Peste Fest - 27.10.2012 - Cine Jóia, São Paulo
O Brasil tem muitas bandas de Heavy Metal de nível excelente, profissionais no que fazem, porém a luta por “n” fatores ainda é difícil para essas bandas, ainda mais se contar como sendo bandas principais em shows e tendo toda a aparelhagem de som e iluminação para elas. O Pest Fest mudou um pouco esse conceito, pois o festival feito pelo Clautrofobia trouxe um exemplo de como trabalhar com bandas nacionais em uma produção fora de série.
O Cine Jóia foi acertado na escolha de sediar o evento. Apesar de a casa ter sua estrutura interna um pouco desconcertante (foi minha primeira vez na casa, e coisas estruturais como um bar no meio da pista e o palco extremamente alto, particularmente achei que atrapalha um pouco o público nos shows), a iluminação foi perfeita e o som, mesmo com alguns problemas onde somente os mais atenciosos perceberam, ficou perfeito; fora a localidade da casa, no centro de São Paulo, de fácil acesso a duas linhas de metrô e inúmeras linhas de ônibus para as mais diversas regiões da cidade.
Com um pouco de atraso e um público ainda tímido, o Project46 começou sua apresentação como uma das bandas convidadas. Prestes a sair do Brasil pela primeira vez, excursionando pelo Chile, o poder se seu som que traz inúmeras referências desde o Death Metal ao Metalcore, agitou os presentes com sua atuação forte em palco, principalmente do vocalista Caio MacBesserra, um baita frontman que soube usar todos os espaços do palco. Canções de seu primeiro trabalho como Capa de Jornal e No Rastro do Medo, formaram as primeiras rodas na casa, e a banda foi aplaudida com a poderosa versão para War Ensemble do Slayer; o Project46 mostrou o porquê de vir se destacando no cenário nacional (e fora dele)
A pedrada começou a vir com força com Oitão. Seu Hardcore e a atuação completamente insana do vocalista Henrique Fogaça não deixou pedra sobre pedra. Mandando logo de começo Imagem da Besta, Fogaça entra em palco com uma de suas famosas máscaras e a pancadaria come solta com Hipócrita, 4º Mundo, Buraco e Tormento, numa apresentação curta porém sem deixar o pessoal na pista respirar. Vale destacar o alto teor político-social das letras do Oitão, críticas ferrenhas à sociedade, e musicalmente a “cozinha” da banda, precisa e violenta como todo com Hardcore.
Um pouco mais de atraso para montagem de palco, e quase uma da madrugada o Clautrofobia sobe ao palco com Marcus falando “É pior que febre Claustrofobia é peste!" para o público já sair na pancadaria ao som de Peste e Metal Malóka. Som perfeito na casa e a banda afinadíssima já tocam quase sem pausa Thrasher e Comdemned. Como esses “moleques” estão tocando ao vivo! Técnica, precisão e, acima de tudo, amor ao Heavy Metal faz com que Marcus, Caio, Daniel e Alexandre se tornem monstros em palco. Não tem como não reparar nas bases de bateria e baixo fulminantes e nas bases de guitarra alucinantes e vocais extremamente agressivos. E o destaque fica por conta de Alexandre... lançado um livro sobre ritmos nacionais no Heavy Metal e trajando uma camisa do Miles Davis, Alexandre desfilou todo seu conhecimento nas seis cordas, numa apresentação que, para quem conseguiu ficar um minuto parado fora dos mosh pits e prestou atenção nele, com certeza ficou abismado tamanha qualidade do guitarrista.
Rainning Shit e Don’t Kill the Future prepararam o terreno para a banda mandar Bastardos do Brasil e Eu Quero Que se Foda; e um toque legal foi o destaque que as músicas em português tiveram, tanto por parte da banda como do público. War Stomp começou o ponto mais alto da apresentação, a pancadaria foi contínua com Terror Against Terror, até Marcus chamar ao palco o grupo de batuque que teve participação especial em Peste... Nota 6,66 foi algo inacreditável de presenciar, tanto que foi o único momento que o público deu uma pausa nas rodas e prestou atenção pra valer no show... A força dessa música ao vivo é extremamente forte, e a alegria dos músicos em palco com o respeito de ambos os lados – víamos sorrisos nos rostos de cada um ali – acabou sendo o ponto alto do show!
Daí pra frente... Pinu da Granada, Alegoria do Sangue, Bicho Humano, Vida de Mentira, quase o Cine Jóia vai abaixo com a banda sentando a mão sem dó nos instrumentos. Marcus manda seus “esporros” a cada som, expandindo sua fúria em palco para as palavras, e agradecendo a todo o momento por estar ali num dos shows mais importantes para a banda. E com mais participações especiais, como Fogaça retornando ao palco, a banda solta Enemy, Selva Urbana e Paga Pau fazendo a trinca final matadora do show “normal”, pois o Claustrofobia nos brinda com dois presentes: sua versão para Filha da Puta do Ultraje a Rigor – que caiu muito bem no som do Claustrofobia – e Arise do Sepultura.
O Claustrofobia foi perfeito. O “metal malóka” merece vôos muito mais altos e a produção impecável deixou claro que pode sim bandas nacionais mostrar seu trabalho com honra; inclusive a apresentação foi gravada para um futuro DVD. O único porém ficou com o público... Mesmo com preços muito acessíveis, a casa estava somente um pouco mais que a metade de lotação, alto realmente lastimável, pois pagam R$ 300,00 para um show de fora, mas não pagam R$ 30,00 para uma banda nacional que se destaca em nosso país....
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Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.