Resenhas

Lou Reed & Metallica - 2011 - Lulu

Por Fabiano Cruz | Em 07/11/2011 - 20:21
Fonte: Alquimia Rock Club

De um lado o considerado um dos maiores músicos experimentais da história do Rock. Do outro, a considerada maior banda de Heavy Metal para muitos. O projeto, ousado; muito ousado. Criar uma obra conceitual baseada na complexa peça Erdgeist (o que muitos erroneamente pensam que é o mesmo nome desse disco em questão) do escritor expressionista alemão Frank Wedekind, cujo já foi musicalizada por um dos maiores nomes da história da música na ópera Lulu de Alban Berg; ópera que é carregada de dodecafonismos, atonalismos e experiências musicais tanto em composição e timbres.


Lou Reed já tinha as letras – compôs para uma montagem que não foi aceita em algumas companhias de ópera norte-americana -, e resolveu então trabalho com o Metallca na parte instrumental. Resultado? Um disco que soou diferente de tudo que ambos já fizeram em carreira, porém um pouco abaixo das expectativas dos fãs... O trabalho em si não é ruim, pelo contrário. Tanto Lou Reed e o Metallica fizeram muito bem as suas partes; mesmo que o disco seja carregado de experimentos – sim, aqueles de Lou Reed sempre fez, com ruídos, com sua técnica de declamação das letras em vez de cantos, de harmonias e melodias não convencionais – e mostrando um Metallica querendo se renovar, adquirir mais “experiência” em coisas novas, o disco chega a certo ponto negativo. Duas coisas que fazem isso. A alta repetição sem variações de riffs e o tempo do trabalho com muitas músicas longas, em muitos momentos as duas coisas ao mesmo tempo, algo que se não for muito, mas muito bem trabalhado, pode cansar a audição.


O disco, como já devem ter percebido, é muito mais do Lou Reed do que o Metallica – o que causará muitas besteiras ditas por fãs da banda pela internet e afins -, mas em alguns momentos a banda se sobressai ao vocalista. Os pontos positivos ficam justamente nas partes em que ambos tocam equivalentes, como na Cheat On Me, Frustation, The View e Dragon, com os riffs pesados se mesclando a uma textura musical experimental, criando algo novo para os músicos e para quem ouve. O ponto alto fica, ironicamente, na maior música, Junior Dad, onde podemos até falar que tanto Lou Reed como o Metallica teve aqueles seus lampejos de genialidade. Outro ponto positivo é quando James Hetfield canta nas pouquíssimas partes, fazendo um interessante contraste entre sua voz nervosa e rasgada com o canto falado de Lou Reed.


O trabalho tem o clima pesado e denso da obra literária, sendo perfeito nesse quesito conceitual; mas talvez uma produção mais caprichada e atenciosa, principalmente na finalização do disco, esse fator ficaria mais evidente. Uma obra difícil de escutar, será compreendida aos poucos com o tempo, porém não é aquela coisa de “obra-prima” em que todos esperavam. O que fica é uma impressão de que o Lou Reed está um pouco cansado indo um pouco abaixo do que já criou, enquanto o Metallica ousadamente se esforça para acompanhar o vocalista. Vale o registro histórico onde agradará mais os fãs do vocalista do que os fãs da banda. (E se fosse mais curto no tempo, chamaria mais a atenção...)
 



Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.