Corja!: “A recepção está sendo incrível”
A vocalista Haru Cage da banda Corja! - Foto: Gandhi Guimaraes (@gandhiguimaraes)
Considerada um dos grandes expoentes do metal nordestino atual, a banda cearense Corja! lançou esse ano seu álbum de estreia "Insulto", trabalho esse muito bem recebido por público e mídias especializadas, fortalecendo ainda mais o nome no cenário nacional do agora quarteto formado por Haru Cage (vocal), Pedro Felipe (baixo), Silvio Romero (bateria) e David Barroso (guitarra). E para falar sobre esse álbum de estreia, bem como as dificuldades de se divulgar um trabalho durante uma pandemia, o sexismo e o machismo na cena Metal, dentre outros assuntos, a vocalista Haru Cage concedeu uma entrevista exclusiva para o Alquimia Rock Club que confere a seguir:
Alquimia Rock Club: Primeiramente, gostaria de agradecer por concederem essa entrevista para o Alquimia Rock Club. Vamos começar falando um pouco sobre a Corja!, para quem ainda não os conhece. Como e quando vocês começaram, quais são suas influências e propostas da banda?
Haru Cage: Nós que agradecemos o convite! Começamos oficialmente como Corja em 2017, mas os caras se encontraram no meio de 2016 e foram fazendo os sons na tora, sem vocal mesmo! A gente tem influência de muita coisa, mas tem muito de Fear Factory, Meshuggah, Slipknot. A proposta desde sempre foi fazer música que a gente curtisse, com pegada, pancada, mas nunca nos prendemos a estilos.
Alquimia Rock Club: Vocês lançaram nesse ano o álbum de estreia "Insulto". Gostaria que você comentasse um pouco sobre esse trabalho, como foi o processo de composição, desenvolvimento das ideias que resultaram nesse álbum e como foi e como está sendo a recepção por parte do público?
Haru Cage: Insulto é a mistura de influências e sentimentos que surgiram lá em 2017, nos reunimos em estúdio, cada um trazia algo na cabeça e o resultado era sempre inesperado, mas satisfatório. O tema nem foi discutido, eu via o que a música pedia e o que eu queria passar e letrava. A recepção está sendo incrível, o público chegando junto e curtindo e a mídia dando feedback positivo, estamos realmente felizes.
A capa do álbum 'Insulto' por Alcides Burns (@alcidesburn) - Ouça o álbum aqui: bit.ly/INSULTOCorja
Alquimia Rock Club: Vocês lançaram até agora dois videoclipes de músicas desse álbum, o primeiro deles foi 'Do Lar ao Caos', com um visual super performático, com imagens impactantes e uso de elementos do suspense. Gostaria que você falasse um pouco sobre esse vídeo, de onde surgiram as ideias de roteiro e como foi o processo de gravação e produção?
Haru Cage: “Do Lar ao Caos” sempre foi nosso xodó, então tinha que ser essa música. Silvio e eu fomos com a idéia baseada na letra, sobre sufocar no dia a dia, até mesmo na nossa própria casa, nosso próprio lar, daí pensei comigo mesma: “Tenho que colocar a atriz para cuspir uns negócios!” Eu mesma fiz a parada nojenta lá (risos). Fechamos com a VOMOR para produzir o clipe. O processo de gravação foi praticamente o dia inteiro, chegamos no local as nove da manhã e terminamos tudo mais ou menos a meia noite, era um dia muito quente, no local não havia energia e alugamos um gerador, então colocamos a mão na massa, muito cansativo, mas ficamos super felizes, nosso primeiro clipe, o sonho de crianças roqueiras dos anos 90!
Assista o videoclipe de “Do Lar ao Caos”: bit.ly/corja-do-lar-ao-caos
Alquimia Rock Club: O segundo videoclipe (que na verdade é um lyric vídeo em animação) é o da música “O Jogo”, mas o que me chamou atenção nessa é a sua risadinha ‘infame’ antes de começar a música (me pareceu coisa de filme de terror rsrs). Me conte mais sobre essa risada, algum motivo especial? De onde surgiu a ideia?
