Quando peguei em mãos Manifest Density, primeiro trabalho do Moraine, banda captaneada pelo exímio guitarrista Dennis Rea, fiquei abismado com a linguagem proposta pela banda: uma “chamber rock band” que em suas bases de Rock Progressivo incluíam linguagem avant-guarde, do Free Jazz, da música erudita e oriental em uma formação nada convencional. Em estúdio a banda mostrou uma musicalidade ímpar, mas faltava ver como se saiam em palco, e para minha alegria o Alquimia Rock Club recebeu Metamorphic Rock Live at NEARfest 2010, com um show gravado no tradicional festival NEARfest (Fetsival voltado ao Rock Progressivo que acontece nos E.U.A)


A primeira coisa que chamou a atenção foi a mudança de formação da banda, principalmente por terem tirado o violoncelo e no lugar um sax barítono, comandado pelo James DeJoie (que em poucos momentos utiliza a flauta), tornando as canções mais dinâmicas e com timbres espetaculares. A segunda foi o peso absurdo que a banda adquiriu ao vivo, tornando as melodias muita vezes experimentais em tons e timbres ácidos e cortantes! Exagero? Escute a dupla Irreducible Complexity e Manifest Density na abertura e tente não ficar de queixo caído. Com somente um disco na bagagem, esse ao vivo se tornou uma releitura em novos arranjos e melodias mostradas em seu disco de estréia. Dissilusioned Avatar/Dub Interlude/ Ephebus Amoebus ficou ainda mais dissonante ao vivo e canções já com a alma “free”, como Uncle Tang’s Cabinet of Dr. Caligari tomou ares de liberdade ainda mais complexos. Dennis Rea e Alicia DeJoie roubam a cena. Respectivamente guitarrista e violinista, usam e abusam de efeitos, tanto de pedais como em técnicas de execução instrumental, sendo os responsáveis  pela maioria dos experimentos e James se integrou muito bem à banda, em certos momentos o sax tomando a frente nas melodias e improvisos.


A gravação é limpa e em nenhum momento embola o som, ainda mais sabendo que o registro foi feito somente em uma apresentação, algo raro hoje em dia, em tempos que as bandas gravam vários shows e escolhem (e depois editam) os momentos que melhor tocaram. Um excelente registro do Moraine onde mostra que os músicos não têm limite, obrigatório para fãs do Rock Progressivo, principalmente para quem acompanha os rumos que esse estilo vem tomando nos últimos anos.
 

Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.