Warshipper: “na boa, 'headbanger conservador' não rola!”

Entrevistas

Por André BG | Em 09/08/2021 - 01:24

Fonte: Alquimia Rock Club

Fotos: Fred Guerrero (@fred_guerrero)

Os detalhes e conceitos do terceiro e mais recente álbum “Barren...”, primeiro trabalho conceitual da banda de Death Metal Warshipper que foi lançado em agosto do ano passado, bem como as dificuldades de se divulgar um lançamento em meio a uma pandemia, foram alguns dos assuntos abordados na entrevista exclusiva com o vocalista e guitarrista Renan Roveran que você confere a seguir:

Alquimia Rock Club: Primeiramente, gostaríamos de agradecer por concederem essa entrevista para o Alquimia Rock Club. Vamos começar falando um pouco sobre o momento atual do Warshipper, mais precisamente sobre o mais recente álbum “Barren...” lançado no ano passado. Gostaria que comentassem um pouco sobre esse trabalho, como foi o processo de composição e desenvolvimento das ideias que resultaram nesse terceiro álbum.

Renan Roveran: Salve galera do Alquimia Rock Club e todos os leitores. Pô! Eu que agradeço todo o apoio e o espaço cedido para falarmos um pouco mais sobre nosso trabalho. Foi muito interessante a forma como conduzimos o processo criativo do “Barren...”. Como não seguimos nenhum tipo de receita pré-concebida, acabou rolando de uma forma diferente aos álbuns anteriores. Neste álbum apresentamos um envolvimento ainda maior por parte de todos da banda, fosse em composições, arranjos, conceito, etc. Mesmo eu trazendo a maior parte das ideias, melodias e inputs, com o tempo o engajamento geral da banda nesse processo se potencializou. Particularmente achei do cacete, pois quanto mais ideias e sentimentos diferentes envolvidos, maior se torna a dimensão das possibilidades. Apesar disso, foi um processo bastante acelerado, pois quando fechamos o lançamento que, inicialmente, seria pelo selo “Songs for Satan”, tínhamos um prazo bem apertado para compor e produzir o álbum, sendo que ao mesmo tempo, também estaríamos nos preparando para nossa turnê europeia, que ocorreu no segundo semestre de 2019. Além disso o Roger (baterista) passou boa parte do ano fora do país, o que dificultou um pouquinho mais (risos). Mas ao final de tudo o resultado tanto da tour quanto do álbum foi bem mais legal do que tínhamos como expectativa. E o álbum acabou tendo o lançamento prorrogado, devido a pandemia, e o lançamos por outro selo, a HMR (Heavy Metal Rock). Estamos bastante contentes.

Alquimia Rock Club: Esse foi o primeiro álbum conceitual da banda, certo? Alguma razão especifica para isso?

Renan: Sim, é nosso primeiro trabalho neste formato. Cara, eu sempre quis fazer um álbum conceitual, mas acho que nunca havia tido a inspiração relativa a tema e atmosfera musical adequados para tal. Já estávamos com algumas músicas prontas do ponto de vista instrumental, quando tive os primeiros insights para um contexto lírico. Foi bem espontâneo de início, mas depois de algum tempo tive que começar a elaborar umas formas de criar os links para os temas, quebra-cabeças de ideias, muitas vezes no intervalo do voo de SP para MG, ou gravando textos enquanto dirigia na estrada, afinal não tem regra para momentos de inspiração (risos).

Alquimia Rock Club: Ainda sobre o conceito do trabalho, nota-se que ele foge um pouco dos padrões mais clichês do Death Metal, algo que até citei em minha resenha aqui no Alquimia Rock Club (http://www.alquimiarockclub.com.br/resenhas/7038/); “tratando de temas como os padrões predefinidos e impostos pela sociedade no que diz respeito a vários temas, como questões de gênero, raça, orientação sexual, dependência química ou mesmo condição emocional/mental, com o quarteto definitivamente se posicionando contra tais imposições”. Diante disso, gostaria de saber em que momento da carreira da banda vocês sentiram essa necessidade de se posicionar e tocar mais nesses temas? Isso já vem desde o início?

Renan: Eu arrepiei aqui só de lembrar dessa resenha do Alquimia feita pelo André. Ficou muito massa mesmo. Relembrando um pouco o tópico anterior, justamente este cenário no qual estamos inseridos atualmente quanto a orientação de liderança política e tudo o mais foi um enorme gatilho para os primeiros passos de “Barren...”. Não é somente disso que se trata, mas é inevitável, pois tudo se tornou latente desde que passamos ter este formato ultraconservador predominando em nosso governo. Alguns de nós na banda já possuía este perfil mais voltado a se posicionar de forma firme, outros menos. Mas creio que não somente para nós, como para muitas outras pessoas, tudo isso se intensificou a ponto de se tornar impossível não se exaltar contra. Não deixo de reconhecer que há bandas que promoveram inspiração nesse sentido, como sendo as pioneiras a manifestar aversão a este modelo de governo, tal como o Violator. Em algum momento da história do Rock/Metal isso tudo meio que se perdeu de alguma forma, mas eu fico muito contente em ver que algo está acontecendo, se transformando. E na boa, “headbanger conservador” não rola!!!