Haru Cage: Quando estávamos compondo a música “O Jogo”, os caras erraram muito naquela intro e eu ficava no ensaio filmando os riffs e tal para depois estudarmos em casa e não esquecer, mas como eles erravam muito, eu filmava e apagava, até que na hora de filmar de novo pela milésima vez o guitarrista disse; “filma aí que agora vamos acertar!”, eu filmei e dei uma risadinha porque eu não acreditava que eles acertariam, mas acertaram. Então ficávamos vendo o vídeo para não esquecer e tinha a maldita risadinha! Aí não teve como nos livramos dela (risos).
Assista lyric vídeo de “O Jogo”: https://www.youtube.com/watch?v=abhAUSB4fcI
Alquimia Rock Club: A banda participou recentemente do Canal Scena gravado no Family Mod Studio em São Paulo. Como surgiu a oportunidade de participar desse importante programa e como foi essa experiência pra vocês?
Haru Cage: Em 2018 o Desalmado veio para Fortaleza fazer dois shows, e tocamos com eles, a galera curtiu o som e já surgiu o convite aí, mas pelas demandas da vida conseguimos entregar o álbum apenas esse ano. A experiência foi incrível porque desde o começo da Corja!, Silvio e eu tínhamos o sonho de gravar lá, aí tu imagina como ficamos quando houve o convite? Que nem pinto no lixo!
Alquimia Rock Club: Me corrija se eu estiver errado, mas essa também foi a primeira vez que o Corja! veio para São Paulo, certo? Se sim, gostaria de saber como foi essa primeira experiência?
Haru Cage: Tá certíssimo! Com direito a primeiro voo e tudo para mim, mas eu me saí bem, nada de vômitos. Fomos bem recepcionados, revemos amigos e conhecemos outros, descobrimos que SP é gigante e a maioria das coisas acaba sendo muito longe e se uma pessoa vai te encontrar é uma prova de amor (risos), foi lindo! E espero que possamos voltar em breve!
Confira a participação do Corja! No Canal Scena: https://www.youtube.com/watch?v=gceo1Izp2hk
Alquimia Rock Club: Uma pergunta que sempre costumo fazer para as bandas que lançaram álbum durante a pandemia; chega a ser um desperdício soltar um material inédito, provavelmente com a intenção de cair na estrada e mostrar as músicas ao vivo para o público, o que infelizmente não foi possível até o momento por conta dessa triste situação da pandemia. Por razões mais que óbvias, acredito que deva haver uma sensação/sentimento de frustração, o que é algo totalmente compreensível diante da situação, como vocês lidam com essa sensação/sentimento?
Haru Cage: Nós costumávamos tocar praticamente todos os finais de semana, o nosso último show presencial, foram duas apresentações em uma noite. Antes da pandemia tínhamos planos de lançar o álbum e fazer uma turnê no Nordeste. A frustração sempre esteve presente na pandemia, tanto pelo risco como pela limitação, mas trabalhamos bastante, participamos de muitos fests online e algumas lives, mas eu acredito que só assim tivemos um tempo “confortável” na medida do possível para gravar o álbum. Adiamos outras vezes por mudança de integrantes e por demanda de show.
Alquimia Rock Club: A impossibilidade de cair na estrada fez com que os festivais online se transformassem em uma válvula de escape para as bandas poderem mostrarem seu trabalho, acredito que não foi muito diferente para o Corja! que participou de alguns desses festivais como Desérticas, Lockdown Metal Fest, Nordeste Fest, Fora Genocida Metal Fest II e estão escalados para o Manifesto Rock Festival dia 14 de novembro. O quão importante foi e está sendo para a banda participar desses eventos?
Haru Cage: Os festivais online nos levaram rapidamente ao público de outros estados, coisa que não aconteceria com facilidade antes da pandemia. Como estava todo mundo em casa, os festivais online foram e são um grande meio de aproximação, tanto que o fã clube da Corja! foi feito por duas pessoas, Bruno Augustos de SP e Prudêncio do RJ. Se me dissessem isso em 2019 eu riria. Sobre o Manifesto Rock que é dia 14 de novembro, vai ser presencial e toda vida que eu lembro sinto frio na barriga.
Foto: Maíra Nakahara (@niponik)
Alquimia Rock Club: Ainda sobre os festivais online, você destacaria algum que por alguma razão tenha sido mais especial para a banda ou que vocês tenham curtido mais participar?
