Resenhas

Alcest - 2012 - Les Voyages De L'Âme

Por Fabiano Cruz | Em 30/01/2012 - 20:59
Fonte: Alquimia Rock Club

O primeiro trabalho de destaque de 2012 não poderia ter título que melhor ilustra as oito composições presentes no trabalho. Les Voyages De L'Âme, traduzido a grosso modo como As Viagens da Alma, é uma verdadeira viagem onírica e melancólica que o Alcest nos traz. Não é de hoje que os experimentos do músico e compositor Neige vem chamando a atenção dentro (e até certo ponto, fora) do Heavy Metal; suas experiências em sonhos e imaginações são transportadas à sonoridades ricas e complexas, indo do mais extremo Black Metal ao mais melancólico Gótico, onde a experiência dos primeiros discos se junta a uma criatividade acima da média nesse novo álbum.


A sonoridade não é das mais fáceis de assimilar. Autre Temps, a faixa de abertura, é a mais melódica e sem tantas variações musicais (tanto que foi a escolhida para o vídeo de promoção do trabalho), mas a junção entre a crueza e a beleza chega a impressionar. E esses dois pontos são o tom do disco que, junto com experimentalismos – principalmente em texturas musicais e harmonias não convencionais a uma banda do estilo – nos transportam a uma viagem que mistura calma, melancolia e sonho. Os quase nove minutos de Là Où Naissent Les Couleurs Nouvelles deixam a certo ponto nossas mentes atordoadas, principalmente pelos guturais que fazem uma base harmônico/melódica em certos pontos, criando uma nova forma desse tipo de vocalização específico; a faixa título tem uma belíssima melodia e ecos de psicodelia em cores musicais fantásticas; Nous Sommes L'emeraude tem um “quê” de experimentalismo, em notas que se confrontam de uma maneira bela, criando um ambiente um tanto quanto desconfortável e onírico. O destaque fica por conta de Beings of Light, uma peça que mais de aproxima do Black Metal, com um trabalho perfeito de vocalizações onde vozes femininas são a base harmônica da música em um formato coral; da belíssima Summer's Glory, que fecha o trabalho de uma forma quase épica e de Faiseurs de Mondes, uma peça que sintetiza a carreira do Alcest: agressiva e bela, o vocal gutural de Neige comanda partes do som contrastando com partes limpas e tristes, culminando num final apoteótico – a melhor faixa desse disco, talvez do Alcest.


Neige gravou todos os instrumentos – tirando a bateria gravada por Winterhalter – o que faz do Alcest uma “one man band”, isso fica claro a influência que Neige tem de sonhos e misticismo e, como já dito, transportado com maestria à linguagem musical; isso, junto com as letras em sua língua natal, o francês, dá um tom bem íntimo aos pensamentos do músico. A beleza do trabalho não fica somente nas canções, a arte gráfica é belíssima e as imagens do vídeo de trabalho não ficam por menos. E o cuidado com fãs e colecionadores também não foi deixado de lado, com Les Voyages De L'Âme sendo lançado em vários formatos, inclusive com uma edição com DVD e um belo livro (limitado a 1.000 cópias) e em vinil (limitado a 500 cópias)


O Alcest já vinha angariando fãs e mais fãs com seus primeiros trabalhos, e com Les Voyages De L'Âme, onde Neige aprendeu com erros e experiências, vai conquistar ainda mais fãs e me fez pensar até onde vai os limites – se é que possa ter um -  de criação desse músico. Um belíssimo disco nesse começo de 2012!



 



Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.