O músico norte-americano Perry Farrell já esteve no Brasil como DJ e também para surfar, mas será em novembro, quase duas décadas após o lançamento do cultuado disco “Ritual de lo habitual” (1990), o seu retorno ao país à frente do Jane’s Addiction. A banda de rock alternativo formada na Califórnia em 1985 tocará pela primeira vez para os brasileiros no festival Maquinaria, em São Paulo. “Adoro o modo como as pessoas aí são entusiastas de música. Elas são apaixonadas, passam a noite toda dançando”, diz o artista por telefone ao G1.
Se ele não revela muitos detalhes da apresentação – o que se sabe é que o repertório terá músicas dos dois primeiros álbuns do grupo – Farrell descreve os elementos indispensáveis em uma performance ao vivo. “O que posso dizer é que sempre faço o meu melhor para apresentar um show lindo, com brilho, drama, beleza e perigo. Não temos tocado músicas do ‘Strays’ [2003] porque decidimos só tocar coisas anteriores a 1991 nessa turnê. Mas, na próxima, vamos selecionar algumas faixas desse álbum.”
Por enquanto, não há indícios de um novo trabalho de inéditas. “Às vezes conversamos sobre isso, mas não posso garantir, infelizmente. Gostaria de poder dizer sim”, lamenta, acrescentando que pretende se dedicar ao seu projeto de música eletrônica em 2010, além de levar edições do Lollapalooza a festas pelo mundo. O festival criado por ele, aliás, pode ganhar uma versão brasileira. “Existe a ideia de levar o evento ao Brasil. Estou falando com produtores para ver se isso é possível, espero que o plano se concretize em breve.”
Ao longo da carreira, o Jane’s Addiction se separou duas vezes e alterou a sua formação. Atualmente, fazem parte da banda o guitarrista Dave Navarro, o baterista e percussionista Stephen Perkins e o baixista Eric Avery, que ajudou a fundar o grupo com Perry Farrell, mas se recusou a participar de outras reuniões. “É legal ter essa sensação familiar, algo que senti há muitos anos”, diz. “Há muitos outros bons músicos por aí, mas Avery é o cara que começou tudo comigo, então decidimos trabalhar juntos de novo.”
Grande parte do segredo do Jane’s Addiction é a mistura bem dosada de metal, punk e psicodelia, além do vocal peculiar de Farrell, imortalizado em hits como “Been caught stealing”. “O importante é continuar a sonhar e a vislumbrar as coisas, e não só ficar sentado recebendo a grana”, diz. “É preciso ter a atitude de investir tempo, dinheiro, alma, entusiasmo e generosidade em um projeto para mantê-lo interessante. Música é muito do que soa familiar. Com o rap é assim, você sente algo conhecido quando ouve. Outra parte é o elemento surpresa. Quando você combina os dois, você tem sucesso.”
Eu gosto da beleza de procurar música online"
Se hoje o dilema do download ilegal voltou a tirar o sono dos artistas, Perry Farrell é uma voz dissonante. “Eu baixo música o tempo todo e estou bem com isso. Não acho que deveria ser ilegal. Honestamente, estou sempre procurando coisas novas na internet. Agora você paga o iTunes em vez de pagar a Warner, por exemplo, mas eles tentam fazer com que você só toque as músicas deles no iPod. Então eles que se danem também. Eu gosto da beleza de procurar música online”, diz.
“Nos anos 60 e 70 os músicos ganharam dinheiro fazendo shows. Os músicos de verdade deveriam tentar fazer mais apresentações ao vivo, em festas, festivais, fazer turnês pelo mundo e tocar do jeito que os artistas faziam antigamente. Eles eram muito bons nisso. A internet é uma coisa linda e como músico eu não gostaria de destruir isso proibindo as pessoas de fazer downloads. A melhor maneira de lidar com a questão é criar um ótimo show, porque quando você aparecer no palco as pessoas vão querer pagar por isso.”
Se ele lançaria um álbum inteiro na internet, ao estilo do Radiohead? “Talvez, mas não acho que as pessoas precisem ouvir um disco inteiro atualmente. Você pode lançar singles, e é o que vou fazer no ano que vem. Como DJ, você usa um monte de som diferente para criar um set. Se der para lançar três faixas por ano que as pessoas amem, você fez um ótimo trabalho como músico.”