritos à lá Mike Patton, principalmente bem no comecinho e após o solo de guitarra. Ele seria uma influência para você?

 

JN: Você está indo pelos caminhos certos, definitivamente! Para mim, Mike Patton é um dos maiores artistas vocais em todos os tempos. O trabalho vocal insanamente variado que ele faz é sempre uma inspiração. Ele também é uma das razões pelas quais gosto de usar minha voz de tantas maneiras diferentes, de linhas limpas a gritos. Sou um grande fã de Faith No More, mas também curto a maioria de suas outras bandas. Ele raramente erra!

  

 

 

VM: O single de “Lion Tamer” saiu em 25/02/21, novamente no canal do YouTube da banda, mais de um ano após “Bullethead”. Esta pausa foi causada pela pandemia? E sei que é uma pergunta meio clichê, embora necessária, mas como a pandemia afetou vocês musical e pessoalmente?

 

JN: Definitivamente a pandemia teve um papel nisso. Quando você não pode viajar, é impossível tocar junto e também queríamos ter certeza que nós e nossos entes mais próximos estivéssemos seguros. Então levou um tempo para planejarmos o vídeo de “Lion Tamer” porque não queríamos nada pela metade. A pandemia teve seu impacto de tantos modos que ele ainda está se modelando. Para mim, foi difícil estar distante de meu país natal, a Finlândia, por tanto tempo, mas, ao mesmo tempo, este período deu a mim e minha esposa uma chance de passarmos um tempo maior em um lugar e curtirmos mais a vida em família. Musicalmente, na verdade, tem sido inspirador. Aprendi a realmente escutar música novamente e comecei a escrever letras.

  

 

 

VM: Apenas abrindo uma rápida digressão, qual é a situação na Finlândia agora? Aqui no Brasil, nunca ouvimos notícias de um elevado número de mortes em seu país em mais de quinze meses de isolamento (ao contrário de Itália, Portugal, Espanha, Reino Unido e França, em momentos distintos na Europa). Sendo assim, podemos concluir que tudo esteja sob controle por aí?

 

JN: Estou na Finlândia no momento e as coisas parecem brilhantes! Quase 50% da população já está vacinada e este é o resultado de uma nação seguindo os protocolos de segurança e também de um bom gerenciamento da situação. Nunca, em todo esse período, houve uma grande elevação descontrolada de novos casos. Acho que o governo lidou com este lado da pandemia muito bem por aqui. Por outro lado, as restrições têm sido muito desequilibradas entre diferentes setores profissionais. Infelizmente, o setor cultural é o que mais sofreu com estas restrições e não tem, de fato, recebido muito apoio do governo. É simplesmente injusto. O respeito à cultura, aos olhos da roda da economia, está num estado triste. Isso deixou uma ferida aberta que precisará de muito tempo para cicatrizar.

 

VM: Mais uma pergunta sobre a Finlândia: o país acaba de estrear na Eurocopa e esta é a primeira vez que vocês participam da fase de grupos do torneio, superando as eliminatórias. Além disso, o primeiro gol marcado gerou a vitória de 1x0 no fatídico jogo em que o meio-campista dinamarquês Christian Eriksen desmaiou do nada. Como tem sido a atmosfera no país após o grande resultado, ainda que numa partida quase trágica? E qual a expectativa das pessoas com relação ao restante da campanha na competição? [nota: o confronto em questão se deu em 12/06 e, entre o envio das perguntas por e-mail e o recebimento de suas respostas, a fase de grupos já havia se encerrado, infelizmente com a Finlândia eliminada]

 