Haru Cage: Lockdown Metal Fest foi muito especial por ter muitas pessoas queridas, a festa que rola no chat é a nova social (risos) e o Festival Desérticas feito por mulheres, com bandas com mulheres, qualidade impecável, fantástico!
Alquimia Rock Club: Falando um pouco sobre o momento atual do Brasil e do Mundo com essa pandemia do Corona Vírus, de uma forma geral, não só profissional dentro da música, como vocês lidaram e estão lidando com essa situação atual?
Haru Cage: Agora estamos mais tranquilos, com vacina, a segunda dose quase uma realidade para alguns, outros já vacinados, acalenta um pouco o coração. Mas no começo passamos vários meses sem nos ver, eu não lembro o quanto, mas foi muito dureza. Perdemos amigos, alguns perderam familiares, tudo muito triste, nos sentimos muito privilegiados de ter saúde e estarmos aqui.
Alquimia Rock Club: Sabemos que o sexismo e o machismo ainda é algo longe de acabar na sociedade como um todo, no cenário musical obviamente não é diferente, se tratando do Rock e do Heavy Metal então, parece que tende a ser até um pouco pior. Como você se sente e como você lida diante desse cenário?
Haru Cage: Eu sempre fui muito de fazer e não pedir permissão a ninguém, nem esperar que alguém gostasse, então eu sempre liguei o foda-se. No começo era muito difícil, tinha cada escroto que eu encontrava, mas peitava, tem que bater de frente mesmo, tem que ser afrontosa! Hoje em dia as mulheres estão mais respeitadas, longe do que merecemos e queremos, mas já caminhando com mais tranquilidade do que um monte de mina do passado que deu a cara a tapa. Até hoje sigo a filosofia de ser afrontosa.
Alquimia Rock Club: Ainda sobre o sexismo e o machismo; você já passou por alguma situação considerada desagradável na sua jornada? Caso sim, como lidou com a situação?
Haru Cage: De fato eu me considero sortuda por não ter passado nada grave, mas ouvi o velho e nojento “gostosa”, vir uns caras ficarem bem na frente do palco com braço cruzado como se aquilo fosse me calar, coitados! O lance de ouvir umas “cantadas” baratas eu sempre ignorei, mas quando chegava esses cabras cruzando braço e fazendo cara feia, eu ia bem pertinho deles e aí que eu gritava mais.
Foto: Rubens Rodrigues (@rubens_rodrigues_fotografo)
Alquimia Rock Club: Falando um pouco sobre o futuro próximo da banda, mais precisamente o ano que vem, o Corja! foi anunciado como uma das bandas de abertura para o show da Doro, a rainha do metal, show esse marcado para o dia 02 de setembro de 2022 em fortaleza. Quais as expectativas para dividir o palco com uma artista da importância de Doro Pesch?
Haru Cage: Nós ficamos uma pilha de nervos, mas a felicidade era maior. É um show para a vida! Dá nervoso lembrar que veremos essa lenda de perto, representatividade valendo.
Alquimia Rock Club: Ainda sobre o futuro, quais os planos da banda para esse final de 2021 e começo de 2022? Acredito que a ideia seja mostrar o "Insulto" ao vivo para o público, caso isso seja possível é claro, mas levando em conta a inquietude de um músico, é cedo demais para se falar em novas composições ou vocês já pensam em algo?
Haru Cage: Pretendemos lançar mais um clipe. Na verdade já estamos trabalhando em novas composições, o Insulto é um álbum novo para o público, mas para nós da banda principalmente para Silvio e eu que estamos desde a fundação ele já é calejado, mas não deixa de fazer dele especial para nós, brincamos de dizer que é um filho (risos).
Alquimia Rock Club: Mais uma vez, agradeço por concederem essa entrevista para o Alquimia Rock Club, o espaço é todo seu para dar um recado final ao público.
Haru Cage: Nós agradecemos o espaço e desejamos tudo de bom a todos. Queremos agradecer as pessoas que curtem e compartilham o nosso trabalho, sem vocês nada disso seria possível! Se vacinem e beijos no coração!
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A banda Corja! - Foto: Miguel Cavalcanti (@miguelcavalcantifoto)
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