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Dossie Heaven and Hell

Por Fabiano Cruz | Em 15/05/2009 - 16:42
Fonte: Alquimia Rock Club

Em tempos das apresentações do Heaven and Hell no Brasil, um dos shows mais aguardados nos últimos tempos, não somente em terras brasileiras, mas no mundo inteiro, o Alquimia Rock Club preparou uma matéria com o dossiê completo, desde a primeira formação nos tempos do álbum Heaven and Hell do Black Sabbath até nos dias atuais, as idas e vindas dessa banda, formada por Ronnie James Dio, Tony Iommi, Gezeer Butler e Vinny Appice, que para muitos representa o mais puro Heavy Metal.


O primeiro trabalho juntos no Black Sabbath
 

Após a turnê do Never Say Die, o Black Sabbath não passava por bons momentos. Ozzy se enfiava cada vez mais nas drogas e na depressão (principalmente após a morte de seu pai) e Bill Ward vivia 24 horas alcoolizado, enquanto Geezer, vendo o estado de seus companheiros, não tinha a mínima vontade de continuar com a banda. Sobrou para Iommi a dura tarefa de manter o nome do Black Sabbath em alta. Ozzy, após não mostrar mais nenhum interesse em continuar, acabou sendo demitido da banda, o qual Geezer também resolver sair (mas voltaria pouco tempo depois já nas gravações do Heaven and Hell).

Tony, ajudado pelo empresário Don Arden e sua filha Sharon, foi atrás de Ronnie James Dio, que chamou a atenção do empresário quando esse viu uma apresentação do Rainbow. Apesar de hesitar no começo, Dio acabou cedendo a uma reunião e audição com a banda.

“Em 1979, não tinha mais nenhum entusiasmo na banda. Ozzy não estava mais. Tony e eu fomos à América gravar um novo álbum, com o Ozzy, mas ele nunca aparecia. Sequer sabímaos se ele estava lá ou na Inglaterra. Então Tony mencionou Dio. Ele disse ‘ele cantava no Rainbow, ele tem uma grande voz e é bem entusiasmado. O que acha de chamar ele para uma jam quando esperamos pelo Ozzy?’”, relembra Butler.

Geoff Nicholls foi chamado para integrar a banda no lugar do Geezer, mas, após a volta dele, Geoff ficou com os teclados. As gravações foram um pouco conturbadas. Bill Ward vivia bêbado, e sempre se desentendendo com Dio, esse chegando a várias vezes ameaçar em deixar a banda. Iommi era o único que controlava a situação, e após decretar alguns meses de descanso, a banda volta a terminar o álbum Heaven and Hell.

Gravado em um estúdio na França, o álbum é lançado em Abril de 1980, chegando à 9º posição nas paradas inglesas. A estréia de Dio ao vivo se deu no dia 17 de Abril de 1980, em uma apresentação na Alemanha. Cada vez mais difícil de se manter sóbrio, Ward foi a causa de muitos cancelamentos de shows durante o começo dessa turnê. Nesse meio tempo, é lançado de uma forma não autorizada pela banda o ao vivo Live at Last, com Ozzy ainda noz vocais, o que deixou a banda um tanto quanto incômoda.

Após uma apresentação já nas terras norte-americanas, Bill Ward decide deixar a banda. “Respeitamos seu desejo. Bill precisava se tratar e como foi ele quem decidiu sair, achamos melhor liberá-lo”, comenta Iommi. Para a bateria, foi cogitado, de novo por intermédio de Sharon, o nome de Vinny Appice (ele chegou a fazer uma audição para o que viria a ser a primeira formação da banda solo de Ozzy). Após contato, Vinny aceitou o desafio de se juntar ao Sabbath, e poucos dias de ensaio, já estava estreando na banda em Honolulu, Havaí. Sem maiores complicações, a banda termina a turnê do Heaven and Hell de uma forma mais calma, passando pelo Japão, Austrália e terminado com mais um giro pelo Reino Unido.


