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Martin Scorsese: filmes e documentários sobre Rock' n' Roll

Por Fabiano Cruz | Em 11/02/2013 - 18:31
Fonte: Alquimia Rock Club

O nova-iorquino e um dos mestres da sétima arte, Martin Scorsese, já tem sua carreira imortalizada no cinema. “O maior diretor americano vivo", conforme estudiosos e críticos de cinema, Scorsese dirigiu grandiosos filmes, como Taxi Driver, Os Bons Companheiros e Touro Indomável, só para citar alguns; e no meio de clássicos e de uma vida um tanto conturbada – onde chegou a ter depressão e pensou em largar o cinema -, Scorsese deixou um legado nas telas de seu amor a outra Arte, a música. Influenciado por grandes nomes do Rock’ n’ Roll, onde nunca escondeu ser fã do estilo, o diretor gravou e dirigiu trabalhos que mostram muito da história do gênero em grandes documentários.


Scorsese começou como assistente de direção no famoso filme Woodstock, de 1969, ainda um jovem promissor trabalhando em, um documentário do maios famoso festival já realizado, mostrando sua preferência musical. O primeiro a trabalhar como diretor surgiu no fim dos anos 70. Last Waltz: O Último Concerto de Rock retrata o que na época foi o último show da lendária The Band. Na época, a banda por problemas de Robbie Robertson (incluindo ai um acidente em seu pescoço que foi motivo de cancelamento de várias datas) resolveu fazer um show em tom de despedida. Realizado no Winterland Ballroom, em San Francisco, California, a apresentação foi filmada e dirigida por Scorsese; em tom de despedida, o show contou com a participação de músicos do nível de Joni Mitchell, Ringo Starr, Muddy Waters e Neil Young.  O filme foi produzido numa época em que Scorsese começara a entrar em depressão devido ao fracasso do projeto New York, New YorK, um tributo musical à sua cidade natal onde não foi bem recebido pela crítica e público





Nos anos oitenta, Scorsese, por problemas pessoais, produziu filmes de pequeno porte deixando uma certa lacuna em sua carreira, mas mesmo assim não abandonou de todo as filmagens ao meio musical; nesse período, trabalhou com alguns clipes, incluindo o famoso vídeo de Bad, de Michael Jackson. Sua bela e grande produção voltada ao Rock e Blues voltou no meio dos anos 90 com o filme Eric Clapton: Nothing But the Blues Man ‘In the Spotlight Special. A sutileza e os detalhes que Scorsese sempre captou em seus filmes fez da apresentação gravada em Filmore um dos mais belos registros do guitarrista. Filme raro (muitos até mesmo duvidam de seu lançamento oficial), além do show, mostra Eric Clapton falando de sua trajetória e seus heróis musicais, intercalando belas imagens históricas de B.B King, Muddy Waters, Howlin’ Wolf, entre outros, sendo também um registro histórico do Blues (tema que Scorsese mais tarde voltaria de forma grandiosa)





A ambição para retratar a música que tanto idolatra começou em 2003; já com experiências em documentários, música e shows, Scorsese produziu a série The Blues, um box sobre as raízes da música e cultura norte americana, mostrando o começo e os primeiros passos do Blues e do Rock’ n’ Roll como herança direta. Dividido em sete episódios, Scorsese juntou outros grandes diretores no projeto, como Richard Pierce, diretor de Woodstock e voltando a trabalhar juntos, Mike Friggs e Clint Eastwood. O episódio dirigido pelo próprio Scorsese, Feel Like Going Home, o diretor ao lado do bluesman Corey Harris, desmembra elemento por elemento do blues, desde os ritmos africanos até as letras e temas das canções. Interessante notar que o episódio de Friggs, Red, Whie and Blues, trata diretamente da influência do Blues sobre o Rock, no resgate do estilo pelas mãos de músicos britânicos na década de 60, como Led Zeppelin, Cream e Rolling Stones, entre outras que nunca negaram ou esconderam as influências e paixões do blues.





