Depois de ficar um tempo fora de São Paulo, tocando em festivais (no SWU e no Metal Open Air), o Megadeth retorna à capital paulista, dessa vez em show único no Brasil. Terminado a turnê de promoção do Th1rte3n, Mustaine e Cia. emendam sem descanso nenhum mais uma turnê: a comemoração de 20 anos de Countdown to Extinction. Sempre vindo pela Time 4 Fun e fazendo shows do Credicard Hall, a banda mudou local e produtores, ficando a cargo dessa vez na mãos da Radio Corsário conjunto com o Manifesto Bar, e o local na casa Via Funchal. Mudanças boas? Sim e não... A casa teve sua lotação quase “soud out”; tanto que o calor dentro do Via Funchal em certo momento ficou insuportável, mostrando que mesmo com os problemas das últimas apresentações da banda em território nacional, é uma das que mais tem fãs no Brasil.
A abertura ficou a cargo do Mindflow, que fez um bom show, porém algumas falhas no microfone e no sistema de som ficaram aparentes. Em pouco tempo, sem introdução nenhuma, o começo de Trust foi aos poucos tomando conta do som e um a um entram em palco e o público toma conta do show. Cantado estrofe por estrofe, em pouco tempo a cara marrenta do Mustaine foi dando espaço para uma cara cheia de alegrias e surpresas. Numa tacada só, foram Hangar 18, She-Wolf e A Tout Le Monde, com a banda mostrando a garra de sempre.
Em poucas palavras, porém sinceras do Mustaine sobre sua relação com o Brasil (destacando que fomos os primeiros na América do Sul a ver um show do Megadeth e o show da turnê do Countdown to Extinction em 1994), a banda manda Whose Life (Is It Anyways?) e Public Enemy No. 01, ambos do último trabalho; nesse ponto o público esfriou um pouco, preparando as energias, pois com os acordes iniciais de Skin O’ My Teeth, foi uma mistura de emoções que o publico presenciou. Era claro o saudosismo e a satisfação da banda em tocar o disco na íntegra, passando isso pros fãs, que muitos naquele momento estavam lembrando so show de 1994 no extinto Olympia (inclusive esse que vos escreve, pois esteve presente nesse primeiro show da banda na capital paulista a 18 anos atrás!). E como não se emocionar com as clássicas Symphony of Destruction e Sweeting Bullets? Com o peso de This Was My Life, High Speed Dirt e Psychotron? A faixa que dá o nome ao disco, Architeture of Agression e Foreclosure of a Dream se mostraram excelentes músicas para serem tocadas nos shows (e ficando aquela pergunta: por que não se tornaram clássicas?). O momento mais mágico foi no fim com Captive Honour e Ashes in Your Mouth, músicas de caráter extremamente forte, que deixou o público abismado. Sem demoras, a banda termina com Peace Sells numa pancadaria acima do normal (já vi inúmeros shows da banda, mas nunca vi essa canção ser tocada com tanta fúria!). Mustaine volta para o bis depois de pouco tempo, e com mais palavras de como gosta do Brasil, finalizou com Holy Wars... The Punishment Due.
Falar dos músicos é besteira. O retorno do Ellefson à banda so fez um bem enorme, principalmente pelas belas linhas de baixo que foram criadas por ele e so fazem o efeito desejado pelas suas mãos (e pelo seu baixo signature da Jackson); Drover evolui a cada ano na banda, tocando cada vez com mais firmeza e segurança; e Broderick é um monstro nas seis cordas... como toca esse cara! Mustaine estava num dia “anormal”, rindo, mostrando calma e simpatia – basta dizer que mesmo após ter terminado o show, ele ficou por mais uns 5 minutos em palco agradecendo os fãs!
Mas nem tudo foi perfeito. A produção em palco foi impecável: com telões de altíssima definição mostrando vídeos e uma iluminação perfeita, responsável por criar o clima que a capa do Countdown to Extinction dá, ao contrário o som não foi perfeito... Aliás, em alguns momentos chegou a irritar as falhas até mesmo infantis, mostrando uma certa falta de profissionalismo seja á quem ficou no sistema de som (não sei informar se foi o técnico de som da banda ou alguém contratado pela casa e produção): o microfone muitas vezes falhou, inclusive os de captação aguda da bateria (coisa já mostrada no show de abertura!), o baixo do Ellefson em certos momentos ficou abafado demais; e o mais grave ficou nas guitarras que claramente a mesa de som não soube regular: Broderick em maior parte da apresentação ficou quase inaudível e os solos do Mustaine quase cobria todos os instrumentos. Interessante notar que a banda em nenhum momento se mostrou prejudicada por isso (ou estavam dando o máximo de garra em palco ou no retorno deles estava tudo ok) e os fãs pouco de preocuparam com essa parte.
Mesmo com esses problemas de som, o Megadeth mais uma vez mostrou o porquê de serem uma das mais importantes bandas da história do Heavy Metal mundial, em uma apresentação que, se for falar em emoções, particularmente valeu muito mais que a turnê comemorativa de vinte anos do clássico Rust in Peace...
Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.