Paul O’Neill acha que causou um “grande número de ataques cardíacos” quando apresentou “Night Castle”, o novo álbum de sua banda de rock orquestral Trans-Siberian Orchestra, à sua gravadora.
Basta dizer que o selo já estava esperando há algum tempo. “Night Castle” foi desenvolvido por um período “tão longo que chega a ser embaraçoso”, reconhece O’Neill.
Ele e seus companheiros começaram a trabalhar em “Night Castle”, uma história que ocupa dois discos e 21 faixas, logo após o lançamento de “The Lost Christmas Eve” (2004). Falta de inspiração não foi o que arrastou o processo por meia década –O’Neill tinha a história toda esboçada e abundância de ideias musicais, ele diz– mas sim a determinação de fazê-lo direito.
“Nós nos dedicamos a fazer algo realmente especial. E toda vez que achávamos que tínhamos terminado, apenas não estava bom o bastante, então voltávamos para ajustar, reescrever e regravar. Quanto mais demorava, mais pressão sentíamos para acertar.”
“Foi como uma bola de neve...”
A Trans-Siberian Orchestra deu aos fãs uma prova de “Night Castle” em 2008, quando lançou uma faixa chamada “Night Enchanted” pela Amazon.com –“apenas para mostrar às pessoas que realmente tínhamos algo especial a caminho”, diz O’Neill rindo. O grupo também incluiu a canção em sua turnê anual do período das Festas e a resposta ao material novo ajudou a estimular a conclusão de “Night Castle”.
“Nós finalmente acertamos, eu acho”, diz O’Neill, 53 anos. “Nós estamos orgulhosos dele. Nós esperamos que todos achem que a espera valeu a pena.”
As chances são de que sim. Ao longo de seus quase 15 anos, a Trans-Siberian Orchestra se estabeleceu não apenas como uma atração musical, mas também como uma marca e sinônimo de uma certa qualidade no mundo da música popular, vendendo mais de 7 milhões de cópias de seus quatro álbuns anteriores e atuando como uma máquina de apresentações ao vivo, que sustenta duas empresas de turnês e que, em 2008, atraiu mais de 1,2 milhão de fãs que compraram mais de US$ 230 milhões em ingressos em menos de dois meses.
“Eu sempre quis fazer algo que fosse maior do que apenas mais outra banda de rock lançando um álbum por ano e saindo em turnê”, diz O’Neill, que mora em Nova York. “Eu olhei para as bandas que tiveram um impacto em mim –The Who, Pink Floyd, Emerson Lake & Palmer, além dos Beatles, é claro– e havia uma grandiosidade e grandeza nelas que ia além da música.”
“E eu queria fazer algo que criasse um senso de... comunidade, de algo que as pessoas tornassem parte de suas vidas. Isso soa um pouco pomposo, eu sei, mas eu queria que isto fosse importante.”
O’Neill cresceu em Nova York, absorvendo uma variedade de influências que iam além do rock, como compositores clássicos e teatrais, cantores e compositores com o Harry Chapin e Jim Croce, além de uma série de obras literárias, incluindo ficção e particularmente história.
O teatro foi seu primeiro chamado, quando tocou guitarra em bandas das produções teatrais “Jesus Christ Superstar” e “Hair”. No final, ele voltou a Nova York e começou a trabalhar para uma firma que empresariava artistas como AC/DC, Aerosmith e Ted Nugent.
Após uma breve estadia no Japão, onde ele promovia concertos, O’Neill voltou para casa para se dedicar a produzir e compor canções em tempo integral. Ele foi recrutado para trabalhar com o Savatage, uma banda de heavy metal em dificuldades da Flórida, que caiu vítima de uma manipulação da gravadora e estava prestes a perder seu contrato. O’Neill ficou impressionado como o vocalista Jon Oliva, um futuro membro da Trans-Siberian Orchestra, e seu alcance de mais de três oitavas, e decidiu ajudar a banda.
“Eu senti solidariedade pela situação deles porque tinha passado por algo semelhante pessoalmente. Seus empresários mandaram que optassem pelo pop, o que arruinou completamente a credibilidade deles.”
O’Neill conduziu a banda de volta ao hard rock com “Hall of the Mountain King” (1987) e trabalhou em 10 dos seus álbuns,
incluindo obras conceituais como “Streets: A Rock Opera” (1991) e “Dead Winter Dead” (1995), desenvolvendo um relacionamento de trabalho estreito com o tecladista Robert Kinkel e o guitarrista Al Pitrelli, que se tornariam colaboradores-chave na Trans-Siberian Orchestra.
Mas em meados dos anos 90, O’Neill estava pronto para seguir em frente com seu próprio conceito.
