Resenhas

Shadowside e Suprema - 26.05.2013 - Via Marques, SP

Por Fabiano Cruz | Em 07/06/2013 - 21:27
Fonte: Alquimia Rock Club

Dia de comemorações. De um lado a Shadowside comemorando mais um giro pela Europa, angariando ainda mais fãs e sendo cada vez mais aclamada pela mídia mundial; de outro a SupreMa lançando seu mais novo trabalho, Traumatic Scenes. Para brindar as conquistas das duas bandas que vem crescendo cada vez mais no cenário nacional e vem se destacando como um dos atuais nomes, as bandas uniram forças e anunciaram uma produção de qualidade em um show conjunto. Marcado para a casa Via Marquês, que vem sendo uma alternativa nova para shows em São Paulo, as bandas cumpriram com o prometido: uma apresentação com uma qualidade absurda da produção, em um som limpo e cristalino e uma iluminação primorosa, o que somente fez aumentar ainda mais o brilho das duas bandas.


O cuidado foi com todos os pormenores envolvidos numa produção, incluindo ai com a mídia especializada. Antes do show, várias mídias – blogs, sites, zines, revistas – foram convidados pela acessoria para uma coletiva de imprensa antes das apresentações. Com vários profissionais na coletiva, ambas as bandas se mostraram atenciosas e confortáveis em atender a todos, principalmente os porta-vozes Dani Nolden e Douglas Jen, que responderam 80% das questões. A Shadowside respondeu várias perguntas sobre a bem sucedida turnê pela Europa e a Suprema sobre sue novo trabalho; a conversa tomou rumos interessantes quando as duas bandas dialogaram juntas com os presentes: sobre a dupla jornada nas duas bandas do baixista Fabio Carito - que foi anunciado oficialmente no dia como o novo baixista da Suprema -; sobre as diferenças de produções de shows no Brasil e fora; e sobre a cena em nosso país, onde ambas bandas falaram verdades absolutas da questão de ser tão difícil ter uma banda de Heavy Metal no Brasil, e crescer em um país cuja a cultura musical -  desde criação até produção - é tão  fechada para o estilo.


Após um tempo para a abertura da casa, não houve muitos atrasos, e a Suprema sobe ao palco, mostrando logo na abertura com a intro Marks of Time, Dark Journey e Escape uma apresentação totalmente energética e técnica. Baseado em Traumatic Scenes, a banda mostrou que as composições são bem fortes ao vivo, puxadas para um lado mais Prog Metal: momentos em Rising From the Ashes, Iced Heart e Burning Soul deixou alguns presentes bem atenciosos às complexas passagens sonoras. Um pequeno problema aconteceu no playback dos teclados, em um momento que disparou sozinho, mas sem comprometer a banda, e quando convidado o tecladista Daniel santos do cover oficial do Dream Theater, mostrou que a banda precisa sim de um tecladista em sua formação, pois nas releituras de Overture 1928 e Strange Deja Vu da banda já citada, a banda soou mais forte ainda. Força, aliás, presente no baterista Fernando Castanha... seu kit com inúmeras peças foi impiedosamente massacrada por toda a apresentação com uma técnica impressionante. Douglas Jen se destaca bastante em palco: sua guitarra preenche muito bem os espaços nos complexos arranjos e seus backings são muito bem colocados, sempre fortalecendo e dando suporte a voz de Pedro Nascimento. O set termina com Before the End, Powermind, Fury And Rage e a bem conhecida e aclamada Nightmare, que teve seu vídeo bem veiculado pela net; a banda sai aplaudida do palco deixando os presentes bem animados.