Mob Rules

Depois de um tempo curto de férias, a banda volta a se reunir em Abril para as gravações de um novo álbum. Estando a banda em tempos mais calmos, o álbum não teve problemas em ser criado. As composições estavam mais voltadas ao peso de outrora, e Geezer retoma à concepção das letras, ao lado de Dio. Com produção de Martin Birch, o disco foi gravado em Los Angeles e lançado em Outubro de 1981 na Inglaterra chegando à 12ª posição e lançado em novembro nos E.U.A., que chegou à 29ª posição nas paradas. A turnê começa no Canadá e na parte inglesa, alguns shows foram gravados para um álbum ao vivo, prioridade então da banda, pois queriam acobertar o lançamento não autorizado do Live at Last, lançado à pouco tempo.

Após o término da turnê, a banda se concentrou na produção do Live Evil, o primeiro ao vivo oficial da banda. Mas o que seria um ponto para selar a aclamada formação que Iommi consegui juntar, foi justamente a causa da primeira separação deles. Mal esclarecido até hoje, a causa foi a mixagem do álbum. Segundo Dio, Geezer e Tony evitavam a presença dele no estúdio nas mixagens, deixando a produção final somente a cargo deles. Pelo outro lado, Geezer e Iommi acusavam o vocalista, junto com Vinny, de entrarem no estúdio na ausência deles e alterado a mixagem, a qual eles teriam achado que a guitarra e o baixo estavam tendo mais destaques que a voz e a bateria. “Ele foi muito injusto em nos acusar dessa forma, assim como alterar as mixagens sem o nosso consentimento... Simplesmente nossos horários não coincidiam, por isso nunca estávamos juntos no estúdio. Nós nunca tivemos a intenção de ofuscar a participação de Ronni e Vinny. Acho que isso tudo foi uma desculpa para eles saírem do Sabbath e formarem o Dio”, declarou o guitarrista na época. O anúncio da saída de Dio e Appice pegou os fãs de surpresa. “Verdade seja dita: Vinny e eu sempre esperávamos pelo Tony e Gezzer no estúdio e eles nunca apareciam. Coisas saíram do controle, fora de proporção”, relembrou o vocalista recentemente.

Separados, Vinny e Dio montaram a banda Dio, banda solo do vocalista e gravaram um disco que é considerado um clássico do Heavy Metal até hoje em dia, o Holy Diver. E a carreira solo de Dio teve álbuns consistentes, sempre com o vocalista a frente das produções e concepções dos álbuns. Pelo outro lado, o Sabbath passou por momentos ruins, com constante troca de integrantes, mas mesmo assim, nesse ínterim entre Mob Rules e o Dehumanizer, passou nomes de peso pelo Sabbath, como Ian Gillan, Glenn Hughes, Bobby Rondinelli, Cozy Powell, Neil Murray e, talvez o mais controverso vocalista que a banda já teve, Tony Martin.


A Volta de Dio e Appice e o álbum Dehumanizer

No fim de 1990, Geezer retorna ao Sabbath depois de alguns anos, o que ocasionou a demissão de Neil Murray e logo depois, a demissão de Tony Martin. Ficando novamente Imommi e Butler pra renovar o Sabbath, cogitaram logo de cara a volta de Dio. Acertados alguns detalhes financeiros e empresarias, Dio retorna à banda no fim de Janeiro de 1991, mas em pouco tempo decide deixar a banda novamente. Mesmo sendo meio acobertado, foi dito que Dio não se dava bem com Cozy Powell. Iommi chegou a reintegrar Tony Martin, mas por causa de um contrato com a Warner Bros., eles teriam que ter Dio na voz (uma das exigências da gravadora). Sem muito pensar, o Sabbath dispensa Cozy Powell e chama de volta ao posto da bateria o Vinny Appice, tendo assim de volta a formação de Heaven and Hell e Mob Rules. Ninguém sabe realmente como aconteceu tudo isso, mas a banda anuncia oficialmente Appice depois que Powell ter sofrido um acidente, caindo de um cavalo e quebrado algumas coistelas. “Eu o substitui [Bill Ward] na turnê do Heaven and Hell. Bill saiu e eles tinham ouvido falar de mim, e me chamaram. Saí com eles e finalizamos a turnê, dai fizemos os álbuns MobRules e Live Evil. Mais tarde, o Sabbath iria fazer o Dehumanizer e Cozy Powell seria o baterista, mas ele caiu do cavalo e quebrou a pélvis. Tony então disse de novo ‘Vamos chamar o Vinny’”, comenta o baterista nas vezes que substituiu de urgência os bateristas do Black Sabbath.