JN: Na verdade, na hora que Christian Eriksen caiu e todos nós víamos o que acontecia ao vivo pela TV, parecia que o mundo todo parou por um momento. Meus amigos e eu apenas ficamos em silêncio por um longo tempo, na esperança do melhor para ele. Foi um sentimento eufórico quando os espectadores foram informados que ele estava no hospital e em condições estáveis. Que alívio! E ver também como os torcedores finlandeses e dinamarqueses se uniram em cantoria por Eriksen... Senti o amor que o futebol tem. O futebol pode juntar pessoas nesses momentos e é uma das melhores coisas neste esporte. E por falar em estarmos unidos, todo o país está ligado na mídia futebolística desde que passamos à fase final da Eurocopa. Como um grande amante do jogo, acho simplesmente sensacional que a Finlândia tenha se classificado para um grande torneio do maior esporte do mundo. Era o “sonho de gerações”, como todos chamamos aqui, e finalmente este time conseguiu. É claro que foi ótimo ver a Finlândia ganhar seu primeiro jogo, mas, sinceramente, para a maioria de nós, estamos apenas felizes por estarmos participando deste torneio depois de tantas frustrações passadas nas eliminatórias anteriores.

 

VM: Por mim, eu seguiria falando de futebol, porém, voltemos a “Lion Tamer”, cujo vídeo foi cuidadoso o suficiente para começar da seguinte forma: “Rootbrain apresenta ‘Lion Tamer’ – estrelando: Jules Näveri, V. Santura, S. Helle, Thomas Wright & Fat Tony”. Quem teve esta idéia de apresentá-los assim?

 

JN: A liberdade artística do Sr. Thomas Wright certamente esteve por trás disso!

 

VM: Chutaria que o vídeo foi gravado remotamente, certo? E por que a opção por preto e branco?

 

JN: Nós gostamos de fotos em preto e branco e deste tipo de contraste. Alguns de nós somos fãs do velho humor pastelão em preto e branco de Charles Chaplin, por exemplo. O cenário em preto e branco se encaixa muito bem com a idéia do último dia do domador de leão no emprego. Toda a profissão é bastante nostálgica, então este conceito se encaixa na era. As partes de todos foram filmadas em locais diferentes em três países distintos. 

 

A capa do single Lion Tamer – Foto: Natalia Kempin (@natalia.die.hexe) 

 

VM: Os créditos após o vídeo apontam que “Fernanda Nunes” foi responsável pela “câmera do vocalista e maquiagem”. É um nome tipicamente brasileiro ou, no máximo, português... Não quero ser invasivo ou soar mal-educado ao perguntar algo tão pessoal, mas quem seria ela?

 

JN: Ela é minha maravilhosa esposa e foi quem fez minha maquiagem, filmou as minhas partes e, sim, ela é brasileira. Temos nosso lar no Rio de Janeiro.

 

VM: Mas, Jules, se você mora no Brasil, deve estar fluente em português. Então, por que estamos “conversando” em inglês [risos]? Falando sério, como está seu português agora? E como você foi parar no Rio?

 

JN: Moro no Brasil há quase nove anos agora, então meu português está num nível em que podemos ter uma discussão acalorada sobre futebol e política! Falando sério, levei bastante tempo para aprender o idioma e ainda gaguejo muito tentando encontrar as palavras certas, mas o mais importante é: falo a língua e não dou a mínima se falo errado às vezes. Respeito todo mundo que vem à Finlândia e aprende o idioma porque é um dos mais difíceis de aprender. Para mim, este foi um dos meus primeiros objetivos: aprender português quando me mudei para o Brasil. Fiz uma viagem até aí em 2009 para visitar meus amigos e, coincidentemente, acabei no Rio, onde conheci minha esposa. Uma viagem para mudar a vida, eu diria!

 

Jules Näveri - Foto: Natalia Kempin (@natalia.die.hexe) 

 

VM: Que estória legal! Mas nove anos? Minha pesquisa havia me levado a sete! Agora devo ser mais cuidadoso ao traduzir esta entrevista a partir daqui [risos]! Então, uma discussão acalorada sobre futebol e política? Bem, que se foda a política, falemos sobre futebol outra vez: suponho que você já teve tempo suficiente para escolher um time no Brasil, certo?

 

JN: Bem, a família da minha esposa se divide entre vascaínos e flamenguistas, então, em nossa família, comemos bacalhau e curtimos a Série B por enquanto novamente.

