Avatarium - 2013 - Avatarium
O baixista Leif Edling, pela sua história com o Candlemass, pode ser considerado uma das mentes mais criativas – e inquietas – do Heavy Metal. Sempre envolto de projetos paralelos, o Avatarium em um primeiro momento era para ser mais um projeto ao lado do tão criativo quanto Mikael Akerfeldt (Opeth), deixado de lado pela agenda de Akerfeldt por um tempo. Mas com a indefinição do Candlemass, onde ninguem sabe o rumo que tomará depois da saída de Robert Lowe dos vocais, Edling resolveu dar vida de vez ao Avatarium, chamando ao seu lado nomes já conhecidos da cena sueca, como Marcus Jidell na guitarra, Carl Westholm nos teclados e Lars Sköld na bateria, todos em algum momento da carreira já trabalhado ao lado de Edling.
Enganam-se quem pensa que vão ouvir algo parecido com o Candlemass. Claro, a “sombra” de uma das maiores bandas do Heavy Metal está lá, mas aqui o clima sombrio e ritualístico se faz muito mais presente. E esse clima so foi atingido pelo fator voz: a belíssima Jennie-Ann Smith nos brinda com uma surreal voz; doce e melancolica, sua voz se enquadrou perfeitamente na proposta da banda, onde Edling buscou fora do circuito do Heavy Metal... A aveludada e grave voz, soando em momentos blues com momentos folk, nos transportam a uma viagem musical onde poucas vocalistas tiveram o domínio e capacidade de fazer.
O Avatarium faz aquele Dom Metal “classudo”, porem de uma complexidade nos arranjos de cair o queixo. A abertura sombria com Moonhorse, com os versos encantadoramente ancorados com um fundo harmônico de pesada atmosfera, mostra a identidade da banda, porém ela não se resume a isso. Pandora’s Egg é um denso e clássico Heavy Metal com passagens dissonantes que chegam a “incomodar” o ouvinte; a faixa título é uma “jóia” do Doom Metal com riffs arrastadíssimos e um peso fora do comum contrastando com a voz delicada de Jenn-Ann; Birds of Prey tem aquele pé num som mais progressivo (seria influência de Akerfeldt?), com uma aula de teclado de Westholm.
O destaque fica por conta de duas faixas. Boneflower, a mais “pra cima” do trabalho tem uma áurea totalmente ritualística; a letra calcada numa melodia cuidadosamente trabalhada pela Jenn-Ann cria esse clima mágico (não é por menos que a letra diz “Dark-boned bodies from the trees/ Have passed the door to the after-life meet”); mesmo um som dançante, não quebra o clima sombrio característico do álbum. A última faixa Lady in the Lamp é uma viagem mística em uma performance fenomenal da vocalista e de Jidell na guitarra; o melhor momento do disco, onde a banda colocou arranjos supreendentes que descobrimos a cada ouvida.
Por se tratar de um projeto, não sabemos em qual caminho Edling levará a banda, principalmente pela neblina que o Candlemass se encontra, mas posso afirmar que o disco já nasceu clássico, um dos melhores momentos na carreira do baixista. Imperdível.
Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.