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Sepultura - 1998 - Against

Por André BG | Em 27/12/2018 - 02:26
Fonte: Alquimia Rock Club

 

Passados mais de 20 anos desde o racha do Sepultura com seu então vocalista e guitarrista Max Cavalera e sua esposa e também empresaria da banda Gloria Cavalera, o Sepultura comemorou em 2018 as duas décadas de seu renascimento que se deu com o lançamento álbum Against, marcando a estreia com o vocalista americano Derrick Green.

 

Selecionado em meio há centenas de fitas recebidas no escritório da gravadora Roadrunner, Derrick Green se destacou e foi o escolhido para o posto embora não tenha caído nas graças da gravadora conforme afirmou Todd Singerman (empresário da banda na época), no documentário Sepultura Endurance: “Escolheram o Derrick, mas a gravadora não queria. Eu me lembro que eles foram totalmente contra, se não me engano, é por isso que o disco se chama Against.” 

 

Ainda no documentário o ex-empresário reforçou essa informação: “A gravadora estava contra eles, mas eles decidiram fazer o que queriam, isso é Rock ‘n’ Roll. Ninguém pode escrever as regras e dizer que é isso e acabou. Eles fazem o que acreditam, e isso é o melhor de uma banda assim.”

 

No documentário, Todd Singerman ainda enfatiza o quão Derrick Green caiu no gosto até mesmo do lendário Lemmy Kilmister do Motörhead: “Derrick conquistou de cara, ele tem presença, ele é diferente, é uma estrela. Eu me lembro de quando ele apareceu, Lemmy adorou e disse: “esse é o cara, dane-se a gravadora”. Lemmy adorou o cara, achou que ele era uma estrela.” 

 

No mesmo documentário Sepultura Endurance, ainda há um trecho de uma entrevista por telefone com Monte Conner da Roadrunner Records, onde o produtor da gravadora afirma que a gravadora não concordava com a escolha de Derrick, mas que iriam apoiar a respeitar a escolha da banda: “Substituir alguém como Max não é algo fácil. Nós falamos que Derrick não era o cara ideal. Achamos que a voz dele não era forte suficiente, mas a escolha era deles. Seja qual for a escolha, nós respeitaríamos e apoiaríamos. Derrick é um ótimo cara, Mas ele foi a melhor escolha para o Sepultura? Eu pessoalmente não acho.”

 

O guitarrista Andreas Kisser também relembrou no documentário do fato da gravadora ter sido contra a escolha da banda na época e conta que não deram o devido apoio para nova formação: “Você vê que nas propagandas do Against não tem foto né meu, os caras não gostaram do Derrick, acharam que não era o cara, sofreu uma rejeição forte da gravadora e de todo mundo que estava ali, na verdade todo mundo queria que fosse uma coisa continuada, uma coisa meio Max.”   

 

Membro mais antigo da banda, Paulo Jr. também deu sua opinião sobre o fato no documentário: “A gente teve que bater o pé, e no final das contas a gente é que sabe o que está acontecendo, eles não sabem, eles tem outra visão, a gente está lá, a gente está aqui tocando, a gente sabia qual era o potencial, onde poderia chegar, e não é uma pessoa de fora, duas ou três, que vai saber dizer isso. O que a gente sentiu é que havia uma coisa especial com ele (Derrick) e então a gente tinha que brigar por isso.”

 

Derrick Green também se lembrou de seu inicio no Sepultura: “Havia muita tensão, eu sentia isso, de todos os lados, e o desconhecido, não saber qual seria o resultado, Como as pessoas receberiam um novo cantor, um novo som, tudo era novo.”. O vocalista ainda lembrou das dificuldades encontradas na época: “Nós sempre lutávamos contra todo mundo para fazer o que queríamos, parece loucura, mas ao mesmo tempo nós sabíamos que levaria algum tempo para as pessoas se acostumarem com uma mudança tão radical.”

 

Phil Campbell, guitarrista do Motörhead, também participou do documentário e falou sobre a escolha de Derrick Green: “Derrick e Max são totalmente diferentes, os dois são bons de forma diferente. Eles fizeram uma boa escolha, ele é demais, ele tem tudo, ele não está nem ai, ele é demais.”

 

Musicalmente falando, a banda não tentou em momento algum repetir uma fórmula ou estilo, Against é um álbum totalmente diferente do que o Sepultura já havia feito até então, a começar pela temática, aqui inspirada na cultura japonesa e com uma produção bem complexa e nada tradicional. Foram usados oito estúdios diferentes para a gravação do álbum, sendo seis nos Estados Unidos, um no Brasil e um no Japão, inclusive com algumas músicas tendo sua gravação iniciada em um estúdio e concluída e outro, com a produção ficando a cargo de Howard Benson (Body Count, Motörhead, Sanctuary, etc.) e do engenheiro de som Carlo Bartolini (ex-guitarrista do Ultraje a Rigor), sendo mixado por Tim Palmer e Bobbie Brooks. Já a arte da capa com as mascaras japonesas foi uma ideia do então baterista Igor Cavalera e foram fotografadas por Kevin Estrada, sendo desenvolvia por Mike Curry.