 

VM: Voltando mais uma vez aos créditos de “Lion Tamer”, a sentença final é: “Black Grunge de Seattle, Finlândia” – um modo bastante bem-humorado de concluir tudo. O mesmo dizer está no site oficial, na conta do Instagram e no perfil do Facebook. Então, além de ser meio que uma marca registrada, é algum tipo de piada interna entre vocês cinco? De onde surgiu isso?

 

JN: Tenho certeza que o Thomas esteve por trás disso! Nossa música é muito inspirada pelo metal e rock dos anos noventa, especialmente o grunge. Quando estávamos gravando as músicas, percebemos que nossa fundação básica em muitas delas tinha laços com o som de Seattle dos anos noventa, mas, além disso, essa base tem um elemento muito metálico e às vezes até mesmo brutal no meio. Isso é “Black Grunge” para nós e vem “de Seattle, Finlândia”!

 

VM: Só de ouvir “Lion Tamer”, do “Big Four de Seattle”, por assim dizer, você concordaria que a banda mais próxima da sonoridade do Rootbrain é o Alice In Chains, talvez devido ao modo lento que a música se desenvolve?

 

JN: Concordo com você! De minha parte, posso dizer que Alice In Chains tem sido uma das minhas maiores influências quanto a cantar. Layne Staley causou um grande impacto em mim quando eu estava crescendo e isso certamente deixa uma marca no desenvolvimento vocal de um jovem. Eu me juntei ao Rootbrain após todas as músicas estarem gravadas e, para mim, foi muito natural abordá-las com um pouco do estilo de Seattle para levar mais melodias às estruturas musicais. Isso me fez perceber que havia uma base bastante comum do famoso som de Seattle na maioria das músicas. Simplesmente adorei e segui com isso.

 

VM: E quais outras influências musicais desempenham um papel para criar o som do Rootbrain além de Alice In Chains? As outras bandas de Seattle e quem mais?

 

JN: Às vezes, conversamos sobre alguns álbuns muito queridos por nós que às vezes ouvimos nas músicas do Rootbrain. Para mim, estes álbuns são: Dirt (Alice In Chains), Wolverine Blues (Entombed), Elegy (Amorphis) e Draconian Times (Paradise Lost). Todos eles são dos anos noventa, então, no fundo, somos uma banda de metal da década de noventa enviada do passado para lembrar as pessoas o quão grande era a música dos anos noventa!

 

VM: “Gone By The Waves” foi a próxima faixa disponibilizada em 15/04 e é certamente mais rápida e pesada do que “Lion Tamer”. Há planos para um lyric vídeo ou mesmo um clipe?

 

JN: Sim, na verdade, há! Estamos prestes a lançar um vídeo em breve!

  

 

 

VM: “Bullethead”, “Lion Tamer” e “Gone By The Waves” farão parte do ainda a ser lançado début Breakwater? Ou apenas as duas últimas?

 

JN: Todas elas são parte de Breakwater. “Bullethead” ainda não é um lançamento oficial, mas quisemos deixá-la em nosso canal para as pessoas terem o gosto de um lado diferente do Rootbrain.

 

VM: O press release que mencionei acima prometia quatro singles antes de Breakwater ganhar vida. Se “Bullethead” não é um lançamento oficial, fiquei um pouco confuso se agora há apenas um single faltando ou se ela está no pacote. Quais outras faixas serão lançadas antes de o álbum sair?

 

JN: Há mais uma música para sair e esperamos lançá-la durante o verão europeu / inverno brasileiro. Sou ruim de matemática, mas ela seria o terceiro lançamento oficial do Rootbrain [nota: seguimos perdidos e algo não bate... Se “Bullethead” realmente não conta e o próximo single será o terceiro, ou ainda faltará um, ou o release prometia quatro, mas virão somente três. A aguardar!].

 

VM: Ainda sobre Breakwater, o que você pode antecipar? Quantas faixas? Algum cover? Algum convidado especial? E qual sua duração aproximada?

