Demophobia: “só há vida com resistência”
A banda Demophobia - Foto: Vinicius Gussi (@viniciusgussi)
Formada em 2018, na região do ABC Paulista, a banda Demophobia lançou no último dia 1 de maio seu álbum de estreia "Perversidade e Violência", trabalho esse que mostra a combinação de influências calcadas no thrash, death metal e punk rock buscando criar um estilo próprio e autêntico, refletindo o caos e a complexidade da vida urbana brasileira pelo grupo formado por Rafael Vieira (vocal), Arthur Patroc (bateria), Paulo Vitor Lira (guitarra) e João Medeiros (baixo), esse último que também é designer e responsável pela arte gráfica do álbum, concedeu uma entrevista para o Alquimia Rock Club onde deu detalhes sobre a proposta musical e concepção do trabalho de estreia da banda, confira a seguir:
Alquimia Rock Club: Qual foi a inspiração por trás das letras e temas abordados em "Perversidade e Violência"?
João Medeiros: O conceito de Perversidade e Violência aborda de forma simbólica as diversas nuances e mazelas da história do Brasil. Somos um país racista, violento e preconceituoso, e sabemos que isso foi construído ao longo dos séculos. Apesar de não ser um álbum conceitual, Perversidade e Violência busca resgatar e, de alguma forma, nivelar tudo aquilo que temos de perverso desde as nossas raízes coloniais até os dias de hoje.
Alquimia Rock Club: Como vocês vêem o papel da música como meio de expressar questões sociais e políticas?
João Medeiros: Nós achamos que a música, assim como a arte em geral tem a responsabilidade de provocar e nos fazer questionar os diversos pontos e conflitos da nossa sociedade e da nossa história. Tudo é político, nunca estaremos distantes disso e sabemos que a alienação nos aproxima do fascismo. Sabemos que nem todas as bandas de rock e heavy metal abordam diretamente questões sociais e políticas, mas com a Demophobia buscamos resgatar aquilo que nos é vital, que é a luta e a denúncia contra a opressão, bem como a busca por uma sociedade mais digna e igualitária.
Alquimia Rock Club: Há alguma mensagem específica que vocês esperam transmitir com este álbum?
João Medeiros: A mensagem central que permeia o disco é que, só há vida com resistência. Mesmo diante das máquinas e instrumentos do poder que enfrentamos desde o início da exploração colonial, a apatia só encaminha para mais submissão.
Alquimia Rock Club: Em especial, como o contexto social e político brasileiro influenciou o processo criativo deste disco?
João Medeiros: Um dos pilares importantes que nos direcionou a composição do disco foi a ascensão da extrema direita que culminou na eleição do governo Bolsonaro. O Brasil é um país com histórico de golpes e um passado de ditadura ainda bastante recente, estávamos realmente incrédulos com a situação que vinha se desenrolando no país. A partir de diversos pontos específicos, tentamos conectar os pontos de construção que trouxeram à tona esses eventos e, em meio a esse contexto, sentimos que seria válido unir o passado e o presente, expondo fatores que foram cruciais para nossa história.
Arte: João Medeiros (@j.r.medeiros)
Alquimia Rock Club: Quais são as principais injustiças ou problemas sociais que vocês procuraram destacar através da música e quais particularmente atravessam a própria vida de vocês enquanto cidadãos?
João Medeiros: No nosso ponto de vista, os elementos que estão enraizados na nossa história, estão assim por conta da relevância que temos dentro do processo de acumulação de riqueza. Há sempre um limite para parte da população. Toda vez que o povo busca ascender e sair desse ponto, existem processos sociais que o coloca as de volta nessa posição. Isso se mostra nas impossibilidades de vida material, política, cultural, e assim por diante. Portanto, os principais elementos que destacamos, são elementos das nossas raízes, como escravidão, o desprezo pelo trabalho e a visão de que a maior parte da população pertence a esse local. Isso aparece muito claro nas nossas vidas, quando vemos pessoas que trabalharam a vida inteira e buscam se aposentar e não conseguem, ou quando as pessoas buscam saúde e não tem acesso ou quando percebem suas vidas ficando cada vez mais precárias. No final, o que existe é um abandono das pessoas, e é isso que tentamos retratar.
Alquimia Rock Club: Como vocês esperam que os ouvintes reajam a este álbum, especialmente aqueles que talvez não estejam tão familiarizados com as realidades retratadas?
