Death Angel: “Músicas são como criaturas de vida própria que seguem em frente sofrendo mutações!”
Foto: Nat Enemede (@natenemede)
Agradecimentos a: Marcos Franke (Nuclear Blast Records) e Karina Somacal (Shinigami Records)
A convite da Nuclear Blast Records e da Shinigami Records, integramos a coletiva de imprensa online com Mark Osegueda, vocalista do Death Angel, e o bate-papo iniciado pontualmente às 16:30 e encerrado às 17:50 de uma quinta-feira não exatamente quente dentro dos padrões paulistanos de dezembro centrou-se em The Bastard Tracks, play lançado em 26/11 e registrado durante a pandemia em execução ao público virtual em 22/05 no The Great American Music Hall em San Francisco, cidade natal do grupo.
Na prática, mesmo sem o contato e a vibração de uma platéia real, se trata de uma compilação ao vivo de quinze faixas quase nunca ou jamais apresentadas nos palcos: um cover bem lado B do Black Sabbath e quatorze autorais do quinteto inteirado por Rob Cavestany e Ted Aguilar (guitarras), Damien Sisson (baixo) e Will Carroll (bateria), além do frontman.
A condução geral ficou a cargo de Marcos Franke, acumulando funções e assinando a tradução das indagações em português (Samuel Acevedo cuidou das partes em espanhol), porém Gerard Werron, representante da Nuclear Blast no Brasil, fez as honras da casa na entrada e na saída. E em respeito aos demais dezesseis companheiros da mídia especializada a direcionar perguntas ao músico, eis seus nomes e veículos, em ordem de interação:
Clovis Roman (Acesso Music); Geraldo Andrade (Revista Freak); Augusto Hunter (Headbangers News); Sabrina Romero (Truenos Metálicos – Argentina); Jorge Polito (El Lado Oscuro – Uruguai); Rocío Belén (The Resistance – Chile); Pamela Calderón (iRock – Chile); Marcio Machado (Confere Só); Gustavo Maiato (Metal Na Lata); Guilherme Gonçalves (Rock Brigade); Tony González (Made In Metal – Espanha); José Carlos (Papo Metal); Samuel Acevedo (El Quartel Del Metal – Chile) e também repassando a questão de Xandri Silver (Crónica Metal / Metal Obscura – México), com problemas no microfone; Johonny Gonzales (Conexion Rock Radio – Honduras); e Jonatan Gore (Lucifer Rising).
Diferentemente da sessão entre jornalistas e Kim Song Sternkopf e Ken Klejs, respectivamente vocalista e baterista do MØL, quando demoramos um pouco a pedir a palavra, desta vez decidimos disparar logo após o segundo colega. Curta o breve conteúdo, em livre interpretação nossa das respostas:
Vagner Mastropaulo: O quão fácil ou difícil foi para vocês se lembrarem de todas as músicas? Existem duas de um álbum de 1988, Frolic Through The Park... Você teve de parar tudo a fim de se recordar das letras? Algo assim: “Cara, como eu cantava essa? E sobre o que ela é?”. Ou foi automático?