Primeiramente chamado de “Dehumanizer Project”, muito material que Geezer usaria na Geezer Butler Band foi aproveitado nesse álbum, inclusive a musica já finalizada Master of Insanity. Gravado no País de Gales e mixado na Alemanha, o álbum é lançado no dia 30 de Junho, atingindo a 13ª posição no Reino Unido. “Realmente gosto do som do Dehumanizer. Ele é verdadeiramente pesado. È um dos meus favoritos” comenta Vinny sobre o álbum. O sucesso desse trabalho foi grande, tanto que a banda fez uma turnê mundial bem abrangente, começando os primeiros shows no Brasil. Ainda passam pelos E.U.A., Europa, Ásia e Oceania.

Na segunda parte da turnê norte-americana, Gloria Butler (esposa e empresária de Geezer) recebe um telefonema de Sharon Osbourne, dizendo que Ozzy encerraria suas atividades e gostaria de reunir a formação clássica do Sabbath em seus últimos shows, onde a formação atual do Sabbath tocaria seu set normal e a clássica (com Ozzy e Ward) fechando a apresentação em um set de meia hora. Butler e Iommi aceitaram na hora, porém Dio se mostrou incômodo e recusou a fazer isso. “Mais ou menos em uma semana fazendo a turnê norte-americana, já sabia que seríamos a banda de abertura para o Ozzy em duas apresentações. Eu disse ‘Não, não quero isso’. Nesse ponto, muita água suja já tinha rolado e eu sabia que o Sabbath estava se reunindo com Ozzy novamente, então somente neguei a fazer isso.”, relembra o vocalista de quando saiu do Sabbath pela segunda vez. “Se você pegar uma banda que toca grandes sons que definem uma era, você tem algo realmente especial. Muitas das pessoas que descobriram o Sabbath nesse ponto [a partir do álbum Heaven and Hell] sequer conheciam o Sabbath com o Ozzy. Isso não é algo ‘eu contra Ozzy’. O Sabbath com Ozzy inventou o Heavy Metal. Somente coloco algo diferente, porque eu venho de uma escola mais musical. Deixamos a integridade do peso, mas mais musicalmente, onde Tony e Geezer podem ir a lugares que antes não foram”, termina Dio de explicar o porquê não aceitou na época abrir uma apresentação do Sabbath com o Ozzy na voz.

Após Dio deixar a banda, para não estragar a festa, Rob Halford, amigo pessoal de Bultler e Iommi, fez as duas apresentações com a banda e após sete anos, a formação original se juntava novamente em palco.


A idéia de trabalhar novamente com Dio e o lançamento de Dio Years.

Após o fiasco de Forbidden, o Sabbath ficou alguns anos alternando descansos e apresnetações com a formação original no Ozzfest. Nesse ínterim, a banda lança o Box Black Box: The Complete Original Black Sabbath (1970-1978), material que continha os clássicos da era de Ozzy. Com o sucesso do Box, os fãs e apropria banda começaram a se perguntar: ‘o porquê não de uma coletânea nos mesmos moldes da fase do Dio?’. Dado o pontapé de preparar o material, a gravadora Rhino, que lançaria o material, sugeriu à banda lançar o álbum em um único disco, mas com algum material inédito. “Bem, sempre falava sobre isso com Geezer quando estávamos fazendo o último Ozzfest. Disse que seria legal se tocássemos algumas músicas diferentes, talvez poderíamos pegar Ronnie novamente e fazer um tipo de Dio line-up, então ele disse ‘Oh sim, isso seria bom’. Fui ver Ronnie quando ele estava tocando na Inglaterra, não via ele por um longo tempo, e foi grande nosso encontro. O próximo passo foi irmos até a gravadora que estava fazendo o álbum ‘Dio Years’, e eles queriam colocar umas faixas inéditas; então perguntaram se tínhamos algumas que nunca usamos. Acredito que tínhamos, mas achei melhor compormos algo realmente novo. Então, falamos com Ronnie para ver o que ele achava e se ele topasse fazer as músicas, e ele achou brilhante a idéia. Então nos juntamos novamente e começamos a escrever algo novo.”, relembra o guitarrista de como começaram a gravar as músicas inéditas da coletânea e o que seria o embrião do Heaven and Hell.

