Muitos devem estar se perguntando “porque uma resenha dessa no Alquimia Rock Club”. Explico. Primeiro, porque nele tem um dos maiores nomes da guitarra elétrica que deixou registros memoráveis alternando em sua vida passagens pelo Hard Rock, Rock’ n’ Roll e Blues, influenciando nomes e mais nomes mundo afora; Eric Clapton dispensa comentários, como Wynton Marsalis, o que pode ser um nome desconhecido para quem acompanha o mundo do Rock, mas sua carreira é uma das maiores em se tratando de um músico: trompetista hábil tem já sue nome marcado na história do jazz e do erudito, já tocou com vários nomes dos mais diversos estilos musicais e é um renomado professor da conceituada escola norte americana Lincon Center. Segundo, as composições que escolheram são raízes da cultura afro-americana, base do surgimento do Blues e de tudo que veio depois – inclusive muitas escolhidas para esse trabalho têm inúmeras versões Blues, Jazz, Rock; mas nesse trabalho são repaginadas à linguagem musical de hoje confrontando com a de antes.


O trabalho não poderia ser menos que primoroso. O “feeling” que ambos tocam é de encher os olhos de lágrimas. Canções arranjadas para Big Band e guitarra, soaram perfeitas nas mãos dos mestres. Desde a divertida abertura com Ice Cream, canção de Louis Armstrong, à melancolia de Joe Turner’s Blues do lendário W.C. Handy – em uma aula de licks de Clapton - e ao tom balançante de Kindman Blues são momentos mágicos e, mesmo assim, o disco tem destaques. O Blues Forty-Four toma contornos gigantescos, indo muito além da versão gravada pelo Howlin’ Wolf; Carelles Love, imortalizada em nomes femininos como Janis Joplin e Bessie Smith ganhou uma versão maravilhosa na mão desses senhores; Layla surpreende pelos contornos Blues/Jazz que recebeu em novos arranjos e a clássica tradicional Corrine Corrina chega a ser o ápice da apresentação, principalmente por ter a participação de Taj Mahal na voz.


A Lincon Center Jazz Orchestra tem todo o aval dos Mestres para cada um mostrar o que sabem; todos tem seu espaço e solam em vários momentos, mas os destaques acabam ficando por conta o banjo de Don Vappie – em muitos momentos é ele que segura as pontas das canções – e da clarineta de Victor Goines – que, junto com o trompete de Marsalis, fala e desfila toda sua potência por vários momentos. E falar dos dois... Não é a primeira vez que se encontram, devido ao encontro no trabalho de Clapton em 2010; mas aqui tocam perfeitamente em conjunto à orquestra e, como já disse, numa performance surreal. Play The Blues – Live From Jazz At Lincoln Center não acaba sendo um disco somente para fãs de Jazz, Blues e de Rock; é um encontro histórico de nomes que fizeram a história da música contemporânea que acaba sendo para os amantes da Arte Musical

Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.