Rotting Christ - 2013 - Kata Ton Daimona Eaytoy
Desde Theogonia, o Rotting Christ vem se destacando como uma das mais originais bandas do Heavy Metal como um todo. Incorporando ao seu Black Metal clássico, os gregos vem moldando seu som com conceitos sonoros de seu país junto com conceitos experimentais, criando a cada disco uma aura única e sombria em composições riquíssimas em seus detalhes, e o ápice da criatividade dos irmãos Sakis e Tolis chega em Κατά τον Δαίμονον Εαυτού (Kata Ton Daimona Eaytoy)
A sonoridade de Kata Ton Daimona Eaytoy é um apanhado de tudo que abanda vem tateando em seus trabalhos, com novas sonoridades e em detalhes minuciosos; mesmo que envolto de complexas passagens, as músicas ficaram com um viés de fácil assimilação. A alma da música grega se faz presente por toda a sua duração, com as melodias e vocalizações criadas remetendo a melodias folclóricas não somente da Grécia, mas sim até mesmo de todo Leste Europeu; e a rítmica foi construída como uma marcha dos espartanos. Fato que esses elementos étnicos vem deixando a música do Rotting Christ cada vez mais mística e assustadora.
In Yumen - Xibalba abre o trabalho que leva o ouvinte a outros patamares sonoros (reparem nos detalhes dos arranjos e efeitos sonoros...); em Grandis Spiritus Diavolos a banda volta ás suas experimentações com coral, aqui num efeito maravilhoso onde poucas bandas conseguiram encaixar um coral tão bem em uma composição; Cine Iubeste Si Lasa impressiona por ser uma releitura de uma música tradicional romena, ganhando ares totalmente experimental, flertando com a música camerística para piano e voz contemporânea; Χ ξ ς (666) desconcerta qualquer ouvido despreparado com seu clima aterrador – uma marca característica da banda que sempre em seus discos deixa as últimas faixas com um clima soturno. Mesmo com todas essas experimentações, a banda não esquece o peso, onde composições como a faixa título e Gilgameš mostra a banda afinada em seu passado (inclusive Kata Ton Daimona Eaytoy se mostrou uma das melhores faixas ao vivo em uma recente passagem da banda no Brasil)
Tecnicamente, Sakis e Tolis estão tocando como nunca; outrora criticados pela falta de técnica em seus instrumentos, hoje se mostram como dois dos mais completos instrumentistas, ambos sabendo quando abusar de virtuose e quando dar uma guinada e usar as notas. Outra preocupação foram com as letras, muito bem escritas em torno da filosofia “faça o que queres” de Crowley, onde Sakis inspiradíssimo escreveu até mesmo em outras linguagens, como o russo, o espanhol e o romeno, dando destaque as filosofias ocultistas tão bem representadas nas letras.
Uma produção belíssima; pode talvez afastar os fãs mais radicais, porém o Rotting Christ chegou ao seu ápice de criatividade, com uma sonoridade única e impressionante. Kata Ton Daimona Eaytoy já nasceu clássico.
Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.