Não tem mais como negar que a Shadowside se tornou uma das bandas mais importantes em nosso Heavy Metal. Com dois discos, a banda já chamou atenção do mercado europeu e norte-americano, tocando em vários lugares na América do Norte e na Europa, sendo banda de apoio a importantes nomes; e com Inner Mosnter Out, a banda já chega “metendo os dois pés no peito” de meio mundo! Sim, a proposta de tocar o Heavy Metal mais tradicional possível aliado a excelentes composições continua a mesma, mas a roupagem do som mudou – e para melhor! Inner Monster Out vem com mais peso, mais “pegada”, com novas influências sonoras que a banda adquiriu nesses anos. Em uma produção cristalina do renomado produtor sueco Fredrik Nordström, a Shadowside conseguiu reunir onze composições realmente fortes em um dos discos mais consistentes que uma banda nacional já compôs.


O que mais chama a atenção de cara são as guitarras de Raphael Mattos. Esperem peso, muito peso nesse trabalho por parte dele. Com riffs e solos muito bem pensados, Raphael conseguiu um timbre bem moderno, mas sem cair naquele “pastiche” que muitas bandas atuais caem e caminha livremente por muito estilos do Heavy Metal sem deixar sua identidade construída nos primeiros discos de lado; basta escutar a faixa de abertura Gag Order - uma pancada na cara logo de começo -, In The Name of Love e A Smile Upon Death para perceberem os inúmeros caminhos que o guitarrista trilhou para chegar em maravilhosos riffs. Dani Nolden simplesmente “quebra tudo”... Como ta cantando essa guria! No mesmo caminho de Raphael, nos mostra novos caminhos para sua voz, indo da mais doce e melódica a um timbre mais agressivo e “nervoso” – apesar de talvez à primeira audição soar como se ela estivesse se distanciando dos primeiros trabalhos da banda, foi uma clara evolução de seu trabalho. E a consistência da “cozinha” Fabio Buitvidas (bateria) e Ricardo Piccoli (baixo), arranjos simples e fortes, dá a pulsação certa para o trabalho, tornando os dois nomes de destaque em seus instrumentos!


Em um trabalho desse, é difícil citar as composições de destaque, mas podemos ficar com algumas chamam a atenção logo de cara. A primeira é a música de trabalho Angel With Horns, que tem uma melodia forte e junto com o peso e timbre da guitarra, podemos dizer que é a síntese do trabalho. Em se tratando de peso, Habitchual chama logo a atenção e Waste of Life trás uma Shadowside bem ousada, em riffs quase Thrash e com Dani cantando bem agressiva. A faixa título do trabalho é a mais bem trabalhada, pois conta com as participações dos vocalistas Mikael Stanne (Dark Tranquillity), Björn “Speed” Strid (Soilwork) e Niklas Isfeldt (Dream Evil) em um belíssimo trabalho de arranjo nas vozes. A edição nacional do trabalho vem com “brinde” a divertida Inútil, do Ultraje a Rigor, que tem a participação do Roger, numa perfeita releitura desse que é um clássico do Rock’ n’ Roll nacional


Muitos podem criticar a atitude da banda em rumar para a Europa, sabendo que aqui no Brasil tem estúdios e produtores de Rock/ Heavy Metal que vem crescendo cada vez mais e mostrando trabalhos primorosos, mas a banda buscou e acertou no que queriam fazer; Fredrik Nordström se mostrou o perfeito produtor para o disco e a sonoridade que a Shadowside queria atingir. Inner Monster Out, junto com Kairos e Animal, já pode ser considerado como um dos melhores lançamentos do ano e um marco no Heavy Metal nacional.


E para completar a matéria, Dani Nolden bateu um rápido papo com o Alquimia Rock Club, falando exclusivamente no novo trabalho!


Alquimia Rock Club - Começo pela sonoridade das guitarras. Claramente o trabalho está mais pesado e com timbres bem modernos, que se aproxima muito da sonoridade das bandas de Heavy Metal suecas, mas sem perder a identidade que deixaram registrada nos dois primeiros trabalhos. Como foi produzido pelo renomado Fredrik Nordströn e gravado na Suécia, essa nova roupagem do Shadowside partiu a partir do trabalho conjunto com ele ou a banda já estava pensando realmente em um trabalho mais pesado que os anteriores?


