Opeth - 01.04.2012 - Carioca Club, SP
"Is the first time in Brazil, but don't is the last". Com essas palavras, Mikael Åkerfeldt se despede em seu primeiro show no Brasil em 2009, e com a facilidade que os produtores estão tendo em produzir shows no Brasil, fatalmente na turnê do aclamado Heritage o Opeth voltaria em nosso país. Na pequena turnê latino americana, São Paulo foi palco da última data (também passado pelo México, Chile, Argentina e Uruguai), e confesso que não esperava um grande público quase lotando o Carioca Club; a banda “lutou” no mesmo dia que a quase unanimidade Roger Waters e seu The Wall estaria se apresentando na mesma hora e na mesma cidade. Mas os fãs de diversas partes do Brasil rumou à casa na região de Pinheiros para prestigiar essa que está sendo uma das mais aclamadas bandas do Heavy Metal ultimamente.
A apreensão se via nos olhares dos fãs, afinal, o Heritage foi um disco que dividiu a opinião dos fãs, e se perguntavam “como ficariam as músicas?”, “como seria o show?”. Marcado às 20:00, com poucos minutos de atraso e sem banda de abertura, uma pequena Intro dá espaço para a banda entrar em palco e mandam The Devil´s Orchard, música de trabalho do Heritage e uma das mais complexas composições do disco. Em poucos acordes, a banda já ganha o público, cantando todas as estrofes da canção e essa, por sua vez, muito mais pesada e visceral do que gravada em disco. Para quem estava já chocado, ficou ainda mais com I Feel the Dark; música de arrancar lágrimas, sua natureza melancólica e obscura foi aumentada pelo peso ganho ao vivo... Pausa e no choque de emoções que a música do Opeth passa, é quebrado pelas sempre hilárias palavras de Åkerfeldt. Não basta ser um excelente compositor de “frontman”, mas tem que se também quase um comediante de stand-up... Não teve como segurar os risos com ele se lembrando de sua primeira passagem no Brasil e a goteira em sua cabeça!
Face of Melinda foi um dos pontos altos do show. Seu riff foi catado pela casa toda, entoando junto as vozes presentes com o timbre da guitarra. Impressionante. Apresentada ironicamente como “o cover do Rainbow perdido em alguma gravação de 1978”, Slither – a homenagem ao Dio presente no último trabalho da banda – foi outra canção que ganhou novos ares ao vivo, e abriu caminho para a parte mais bela do show... Pedida pelos presentes, a bela Windowpane foi executada, seguida de Burden; as duas baladas, com seus toques progressivos fez muito marmanjo chorar... A beleza das duas canções é algo único, mágico.
A banda estava afinadíssima. Fredrik Åkesson se mostrou ainda mais seguro na guitarra do que em sua primeira passagem no Brasil e Martin Axenrot não economizou em técnica e peso quando preciso. Mas quem se destacou ao lado de Åkerfeldt foi Joakim Svalberg, cujo substituto do lendário Per Wiberg nos teclados fez muitos ficarem um pouco com o pé atrás; mas o cara mandou muito bem, perfeito. Equilibrou os timbres gravados pelo Wiberg com os seus, dando novos ares para as músicas, agitou o show todo e ainda seus backings, junto com os de Åkesson, auxiliaram os vocais. E nosso “Hermano” baixista Martín Mendez... é de conhecimento de todos sua nacionalidade uruguaia, mas foi “pego pra cristo” pelo humor de Åkerfeldt durante todo o show, e mostrou cada vez mais apurado em seu instrumento... como toca esse cara!
The Lines in My Hands foi seguida de uma das melhores composições da banda, Folklore (outra sendo hilariamente comentada pelo vocalista – “não gosto dessa música, acho irrelevante, mas é divertido tocá-la”). A partir daí.... sabiamente dividido o show em duas partes, a primeira foi feita pelas canções mais progressivas, caindo muito bem com o clima de Heritage, mas aos primeiros acordes da já clássica Heir Apparent, foi o momento do Carioca Club vir abaixo. Com o Opeth mostrando de vez o peso ao vivo (o bumbo dava para sentir no peito suas batidas), juntou a performance da banda e o agito dos fãs, e vimos algo não menos que magistral na casa. The Grand Conjuration, uma das “masterpieces” da banda veio como se decapitasse todo mundo com seus poucos mais de 10 minutos e The Drapery Fall foi tocada de forma sublime. Em poucos minutos, a banda volta ao palco para o bis de encerra de forma suprema: a épica Deliverance, para muitos a melhor composição da banda, foi tocada... Não tem como uma banda fechar um show de uma forma mais apoteótica e poderosa.
De forma humilde e extremamente aplaudidos, a banda fica em palco agradecendo os fãs e o sorriso estampado em suas faces mostrou que eles ficaram satisfeitos com o trabalho feito. E as duas horas de shows (passados de forma muito rápida, afinal o som do Opeth mexe sim com o tempo em nosso redor) foram mais que suficientes para que os fãs e a casa presenciassem uma das maiores apresentações já vistas lá dentro. E, para muitos, a banda poderia focar mais duas horas tocando... resta esperar pelo Opeth em mais uma perfeita apresentação em solos brasileiros.
(As fotos foram gentilmente cedidas pela fotógrafa Edi Fortini - www.edifortini.com)
Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.