 

As 15 faixas que compõem o álbum mostram um Sepultura com uma veia mais Hardcore, com músicas mais diretas como a abertura furiosa com a faixa titulo “Against” seguida de “Choke”, o primeiro single e música usada para o teste de Derrick Green entrar na banda, com seu refrão forte, é considerada um clássico e um tema constantemente presente no repertório até os dias de hoje. Boa parte das músicas já haviam sido compostas antes da entrada do vocalista, fato que talvez explique uma participação mais efetiva de Andreas Kisser dividindo os vocais com Derrick, mas o vocalista já mostra sua diferentes facetas e variações vocais em músicas como “Rumors”,  “Old Earth” e “Floaters in Mud”, mostrando ir muito além de um vocalista tradicional de Thrash Metal. Já em “Boycott” o americano divide os vocais com Andreas, mostrando o bom entrosamento que se fortaleceria no decorrer dos anos. 

 

O álbum também possui alguns momentos mais experimentais como já havia ocorrido nos anteriores Chaos A.D. e Roots, aqui ficando por conta das instrumentais “Tribus”, “F.O.E.”, que é um tema de J.B. Pickers usado na abertura do programa Globo Repórter e “Kamaitachi”, gravada no Japão com a participação do grupo de percussão local Kodo, sendo que essa última ganhou uma versão diferente com o nome de “The Waste” e os vocais de Mike Patton do Faith no More, e foi usada na trilha do filme Freddy vs Jason.

 

O baixo de Paulo Jr. também passou a ter uma importância ainda maior, mantendo a cozinha perfeita com o Igor Cavalera, o que fica evidente em “Common Bonds”, nessa Derrick Green também reforça toda sua desenvoltura e variação nos vocais, sendo um dos destaques do álbum com outras pauladas como “Unconscious” e “Drowned Out”.

 

Against ainda conta com outras participações mais que especiais, o amigo de longa data João Gordo do Ratos de Porão deixou sua marca nos vacais em “Reza”, já  o então baixista do Metallica Jason Newsted participa com os vocais, guitarra barítono e teremim em “Hatred Aside”.

 

Outro tema instrumental, dessa vez a calma “T3rcermillennium”, fecha a versão lançada na maior parte do mundo, mas os fãs brasileiros foram presenteados tempos depois com uma versão do álbum com duas faixas bônus, sendo a versão de “Gene Machine/Don't Bother Me” do Bad Brains e “Prenúncio” com Zé do Caixão.

 

Foto do encarte de Against por Stefan Schipper

 

Superar um álbum como Roots em termos comerciais era algo pouco provável, o que de fato não aconteceu, mas Against manteve o Sepultura vivo e teve uma ótima repercussão, principalmente se levando conta as circunstancias da banda naquele momento, nos meses seguintes de seu lançamento, o álbum vendeu cerca de 500 mil cópias pelo Mundo, um número muito expressivo para época e ainda mais para uma banda do estilo do Sepultura. 

 

Em uma entrevista concedida para a revista Metal Underground esse ano, Andreas Kisser fez questão de reforçar a importância de Against: "Acho que o "Against" é o disco mais importante de nossa carreira, ele mostra que fizemos a escolha certa. Sem o "Against" não teríamos sido capazes de prosseguir como o Sepultura. Éramos um trio e então Derrick chegou e completou a equipe. Estávamos sentindo falta do cara a mais trazendo inspiração e ideias. Certamente foi uma época muito difícil, pois tivemos que recomeçar tudo novamente após perder nosso vocalista, empresário e produtores."

 

Fazendo jus ao nome do álbum (“contra” em português), o Sepultura sobreviveu a todas as adversidades comerciais e mercadológicas, bem como aos críticos que não acreditavam que a banda teria força para prosseguir em atividade. 

 

 

Faixas: 

 

1- Against 

2- Choke   

3- Rumors

4- Old Earth

5- Floaters in Mud 

6- Boycott    

7- Tribus    

8- Common Bonds 

9- F.O.E. (Freedom of Expression) (J.B. Pickers cover)    

10- Reza (feat. João Gordo)

11- Unconscious    

12- Kamaitachi (feat. Kodo)

13- Drowned Out

14- Hatred Aside (feat. Jason Newsted)

15- T3rcermillennium 

 

Disponíveis apenas no lançamento brasileiro:

16- Gene Machine/Don't Bother Me (cover do Bad Brains) 

17- Prenúncio 

 

 

Against está disponível no Spotify: https://open.spotify.com/album/5FPGRBTLFa58YLTKhTzSrT?si=Ma-e8nhWTmqWV0tB65HCOA 

 

Derrick Green em show no Vale do Anhangabaú em São Paulo no último dia 25 de novembro - Foto André Alves BG

 

Nos shows de 2018 da turnê do mais recente álbum Machine Messiah, lançado em janeiro de 2017, o Sepultura também celebrou (de forma discreta) os 20 anos do álbum Against e de Derrick Green frente a banda, incluindo algumas músicas do álbum no set list. Confira nos links abaixo a cobertura pelo Alquimia Rock Club dos últimos shows do Sepultura em São Paulo:

 

Sepultura, Eminence e MX - 27.10.2018 - Audio, São Paulo, SP

 

SP Rock Show: Sepultura, Pavilhão 9, Pomparças, Eutenia e PAD - 25.11.2018 - Vale do Anhangabaú, São Paulo, SP

 

Sepultura - 14.12.2018 - Sesc Pompeia, São Paulo, SP 

 

 

Fontes consultadas para desenvolvimento desta matéria:

 

Sepultura Endurance (documentário oficial de 2017)

Sepultura Toda a História (biografia de André Barcinski e Silvio Gomes lançada em 1999)

Relentless 30 anos de Sepultura (biografia oficial, por Jason Korolenko, lançada em 2016)

Revista Roadie Crew - Ano 12, edição número 132, janeiro de 2010.

 

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