A química entre Iommi, Geezer e Dio ainda estava perfeita, rápida e eficaz, e resultou nas faixas The Devil Cried, Shadow of the Wind e Ear in the Wall. Todos pensavam que o baterista seria Bill Ward, mas um anúncio avisando que empresários se interessaram em colocar a banda da formação do álbum Heaven and Hell na estrada novamente, não estava o nome do baterista original. Apesar dele ter gravado as três faixas e ter feito os primeiros shows, novamente resíduos de desentendimentos entre ele e Dio, nunca resolvidos no passado, voltaram a tona. Ward simplesmente deixou a banda de novo, simplesmente evitando assim brigas maiores. A banda resolve chamar Vinny Appice, sendo assim concretizada a volta de uma das melhores fomações que o Sabbath teve. “Bill veio até a Inglaterra e trabalhamos com ele por uma semana, mas ambos lados não se sentiam bem, tanto nosso quanto o de Bill...”, Iommi diz sobre o começo de trabalho com Ward. “Não fiz nenhuma audição, não depois de todos esses anos! Toquei em muitas gravações do Sabbath-Dio. Conheço a banda e você nunca sabe o que pode acontecer. Um dia pego o telefone e eles dizem ‘Não dá pra trabalhar com Bill. Se quiser o posto, venha para a Inglaterra amanhã’. Todos nós conhecemos uns aos outros, não precisamos de audições. Nós sabemos como sairá o som”, explica Vinny como foi chamado a fazer parte da banda.


A escolha do nome Heaven and Hell e a primeira turnê

“Estávamos pensando em chamar a turnê de ‘Heaven and Hell’, então chegamos a ponto de dizer ‘Sim, vamos chamar a banda de Heaven and Hell e separar as duas coisas, então as pessoas saberão o que vão ouvir’. Essa não é a versão Ozzy do Black Sabbath... se continuássemos como Black Sabbath, as pessoas poderiam confundir, pensando que veriam o Ozzy em palco”. Iommi explica o porquê do nome da banda. “É claro, poderíamos fazer a turnê como Black Sabbath, sou proprietário do nome, mas achamos melhor ir por esse caminho... Gostamos da idéia, mostra algo diferente e novo, e não vamos precisar tocar músicas do velho Sabbath”, completa Iommi, esclarecendo o mito que Sharon e Ozzy não permitiram da banda usar o nome Black Sabbath.

Dio também esclarece certas coisas. “Eles queriam levar o projeto a algo novo. Quando eles proporam [o nome da banda], minha primeira reação foi, e ainda é, ‘Bem, eles sempre nos chamarão de Black Sabbath de qualquer jeito, não vão? Vocês podem colocar o nome que quiserem, não faz diferença pra mim’”. Dio também comenta que pouco importa as coisas que Ozzy e sua esposa falaram sobre a reunião dessa formação. “Não tenho qualquer problemas com Ozzy, não me interessa o que ele faz ou diz... Ozzy sempre me amou quando estou fora do Sabbath, mas sempre me odiou quando estou na banda. Ele tem uma certa possessão, ou talvez obsessão”, diz o vocalista, meio que concordando em separar as coisas entre Black Sabbath e Heaven and Hell.

“No primeiro dia ficamos espantados com o entrosamento. Foi como se nunca estivéssemos parado de tocar” comenta Vinny sobre os primeiros ensaios.”After All do Dehumanizer, começamos com essa música... ou não? Na verdade, foi Computer God e depois ela. Eles trabalharam juntos antes, perceberam como trabalhar juntos sem ter qualquer discrepância. Ronnie estava escrevendo com Tony antes do projeto ir pro palco”, completa o baterista.