João Medeiros: Por enquanto, estamos tendo respostas bastante positivas ao álbum, o que para nós é emocionante, pois trabalhamos muito duro nele e ficamos felizes que muita gente tenha curtido o som e se sentido contemplado com a nossa mensagem. Nós entendemos que, evidentemente, nem todos concordam com o nosso posicionamento, mas o fato é que, como cidadãos, temos muito claro o nosso lado e a consciência da nossa história dentro da sociedade. Esse é o nosso norte e sempre será o grande desafio para a banda. Enquanto estivermos por aí, vamos continuar tocando nessas feridas, doa a quem doer.
Alquimia Rock Club: Vocês acham que o metal e o punk hardcore têm um papel particularmente importante na crítica social e na conscientização? Se sim, por quê?
João Medeiros: João Medeiros: Acreditamos que sim. E não apenas o metal e o punk, mas o rock em geral, por ter nas mãos um poder transformador e um difusor de ideias para as camadas mais profundas da sociedade. Nós sabemos que muitas das bandas, inclusive várias que a gente curte, não se direcionam necessariamente para abordagens políticas, mas como fator cultural, o rock deve ser sempre a voz contestadora e a conscientização, principalmente dos mais jovens. Para nós, rock conservador não faz nenhum sentido.
Alquimia Rock Club: Há alguma experiência pessoal ou evento específico que tenha inspirado uma das músicas do álbum?
João Medeiros: Grande parte das letras do álbum se refere a um ou mais eventos específicos da história que acabaram nos inspirando. A música “Hackearam a Nossa História, por exemplo, representa o esforço e o resultado das fake news que contribuíram para a eleição do ex-presidente Bolsonaro. “Paralelo 11” é uma música um pouco mais pontual, que fala sobre o massacre ocorrido no Mato Grosso na década de 60, quando mais de 3.000 indígenas foram assassinados por interesses empresariais. Além desses, temos vários momentos históricos no disco que são citados e que acabam servindo de elemento de apoio para todo o conceito.
Alquimia Rock Club: Quais são os próximos passos para a Demophobia após o lançamento deste álbum?
João Medeiros: Com o lançamento recente, temos agora como objetivo alcançar o maior número de pessoas possíveis com o nosso material. Estamos com uma agenda de shows crescente e esperamos levar a banda para outros estados fora de São Paulo. Ainda como parte integrante do álbum, temos mais alguns vídeo clipes a serem lançados e, passando esse período, já temos algumas novas ideias de composições.
Alquimia Rock Club: A capa de Perversidade e Violência parece uma arte à parte, muito bem tratada. Conte um pouco do processo de criação visual da banda.
João Medeiros: A identidade visual sempre teve um papel muito importante na banda. Além da definição do som, nós sempre buscamos adequar o nosso conceito visualmente, conectando todos os elementos, como capas, logo, símbolo, etc. Para a criação da arte desse disco, esboçamos algumas ideias, mas acabamos achando que essa seria a definitiva, pois ela embala os temas perfeitamente. Eu me utilizei de técnicas como colagem digital e manipulação de imagem. Para essa capa, a ideia de ter uma persona enterrada e presa em emaranhados de galhos, representando as raízes coloniais do Brasil, e sendo ainda uma imagem bastante crua e impactante, é a nossa cara e contempla tudo o que quisemos passar. As pessoas vêm nos elogiando muito por conta da arte e acreditamos que o objetivo foi alcançado.
Alquimia Rock Club: Como você descreveria a banda para alguém que nunca ouviu falar de vocês?
João Medeiros: A Demophobia se caracteriza como uma banda de metalpunk, pois essa é a melhor definição que encontramos para a gente. Temos uma extensa mistura de influências dentro da música extrema, partindo do death e thrash metal, além de, obviamente, o punk rock, mas também não ficamos apenas presos nisso. Temos 4 integrantes com visões e backgrounds musicais diferentes e gostamos de tentar condensar tudo isso de forma que fique sempre coerente com a nossa proposta.
Alquimia Rock Club: Obrigado pela participação e recados finais.
João Medeiros: Nosso primeiro disco completo está aí, em todas as plataformas de streaming, no Youtube, e também lançado no formato físico, que contém exclusivamente duas faixas bônus. Esperamos que a galera ouça do início ao fim e se identifiquem com o nosso som, e a partir deste mês, estamos iniciando uma agenda de shows de divulgação e esperamos também que curtam bastante. Para conhecer melhor a gente, acessem a nossa página no Instagram @demophobia.metalpunk. E, para finalizar, valorizem o underground sempre!
Ouça aqui o álbum 'Perversidade e Violência':
Assista também os clipes para as faixas "Sem Tempo' e 'Nunca Se Renda':
Links:
https://www.instagram.com/demophobia.metalpunk
https://www.youtube.com/DemophobiaMetalpunk
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