Mark Osegueda: [risos] Foi longe de ser automático... A coisa mais distante de “automático”! Porque, algumas dessas músicas, nunca tocamos ao vivo ou a última vez que realmente as tocamos juntos foi no estúdio de gravação para o disco. E, é claro, como você disse, não tocávamos algumas ao vivo desde 1988! Então, antes, quando de fato definimos o setlist, todos nós tivemos de fazer nossa lição de casa, bem antes de conseguirmos ir ao estúdio de ensaio ou de estarmos juntos porque todos nós tivemos que aprender nossas partes. Então nos reunimos no estúdio de ensaio e aí tivemos que fazer ajustes entre nós mesmos para nos familiarizarmos a ponto de fazer tudo instintivamente e podermos estar no palco e tocá-las. Então foi muito trabalho e não vou mentir: definitivamente houve músicas que tive de escutar repetidamente só para as letras entrarem em minha cabeça. Há algumas específicas que... Em muitas músicas, consegui visualizar onde eu estava quando as escrevi ou o estado mental em que eu estava quando as escrevi, mas em outras... Um exemplo típico foi “Why You Do This”, de 1988, que você mencionou: não tenho qualquer lembrança de tê-la escrito! Nenhuma! Nenhuma!! NENHUMA!!! Músicas como ela e “Guilty Of Innocence”, do mesmo álbum, Frolic Through The Park… Há tantas mudanças e loucuras rolando que tentar descobrir por entrar nelas novamente foi um caos absoluto a princípio! Agora me sinto verdadeiramente confortável e é instintivo de novo, mas foi muito trabalho até chegar a esse ponto, sabe? [risos]
Vagner Mastropaulo: Agora uma curiosidade e não sei se vocês estão cientes disso: exceto o cover do Black Sabbath, todas as músicas ficaram mais longas em relação aos originais – e fiz a checagem uma a uma! Até “Lord Of Hate” é mais extensa, embora apenas em dois segundos. Foi intencional ou coincidência? Ou vocês consideraram fazer alterações nos originais?
Mark Osegueda: Não acho que... [bastante reflexivo] Não foi necessariamente intencional, mas definitivamente adicionamos alguns pedaços que fazemos ao vivo, como acontece com a maioria do catálogo do Death Angel, mesmo até agora, no disco mais recente. É estranho porque a música é sua, você a escreve, aí você a grava e inevitavelmente após gravá-la, você escuta o álbum algumas vezes seguidas ou então começa a excursionar e a adicionar pequenas nuances. E aí, um ano mais tarde, depois de colocar para ouvir aquelas que você está tocando ao vivo, você diz: “Merda! Gostaria de ter feito tal coisa no estúdio!”. Sempre tem um: “Deveríamos ter feito isso!”. Você está constantemente meio que adicionando e mudando as músicas e, até certo ponto, elas nunca estão concluídas. Sabe o que quero dizer? Isso faz sentido: elas sempre são como criaturas de vida própria que meio que seguem em frente e sofrem mutações!
Fechamos nossa contribuição agradecendo e ele ainda disse: “Não, não! Muito obrigado a VOCÊ, cara! Definitivamente!”, soando sincero de coração! Perto de completar quatro décadas de carreira, imagine quantas entrevistas um artista estabelecido na cena já concedeu... E impressionava o brilho no olhar ao revelar detalhes acerca da obra, esbanjando alegria ao ver a grande maioria dos “presentes” pela primeira vez. Entretanto, sempre haverá quem argumente: “Não faz mais do que a obrigação... Afinal de contas, é da profissão dele!” Pois é: em momento algum pareceu “obrigação”. E é normal o trabalho nos enfadar um dia ou outro, mas enquanto há gente odiando o que faz, Mark Osegueda estava ali se divertindo! Lição de humildade!!
Foto: Reprodução da gravação da entrevista online
The Bastard Tracks – 69’07”
01) Lord Of Hate – 4’25”
02) Where They Lay – 4’44”
03) Why You Do This – 5’44”
04) Fallen – 4’48”
05) Absence Of Light – 4’34”
06) The Organization – 4’32”
07) Execution / Don’t Save Me – 4’51”
08) Succubus – 4’36”
09) It Can’t Be This – 4’32”
10) Let The Pieces Fall – 6’00”
11) Faded Remains – 4’29”
12) Volcanic – 3’42”
13) Falling Off The Edge Of The World [Black Sabbath Cover] – 3’37”
14) Guilty Of Innocence – 4’43”
15) Alive And Screaming – 3’50”
O álbum foi lançado no Brasil pela parceria Shinigami Records/Nuclear Blast Records e pode ser adquirido nos formatos acrílico e digipak aqui.
Bacharel em inglês/português formado pela USP em 2003; pós-graduado em Jornalismo pela Cásper Líbero em 2013; professor de inglês desde 1997; eventualmente atua como tradutor, embora não seja seu forte. Fã de música desde 1989 e contando... começou a colaborar com o site comoas melhores coisas que acontecem na vida: sem planejamento algum! :)