Sem muita espera e uma troca rápida de palco, a Shadowside entra em palco já “jogando na cara” I’m Your Mind, A.D.D e Highlight - pessoalmente uma das melhores composições da banda – em uma energia e peso indescritível! A banda mostra uma verdadeira alegria e vontade de estar em palco, um carisma que poucas bandas tem, e tudo transparece da bela Dani Nolden: uma vocalista acima da média (e isso afirmo no geral, não somente comparando entre as mulheres) que tem o domínio das canções, do palco e do público com uma naturalidade incrível. E cada um na banda carrega essas qualidades; Raphael Mattos é um baita “riffmaster”, seus riffs e solos são realmente poderosos e soam ainda mais pesados ao vivo; a “cozinha” pelo Fabio Carito e Fabio Buitvidas é muito afinada e precisa, cada nota soa sem embolação nenhuma (e um parêntese sobre a atuação de Carito, ele soube colocar identidade diferentes nas duas bandas, sua forma de tocar, técnicas, jogam para e pelo time em que está, sem perder sua personalidade, um exemplo de profissionalismo no contra baixo, instrumento sempre deixado de lado mas que esses detalhes fazem a diferença, principalmente quando o músico toca em duas bandas!)


In the Night, My Distupted Reality, Hideaway e Gag Order não deixaram o show em nenhum momento cair, e a banda afinadíssima com a qualidade de som perfeita, soaram fortes, mesmo em momentos mais melódicos, sem nenhum problema ou chiado, uma qualidade beirando o som que ouvimos em CD. Inner Monster Out, faixa título do último trabalho, que contou com várias participações, foi a deixa para Raphael também mostrar suas qualidades como vocalista o que, aliás, ele e Carito fizeram backing muito bem colocados por toda apresentação. Habitchual e In the Name of Love foram intercaladas por supresas no show em músicas que a banda não tocava faz tempo, como Baby in the Dark e o medley de composições do primeiro trabalho com Vampire Hunter/ Illusion/ We Want a Miracle, fechando o set normal, e para o bis deixaram duas que já são clássicas da banda, Angel With Horns e Waste of Life


Como o dia era de festa e comemorações, nada mais normal que uma Jam final entre as bandas... E no meio de sorrisos e um clima quase familiar, a Suprema sobre ao palco e juntos tocam dois clássicos da história do Heavy Metal: Aces High e Ace of Spades (dispensável falar de quem são....), deixando duas apresentações perfeitas com aquele “gostinho de quero mais”


Tudo foi perfeito? Não. Um ponto em que ficou faltando foi o público... Poderia tecer mil teorias acerca sobre pouco público presente; é até certo ponto difícil aceitar que hoje por ser uma banda “de fora” o público brasileiro paga mais de R$ 100,00 – isso muitas vezes estudante! – em shows colocados em casas sem nenhuma estrutura básica com iluminação e som falhos, e por ser uma banda nacional, o público mal da a atenção. Falo com todas as palavras que essa apresentação não ficou absolutamente devendo em nada de produções “gringas”, desde a garra e qualidade das bandas em palco ao cuidado extremo com os elementos de palco. Ficou claro algo que venho dizendo a tempos em redes sociais, a conhecidos, na própria universidade em que estudo – para quem não sabe, estudo música - , onde pode parecer um ufanismo, mas em se tratando de produções artísticas, o público brasileiro do Heavy Metal não paga pela qualidade, e sim pelo nome. E esse complexo jogo ainda envolve questões como abertura de shows no Brasil, a rede de envolvidos em um trabalho do tipo onde muitas vezes trombamos com pessoas que não são profissionais, a divulgação um pouco mal organizada... (deixo bem claro que não foi o caso desse, mas são fatores que influenciam o todo)


Mas temos um lado positivo de tudo: o Heavy Metal no Brasil tem sim bandas que podem crescer muito mais e fazer produções a nível elevado, esse dia foi a prova. E pessoalmente aguardo mais shows da Suprema e da Shadowside em São Paulo, pois certeza irei!


(Agradecimentos ao Leandro Pena pelas fotos – www.leandropena.com – e a Ultimate Music Press pelo convite feito ao Alquimia Rock Club – www.theultimatepress.blogspot.com.br)
 




Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.




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