Alquimia Rock Club: Um dos pontos altos do trabalho é certamente “Respect!”, que além de ser uma composição implacável ainda conta com a participação especial da vocalista Fernanda Lira (Crypta, ex-Nervosa) e tem em sua letra uma boa amostra no conceito do trabalho como um todo. Como surgiu a oportunidade de contar com Fernanda nessa música?

Renan: Um dos pontos altos para nós em nossa carreira também, ter a oportunidade de trabalhar com a Fer. Foi muito bacana cara. Ela é super gente fina e profissional. Depois de tocarmos juntos uma vez em Sorocaba/SP, o Roger manteve contato com a banda e tals. Depois de eu escrever a letra deste som, conversamos sobre o tema, que é a equalização de direitos, e o Roger teve a puta sacada de convidarmos uma artista mulher para dar maior representatividade para o tema. Aí o nome da Fer foi o primeiro a ele mesmo sugerir. E rolou demais.

Alquimia Rock Club: “Respect!” inclusive deu origem a um videoclipe, lançado durante a primeira edição do “Heavy Metal Rock – Online Festival”, promovido para celebrar os 37 anos da Heavy Metal Rock, a escolha desse tema para ganhar um videoclipe reforça a opinião da música ser um dos pontos altos do trabalho?

Renan: Creio que sim. Esta faixa possui um tema forte, uma participação forte e uma energia muito massa. Creio ter sido certeira para um vídeo clipe.

Alquimia Rock Club: E falando sobre videoclipe, “Respect!” não foi o primeiro extraído do novo álbum, antes vocês já haviam lançado o vídeo para “Barren Black”, com imagens da turnê europeia realizada em 2019. Nos conte um pouco mais sobre a concepção desse clipe bem como essa experiencia na Europa, foi a primeira turnê da banda no exterior?

Renan: Foi a primeira turnê na gringa e foi uma das melhores experiências de nossas vidas (kkkk). Foi demais cara! Nosso grande amigo Cesar Pessoa (Mutilator) estava tocando no Necrobiotic na época da turnê, e as duas bandas excursionaram juntas. Ele trabalha com produção audiovisual, então ele que capitou as imagens para fazer o clipe. Aliás, recomendo demais o trampo dele e “HAIL MUTILATOR!” (risos)

Alquimia Rock Club: Outro detalhe interessante em “Barren...” é o fato das iniciais de cada uma das 11 músicas do tracklist formarem um anagrama da palavra "Barren Black", nome da primeira música do álbum. Gostaria de saber como surgiu essa ideia e se de alguma forma houve alguma dificuldade na criação dos títulos e sequencia das faixas para sair dessa forma?

Renan: Deu um certo trampo sim. Mas confesso que foi bem interessante o desafio. Quando tive a sacada para fazer isso, eu estava viajando nas letras e já tinha umas 3 faixas com iniciais que faziam parte da palavra barren (estéril), e era uma palavra que eu já estava utilizando em algumas letras. Conforme fomos compondo mais sons, a brincadeira era criar o link ente o tema e o que as músicas me faziam sentir, dentro de um contexto acerca do conceito de esterilidade social.

Alquimia Rock Club: Quais são na opinião de vocês as principais diferenças ou mudanças com relação ao álbum anterior “Black Sun” de 2018?

Renan: Eu considero que todo o amadurecimento natural da banda e de cada um de nós, aliados a maior bagagem, assim como maior participação de todos nós em todas as etapas de composição, foram os impulsionadores para as principais diferenças entre os trabalhos. Além, é claro de cada vez mais absorvermos diferentes elementos de coisas que gostamos, em nossa musicalidade.

Alquimia Rock Club: Com relação a repercussão do trabalho, pelo que pude acompanhar esse foi considerado por muitos como o melhor trabalho da banda até a aqui (inclusive por mim), figurando em muitas listas de melhores do ano de 2020. Como foi na visão e percepção de vocês a recepção tanto por parte do público quanto da mídia especializada?

Renan: Apesar de eu possuir algumas ressalvas quanto a caracterização de melhor e/ou pior na arte, é claro que para nós ver todo o reconhecimento pelo trabalho no qual dedicamos emoções, sentimentos, ideias, tempo e empenho, é fantástico. Reconhecimento é algo que a maior parte dos artistas busca ao expressar seu trabalho. Ficamos contentes demais, o que nos motiva a seguir em frente, mesmo diante das dificuldades.

Alquimia Rock Club: Chega a ser um desperdício o fato de a banda ter lançado o álbum em 2020, provavelmente com a intenção de cair da estrada e mostrar as músicas ao vivo para o público, o que infelizmente não foi possível por conta dessa triste situação da pandemia do novo Corona Vírus. Por razões mais que óbvias, acredito que deva haver uma sensação/sentimento de frustração, o que é algo totalmente compreensível diante da situação, como vocês lidam com essa sensação/sentimento?