A primeira turnê e o lançamento de Radio City Music Hall Live!

A banda cai na estrada, com os primeiros shows no Canadá. A curta turnê começada em 2007, ainda passou pela América do Norte, pelos grandes festivais europeus e pela Oceania. Pra celebrar a volta dessa formação, a apresentação no Radio City Music Hall em NY foi gravada para o lançamento do CD e DVD ao vivo.”Acredito que as pessoas que fizeram o show fizeram um grande trabalho. Eles capturaram o show muito bem e a edição e movimento das câmeras ficou maravilhoso. Foi uma grande apresentação, e mostra a banda com uma boa iluminação, mostra exatamente como somos, agrada nós pelo que nós fizemos, e agrada ao público e fãs que nos viram” comenta Dio sobre o material lançado.

Realmente o material mostra uma banda coesa e bem integrada. “Musicalmente, sei que estão aliviados por subirem no palco e competir com outras bandas, e estarem orgulhosos disso. Acho que tem sido difícil para ele, pois nos últimos 15 anos eles têm subido no palco e tocado Iron Man e War Pigs de novo e de novo e de novo”, relembra Dio sobre os anos que a banda não tocava o material gravado com ele. “Infelizmente, nas últimas turnês, tudo ficou mais rígido com os Ozzfests e tudo mais. Você não podia improvisar muito, tinha que ser tudo correto, uma música seguida logo de outra, por causa do tempo. Com o Heaven and Hell podemos ir mais devagar, Podemos tocar e improvisar coisas novas, melhorar outras, o que acho ótimo e gosto disso. Te mantém estimulado”, mostra Iommi, por essas palavras, o quão contente está com o rumo que o trabalho tomou.

Com a primeira turnê e os músicos contente com o trabalho, foi natural que pensassem em gravar um novo álbum juntos novamente. “Dissemos ‘Infernos, podemos gravar um álbum inteiro juntos novamente’”, disse Iommi.


The Devil You Know

“Quando compusemos as três faixas inéditas para a coletânea The Dio Years, tudo saiu tão bem entre nós que ficou bem claro que seria fácil fazermos um álbum”, comenta o vocalista sobre a naturalidade que a banda teve até chegar à gravação de The Devil You Know. “Nos recusamos a tocar mal em um concerto e recusamos também a lançar um disco ruim. O que esrcevemos é o que nos deixa feliz, o que deixa também a pessoa que está nos ouvindo contente. Você tem que ter a habilidade de saber o que está saindo naturalmente, porquê se não for assim, não sairá perfeito. Isso não tem alma, não tem coração” completa Dio sobre a forma que a banda trabalha nas composições.

O clima de amizade, deixado para trás todas as mágoas do passado é refletido no ambiente em que se encontra a banda. “O que Geezer e Tony fazem juntos, o que criam juntos, é feito de uma forma que ninguém faz, com um baixo que realmente toma a dianteira e é tão importante quanto a guitarra. Você não pode de jeito nenhum diminuir a contribuição de Geezer, principalmente pelo fato que ele escreveu todas as letras” fala Dio sobre a importância que Geezer teve nesse trabalho. “O Geezer é muito bom de se trabalhar, assim como Ronnie sempre foi. É muito bom trocar idéias com eles. Geezer pode falar ‘Eu gosto disso’ ou Ronnie ‘Eu gosto daquilo’... Mas você precisa disso, senão você ficaria pensando ‘Será que isso é legal? Será que vão gostar?’ A química entre eu, Ronnie e Geezer é ótima” complementa Iommi sobre a dinâmica de trabalho que a banda teve.
 