Dani Nolden - A banda já estava pensando nisso! Quando começamos a compor o "Inner Monster Out", percebemos que Fredrik seria o produtor perfeito para nós. A banda já tinha vontade de fazer alguma coisa com ele, mas apenas agora sentimos que o momento era certo. Nós queríamos uma sonoridade moderna e pesada, porém sem perder as nossas raízes e procuramos Fredrik para nos ajudar a chegar nesse resultado. Ele trabalhou com muitas bandas que nós consideramos interessantes, de todas as partes do mundo e de vários estilos diferentes, portanto ele tem a mente aberta e nunca tentou modificar nossas características. Ele foi apenas nosso guia e arrancou a melhor performance que cada um de nós fez até hoje.


Alquimia Rock Club - Dani, a sua voz também traz novos elementos, como uma agressividade maior e melodias muito bem compostas. Como foi para ela criar e gravar essa nova postura que adotou para o "Inner Monster Out"?


Dani Nolden - Isso foi parte do meu desenvolvimento natural e algo que só percebi após a gravação do "Inner Monster Out". Enquanto estávamos acompanhando os primeiros dias de mixagem do trabalho. Conversando com os meninos, eles mesmos comentaram que eu nunca havia composto melodias assim antes. Eu vejo semelhanças com o que escrevia antes, afinal não poderia mudar minha personalidade, mas eu queria evoluir. Busquei algo que fosse memorável, que ficasse na cabeça, porém que fugisse do óbvio, mais maduro. A agressividade extra foi apenas porque as músicas pediam isso. Os temas são muito intensos e eu pude explorar mais a minha voz, experimentar formas diferentes de cantar. Além de passagens muito mais agressivas que qualquer coisa que eu fiz nos materiais anteriores, também brinquei com algumas partes bem mais “cantadas” e até suaves. Eu acharia chato cantar um álbum da mesma maneira que o outro, gosto de surpreender ao público e a mim mesma. Acho que um músico que não coloca desafios para si mesmo perde o ânimo, a vontade de evoluir... Acaba seguro demais naquela mesma situação a qual ele já está acostumado.


Alquimia Rock Club - Complementando as duas primeiras perguntas, como foi o trabalho de composição de "Inner Monster Out"? Já chegaram ao estúdio com as idéias prontas a serem gravadas ou o processo de criação foi dentro do estúdio?


Dani Nolden - Nós chegamos na Suécia para gravar com tudo praticamente pronto, deixamos apenas alguns detalhes para compor na hora. Fizemos as músicas antes da longa turnê europeia ao lado do W.A.S.P. e terminamos de gravar as demos dentro do tourbus, na estrada. Na verdade, o plano originalmente era trabalhar nas músicas e gravá-las com toda a calma do mundo até dezembro, já que não entraríamos em estúdio até fevereiro. Porém, surgiu o convite para essa turnê, então nossa única alternativa foi antecipar essa gravação, porque não teríamos tempo de gravar e mudar o que fosse necessário se deixássemos para o final da tour. Portanto, como eu não poderia gravar vocais no meio do ônibus, deixamos o baixo por último e Ricardo teve que se virar, gravando em cima da cama dele (risos). Terminávamos uma música por dia, enviávamos para o Fredrik, ele nos dizia o que achava que não estava tão legal e então anotávamos para mudar no final da turnê ou dentro do estúdio. Porém, ele deixou o controle criativo para nós, ele apenas dizia o que não gostava e deixava que fizéssemos algo melhor. Mas apenas melhor não era suficiente, tinha que ser algo que ele realmente gostava; o que foi excelente, pois sempre nos empurrou para o nosso melhor. A composição das músicas foi completamente espontânea, divertida, todos nós mexemos em todas as músicas. Eu e Raphael levamos metade das ideias inicias, porém nenhuma das músicas que você escuta no "Inner Monster Out" soa como nossas demos originais. Waste of Life nasceu de um refrão que eu tinha e não sabia o que fazer com ele, um riff que Raphael já havia composto, algumas melodias que Ricardo criou e a ideia do Fabio de fazer uma música começando direto na voz, por exemplo. Fizemos a música em praticamente meia hora. Nossa preocupação era apenas agradar a todos da banda, sem qualquer preocupação em seguir uma influência pessoal. Apenas criar algo nosso, diferente, que deixasse todos nós orgulhosos do que conquistamos.


Alquimia Rock Club - A faixa título traz participações de Mikael Stanne (Dark Tranquillity), Björn “Speed” Strid (Soilwork) e Niklas Isfeldt (Dream Evil) e a tão importante quanto participação de Roger na regravação de Inútil, um clássico do Ultraje a Rigor. Como foi trabalhar com esse time e como surgiu a idéia de ter essas participações especiais?