 

JN: Breakwater é um álbum polido que instantaneamente te tomará nos braços e te abraçará calorosamente em sua totalidade e finalmente te deixará ir, mas apenas por um tempo porque você vai querer voltar a ele para outro passeio. Nem curto demais, nem longo demais, apenas a quantidade perfeita de Black Grunge de Seattle, Finlândia.

 

VM: Como foi o processo de composição durante a pandemia? Digo, alguma vez vocês cinco estiveram fisicamente no mesmo lugar? Ou vocês basicamente partilharam arquivos e gravaram separadamente?

 

JN: Todos os instrumentos foram gravados durante sessão única, exceto os vocais, que gravamos em duas locações diferentes. A primeira sessão de gravação dos vocais aconteceu naquelas misteriosas matas de Sammatti e levamos toda aquela sensação de volta ao estúdio de V. Santura na Alemanha, onde gravamos o restante dos vocais. Foi uma das sessões de gravação mais livres e fluidas da minha vida, embora eu tenha ido do calor tropical de quarenta graus para o inverno lamacento na Baviera, então tive que dar um descanso extra à minha voz num dado momento.

 

VM: Breakwater foi mixado e masterizado por você, V. Santura, no Woodshed Studio, na Alemanha. Por que exatamente este local? [nota: esta é a pergunta-mico citada na introdução, uma combinação de pesquisa feita às pressas com as respostas enviadas todas de uma vez, impossibilitando o cair da ficha... Segue o jogo!]

 

V. Santura: Para ser sincero, não entendi a pergunta exatamente... Por que no Woodshed Studio? Bem, porque é o meu estúdio, então estou obviamente trabalhando de lá. É meio como me perguntar por que cheguei com meu próprio carro e não num táxi. Se eu possuo um carro perfeitamente em condições, vou usá-lo, a menos que eu esteja bêbado. E tendo a estar sóbrio durante o trabalho... ;-) [nota: Como dizia o Chaves: “Que burro, dá zero para ele”, o jornalista] ;o)

 

VM: É verdade que, a princípio, você era apenas um convidado para gravar, produzir e tocar em algumas faixas do álbum, mas a química entre vocês foi tamanha que você se tornou um membro permanente?

 

VS: Sim, isso é verdade. Eu vinha trabalhando com a banda finlandesa Kuolemanlaakso antes (e estou fazendo isso exatamente neste momento) e Thomas e Tony são ambos membros do Kuolemanlaakso. Quando Thomas fundou o Rootbrain, ele queria produzir o álbum comigo porque nos tornamos amigos realmente próximos ao longo dos anos. Passei muito tempo com ele em sua cabana de verão na floresta na Finlândia e sempre tivemos uma ótima química. Mas, sim, a princípio, eu não era um membro do Rootbrain e os caras simplesmente vieram ao meu estúdio para gravar o álbum comigo. Mas, no curso da produção, as coisas se desenvolveram de um modo específico... Toquei a maioria das guitarras-solo, enquanto Helle estava detonando em todas as guitarras-base. Então a idéia de me juntar ao Rootbrain ficou mais e mais atrativa para mim, por razões musicais e pessoais, e quando fizemos as primeiras gravações dos vocais com Jules, fiquei tão completamente impressionado e convencido que simplesmente não pude mais resistir à tentação!

 

V. Santura - Foto: Natalia Kempin (@natalia.die.hexe)

 

VM: E se você me permitir apenas uma única pergunta sobre o Triptykon, aí vai ela, devidamente contextualizada: estive no show de vocês no Carioca Club em 25/08/18 e não tenho certeza se vocês estavam cientes ou se você se lembra do que estava acontecendo em São Paulo à época, mas os caminhoneiros estavam em greve. Devido a isso, a situação era caótica porque não temos uma malha férrea similar ao que há na Europa e, portanto, o transporte de cargas no Brasil não é feito por trens, mas principalmente por caminhões, o que fez da greve deles um movimento poderoso. Nunca entendi porque aquele show começou quase à meia-noite, uma vez que o padrão daquela casa é começar as apresentações mais cedo, de modo que tudo termine até às dez da noite (eles geralmente fecham e reabrem o local para grupos de samba e pagode tocarem noite adentro). Você saberia dizer por que o show começou tão tarde? E que memórias você tem daquela noite e de toda a experiência aqui em São Paulo?