 
Como todos já se conhecem musicalmente, e o trabalho fluiu de uma forma bem natural, o álbum não teve nenhum problema a ser criado e gravado. “Contando tudo, levou doze semanas para compormos The Devil You Know. Depois disso, fomos direto para a sala de ensaios, e tocamos tudo ao vivo, pois só assim conheceríamos bem as músicas. Sentimos o baixo, a bateria e todo o material que trabalhamos em cima durante os ensaios. Em seguida, fomos direto para o estúdio, o que nos tirou três semanas, e pouco mais de um mês para o processo de mixagem. Foi um processo bem rápido para nós, porque geralmente demoramos a finalizarmos um álbum. Posso dizer que dessa vez estamos muito felizes com a experiência em estúdio”, Geezer diz como criaram e gravaram o álbum. “Acredito que ele [Dio] fez um grande trabalho. Acho que ele gravou de uma maneira bem acima de qualquer outro trabalho que ele gravou. Ele verbaliza a música e os riff, um espetacular trabalho. Nós chegávamos com a música primeiro, então as linhas vocais eram colocadas depois”, termina Geezer, elogiando o grande trabalho de Dio nos vocais. Talvez o único empecilho que a banda teve nas gravações foi a alta tecnologia que se tem hoje nos estúdios, onde Iommi ficou um tanto quanto desconfortável. “Usar Pro Tools tem ajudado muito, mas por outro lado, você sente falta do antigo método de gravação. Eu gosto de usar a tecnologia e poder usá-la é muito útil. A mudança é na rapidez em conseguir as coisas e ter tudo disponível. Se você quiser fazer um som no passado, você tinha que criar e agora ele está no computador”.

Mas o disco não chama atenção somente pela sonoridade. Chama a atenção por vários detalhes, a começar pelo título do álbum. “Todos me perguntaram se eu tinha alguma idéia para o título do álbum. E eu tinha alguns títulos, e esse foi o melhor, o que todos gostaram. O significado por trás dele é muito simples: todos nos vêem e ainda nos chamam de Black Sabbath. Ainda que nos intitulemos Heaven and Hell, ainda somos o diabo que você conhece [The Devil You Know], no sentido que, não importa o nome da banda, mas ainda somos a essência do Black Sabbath”, Geezer comenta a escolha e o porquê do título do álbum. A capa, uma magnífica releitura para uma pintura chamada Satan, do norueguês Per Oyvind Haagensen, chocou muitas pessoas, pois se trata de uma das capas mais agressivas e demoníacas que o Heavy Metal já viu. “Sempre tivemos aquele demônio com asas, e a gravadora queria que usássemos mais uma vez nesse álbum. Então pensamos que ao invés de fazermos a mesma coisa novamente, decidimos lançar mão de algo diferente”, Geezer comenta. E o baixista também está por trás da inclusão dos misteriosos números 25 e 41 que estão ao lado da mascote da banda no encarte interno do CD. “Apareci com um verso da Bíblia. É uma parte de Mateus, capítulo 25, versículo 41. O Verso começa assim: ‘Então Ele dirá que aqueles a sua esquerda, - separem-se de mim, amaldiçoados, no fogo eterno que foi preparado pelo demônio e seus anjos. O verso fala sobre aqueles que se senta à esquerda de Deus, que irão para o inferno. É isso”, explica o baixista. Conceitos relativamente simples, mas que junto com a sonoridade do álbum, criaram um clima pesado e demoníaco, como somente os mestres sabem fazer.


O álbum

Sombrio. DemonÍaco. Melancólico. Talvez as três palavras que mais definem o álbum The Devil You Know. Um trabalho que remonta a todos os trabalhos do Sabbath com Dio na voz e aos trabalhos solos do vocalista e do Iommi. A voz inconfundível de Dio casa perfeitamente com a sonoridade da banda. O disco abre com Atom & Evil, uma faixa pesada e arrastada, típica Doom Metal Tradicional, que mostra riffs poderosos e uma cozinha perfeita, ditando o que será o resto do álbum. A melodia meio oriental abre a soturna Fear, uma música que relembra os tempos de Dehumanizer. A letra enigmática sobre poderes e conhecimentos, mostra toda a genialidade que Geezer tem em dizer sobre temas esotéricos e místicos, bem mostrado na primeira estrofe “If you’ve never heard before/ There was once a time/ When only God has fire”.