Dani Nolden - Nós buscamos as participações, porque elas realmente foram necessárias no caso da faixa "Inner Monster Out"... a história tem alguns personagens e não seria possível mantê-la com apenas uma pessoa cantando. É algo meio inspirado em Hannibal Lecter, onde o assassino está o tempo todo provocando o investigador, ao mesmo tempo em que o convence de que eles são iguais, já que o investigador precisa compreender o assassino, entrar na cabeça dele para conseguir prever o que ele fará. Então, tínhamos a opção de mudar a letra ou convidar cantores que admiramos e que pudessem acrescentar algo para a música, porém nós queríamos exatamente esses tipos de vozes... de vocalistas que não costumam cantar o que nós fazemos na Shadowside. Queríamos tirar esses cantores das suas zonas de conforto, ao mesmo tempo em que buscávamos o que toque pessoal deles. Eles foram muito tranqüilos, foi facílimo trabalhar com todos, fizemos uma pequena festa no estúdio no dia da gravação do Björn e do Mikael. Niklas gravou rapidamente porém ele não deixou qualquer um de nós parar de rir durante toda a gravação, é um cara divertido e sempre disposto a ajudar. Estávamos em dúvida sobre as melodias do refrão de "A Smile Upon Death", tínhamos algumas alternativas e não gostávamos de qualquer uma delas. Então, ele veio até o estúdio apenas para escutar a música e dar idéias, que originaram o que você escuta agora na música e disse que tudo que ele queria em troca era uma cópia do CD quando fosse lançado. Em Inútil, eu nem tenho palavras para descrever a honra que é gravar com Roger. Ele é uma lenda viva. Nós gravamos a música, mostramos a ele e como ele gostou, pedimos para ele cantar conosco. Ficou muito legal, essa música precisa de um toque de humor sério e ele tem isso naturalmente.


Alquimia Rock Club - "Angel With Horns" foi a escolhida no meio de tantas composições boas para ser a música de trabalho, ganhando inclusive um videoclipe. Porque a escolha dela? Pode-se dizer que ela sintetiza o trabalho como um todo?


Dani Nolden - Sim, eu acredito nisso sinceramente. Ela é uma música pesada, com muita energia, várias partes diferentes, melódica... Ela é Metal, com um toque de moderno sem perder as raízes. Nós fomos contra todos, na escolha do single e videoclipe, porque a favorita do Fredrik, da nossa gravadora e nossa manager era "Habitchual". Era unanimidade, todos gostam dela. Porém, durante a gravação, logo depois de gravarmos "Angel with Horns", ninguém parava de cantá-la. Ela grudou na cabeça de todo mundo e era freqüente ver Henrik, o assistente de Fredrik, cantarolando sem nem perceber “just close your eyes...” (risos).  Então, nós decidimos contrariar todo mundo e seguir nossos instintos. Acredito que estávamos certos, porque nas pesquisas que fizemos com os fãs até agora, "Angel with Horns" está sempre apontada como a uma das favoritas do novo álbum, se não a favorita!


Alquimia Rock Club - Ao vivo, quais são as que vêm tendo mais destaque? Aproveitando o gancho, quais os planos e agenda da banda para a turnê de divulgação do "Inner Monster Out"?


Dani Nolden - Todas as que tocamos até agora foram muito bem aceitas.. "Gag Order", "Angel with Horns", "Habitchual", "Waste of Life", "I'm Your Mind". Nós experimentamos Gag Order ao vivo antes de qualquer coisa, durante a turnê com o W.A.S.P., até mesmo para saber se estávamos indo na direção certa. Se os fãs a achassem um lixo, ainda teríamos tempo de mudar tudo (risos). Nos shows que fizemos no Brasil após a gravação, tocamos mais algumas músicas, como na abertura para o Iron Maiden no Rio de Janeiro, onde tocamos "My Disrupted Reality" pela primeira vez e foi muito bem aceita. Agora estamos agendando os primeiros shows da turnê do "Inner Monster Out", seremos atração principal no Plis Rock Festival, em Penápolis, e estamos com algumas conversas bem adiantadas para mais datas. Queremos voltar a todos os lugares que já estivemos antes e acrescentar novos locais a essa lista!


Alquimia Rock Club - O Alquimia Rock Club agradece a conversa e esperamos vê-lo ao vivo na turnê de Inner Monster Out!


Dani Nolden - Muito obrigada pelo apoio! Pretendemos tocar em todos os lugares que pudermos, adoro estar no palco. Espero que gostem do "Inner Monster Out". Nos visitem no Facebook, digam oi. Até logo! Nos vemos na estrada!

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Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.