Resenhas

Corubo - 2011 - Wuy Jugu

Por Fabiano Cruz | Em 13/09/2011 - 22:27
Fonte: Alquimia Rock Club

Muito me agrada em pesquisas de bandas extremas novas sonoridades que chegam a mim, principalmente aquelas que trazem novos elementos musicais bem experimental e/ou elementos regionais que mostram a origem étnica e social da banda; quando peguei pra ouvir esse lançamento, Wuy Jugu, minha mente literalmente voou com a sonoridade que beira o surreal contido no trabalho. Corubo, banda nacional de Black Metal, formado por Cauã e Tesa’ãme, traz todas as características de uma banda do estilo: calcado da falta de informação de seus integrantes e como foi produzido, riffs cortantes, vozes guturais, cozinha alucinante. Mas eles trazem coisas novas em seu conceito musical; a banda faz seu trabalho calcado na mitologia indígena nacional, e muito de suas letras – o que dá para entender, pois eles revezam o português com o que parece ser tupi-guarani nas letras – o imaginário dos mitos se junta aos problemas reais do que vivem os índios hoje em dia na sociedade e como base para as letras, o Black Metal furioso e bem ambiente se junta à melodias e instrumentos indígenas, numa junção que ao mesmo tempo soa totalmente agressiva com uma beleza rústica.


A sonoridade pode a princípio demorar a se acostumar, mas não podemos negar que composições como a violenta Iké Icú Tuichaua, Mucuim-pú Sui Jara ou a ruidosa e experimental Guaranihára Opytu’ú são fortes que podem chocar os ouvidos menos preparados. Muitas vezes de fundo ouvimos sons de flautas, berimbau e outros instrumentos indígenas; na curta instrumental Ken Matín-Tapirêra é claríssimo essas influências e raízes da banda, como no visceral cover de Embrio & Children. Not Authorized Version! Fuck off Pop Star!!!!!!, do Black Sabbath, onde a Embrio foi totalmente revista na linguagem musical indígena antes de mostrarem a desconstrução de Children of the Grave. O destaque talvez fique pelos dez minutos de Amombe'uta Pe'eme Curíoikóvaekué, uma composição que mistura beleza melódica, atmosfera densa e ritmo arrastado que realmente prende o ouvinte com todos os seus detalhes. O ponto negativo fica na gravação, um pouco a desejar, ainda mais que, mesmo sendo independente, nos dias de hoje com a facilidade tecnologia, chega a certo ponto inaceitável um disco mal gravado; mas nem isso prejudica a força das composições, o que talvez até mostre que a gravação mostrada foi proposital.


Não conhecia o Corubo, uma banda que já está a mais de 10 anos na estrada, e seu trabalho é perfeito. Trata as raízes de um povo – um dos princípios básicos que qualquer banda Black/Pagã – sem soar de certo modo blasfemo ou até mesmo arrogante; o Corubo choca as pessoas em sua sonoridade e conceito (inclusive o nome é de uma tribo indígena amazônica que ainda vive isolados na selva e so tiveram o primeiro contato com a sociedade como a conhecemos nos anos 90, um choque cultural de magnitude maior). O trabalho deixa aquela sensação de pergunta no ar “quem somos realmente?” – a mesma sensação quando li A História da Destruição Culrural da América Latina, livro do venezuelano Fernando Baéz. Um trabalho perfeito que, além de mostrar o que já foi dito, a forma que o Metal Extremo tem em nosso país.
 



Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.




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