O grande projeto The Blues serviu como caminho para Scorsese produzir e dirigir um longo documentário de quase quatro horas sobre o mito e ícone Bob Dylan. No Direction Home: Bob Dylan, o diretor desmistifica o pensamento e filosofia do músico folk / rock, que se tornou a figura encarnada da contra-cultura dos Estados Unidos. Focado na história e trabalho de Dylan entre 1961 e 1966, no começo de sua carreira, o documentário apresenta um vasto registro de shows, entrevistas e relatos de quem o acompanharam no começo de carreira, em detalhes pormenores sobre o músico, em um trabalho nunca antes visto. O documentário chama a atenção pelos detalhes captados pelas câmeras, mostrando um Scorsese totalmente minucioso e atencioso em mostrar toda a filosofia do músico; interessante ver como  Dylan se mostrava incomodo com a imagem que adquiriu com suas famosas canções.





Nos anos 2000, Scorsese brilha nas telas. Filmes totalmente elogiados como Gangues de New York, O Aviador e Os Infiltrados foram grandes sucessos de crítica e público, o colocando no justo patamar de um dos maiores diretores da sétima arte. Com a experiência adquirida nesse tempo e com o documentário de Bob Dylan na bagagem, Scorsese volta aos palcos dirigindo um show de uma das maiores bandas de Rock’ n’ Roll, onde o diretor nunca escondeu ser fã deles, os Rolling Stones. Shine a Light mostra os Stones em uma de suas melhores performances; gravado no Beacon Theatre, em New York. Shine a Light é um dos maiores shows já gravados para rodar no cinema; falar da performance da banda é besteira, mas no filme isso ficou ainda mais grandioso devido a jogada e posição das câmeras, tudo projetado com detalhes pelo diretor. A banda contou com participações, mas a de destaque foi Buddy Guy, em um daqueles momentos mágicos que a junção de ícones musicais com a mão certeira de Scorsese nos fazem chorar. O filme é completo por curtas – mas primorosas – cenas de entrevistas e gravações antigas da banda, mostrando também umpouco da história do Rolling Stones.





A última produção musical (até agora) do diretor foi focada no Beatle mais misterioso e introspectivo, George Harrison. Sempre com a imagem de pacificador entre as estrelas de McCartney e Lennon, Scorsese foca o documentário Living in the Material World: George Harrison no músico qual até hoje tinha poucas biografias e estudos sobre o guitarrista. Similar ao trabalho que fez bom Bob Dylan, aqui em um pouco mais de três horas e meia, Scorsese conta sobre a carreira de Harrison e suas filosofias, desde o começo com o Beatles até seus dias em carreira solo. O filme mostra bem como a espiritualidade de Harrison atravessou fronteiras e entrou em seu pensamento musical, o que torna a película um tanto quanto confrontante, pois muitas imagens foram gravadas pela câmera particular de Harrison, deixando ao mesmo tempo em sua espiritualidade um legado físico e material. Scorsese soube trabalhar bem a quietude da personalidade do guitarrista contra os problemas e brigas da banda e o começo dela, onde foram quase elevados a deuses pela mídia e fãs. Os depoimentos de quem viveu ao lado dele, como os Beatles e o amigo Eric Clapton, chegam a ter uma carga emotiva muito forte, mostrando Harrison uma pessoa simples que priorizava amigos e família ao redor dele, em contraste – novamente o contraste... – da personalidade forte e rebelde que teve em tempos de Beatles.





Scorsese é um diretor praticamente musical. O Rock’ n’ Roll e o Blues, estilos tão importantes para ele, são também peças importantes em trilhas sonoras e construção de personagens de seus filmes. Considerado um dos maiores cineastas, sua produção continua grandiosa; depois do belíssivo A Invenção de Hugo Cabaret, lançado no mesmo ano que Living in the Material World: George Harrison, o diretor está trabalhando em vários projetos ao mesmo tempo: a produção de Silver Ghost, filme sobre os carros Rolls-Royce; o documentário sobre a biografia de Bill Clintone voltando aos documentários musicais, dessa vez sobre o ícone Frank Sinatra; e seu novo longa, previsto para ainda em 2013 O Lobo de Wall Street. Aguardamos quando novamente Sorsese voltará a produzir algo voltado ao Rock’ n’ Roll, pois como fã, ele soube em cada um de seus filmes voltado ao estilo a falar com paixão e maestria. 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.




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