“Eu queria pegar o melhor de todas as formas de música com as quais cresci e fundi-las em um novo estilo. Basicamente, eu roubei de todo mundo que eu adorava: as partes de ópera-rock de bandas como The Who, o casamento de rock e clássico de bandas como Emerson Lake & Palmer, e a iluminação grandiosa de shows como os do Pink Floyd...”
“Eu sempre quis compor uma ópera-rock plena com uma banda progressiva e pelo menos 18 vocalistas. Sabe como é, algo modesto.”
Na Lava/Atlantic, O’Neill encontrou uma gravadora para apoiar sua visão e ele partiu como um plano definido: seis óperas-rock, incluindo uma trilogia de Natal, “e talvez um ou dois álbuns ‘comuns’”.
Ele seguiu primeiro a rota natalina e obteve sucesso imediato com “Christmas Eve and Other Stories” (1996), que ganhou dois discos de platina, graças em grande parte à execução em rádio do single “Christmas Eve/Sarajevo 12/24”, uma canção gravada originalmente pelo Savatage e inspirada na história real do violoncelista Vedran Smailovic, que no início dos anos 90 começou a tocar música nas ruas de sua cidade natal, Sarajevo, em meio aos combates da Guerra da Bósnia.
O’Neill levou rapidamente a Trans-Siberian Orchestra para a estrada, desenvolvendo o espetáculo ao vivo que ele há muito imaginava.
“Eu queria que fosse completamente exagerado. A melhor iluminação, o melhor som, pirotecnia...”
Todo ano ele investe mais dinheiro na produção de palco da Trans-Siberian Orchestra, ao mesmo tempo que insiste que seus ingressos tenham valor acessível.
“O concerto da Trans-Siberian Orchestra é muito exagerado. Eu não me importo com o que esteja acontecendo em sua vida pessoal, mas por aquelas três horas, com todos os efeitos pirotécnicos, os efeitos de luz, seu cérebro não vai conseguir pensar em mais nada, e as substâncias químicas do estresse deixarão de correr pelo seu corpo.”
“Logo, é uma chance de recarregar a mente e o corpo, e eu sempre cuidei para que mantivéssemos o preço baixo, para que todo mundo e qualquer família pudesse vir assistir esses shows.”
“The Christmas Attic” (1998) foi mais um álbum platinado da Trans-Siberian Orchestra, seguido por “Beethoven’s Last Night” (2000) e “The Lost Christmas Eve”, outro sucesso platinado que rendeu à Trans-Siberian Orchestra sua mais alta posição na parada Billboard 200, o 26º lugar.
Mas O’Neill tem mais do que ópera-rock a oferecer com “Night Castle”. Apesar do álbum ser construído em torno da narrativa, um épico que começa no bairro de Hell’s Kitchen de Nova York e termina em uma casa de praia na Califórnia, com paradas na Europa e no Camboja, ele termina com cinco canções “bônus” não relacionadas, que O’Neill diz representar a “próxima fase” da Trans-Siberian Orchestra.
Entre elas estão uma versão de “Nutrocker”, uma música do Emerson Lake & Palmer inspirada em Tchaikovsky, com participação de Greg Lake, um membro daquele banda, no baixo, e uma versão de “Carmina Burana” (1935-1936) de Carl Orff. Ambas as faixas, diz O’Neill, “foram influências tremendas para nós”.
Elas também permitiram que ele vislumbrasse a próxima fase da Trans-Siberian Orchestra, que é uma lista de projetos multimídia que, dado o ritmo perfeccionista de O’Neill, certamente manterá a organização ocupada por muitos anos. Ele planeja relançar “Beethoven’s Last Night” com um livreto revisado e expandido e preparar turnês dele e de “Night Castle”. Ele também está trabalhando em uma série de shows da Broadway da Trans-Siberian Orchestra, começando por “Gutter Ballet”, um projeto do Savatage que data de 1989.
O’Neill também quer levar a Trans-Siberian Orchestra para o cinema, via um desenho animado de Greg Hildebrandt, o artista que ilustrou todos os livretos dos álbuns da Trans-Siberian Orchestra e, segundo O’Neill, é “um membro da Trans-Siberian Orchestra tanto quanto os músicos”.
“Nós passamos muito tempo planejando e as pessoas sempre me dizem: ‘Paul, pare de compor e comece a gravar!’ Mas está funcionando muito bem. Eu me sinto felizardo por ter demorado tanto e por podermos ganhar a vida fazendo o que amamos.”
“As artes têm um poder incrível e com ele vem uma incrível responsabilidade. Alguém já disse que se você quiser mudar o mundo, não se torne um político: escreva um livro, componha uma grande canção.”
“Eu acredito nisso e é disso que a Trans-Siberian Orchestra se trata.”