A já clássica Bible Black nos faz voltar aos tempos de Mob Rules, principalmente pela intro calma meio acústica, bem parecida com o que fizeram na The Sight of the Southern Cross. E dá-lhe mais riffs matadores de Iommi! “Let me go I’ve seen a religion/ But the light has left me blind/ Take me back I must have the Bible Black”, desabafa a banda sobre religiões no refrão da música. Como foi ja ditto a importante participação de Geezer na concepção do álbum e como o baixo fica livre nas músicas, perfeitamente vemos isso na introdução de Double the Pain, uma intro feita no baixo com efeitos matadores, que segue um dos melhores riffs que Iommi já criou! A música lembra bastante o começo da carreira do Dio, principalmente no pré-refrão e no refrão. Uma exótica melodia abre Rock and Roll Angel, que cai num som típico sabbathiano, uma música que cairia bem em qualquer vocalista que já passou pela história da banda. E no belo solo de guitarra temos o momento mais calmo do disco! Um solo inconfundível de Iommi feito sobre uma base de teclado e arpejos em violão, que no fim continua sobre uma base pesada da cozinha, mas sem perder a sua delicadeza... Aliás, comentar os solos de Iommi desse disco vai ficar repetitivo, pois o guitarrista não deu uma bola fora! Todos os solos mostram a genialidade desse que, para muitos, criou a guitarra do Heavy Metal, sendo influência para quase todas as bandas existentes mundo afora.

Outro que também toca perfeitamente o disco inteiro é Vinny Appice, principalmente na levada de bateria que leva a The Turn of the Screw nas costas, outro som que lembra bastante a carreira solo de Dio. A paulada de Mob Rules e Turn up the Night é lembrada na rápida Eating the Cannibals, uma música que fatalmente será ponto alto nas apresentações da banda na turnê de promoção desse trabalho.

A guitarra soando um tanto quando moderna (mas sem cair nos timbres estranhos e ruins que muitas bandas fazem hoje em dia) abrem a que, ao meu ver, é o ponto alto do disco: Follow the Tears. Um som um tanto pra baixo, melancólico, que é bem representado pela guitarra de Iommi e pelo refrão “Don’t drink from the cup of humam kidness/ It’s a strange brew and poison to the touch/ Don’t think that they’re saving you the finest for last/ Or that you wanted too much”, com a banda mostrando toda a sua visão do mundo atual em que vivemos. O típico conto fantástico que sempre Dio levou consigo, desde os tempos de Rainbow, não foi esquecido nesse trabalho, onde é mostrado noHeavy Tradicional Neverwhere. Esse som tem uma das mais matadoras linhas de baixo de Geezer, acompanhada com maestria pelas batidas de Appice.

O disco termina de forma magistral com Breaking Into Heaven, uma música que é o resumo da obra toda: riffs arrastados, cozinha perfeita e a voz melodiosa de Dio em um caldeirão soturno que nos deixa apreensivos e hipnotizados. Uma das melhores letras que Geezer já escreveu, fala sobre os anjos caídos, tema um tanto que já batido dentro do Heavy Metal, mas aqui apresentado de uma forma poética e esotérica que somente o baixista da banda tem a maestria de escrever, como no trecho que diz “Before today it was a dark tomorrow/ Chained and cursed to Wander with man/ But we’ve been told/ That it’s time and we must go/ Does hopeless mean maybe we can”.

Um disco que mostra todo o poder da banda. Um disco poderoso, grandioso que estará, no fim do ano, fatalmente entre os melhores lançamentos do ano.

Termino a matéria dizendo que, como está claramente separado o Black Sabbath original do Heaven and Hell, praticamente não teremos mais problemas de desentendimentos e egos entre elas, mesmo que Iommi e Geezer esteja nas duas. Esse ano comemora-se 40 anos desde o primeiro disco do Black Sabbath, então após a turnê do Heaven and Hell, Iommi e Geezer com certeza se juntarão ao Ozzy e Ward para as comemorações, mas, com as coisas separadas e um ótimo lançamento nas mãos, tenho certeza que o Heaven and Hell gravará algo novo futuramente. Resta nós curtir esse disco mais e mais vezes e aguardar um futuro lançamento dessa que é uma das mais fortes formações que já se viu no Heavy Metal.

 



Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.




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