 

VS: Que legal que você, de fato, foi àquele show! Nós somente ficamos cientes da situação depois de chegarmos a São Paulo, mas então, é claro, nos informamos sobre a greve dos caminhoneiros. E, é claro, também li a respeito online de modo bem detalhado enquanto fiquei no hotel. Quanto ao porquê de o show ter começado tão tarde, sinceramente não posso responder. Talvez tenha tido algo a ver com a greve e o organizador tenha decidido segurar um pouco o começo do show esperando que as pessoas ainda conseguissem chegar, uma vez que muitas delas não tinham como ir ao show devido à greve. Com certeza, o show começar tão tarde não foi decisão da banda. Tirando isso, basicamente tenho memórias muito boas sobre o show em si, embora um pouco misturadas: esse show em São Paulo foi o último de uma curta turnê latino-americana e, apenas por este pequeno giro, tivemos um novo baterista, Stefan Häberli. Ele certamente era um bom baterista, mas simplesmente não o ideal para o Triptykon e, depois disso, decidimos nos separar novamente. Também me lembro que, depois do show, muitos fãs estavam esperando do lado de fora do clube, mas meio que nos disseram para entrarmos na van e partirmos imediatamente. Eu me senti bem mal sobre esta situação, para ser sincero. Você não encontra esse tipo de entusiasmo e paixão todos os dias, de algum modo, você quer retribuir às pessoas, mas, naquela situação, não pudemos fazê-lo. Então tive a sensação de que deixamos muitas pessoas desapontadas naquele momento em específico.

 

VM: Para encerrarmos de um modo divertido, a primeira vez que vi o nome “Rootbrain”, imediatamente me lembrei do Echobrain (grupo de Jason Newsted após sair do Metallica) e do Bad Brains. Como seria se as três bandas fossem escaladas para tocar no mesmo dia de um hipotético festival? ?

 

JN: Haha! Bem, eu iria ao mosh pit do Bad Brains antes de ficar completamente entediado ao ouvir o Echobrain e finalmente tiraria demais desta experiência para poder canalizar tudo durante nosso set com o Rootbrain! Falando sério, Jason, se você ler isso, sou um grande fã de seu trabalho e até cortei meu cabelo como você fez durante o Black Album.

 

VM: No final das contas, me esqueci de perguntar algo fundamental: para quando é esperado o lançamento de Breakwater? Há um prazo quanto a isso?

 

JN: Ainda não estabelecemos uma data, mas estamos trabalhando nisso. A primeira coisa que precisamos é de uma boa empresa para colaborar conosco. Breakwater merece ser lançado com um bom planejamento e estamos abertos às opções.

 

VM: Certo! Muito obrigado pelo papo. Apenas deixe uma mensagem final aos fãs aqui no Brasil e àqueles que resistiram até esta parte da entrevista!!

 

JN: Muito obrigado pela atenção de vocês! Significa muito para nós. Fiquem de olho em nossas redes sociais e em nosso canal no YouTube para mais do que está por vir sobre o Rootbrain. Mal podemos esperar até o mundo dar uma guinada positiva na pandemia, de forma que possamos tocar ao vivo para nossos amigos brasileiros!

  

Links:

https://rootbrain.net/

facebook.com/rootbrainfin

instagram.com/rootbrain_official 

https://www.youtube.com/channel/UC0pZCDg-2pOAfPSUsBXgCqg

 

A banda Rootbrain - Foto: Markus Laakso (@laakso.markus)

 



Vagner Mastropaulo

Bacharel em inglês/português formado pela USP em 2003; pós-graduado em Jornalismo pela Cásper Líbero em 2013; professor de inglês desde 1997; eventualmente atua como tradutor, embora não seja seu forte. Fã de música desde 1989 e contando... começou a colaborar com o site comoas melhores coisas que acontecem na vida: sem planejamento algum! :)




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