Renan: É inegável que todo este cenário e tudo o que tem acontecido nesta pandemia é altamente entristecedor, alarmante e muitas vezes desesperador. Porém, a banda e a música compõem o que há de melhor e mais importante para mim, então se eu deixasse mais isso ser abalado, talvez fosse mais difícil passar por tudo isso. Temos nos empenhado muito, trabalhado bastante, principalmente em todo o preparo para que quando possamos retornar aos palcos estejamos ainda mais fortes para levar nossa música para todos.

Alquimia Rock Club: Diante dessa situação, vocês pensaram em algum momento segurar o lançamento de “Barren...” por conta dessa crise sanitária?

Renan: Chegamos a pensar em segurar o lançamento do “Barren...", mas em conjunto com o Eliton e Susi do Som do Darma, nós decidimos apostar. E fomos uma das primeiras a dar este passo. Havia uma realidade com a qual lidarmos e buscamos o máximo de adaptação para o contexto, de forma a que pudéssemos manter a banda em atividade. Isso foi bom para nós individualmente e certamente para nossa carreira também.

Alquimia Rock Club: Falando um pouco sobre o momento atual do Brasil e do Mundo com essa pandemia, de uma forma geral, não só profissional dentro da música, como vocês lidaram e estão lidando com essa situação atual?

Renan: É tudo muito complicado. Todos perdemos pessoas próximas, todos fomos afetados de alguma forma, pudemos ver o pior de algumas pessoas no tocante a total falta de empatia. Diante de tudo isso e entre altos e baixos, acho que lidamos bem ao conseguir canalizar tudo isso em criatividade e inspiração para compor mais... sim! Tem novidade vindo por aí (666).

Alquimia Rock Club: Quais os planos para o futuro próximo do Warshipper para o restante desse ano de 2021? Acredito que a ideia seria mostrar “Barren...” ao vivo para o público, (caso isso seja possível é claro), mas levando em conta a inquietude de um músico, é cedo demais para se falar em novas composições ou vocês já pensam em algo?

Renan: Infelizmente, apesar de sempre ser otimista, não tenho me sentido assim quanto a possibilidade de tocar em eventos com público ainda este ano. Mas certamente o “Barren...” merece shows e turnê e temos falado muito sobre isso. Claro que pudemos apresentar nosso trabalho em vários eventos online, o que foi fundamental para fazer nosso trabalho chegar nas pessoas, mesmo em meio a uma pandemia. Eventos como o da Roadie Crew, Heavy Metal Rock, Roça ’n’ Roll, Caio Indica, Resenhando Rock, Under Martyrs, e todos os outros eventos que cederam espaço para nossas bandas, tiveram um papel muito importante para manter a chama acesa!!! Cedo para falar em composições? Em meio a essa pandemia? (risos) De forma alguma. Já estamos pré-produzindo material novo sim e vamos começar a divulgar mais detalhes sobre muito em breve. Vem algumas surpresas por aí, inclusive pelos próximos dias vamos anunciar uma importante mudança na formação.

Alquimia Rock Club: Mais uma vez, agradecemos por concederem essa entrevista para o Alquimia Rock Club, o espaço é todo de vocês para darem um recado final ao público.

Renan: Muito obrigado mais uma vez a vocês do Alquimia Rock Club, todos os leitores e apoiadores. Este tipo de trabalho é fundamental para nós, assim como de cada um envolvido nisso tudo, desde os produtores de eventos, equipe técnica de som, bandas, fotógrafos, repórteres, público, apoiadores, todo mundo, é isso que faz tudo acontecer. E precisamos cada vez mais estimular as pessoas a “voltarem para o Rock”!!! O tempo de ambiente aversivo para a molecada não cabe mais, temos que acolher e disseminar o espírito do Rock, do Metal, da música, uns apoiando aos outros, sem competição. Lembrando que se não renovar, acaba. Um abraço grande para todos vocês.

Formação:

Renan Roveran (vocal/guitarra)

Rodolfo Nekathor (baixo/vocal)

Rafael Oliveira (guitarra)

RogerCosta (bateria)

“Barren...” também está disponível em todas as plataformas de música:

Spotify: https://spoti.fi/2YPYPse

Deezer: https://bit.ly/2De7Wv9

iTunes: https://apple.co/2EAejtH

Google Play: https://bit.ly/31H2D0P

Amazon: https://amzn.to/3bp7iYF

Youtube: https://bit.ly/2ETHR4V

A edição física de “Barren...” em CD, assim como camisetas e todo merchandise oficial do Warshipper, está disponível com exclusividade na loja da Heavy Metal Rock: https://hmrock.com.br/produto/warshipper-barren-cd/

Confira a resenha do álbum “Barren...” pelo Alquimia Rock Club: http://www.alquimiarockclub.com.br/resenhas/7038/